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Pedro da Silva
Arqueólogo
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Qual a última boa exposição que viu?
A última boa exposição que vi foi A Fabriqueta, do artista visual Eduardo Matos. Com a curadoria de Inês Moreira, esta exposição do CIAJG revelou-me vestígios de escavações de diferentes imaginários, capazes de transformar paisagens e vidas… É um caso sério de estudo!
A Fabriqueta, Eduardo Matos. CIAJG © Vasco Célio
Que livro está a ler?
Neste momento estou a (re)ler a obra Re-Constructing Archaeology de Michael Shanks e Christopher Tilley… Estou situado na página 62, lendo a frase “Our claim is that a great deal of Archaeology is ideological practice, practice which sustains and justifies a capitalist present.”
Que música está no topo da sua playlist actual?
No topo dessa lista atual está a música “Ten Years Gone” dos Led Zeppelin. É uma das minhas bandas favoritas… A letra desta música fala sobre um amor perdido e a dor de olhar para trás e perceber que o tempo passou e que as coisas mudaram. No entanto, também há um sentimento de aceitação e resignação no som da guitarra… Ou uma compreensão de que essa mudança é uma parte inevitável da vida.
Um filme que gostaria de rever…
Estou sempre pronto para uma maratona dos filmes Senhor dos Anéis! Versões estendidas, de preferência! Mas um filme que estou para rever é o Blow Up (1966), de Michelangelo Antonioni. Para quem não conhecer, este filme questiona a ideia de uma única realidade objetiva, sugerindo que a verdade é construída e interpretada de maneiras diferentes por diferentes pessoas.
O que deve mudar?
Sem dúvida, a abertura à mudança. Ou seja, o mundo está sempre a mudar e é importante que nos adaptemos a essas mudanças… De estarmos abertos a novas ideias, a novas tecnologias e novas formas de fazermos as coisas, de pensarmos sobre as coisas. Há debates que devemos ter com nós próprios e com os outros à nossa volta. Desde logo, sobre o que já fomos no passado, o que somos no presente e o que queremos ser no futuro.
O que deve ficar na mesma?
Neste momento, e depois de tudo o que já passamos na nossa curtíssima história, acredito que deve permanecer a oportunidade de ‘aprendizagem contínua’ que conseguimos alcançar enquanto humanidade. No entanto, não nos devemos deixar engolir pela ‘máquina’… E é aqui que entra a Cultura, enquanto peça das ciências sociais e humanas. Com ela, haverá sempre algo novo para aprender e maneiras de melhorar a nossa presença neste “pale blue dot”. Talvez por isso seja tão maltratada em países periféricos no atual sistema neoliberal ocidental…
Qual foi a primeira obra de arte que teve importância real para si?
Da arte contemporânea, não houve uma “primeira obra de arte” nesse sentido romântico, mas uma exposição em específico: em 2018, ainda quando prestava serviços na Fundação de Serralves, foi inaugurada a exposição Robert Mapplethorpe: Pictures, comissariada por João Ribas. Toda aquela experiência política serviu de gatilho para eu voltar a pensar sobre a arqueologia enquanto disciplina. Aliás, foi nesse momento que comecei a tecer ideias para o meu projeto de Doutoramento “Arqueologias da Presença em Passados Simulados”, apoiado pelo CEAACP/FCT desde 2021. É nesse palco que estou (felizmente) emaranhado (ou entangled, para citar a grande obra de Ian Hodder).
© Joana Novo
Qual a próxima viagem a fazer?
A minha próxima viagem será a um lugar que se tornou um refúgio para mim: o Parque Nacional da Peneda-Gerês. Este local, com a sua beleza natural deslumbrante e biodiversidade rica, tem sido o meu santuário para a introspeção e o rejuvenescimento. É por ali que costumo me afastar do ritmo frenético do quotidiano e me permito mergulhar na tranquilidade da natureza. Passo os dias a explorar as montanhas, a nadar nos rios e a contemplar o pôr do sol sobre as paisagens verdes. À noite, sob o céu estrelado, encontro espaço para refletir sobre a minha jornada e o caminho que ainda tenho pela frente… Cada visita ao Gerês é uma oportunidade para me reconectar comigo mesmo e ganhar uma nova perspetiva sobre a vida.
O que imagina que poderia fazer se não fizesse o que faz?
Desde que me lembro de ser, que sei que gostaria de ser professor. Gosto de aprender e gosto de partilhar essas aprendizagens com quem as queira apreender também. Gosto de me expressar, de conversar, de debater e também de ouvir: uma história, uma música boa… Gosto de conhecer novas realidades, novas pessoas. Gosto de dar a conhecer pessoas, ajudar a projetá-las. Sou bastante “motivacional” na forma como encaro a vida e na forma como vejo a vida de quem está à minha volta.
Se receber um amigo de fora por um dia, que programa faria com ele?
Começar a manhã com um mergulho no mar e abraçar o sol. De tarde, fazermos uma visita ao sítio arqueológico que estudo, o Monte Ovil, em Espinho. À noite, à mesa, uma pedra de xisto com queijos e prova de vinhos, com blues rock a tocar de fundo num vinil!
Imaginando que organiza um jantar para 4 convidados, quem estaria na sua lista para convidar? Pode considerar contemporâneos ou já desaparecidos.
Juntava Helena Almeida, Amanda Feilding, Michio Kaku e António Damásio! Eu ficava só a ouvi-los a conversar sobre a natureza da experiência humana, a relação entre o corpo e a mente, a nossa compreensão do universo e o futuro da humanidade.
Quais os seus projetos para o futuro?
Quero continuar a projetar a Curadoria em Arte-Arqueologia, criando pontes entre essas diversas formas de pensar sobre a nossa posição no cosmos. Quero passar estas aprendizagens, porque o que temos visto nesta investigação é que a arte-arqueologia desafia narrativas convencionais, levando a academia a um debate que se pretende verdadeiramente democrático. Quando bem conduzida, potencia novas formas de entender e interpretar o passado, o presente e até mesmo projetar um futuro. Estou particularmente interessado em explorar como a arte-arqueologia pode ser usada para envolver o público de maneiras diferentes e inovadoras, tornando a arqueologia mais acessível e relevante para um público mais amplo. Portanto, espero continuar a colaborar com artistas e profissionais da arqueologia para desenvolvermos projetos que façam a diferença.