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Ângela Ferreira
Artista, Curadora, diretora artística do Festival de Fotografia "Encontros da Imagem"
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Qual a ultima boa exposição que viu?
"A Cor Americana" do fotógrafo William Eggleston no Instituto Moreira Salles, do Rio de Janeiro: a primeira grande exposição individual na América do Sul dedicada ao autor, num profundo retrato da modernização americana, através de imagens que combinam intimidade e estranhamento. Uma obra que foge do universo triunfante do "american way of life" a remeter em queda livre para o universo do pintor Edward Hopper.
Mais recentemente e com um tremendo impacto, a exposição inserida na Trienal de fotografia de Hamburgo, com a exposição THE DAY WILL COME WHEN MAN FALLS de PHILLIP TOLEDANO, apresentada em jogo com as obras de F.C. GUNDLACH COLLECTION, no Deichtorhallen Hamburg. Phillip Toledano desenvolve visões socialmente relevantes e pessoais do futuro e têm um efeito direto e provocador por exporem as características fundamentais de um mundo ocidental cada vez mais narcisista. Questões como o poder, o sucesso, a juventude, a beleza e o consumo são enfatizadas.
Que livro está a ler?
Vários ao mesmo tempo, por vezes cruzam-se no mesmo espaço. Gosto sempre de voltar os livros de Herberto Helder, Clarice Lispector, José Gil; os contos de Alice Munro e Junot Díaz; Paul Auster e sempre as jornadas sentimentais de Araki Nobuyoshi.
Que música está no topo da sua playlist actual?
O novíssimo álbum do Jay Jay Johanson para ouvir em loop, que regressou recentemente ao Theatro Circo em Braga.
Um filme que gostaria de rever…
Rever bem devagar o Chungking Express de Wong Kar-Wai, o Tabu de Miguel Gomes.
Fitzcarraldo do Wener Herzog e todas as apaixonantes narrativas de Wes Anderson.
O que deve mudar?
A pressa e a cegueira do mundo. O nosso Portugal à deriva.
O que deve ficar na mesma?
A inquietude da mudança.
Qual foi a primeira obra de arte que teve importância real para si?
Nighthawks, 1942 de Edward Hopper.
O ensaio mais ambicioso de Hopper no jogo dos efeitos noturnos da luz com a luz interior. Nenhuma dessas reflexões seria visível à luz do dia.
Qual a próxima viagem a fazer?
Uma viagem de trabalho ao Festival “Rencontres de Arles” o mais antigo festival do mundo e de seguida, à América do sul, antes da imersão no Festival Encontros da Imagem que arranca em setembro a celebrar 25 edições, sob o tema “Poder e Ilusão”.
O que imagina que poderia fazer se não fizesse o que faz?
Após a batalha pela fotografia, partiria para o Cinema, em ficção documental.
Imaginando que organiza um jantar para 4 convidados, quem estaria na sua lista para convidar?
Na improbabilidade dos momentos e na inquietude das palavras, Agostinho da Silva, Mario de Sá Carneiro, Clarice Lispector, com o registo da inconfundível Diane Arbus.
Quais os seus projetos para o futuro?
Respirar. Perseguir a luta pela lentidão das coisas. Fotografar.