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Andreia Garcia
Entre a arquitetura, a curadoria e o ensino
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Qual a última boa exposição que viu?
Awdiˈtɔrju de Pedro Tudela, com curadoria de Miguel Von Hafe Pérez. Uma exposição que supera qualquer entendimento de materialização site-specific. A (trans)formação em três manifestações dialogantes que provocam o conhecimento que temos do espaço da Sala das Caldeiras da Central Tejo e nos envolvem com uma nova experiência espacial. O público que a viu fez parte da construção de uma narrativa e definiu a sua própria circunstância pela incidência do seu percurso, decidindo os seus movimentos, sem apneia. Estes que por fim ficaram mapeados numa memória sonora que permitiu sentir uma nova dimensão desta arquitetura, a do som.
Que livro está a ler?
Vou cruzando leituras de livros em simultâneo. Neste momento leio To Become Two – Propositions for a Collective Practice de Alex Martin Roe, Design as Learing: A school of Schools Reader com a edição de Vera Saccheti para a 4ª edição da Bienal de Design de Istambul, The work of Art in the Age on Mechanical Reprodution de Walter Benjamin e um catálogo do projeto Lambes do Mal que comprei na ARCO de Lisboa.
Que música está no topo da sua playlist atual?
A que está a tocar agora é a Perfect Day do Lou Reed (feat. Antony).
Um filme que gostaria de rever…
Tenho-me lembrado muito da trilogia Três Cores: Azul, Branco e Vermelho do Krzysztof Kieslowski. Apetece-me mergulhar de novo na sofisticação dos seus jogos de interpretação de destino em que o acaso e o íntimo inatingível perdem para o destino e os simbolismos do universo psicológico.
O que deve mudar?
O tempo. Ao minuto é hoje exigido que tenha mais do que 60 segundos, mas estes passam hoje mais rápido do que ontem. Na verdade, 59 dos 60 segundos são passados a olhar para um ecrã que nos vomita uma humanização desfiguradamente perfeccionista. Sem querer ser saudosista, preferia quando éramos todos personagens de uma dinâmica menos veloz, e assumíamos figuras mais concretas com espaço à imaginação, com tempo à intimidade, ao processo, ao pensamento, à crítica. Estamos famintos de ultrapassar o nosso próprio tempo, mas somos nós quem o queima com ressonâncias sobressaltadas, desreguladas, que nos chegam de todo o lado, de forma indiferente ou programada, e nos transformam a todos em cordeiros de um rito estranho que sacia na proporção da velocidade com que a dinâmica nos demora.
O que deve ficar na mesma?
O desejo de mudar. Nesta entrevista foi o tempo, amanhã que seja outra coisa.
Qual foi a primeira obra de arte que teve importância real para si?
Seated Figure de Francis Bacon, 1961, e toda a atenção à condição psicológica humana encerrada na dimensão invisível da arquitetura.
Qual a próxima viagem a fazer?
México. Tenho muita vontade de imergir na arquitetura do Barragan.
O que imagina que poderia fazer se não fizesse o que faz?
Tudo que profissionalmente faço deriva do facto de ser arquiteta – a sua prática, a escrita, o ensino e a curadoria. Gostava de estudar escultura e música, mas não me imagino a fazer algo diferente, se não a juntar novas competências ao que faço.
Se receber um amigo de fora por um dia, que programa faria com ele?
Levava-o a passear, se gostasse de olhar a cidade. Levava-o a algumas galerias, se gostasse de arte. Levava-o à Casa Nanda, se gostasse de comer. Levava-o ao Passos Manuel, se gostasse de dançar.
Imaginando que organiza um jantar para 4 convidados, quem estaria na sua lista para convidar? Pode considerar contemporâneos ou já desaparecidos.
Helena Almeida, Lina Bo Bardi, Marina Abramovic e Simone de Beauvoir.
Quais os seus projetos para o futuro?
Até dia 27 de julho tenho a decorrer a Bienal de Arte Contemporânea da Maia com a minha curadoria geral. Estou também a preparar uma exposição para a Roca Gallery em Lisboa para setembro. Entre os projetos de arquitetura, a curadoria e a escrita, interessa-me continuar a construir relações entre a arquitetura e a arte, entre a obra e o lugar expositivo, entre o corpo do espectador e a situação experiencial.