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Fátima Lambert
Curadora
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Qual a ultima boa exposição que viu?
A exposição da Mira Schendel em Serralves (Porto): seleção de obras relevantes, sendo que algumas das peças são difíceis de montar, pedindo atenção aos detalhes, à iluminação e à localização adequadas... Mas, em Serralves, resultou bem no geral. É interessante proceder por confronto, quando se vêm as mesmas peças em montagens diferentes e locais, cujas arquiteturas se apresentam bem díspares…caso dos “Sarrafos” na coletiva mostrada, por ocasião da Bienal do Mercosul de 2005, no Santander Cultural de Porto Alegre (Rio Grande do Sul); das “Droguinhas” e do “Trenzinho” no Reina Sofia (exposição “alfabeto enfurecido” Mira Schendel e Leon Ferrari, 2010) e agora, aqui em Portugal, num espaço nem sempre é fácil, como é o museu de Serralves…ficamos com a certeza que as obras residem em si mesmas, persistem na sua identidade, levitando novas imagens que delas temos, consoante os lugares que as recebem…
Que livro está a ler?
A reler alguns poemas de Capitale de la Douleur de Paul Éluard, enviesado ao Poema à Duração de Peter Handke e pedindo-me estes que eu leia de novo as Marcas de Água de Josif Brodsky.
Que música está no topo da sua playlist actual?
Concerto para piano K466 de Mozart – Friedrich Gulda (piano e direção orquestra em Munique, 1986); Lhasa - Rising; Youssou n’Dour – Seven seconds; Marianne Faithfull – Crazy Love; Caetano Veloso – Você não me ensinou a te esquecer e assim por aí adiante…
Um filme da última década que gostaria de rever…
Os diários de Che Guevara, de preferência com o amigo que então me acompanhou.
O que deve mudar?
Limito-me, aqui, a considerar apenas o que é mais diretamente constitutivo, relacionável aos domínios das artes, cultura…que o mesmo é dizer, ao que torna as pessoas mais gente…pois só acredito numa estética de radicações antropológicas e societárias, ou seja, o que absorve quer o sujeito que é autor, quer os sujeitos que são espetadores, aqueles integram o público... O que deve mudar, para que tudo fique na mesma…diria o Príncipe, Don Fabrizio (de Salina) em Il Gatopardo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa by Luchino Visconti. Então: precisa haver uma dignificação das práticas culturais, mediante a sistematização efetiva de políticas culturais – coerentes, pensadas e exigentes…
O que deve ficar na mesma?
O que deve mudar, para que tudo fique na mesma… diria o Príncipe em Il Gatopardo de Visconti (for short). Deve permanecer aquilo que propicie uma maior dignificação da pessoa individual na sociedade, mediante o exercício da interrogação, do questionamento dos valores para uma consciência crítica e criativa nos domínios socioculturais – por parte de todos que somos público, pois não se escapa a sê-lo num ou outro momento e contexto, mesmo quando sejam pessoas=produtores e autores…
Qual foi a primeira obra de arte que teve importância real para si?
A 1ª obra de arte que teve importância, a que me propiciou a dita “experiência estética”, quando eu era criança, foi O desterrado de Soares dos Reis (durante uma visita com a turminha do 5º ou 6º ano da École Françoise ao Museu que lhe tomou o nome)… Não resisti e, no final, lá fui à receção/loja e comprei o diapositivo com o dinheiro que a minha Mãe me tinha dado… ainda tenho esse slide até hoje; em adulta, marcou-me (definitivamente) ver com todo o tempo disponível as esculturas de Maillol, as pinturas de Picasso, os desenhos de Paul Klee, o desfazer geométrico-abstrato de Mondrian, isso já nos Museus de Barcelona, por onde então ia também vivendo.
Qual a próxima viagem a fazer?
A São Paulo, via Rio de Janeiro ou vice-versa. Mas, desta vez, quero viajar fazendo uma etapa antes de mergulhar em meio de amigos e trabalho – nem que seja por um dia – em Salvador da Bahia.
O que imagina que poderia fazer se não fizesse o que faz?
Talvez desenvolver trabalho relacionado à dança/performance; mas afinal, também leciono (teoria) estética da dança e dancei até aos 30 anos…; na realidade, acho que poderia fazer algum que seria de bem próximo àquilo que faço…quereria dispor de mais tempo para pesquisa individual sem estar em estado de sobreposição...
Se receber um amigo de fora por um dia, que programa faria com ele?
Desde abril deste ano, quase todas as semanas, tenho recebido amigos/artistas do Brasil, por conta de uma curadoria de residências artísticas na fábrica de cerâmica de S. Bernardo (Alcobaça): num dia de 16horas…por assim contar…, almoça-se no rest. António Padeiro, visita-se o Mosteiro; segue-se para Óbidos “village” (….”medo”… o susto que apanhei com a feira medieval… desta última vez que lá fui, na semana passada); depois, a lagoa de Óbidos, subindo até às falésias da praia do bom sucesso (tentando não atolar o carro na areia - como aconteceu há 3 semanas atrás…) e de novo em direção às caldas da rainha, paragem na pastelaria machado e “incursão” na loja da bordalo pinheiro (outlet …de preferência…); então, para fechar a tarde, back on the road…ah, poderia mostrar-lhe, ainda, a igreja do senhor da pedra também… (faça-se a tradução mapeada para locais “análogos” em Lx ou Porto…incluindo tópicos específicos, por certo…)
A sua última obsessão...
A obsessão mais recente consiste numa campanha – por assim dizer filosófica – que se traduz em conciliar o nietzsche com a simone de beauvoir – são os meus 2 gatos… que ainda não socializam bem….
Por outro lado, estou compulsivamente a querer dançar tango com estilo…
Quais os seus projetos para o futuro?
Dar continuidade às curadorias, textos, aulas e, por certo, concretizar as viagens em falta…