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Cecília Silveira
Editora e autora de BD
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Qual foi a última boa exposição que viu?
Sobre a história da Futuropolis, no Museu da Banda Desenhada em Angoulême na semana passada.
A Futuropolis começou como um loja e depois tornou-se uma editora de BD que durou de 1972 a 1994 em França. Foi levada nas costas por uma mulher, Florence Cestac, junto com Etienne Robial e Denis Ozanne.
Acho patéticas as tentativas de expor BD no espaço do museu, e não é que esta exposição da Futuropolis tenha sido genial... mas havia imensa documentação e pranchas originais. Fiquei horas a babar!
Fotografias: Cecília Silveira
Que livro está a ler?
Estou lendo “A Novela Gráfica “ de Santiago García, “My favorite thing is monsters” da Emil Ferris, a história da editora Futuropolis da Florence Cestac, “Graphic Woman” da Hillary Chute, “as palavras do corpo” da Maria Teresa Horta...
Que música está no topo da sua Playlist atual?
Todas da Linn da Quebrada!
Um filme que gostaria de rever...
Gostava de rever Citizen Kane, sempre durmo em alguma parte e nunca consigo apanhar bem a coisa. Fica ecoando na minha cabeça: “rosebud” e eu nunca sei se vi o filme todo ou não...
O que deve mudar?
Acho que podíamos tentar mudar o máximo de coisas possíveis, o mundo está de facto uma bela mmmmm...
O que deve ficar na mesma?
Nada! O ser humano é um projeto falhado e como tal, deveria se repensar.
Qual foi a primeira obra de arte que teve importância real para si?
Esta pergunta é complicada, pois houve tantas vezes uma primeira vez com a arte para mim. Acho que a primeiríssima foi através de um livro em segunda mão, que pedi à minha mãe que me comprasse na Galeria do Ouvidor, em Belo Horizonte, com imagens do Toulouse Lautrec. Veja que inocência! Hahahahahaha...
Qual a próxima viagem a fazer?
Deve ser com a Clara Albinati, minha amiga cineasta e professora, vamos fazer umas cidades da Andaluzia no verão.
Ao Brasil em breve, pois preciso ver a minha família e os meus amigos num momento tão duro como este, pensei em não mais voltar ao país depois das eleições de 2018... repensei e vou lá ver de perto o estrago feito. Enfim... quero também saber quem matou Marielle Franco! Quero poder resistir a esta onda fascista e ir à minha casa.
Está também nos planos com a Ana Ferreira uma nova viagem a Itália, para refazer os caminhos da Ingrid Bergman (eleita por nós a mais gira de sempre) em Nápoles.
O que imagina que poderia fazer se não fizesse o que faz?
Eu poderia trabalhar com jardinagem, poderia fazer pães, cuidar de crianças, poderia dirigir um camião... sei lá, mas a minha mãe diz que desde os três anos eu queria ser desenhista. Não era artista, atenção! :)
Se receber um amigo de fora por um dia, que programa faria com ele?
Faço simplesmente o que me diverte fazer em Lisboa: ando a pé pelas ruas da baixa, bebo imperais nos bares das amigas, vou a miradouros, provo comida nova. Vivo em Lisboa desde 2010 e gosto da cidade.
Imaginando que organiza um jantar para 4 convidados, quem estaria na sua lista para convidar?pode considerar contemporâneos ou já desaparecidos.
Eu gostava de convidar a Alison Bechdel, a Djamila Ribeiro, a Virginia Woolf (sei que a Bechdel ia gostar) e, acho eu... o Henfil.
Quais os seus projetos para o futuro?
Para o futuro tenho o meu doutoramento em desenho e a escrita do meu primeiro romance gráfico, se é que será isso. De qualquer forma, é este trabalho de longo fôlego em BD ao qual devo dedicar os próximos dois anos da minha vida. Entretanto, como gosto de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, vou me dividindo entre as aulas que dou no ArCo e outros projetos mais curtos.
A Sapata Press, projeto editorial ao qual me dedico, faz dois anos em setembro. Nos próximos meses vamos lançar (junto com o Cunt Roll zine, a editora Melão Brando e o zine My mouth is a guillotine) uma chamada de trabalhos com o tema “A minha vizinha Madonna: gentrificação em Portugal”. A Sapata vai também ocupar o espaço do Valsa em fevereiro. Primeiro com as noites “Banda Desenhada”, quando vamos projetar nas paredes os desenhos feitos por artistas convidados durante os concertos. E depois com uma ocupação maluca durante um dia do mês.
Durante a rápida passagem pelo festival de BD de Angoulême dei início a um projeto com a Teresa Câmara Pestana, não foi propositado mas foi simbólico que fosse durante este evento... cenas para um próximo capítulo...
Ainda este ano entrego uma BD sobre um filme para a Associação Ao Norte, a convite do Tiago Manuel. Tenho um convite do Marcos Farrajota para dois projetos distintos... ou seja, muuuuito trabalho.