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Ana Balona de Oliveira
Investigadora e curadora independente
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Qual a ultima boa exposição que viu?
Destaco aquela que apresentei há muito pouco tempo a um grupo de visitantes, no contexto da ARCOlisboa 2018: ‘Urban Now: City Life in Congo’, de Sammy Baloji e Filip De Boeck, na Galeria Av. da Índia.
© Dieter Telemans
Que livro está a ler?
Vários. Neste momento, dedicada a um clássico não suficientemente estudado: o ‘Black Marxism’ do Cedric J. Robinson.
Que música está no topo da sua playlist actual?
Muitas da Dorothy Ashby, por exemplo.
Um filme que gostaria de rever…
Revejo muitos filmes que amo, mas há tantos que nunca vi e quero ver que concentro a minha energia nestes. Tenho visto muito os cinemas africanos e sul-americanos. Revejo sempre com assombro o ‘Touki Bouki’ e o ‘Badou Boy’ do Djibril Diop Mambéty, o ‘Yaaba’ do Idrissa Ouedraogo, ‘La Noire de...’ do Ousmane Sembène. Neste momento, estou muito curiosa para ver o ‘Zama’ da Lucrécia Martel e o ‘Martírio’ do Vincent Carelli.
O que deve mudar?
Tanta coisa. Tantas lutas continuam. Falta tanta democracia nas nossas vidas públicas e privadas. A minha luta é sempre a do feminismo interseccional: contra todas as formas de desigualdade, discriminação e opressão em razão do género, da raça, da classe, da sexualidade, etc.
O que deve ficar na mesma?
Ontológica e historicamente falando, nada fica na mesma. Tudo muda, mesmo quando há ciclos de repetição, como o nascer e o pôr-do-sol. A questão é: que mudanças queremos, para que algumas coisas boas se mantenham? Por exemplo, a sobrevivência de várias formas de vida humana e não humana implica uma política de cuidado e de preservação. Mas esse cuidado e essa preservação exigem de todxs nós mudanças urgentes e profundas e muita mobilização política, porque quem detém o poder económico não está interessado neles. Outro exemplo são as políticas públicas em torno do espaço urbano e das cidades que queremos. Há que resistir à falta de regulação, à gentrificação e à turistificação, que estão a expulsar as pessoas dos centros históricos, sem esquecer as várias formas de segregação racial e de classe que há muitas décadas existem nas periferias.
Qual foi a primeira obra de arte que teve importância real para si?
Muitas, não foi apenas uma. Houve um momento determinante, há muito tempo, quando descobri o trabalho de mulheres artistas de várias proveniências a trabalhar nas décadas de 60 e 70, em vários contextos. Ana Mendieta foi uma delas. Carolee Schneemann. Adrian Piper. O Black Arts Movement no contexto britânico também me marcou muito: Sonia Boyce, Lubaina Himid, Keith Piper, Eddie Chambers, Black Audio Film Collective. Depois, uma série de obras de mulheres artistas africanas: Zanele Muholi, Tracey Rose, Otobong Nkanga, entre muitas outras.
Sonia Boyce, From Tarzan to Rambo: English Born ‘Native’ Considers her Relationship to the Constructed/Self Image and her Roots in Reconstruction, 1987, Tate Collection.
Qual a próxima viagem a fazer?
Ao sul.
O que imagina que poderia fazer se não fizesse o que faz?
Apesar da precariedade da minha profissão, gosto muito do que faço.
Se receber um amigo de fora por um dia, que programa faria com ele?
Caminhar pela Lisboa não turística, mostrar-lhe o rio e o mar.
Imaginando que organiza um jantar para 4 convidados, quem estaria na sua lista para convidar? Pode considerar contemporâneos ou já desaparecidos.
4 amigxs, ou então Maya Angelou, Toni Morrison, Angela Davis e bell hooks.
Quais os seus projetos para o futuro?
Conversas, encontros, escritas, exposições, leituras, viagens, filmes, ensinar e, acima de tudo, aprender.