ARTES PERFORMATIVAS
ONLINE DISTORTION / BORDER LINE(S)
RODRIGO FONSECA
2021-08-08
Online Distortion / Border Line(S) estreou no dia 16 de Julho no Teatro Viriato e esteve em cena na Casa do Capitão entre 21 de Julho e 1 de Agosto. A criação e a direcção artística é de Pedro Sousa Loureiro, a interpretação do próprio, de Joana Cotrim, Marta Barahona Abreu, Susana Blazer, e a criação musical de Francisco Barahona. Pedro Sousa Loureiro, Joana Cotrim e Marta Barahona fazem parte do colectivo OS PATO BRAVO, um colectivo que surge da vontade de criar peças de teatro e intervenções site specific em espaços convencionais e não convencionais (cruzando a vertente plástica, performativa e o canto lírico), com o objectivo de entreter, reflectir, desafiar públicos e participantes. Esta peça vai ao encontro dos objectivos do grupo em tornar o conceito de cómico em algo sério, e o conceito de sério em algo cómico.
© Carlos Fernandes / Teatro Viriato.
Ao entrarmos na zona do espectáculo somos convidados a visitar as várias pequenas salas que dão corpo a esta peça. A cenografia é um conjunto de adereços delicioso que nos envolve num imaginário muito próprio. Além de nos dar a percepção e a verosimilhança de que estamos a habitar um outro espaço, os elementos plásticos presentes propõem ao público um olhar atento aos detalhes de cada objecto. Estes espaços são instalações e funcionam como auxiliares aos performers que estão a actuar. Durante a acção muitas são as vezes que as actrizes e o actor estão fora do ângulo de visão dos espectadores, percorrendo as diferentes salas-instalações. O figurino acompanha o imaginário da cenografia manifestando o sarcasmo e a ironia que está subjacente em cena. Tanto um como o outro vão de encontro à ideia conceptual do projecto que se materializa na seguinte questão: Queres dar o salto quântico ou ouvir techno numa caravela enquanto andamos a descobrir países? Esta pergunta vem no seguimento da pesquisa de Pedro Sousa Loureiro em procurar entender se a realidade à nossa volta é fruto da distorção ou da percepção.
© Carlos Fernandes / Teatro Viriato.
Online Distortion / Border Line(S) surge de um a residência artística do criador na Arménia e do contexto pandémico vivido em Portugal. A convivência com artistas feministas arménias e os estados de espíritos vividos durante a pandemia levaram esta peça a explorar temas como as relações hierárquicas de poder, a luta de egos e os limites físicos e psicológicos da nossa vulnerabilidade. A luta de egos e as relações hierárquicas de poder são representadas com o auxilio da projecção vídeo em tempo real. As imagens produzidas desta forma ampliam os copos das personagens, expõem os seus limites físicos, psicológicos, e as inquietações vividas durante a pandemia — inquietações estas que Pedro Sousa Loureiro deixa em aberto se são biográficas ou ficcionais. As paisagens sonoras salientam esta atmosfera, abrem espaço para que a imaginação flutue. A música acompanha perfeitamente a narrativa da peça, captando constantemente a nossa atenção. O texto desta peça foi semanalmente renovado pelo trabalho de improvisação desenvolvido pelas actrizes e pelo actor, no entanto, é apresentado ao público um objecto cénico lapidado onde estas improvisações se encontram em segundo plano. O sarcasmo e a ironia materializam-se pela performance das personagens e o seu discurso, toda a peça é bastante teatral. Teatral no sentido que é bastante teatro, no que diz respeito à forma de fazer e as presenças geradas, mas também no sentido pejorativo de falsidade. Esta falsidade entra em jogo com o sarcasmo e a ironia das personagens. Dão uma certa leveza a estas questões, mas servem também como forma de nos revermos nas mesmas, de nos envolvermos com as preocupações expostas de modo a facilitar a auto-crítica.
Os estereótipos representados em Online Distortion / Border Line(S) somos nós, e não algum outro longínquo do qual somos alheios. Pedro Sousa Loureiro relaciona a obra da artista Cindy Sherman abordando os conceitos de feminilidade, insólito, e excentricidade com as experiências artísticas urbanas e rurais vividas na Arménia. A pergunta filosófica e existencial sobre a realidade que alimenta o conceito desta peça surge do contraste social e económico vivenciado neste país e das ansiedades e pensamentos distópicos frutos da pandemia.
Rodrigo Fonseca
Licenciado em História da Arte pela FCSH/UNL, e pós-Graduado em Artes Cénicas pela mesma faculdade. Viajou pela Europa central, pelos Balcãs, América do Sul, e viveu em Itália, Grécia e Brasil. O seu trabalho artístico desenvolve-se na música e no corpo. Organiza e programa os festivais culturais Dia Aberto às Artes (Mafra) e Sintra Con-Cê (Sintra) e é membro fundador da associação cultural A3 - Apertum Ars e da editora CusCus Discus.
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