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Terceiro projecto “Bombinate” na rua em 1 de Julho passado, a Artecapital sentou-se à conversa com o projecto experimental Haarvöl que funde som e imagem na criação do seu objecto artístico. Pano pra mangas, o raspar da superfície com a certeza que muito mais há para descobrir, e não tarda que os próximos tempos trarão novidades.
RE – Como nota introdutória, querem apresentar e descrever o percurso do projecto Haarvöl desde 2012 até hoje, momento marcado pelo lançamento recente do terceiro trabalho, a par dos percursos individuais de cada um dos três membros do projecto e da forma como as suas individualidades se combinam num todo maior que a soma das partes?
Haarvöl – Lançamento recente do terceiro álbum de originais, em formato CD na editora holandesa Moving Furniture Records com quem temos trabalhado nos últimos anos e muito em cima (finais de Novembro) do lançamento de um outro álbum, também em formato CD a partir de uma “commission” do Family Film Project, um festival dedicado a filmes que envolvem memória e arquivos de imagens. O projecto Haarvöl nasce em 2012 e, desde aí até hoje, tem estado em actividade constante. De início, com uma ligação à editora portuguesa PAD com quem fizemos o primeiro álbum “Hebetude”, ainda com o Paulo Rodrigues, que sairia do projecto pouco depois, sendo substituído pelo Rui Manuel Vieira o que levou necessariamente a uma reformulação da orgânica interna: passámos de três elementos ligados à música para dois e um terceiro ligado só às imagens. Depois, já com a actual editora MFR, onde temos colaborado activamente, muito por causa do empenhamento enorme que o dono e nosso amigo Sietse Van Erve sempre nos transmitiu, fizemos os outros dois álbuns, respectivamente, “Indite” e “Bombinate” bem como uma participação num álbum de um outro músico que lá edita, o Martijn Comes. A par da edição em disco fomos tendo uma actividade dispersa, mas consequente, em prestações “live” como, por exemplo, na instalação sonora que apresentamos na 1ª Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra – ano zero; na instalação audio-visual apresentada no ano passado no Museu de Serralves ou, mais recentemente, um filme/concerto no âmbito da exposição “Them or us” no auditório da Biblioteca Almeida Garrett no Porto. Acrescente-se, ainda, a estes, uma actividade continuada de produção de bandas sonoras para videos de artistas com, por exemplo, o vídeo levado pelo André Alves ao Research Pavillion na última Bienal de Veneza. Percebe-se, pelo percurso apresentado, que existe uma forte ligação ao território da Arte Contemporânea. Não poderia ser de outra forma: em três elementos do projecto, dois são artistas plásticos, sendo que o terceiro é professor de matemática. De facto, poderemos falar de um todo maior que a soma das partes. Trata-se de um projecto absolutamente colaborativo em que todas as decisões são discutidas e em que os elementos trazem, obviamente, os seus saberes, mas em posição distinta da actividade individual. Por exemplo o Fernando José Pereira que é artista plástico já com uma carreira longa, abdica aqui de qualquer intervenção ao nível visual estando completamente concentrado, juntamente com o João Faria, na realização da música, sendo responsável pelas imagens em exclusivo o Rui Manuel Vieira, também artista plástico, mas dedicado às imagens movimento e ao cinema há já bastante tempo. Quer dizer, o projecto nunca quis invadir o percurso individual de cada um de nós nem o inverso. E temos-nos dado muito bem assim...
RE – O projecto Haarvöl parece encarar o som enquanto entidade que ocupa um espaço, a materialização do imaterial, como tal invocando o som enquanto coisa esculpida. Surge, entretanto, a imagem como expansão visual do som objectificado. Ambas as dinâmicas parecem sugerir a visibilidade do invisível e, como tal, estímulo incubador de um imagético imaginário no ouvinte espectador em que o espectro do conceito imagem adquire uma amplitude que se inicia no produto estético enquanto metáfora e atinge um mundo imagético interior resultante de percepção e interpretação, possível e, ou inevitavelmente condicionada pelo contexto sócio-cultural de cada um. Existe intencional em Haarvöl este ímpeto da imagem real e da imagem imaginada provocada enquanto processos contaminadores de constituição pessoal e social?
H – É verdade que desde o início entendemos o som como possibilidade polissémica: como significante próximo da ideia de escultura, por exemplo, nas instalações sonoras em que colocamos as colunas de som em locais específicos na sua relação espacial para que o som se materialize com capacidades quase escultóricas no sentido de ocupação dos espaços; como abstracção, sobretudo nos discos em que as imagens são exclusivamente mentais mas que, contudo, podem ser sugeridas a partir dos próprios sons. Por isso designamos, muitas vezes, a nossa música como cinemática; como interveniente físico, quando o público é rodeado de som, nomeadamente, em instalações compostas com duplo stereo e em que as pessoas estão envolvidas pela ambiência sónica cuja fisicalidade é sentida de forma evidente. Mas, é verdade que temos uma relação forte com as imagens. Desde logo na atenção que dedicamos às capas dos discos que, tão bem, têm sido desenhadas pelo nosso amigo e designer José Carneiro. Uma relação que nunca quis ser ilustrativa de qualquer uma das partes, mas que possibilita uma espécie de relação dialéctica entre ambas. Quando falas da visibilidade do invisível é disso mesmo que se trata: de uma possibilidade acrescida do todo combinado por sons e imagens se tornar autónomo e de produzir essa aproximação a uma opacidade que permita gerar a recepção como corpo artístico, sem qualquer intencionalidade comunicativa que não aquela que é própria da arte: a de tentar aproximar-se de uma possibilidade de comunicar o incomunicável. É por aí que andamos. O que não quer dizer, uma imersão nas estéticas anestesiadas da new age, antes, uma posição forte de resistência a essas formas de fazer artístico, sempre corporizada por sons e imagens bem inseridos na realidade com que vivemos hoje. E, contudo, com essa lucidez relativa ao processo comunicativo singular que é atribuído ao objecto artístico, seja ele qual for. Por exemplo, fizemos uma peça, longa, intitulada “on remote places (suite for the ends of the world)” que, de alguma forma, tenta integrar no seu registo o problema político do aquecimento global e, contudo, quando se ouve e vê ela afirma-se como obra muito mais aberta. Ou seja, nunca quisemos estar prisioneiros dos mecanismos ilustrativos da comunicação. Trata-se, obviamente, de outra coisa, trata-se, afinal, de objectos artísticos e estes, tal como os entendemos, são políticos por essência ao oferecerem-se ao público como possibilidade reflexiva. Isto é, contaminadora, como dizes, pessoal e socialmente.
RE – Poder-se-á dizer que a arte de Haarvöl contém um processo de significação ideológica, no sentido em que, por via da contraposição e contextualização no real contemporâneo desse vocabulário visual imaginário intencionalmente sugerido e atiçado pela duplicidade da experiência sensorial, parece querer tornar-se o significante que carrega significados tradutores das ambiguidades de hoje, das possibilidades e fragilidades, das certezas e inquietudes, das casualidades e fatalidades? Por outras palavras, poder-se-á dizer que a vossa prática artística, contendo naturalmente a dimensão estética, pretende aglomerar a disseminação de saber e conhecimento baseada na experiência sensorial em articulação com ideias de sustentabilidade?
H – A palavra sustentabilidade é muita ampla em termos significacionais, contudo, é obviamente uma noção que nos interessa. O nosso projecto quis ser, desde o início, uma forma de intervir, também politicamente, e, por isso mesmo, nunca abdicamos do real. Ao nível sonoro, para lá da abstracção dos sons mais sintéticos, existem em muitos casos sons directamente captados do real, os chamados field recordings (e, queremos deixar aqui o agradecimento público ao nosso amigo Xoán Xil López, compositor galego e especialista deste tipo de registo de sons do real, que muito tem colaborado connosco e de forma absolutamente notável) que permitem esse encontro com a realidade, através da interacção da abstracção com a realidade que a comporta. Ou seja, um universo sonoro que, por querer aproximar-se da realidade, se deixa contaminar por registos desse mesmo real, no sentido de produzir significados que, de algum modo, permitam essa aproximação ao político. Poderemos, até, dar alguns exemplos bem presentes nos muitos temas em que este tipo de interacção está presente: num discurso totalmente distorcido do ditador turco; na introdução de sons de uma manifestação política em Espanha; na exposição de sonoridades reconhecidamente gregas em plena vigência da Troyka naquele país e, para lá já da própria matéria musical, através dos títulos e dos vídeos que temos produzido ao longo do tempo. O caso do problema japonês dos Hikikomori, a bandeira negra da resistência, a questão nuclear em “Water ordeal” ou o muito presente sentir de uma crise que nunca mais passa e que sub-repticiamente vai fazendo cada vez mais mossa na realidade que nos circunda: “the inescapable labirinth” do álbum Indite. Ou seja, todo um universo que pode ser ideológico no sentido em que a arte se aproxima do político, isto é, com a consciência clara da impossibilidade das respostas mas com a lucidez necessária das perguntas colocadas.
RE – Assumindo que a singularidade da experiência sensorial do vosso trabalho de cada indivíduo ouvinte espectador é um pressuposto intencional da vossa criatividade, ou seja, que vos interessa imaginar e explorar a diversidade de significantes e significados distintos que o mesmo objecto artístico, o vosso trabalho, crie e produza em indivíduos distintos, como encaram a prática do estúdio de som e imagem e a experiência da performance sonora e visual ao serviço de tal pressuposto? São antagonismos ou complementaridades?
H – Essa é uma questão com que nos temos debatido desde que aparecemos. Existe uma clara e ainda não resolvida situação com a passagem do estúdio para a performance. O Fernando já escreveu, inclusive, um texto onde problematiza esse problema. Nesse texto, que assumimos como uma espécie de manifesto, afirmamos a nossa indisponibilidade para a ideia de concerto. O texto, aliás, chama-se: a possibilidade da impossibilidade da ideia de concerto em Haarvöl (pode ser lido em http://interact.com.pt/22/haarvol/) e remete para toda uma tradição tecnológica que vem das experiências do Stokhausen e do Xenakis com os seus concertos para colunas de som. A questão é, para nós, de algum modo transparente: a impossibilidade de transportar para o concerto da riqueza investigativa que se passa no estúdio, transformado em laboratório sonoro. Ora, aquilo que vamos vendo é, na maior parte dos casos, muito deceptivo relativamente, por exemplo, à fisicalidade de um concerto de rock. Sabemos que existem, já, projectos a introduzirem instrumentos “reais” em interacção com os computadores e restante maquinaria no sentido de ultrapassar essa contingência. No nosso caso, temos estado absolutamente concentrados naquilo que podemos fazer em estúdio. O que vamos mostrando em situação “live” mas não performativa, são, sempre produtos acabados que não são tocados mas instalados, exactamente como nas artes visuais. Um processo próximo da narrativa, quer dizer, algo com que o público é confrontado, mas que vem de um passado temporal e que, quando é visto, já se encontra em situação de finalizado, daí a afirmação derridiana da possibilidade da im-possibilidade de concerto. Não é, como é evidente, uma verdade eterna. É, antes, uma questão em desenvolvimento contínuo esta de performatividade. Da nossa parte, temos apostado mais na imersão possibilitada pela música no público do que na própria performatividade dos músicos. Ou seja, nenhum antagonismo como ponto de partida, antes, uma im-possibilidade que pode, ou não, transformar-se em complementaridade. O futuro o dirá...talvez, até, brevemente.
RE – O vosso processo compositivo incorpora e equilibra elementos analógicos e electrónicos em construções sonoras que estabelecem diálogos muito meticulosos entre cada elemento, sugerindo uma causalidade estruturalista do vosso trabalho. Simultaneamente, a convivência do analógico e do electrónico sugere uma noção de polaridade entre o tempo em que as coisas se faziam com as mãos e o tempo em que as coisas se fazem com as máquinas. Insistindo no tema das ambiguidades e das polaridades, existirá algum tipo de romantismo que se opõe a este estruturalismo? E, nesse sentido, a arte de Haarvöl pretende abordar e responder não só ao espaço, mas também ao tempo?
H – Nós, no projecto Haarvöl encontramo-nos, por opção, em situação absolutamente exterior à lógica polar. Diríamos que incorporamos uma forma de estar bartlebyana, isto é, longe da polaridade da negação ou da sua congénere positiva: a afirmação mas, também, longe do binómio ético, do bom e do mau. A posição bartlebyana permite-nos actuar, sem qualquer espécie de limitação, nesse território imenso que, por vezes, se designa como in-between. O estar entre, neste caso entre o analógico e o digital corporiza uma sonoridade em que essas fronteiras são constantemente quebradas até a um ponto de indistinção entre uma e outra. Quer dizer, mais que estar fora ou dentro de cada um dos territórios, trata-se aqui de pura miscigenação sónica. Com este panorama como proposta constitutiva, é evidente que a relação com o espaço, que já abordámos em respostas anteriores, se compatibiliza em absoluto com uma predisposição para incorporar o tempo como matéria essencial. É, aliás, visível, o nosso posicionamento numa estética muito ligada ao tempo que é normalmente designada por drone, uma das correntes decisivas da chamada música electrónica experimental do nosso tempo e um espaço onde nos temos situado. Uma postura que estende as propostas sonoras até limites temporais que se opõem de forma declarada à compressão do tempo a ser realizada nos nossos dias, nomeadamente, com a maquinaria digital. Porque estamos bem conscientes desta situação de fechamento temporal queremos, ao nosso nível, integrar essa espécie de resistência que é hoje corporizada pelas propostas alargadas temporalmente. Como tem sido sempre connosco, sem qualquer espécie de condescendência com fundamentalismos tantas vezes presentes nestas questões. Ou não fossemos totalmente bartlebyanos.
RE – Considerando a intenção e natureza laboratorial e experimental do projecto cujo processo criativo compreende um rigor e cuidado detalhados e atentos, como se enquadra, se é que tal é desejado, a improvisação e o repentismo no processo criativo? Como se compatibiliza, se é que se quer compatibilizar, o formalismo calculado e o impulso temperamental? Ainda quanto ao processo criativo, e quanto à recolha e reunião de matéria-prima e a relação destas com o vosso quotidiano, qual é a relação vivida? É um processo de contínua aderência e reflexo desse quotidiano ou, pelo contrário, um movimento de isolamento espacial e de suspensão temporal do qual tudo depois jorra?
H – Essa ideia de laboratório será, em nossa opinião, aquela que melhor se aproxima da realidade do projecto. Como em qualquer processo de criação artística, contudo, estamos conscientes da importância do inconsciente na formação das ideias. Na sua essência nada as relaciona com a racionalidade do laboratório, surgem, aparecem não sabemos bem de onde, mas é esse fluir que lhes dá corpo e que nos permite reconhecê-las como possibilidade. O desenvolvimento do processo, tal como em outras questões, afasta-nos, de novo, do binómio que colocas. Preferimos a contingência da exterioridade ao calculismo e à expressividade. Sabemos, por inerência da nossa prática, que nada se poderá colocar de lado. Trata-se, acima de tudo, de um posicionamento que se faz por inclusão e, nunca, por exclusão. A ser assim, todas as possibilidades se encontram em aberto, sendo que o próprio desenvolvimento do processo permite a aproximação a um lado, por vezes, mais expressivo e ou mais mental em outras. Sempre sem limitações que são, a nosso ver, prejudiciais. O processo criativo ainda contém uma outra especificidade que convém salientar: a gestão individualizada do trabalho laboratorial e a troca contínua de ideias e possibilidades de trabalho como processo em constante mutação, em trânsito. Aqui quase em forma literal: vivemos em cidades diferentes o que impossibilita a ideia de espaço comum para o trabalho de estúdio, mas tiramos partido de forma intensa das possibilidades comunicativas da rede, também a este nível. A segunda parte da tua pergunta leva-nos para o território já aqui referido da nossa intransigência relativamente ao isolamento: queremos estar conectados em permanência com o real e dele nos alimentar para aquilo que queremos fazer. Muito longe do isolamento em que a redoma da estética coloca muitos dos processos artísticos que a ela se reduzem. Nada disso com Haarvöl, os encontros mais decisivos são sempre com e a partir do real. Contudo, esta realidade não se pode intrometer nessa suspensão temporal que referes. Sem ela não é possível qualquer processo artístico. É essa suspensão de uma temporalidade comprimida que nos permite alarga-la até onde queremos para, a partir desse espaço de intervenção, potenciarmos as possibilidades de contaminar e deixar-nos contaminar pela relação intensa com o real.
RE – Mais do que indagar sobre as vossas eventuais referências e inspirações artísticas e intelectuais, sobre as quais queremos naturalmente saber, perguntamos-vos também se, da mesma forma como a imagem surgiu após o som em compromisso expressivo no percurso de Haarvöl, existem planos de expansão da hibridização multidisciplinar artística ou se, em oposição aos planos, importa o acaso e o instinto na projecção futura de Haarvöl? Em qualquer dos casos, ou ainda no caso de inexistência de tal ampliação seja por que motivo for, será uma acção em busca de uma reacção ou uma reacção em resposta a uma acção? Ou ambas em justaposição?
H – Desde o início do projecto que colocamos uma condicionante interna: tentar nunca repetir qualquer espécie de fórmula que nos academizasse ou nos tornasse reféns de nós próprios. Uma primeira opção foi, naturalmente, produzir blocos de temas que são incorporados em grupos organizados sobre uma determinada direcção: de ambientes sonoros, de relacionamento com o real, de, inclusive, desafios com que somos confrontados e que nos permitem responder com premissas muito específicas. Assim, a nossa realidade até hoje tem sido pautada por uma continuada insatisfação – talvez sejamos vanguardistas, afinal – que nos vem proporcionando um alargamento do nosso som e das possibilidades de o disseminar em variadas opções mediais e de mediação. Foi assim, como referes com as imagens: perante sonoridades tão estranhamente cinemáticas foi quase uma sua imposição: a incorporação de imagens para dialogarem internamente na conjugação de uma outra obra que ultrapassasse a condição unívoca do somatório de ambas. Tem sido assim com as possibilidades de espacialização do som com carácter instalativo que permite às peças serem, por vezes, fruídas de forma absolutamente diferente pela conexão e interacção que as mesmas permitem na sua relação com os espaços onde têm estado expostas. Será assim, também, com a possibilidade que vimos ensaiando daquilo a que chamamos filme/concerto. Uma espécie de filme, que não o é, porque não quer ser e uma espécie de concerto que, também não é, exactamente porque não o quer ser. Trata-se de outra coisa a que estamos a realizar aproximações...em condições bem adversas da reacção negativa de muitos produtores culturais a estas propostas mais experimentais que fogem declaradamente da tradicional performance representada pelos binómios público/músicos – plateia/palco. É fora deles que queremos estar. Uma vez mais em posição bartlebyana... Uma proposta de mais um desenvolvimento encontra-se agora mesmo a ser testada: a música e as imagens como possibilidade de interacção com a coreografia dos corpos. Ainda não sabemos o resultado, mas estamos entusiasmados com mais esta possibilidade em aberto. Quanto ao que perguntas das influências, não é fácil responder a isso, por ser sempre redutor. Podemos, contudo, afirmar o seguinte: estamos conscientes desde o início que aquilo que é mais determinante na produção artística, seja ela qual for, é a existência de uma espécie de arquivo que permita, antes de tudo, as escolhas. O que nos fica e aquilo que não queremos que fique. Sem o arquivo, tal não é possível. O que quer dizer que aquilo que é audível e visível nos nossos trabalhos é sempre o resultado dessa premissa inicial: da pasagem lenta e demorada por um crivo imaginário que nos permite a selecção, ou seja, as nossas mais importantes influências estão lá, naturalmente, em forma conceptual. Para nós isso é decisivo.
RE – Notas finais e planos futuros, próximos ou distantes, que queiram dar a conhecer.
H – Para já, um novo filme/concerto a acontecer ainda este mês no âmbito do Family Film Festival. Como sabemos, family film é o termo inglês para os filmes em película e para as referências que hoje potenciam em torno da memória e dos arquivos. Quisemos, num impulso arquivista, inscrever o nosso trabalho nesta condição e, assim, apresentaremos um conjunto de temas inéditos que juntamente com as imagens constituem o todo que iremos apresentar. Trata-se de um projecto em torno de uma figura da história recente espanhola, singular e sem pretensões oficializantes, quer dizer, obviamente, esquecida. Uma figura central da guerrilha republicana galega contra o franquismo que desta forma trazemos à luz. O último CD que editámos na nossa editora, a Moving Furniture Records, é apenas a primeira parte de uma trilogia, da qual sairá a segunda parte já no próximo mês de Março; A apresentação pública do projecto conjunto com a coreógrafa/bailarina Isabel Costa que será, em princípio, apresentado pela primeira vez ainda este ano e, para terminar, uma hipótese de projecto, um outro alargamento medial, realizado especificamente para a rede, mais lá para o final do primeiro trimestre do próximo ano... e é isto.
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Obra sonora e visual adicional à apresentada neste texto disponível em Haarvöl