Links

O ESTADO DA ARTE


Acto II - Performance artivista no Museu Nacional de Arte Antiga (Fotografia: Tiago Petinga)


Acto II - Performance artivista no Museu Nacional de Arte Antiga (Fotografia: Ricardo Castelo-Branco)


Acto II - Performance artivista no Museu Nacional de Arte Antiga (Fotografia: Ricardo Castelo-Branco)


Acto III - Performance artivista no Palácio Nacional da Ajuda. Fotografia: Rui Mourão.


Acto III - Performance artivista no Palácio Nacional da Ajuda (ruidoso drone a voar à porta do secretário de estado da Cultura). Fotografia: Rui Mourão.


Acto III - Performance artivista no Palácio Nacional da Ajuda (entrada dos porcos engravatados em cena na perspetiva do drone). Still do vídeo. imagem: Samuel Morais.

Outros artigos:

2024-05-25


NAEL D’ALMEIDA: “UMA COISA SÓ É GRANDE SE FOR MAIOR DO QUE NÓS”
 

2024-04-23


ÁLBUM DE FAMÍLIA – UMA RECORDAÇÃO DE MARIA DA GRAÇA CARMONA E COSTA
 

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÍPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÁFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÁTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÍSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÁBITOS CULTURAIS… DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÍGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ª BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÁRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÍSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÍSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÍVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÍTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÍCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÁLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÁVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE” – O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÁVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÍPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É…
 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLD´S FUTURES” - 56ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÁRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÁTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPA”
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÍTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusão)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÍNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃO”
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II

RUI MOURãO

2014-09-22




[Este texto é a segunda parte do ensaio OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro. A primeira parte foi publicada na Artecapital a 3 de Setembro de 2014 e pode ser lida aqui]

 


Na exposição OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS, no MNAC - Museu do Chiado, o inesperado sucedeu quando uma das convidadas parou no meio da vernissage e interpretou o "Acordai" de Lopes-Graça. Era a mesma cantora lírica / ativista – Ana Maria Pinto – que surge na videoinstalação e no livro (vários dos artivistas que aparecem nos conteúdos audiovisuais da videoinstalação e no texto do livro encontravam-se in loco a ocupar o museu, o que deu ao conjunto uma dimensão semiológica). Seguida de vasto cortejo de convidados, a cantora desceu uma escadaria até se aproximar de Antígona, personagem símbolo de luta transgressora pelo Justo, princesa adormecida que os convidados tentavam despertar atirando ervilhas (colaboração ao nível dramático do Colectivo Negativo, que inclusive concebeu figurinos e adereços). De seguida li o manifesto, declarando: "Estamos aqui em ocupação artivista do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado. Estamos a ocupar o museu em defesa do museu e não contra o museu. (...) Isto não é teatro, nem encenação, nem nós somos personagens, embora o que estamos a fazer seja uma grande performance. Performance para a qual, a partir de agora, estão todos convocados. Os que a apoiarem e os que a ela se opuserem". Entretanto as dezenas de ocupantes combinados (suposto público, portanto "espectatores" como lhes chamaria Boal) e outros que ali espontaneamente se lhes juntaram, abriram a chaise-longue da Antígona – autêntico cavalo de Tróia – e do seu interior tiraram uma série de sacos-cama que se encontravam escondidos para que pudéssemos ali pernoitar, assim como cartazes com mensagens como: MENOS DINHEIRO DOS NOSSOS IMPOSTOS PARA PPPs, SWAPs E BANCOS / MAIS DINHEIRO DOS NOSSOS IMPOSTOS PARA MUSEUS, ARTE E CULTURA / ACESSO GRATUITO AOS MUSEUS TODOS OS DOMINGOS / + CULTURA = + EDUCAÇÃO = + DEMOCRACIA, etc. Dentro da chaise-longue estavam também 2 blocos A2 de papel em branco e marcadores para as pessoas escreverem os seus próprios cartazes.

Ao longo do processo de ocupação, tudo foi decidido pelo grupo em constantes assembleias cívicas de participação direta horizontal. Passámos a noite no museu e só saímos depois das 10h da manhã, hora a que foi convocada uma conferência de imprensa com as nossas reivindicações. De forma irónica, desde o princípio da noite foi sempre exigida reunião oficial com o ministro da Cultura (isto num país que não tem ministério da Cultura desde 2011).

Cerca de um mês depois (17/08/2014) a performance saiu do MNAC - Museu do Chiado, onde decorreu o primeiro acto, e passou sobre outra forma para o Museu Nacional de Arte Antiga, onde teve lugar o segundo acto. Aí, 73 pessoas (evocando o art. 73.º da Constituição da República Portuguesa) vestidas de negro, imóveis, num happening poético de dezenas de estátuas vivas, reproduziram ao vivo as poses de diferentes figuras humanas de quadros e estatuária do museu em tableaux-vivants. Simultaneamente iam repetindo, como um mantra polifónico: "Somos arte, diante da arte, de luto pela arte, em luta pela arte". Nesse momento inscreveram-se naquele local como arte. De seguida, após um gélido silêncio, em estátua, as pessoas desmancharam as suas poses e foram todas para a bilheteira pedir o livro de reclamações (até esgotarem todas as folhas), devido a terem pago bilhete de acesso a um museu público (que aumentou de preço) num domingo (quando antes todos os domingos eram gratuitos), o que constitui um fator excludente de base económica (num país com cerca de 2 milhões de pobres) que viola claramente a obrigação pública de democratização do acesso à Cultura, referida no art. 73.º da nossa Constituição. Numa perspectiva mais alargada, exigimos a reposição do Ministério da Cultura e que, conforme recomendação da UNESCO, se estabeleça o mínimo de 1% do orçamento de Estado para a Cultura.

No mês seguinte (15/09/2014), depois do Acto I (MNAC) – OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS e do Acto II (MNAA) – OS VOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS NOSSAS URNAS, deu-se o Acto III – MORREM LENTAS AS URNAS ONDE NÃO CABEM OS SONHOS, que apontou diretamente para o topo da hierarquia do setor cultural público. Foi um happening que começou com dezenas de pessoas a lerem poesia em voz alta, ocupando o pátio central do Palácio Nacional da Ajuda com uma cacofonia de sentidos poéticos. Pouco depois sobrepôs-se outra dimensão mais subversiva: um grupo de engravatados porcos antropomorfizados destruiu a poesia e um ruidoso drone andou a sobrevoar a porta do secretário de estado da Cultura, tendo sido então feita toda uma coreografia pelos performers expressamente para a câmara de vídeo acoplada ao drone, que filmou tudo de cima. Apenas da perspetiva aérea se percebeu que as dezenas de chapéus-de-chuva abertos, no seu conjunto, formavam um grande €, símbolo de dinheiro, metáfora do único critério que atualmente se impõe à Cultura. Esse ato de contrapoder foi simbolicamente realizado no centro do poder da Cultura em Portugal. À volta daquele pátio estão as entradas para a Direção Geral do Património Cultural e secretário de estado da Cultura.

Mais uma vez a performance resultou da colaboração de dezenas de pessoas – artistas, ativistas e cidadãos em geral, na condição de público e contribuintes. Numa lógica de continuidade apresentámos as mesmas demandas dos anteriores “actos”, criticando a dominante visão política exclusivamente economicista para com os assuntos culturais, onde tem sido cortado todo o tipo de investimento público e simultaneamente explorado tudo o que possa ser rentável (disso são exemplos a intenção de vender a coleção Miró na posse do estado ou o facto de os museus passarem a ser avaliados pelo valor das suas receitas – de bilheteira, lojas, aluguer de espaços, etc – fator que inclusive determina os seus futuros orçamentos anuais).

Como sem público não há performance, foi sempre feito um esforço no sentido de criar uma comunicação mediática que funcionasse como palco. No seu todo, as performances artivistas no twitter chegaram a ser trend topic nas cidades de Lisboa e Porto. Houve igualmente inúmeras centenas de partilhas, “likes” e comentários no facebook, transmissão em direto de vídeo via live stream do MNAC para a internet com milhares de visualizações, polémica em alguns bloques (ex: The Ressabiator ou O António Maria) e foi notícia na grande maioria dos meios de comunicação social (Acto I:RTP, SIC, Diário de Notícias, Público ou Rádio Renascença  / Acto II: Diário de Notícias, Correio da Manhã ou Público / Acto III: jornal i, Diário de Notícias, jornal Metro ou TVI).

Os 3 “actos” performativos desenvolvidos em articulação com a exposição que continua patente até finais de setembro no MNAC - Museu do Chiado, revelaram claramente ser possível criar formas artísticas que permitam obter uma voz na esfera pública, com impacto suficiente para constituírem os seus participantes em reais atores políticos. Com os nossos corpos, a nossa energia, a nossa ação, os nossos sonhos, demonstrámos que as performances artivistas podem operar representações de cariz subversivo que funcionem como formas de contrapoder e contestação pública. As 3 performances artivistas consubstanciaram na prática aquilo que a videoinstalação representa e o livro que escrevi (Ensaio de Artivismo - Vídeo e Performance), na sua reflexão, ensaiou: que a arte, de facto, pode empoderar as pessoas e que o corpo é o medium mais democrático e universal para o executar – todos temos um. O facto de tudo isso ser produzido a partir da ação do corpo, remete-nos para o conceito de afeção. Tendo aplicação em contextos psicológicos e filosóficos, o conceito foi criado por Espinosa e desde então foi amplamente abordado a posteriori (por autores como Deleuze, Guattari ou Massumi). Numa abordagem muito sucinta, a afeção prende-se com a capacidade dos corpos afetarem ou serem afetados através das energias das suas ações e atitudes, tocando as emoções. Uma performance de contrapoder bem sucedida é precisamente aquela que de alguma maneira exerce afeção a quem a presencia. As tradicionais manifestações de coletivos na rua, como demonstração de poder, necessitam da presença do maior número possível de pessoas para ganhar afeção e adquirirem uma legitimidade que lhes confira representatividade. Pelo contrário, a força das performances artivistas no espaço público é mais qualitativa que quantitativa, assumindo em pleno a sua vocação de contrapoder. Como tal, o mais importante não é a quantidade de participantes, mas a sua capacidade de impacto no questionamento das relações de poder estabelecidas na sociedade.

Nos protestos políticos mais convencionais e institucionalizados o arrastar repetitivo de fórmulas e dinâmicas emotivamente pouco entusiasmantes, de certa forma tem diminuído a força desses movimentos. Há portanto o risco de tal alimentar um esvaziamento de emoção política. Note-se que corpo que perde emoção é corpo que perde ânimo (basta pensar na própria origem etimológica da palavra anima) e um processo prolongado de existência desanimada resulta numa perda de crença, de motivação e, em última instância, pode levar à perda de vida. A um nível coletivo é o próprio espírito da Polis que perde fôlego, isto é, perde-se o emotivo e vivo exercício da Democracia para além da rigidez institucional. Ora o que fizemos nos 3 “actos” artivistas apresentados foi o oposto. Levámos, provocadoramente e sem falsos pudores, o político para o espaço museológico e ainda fizemos disso arte. Voltando à citação inicial de José Gil (na 1ª parte do artigo), procuro que no meu percurso e no daqueles que indelevelmente se cruzam no meu, a arte entre pela vida adentro e transforme "existências individuais". Pode-se interpretar nesse sentido este excerto do manifesto lido na inauguração da exposição: "Ao realizarmos esta ação podemos mudar algo na sociedade – ou não! – no entanto, com o exemplo desta ação de certo modo somos nós próprios que nos podemos transformar. É uma mudança que vem da expressão de uma consciência cívica mais crítica, audaz, criativa, interventiva, sentida e livre, que não se esgota nas normas institucionais, nem no mero voto de 4 em 4 anos e que pretende levar-nos a viver uma experiência política com maior intensidade. A viver uma maior intensidade pela emoção na crença em valores em que acreditamos, podendo ser igualmente inspiradores para outros. (...) Toda e qualquer performance artivista, só por existir, afirma na esfera pública o próprio ideal de Democracia. E enquanto nós, cidadãos ativos para além da norma e da estrita regra, estivermos vivos, esse ideal não morre. Nem dentro de nós, nem nas ruas, nas praças ou nos museus de todos.”

 

Acto III - Performance artivista no Palácio Nacional da Ajuda (entrada dos porcos engravatados em cena na perspetiva do drone). Captação de imagem: Samuel Morais.

 

 


Rui Mourão
Artista