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O ESTADO DA ARTE


David Shrigley, An important message about the arts. Imagens do vĂ­deo animado, disponĂ­vel no fim do texto.


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HĂĄ uns dias Paloma Checa fez uma anĂĄlise do Ășltimo congresso da IKT (Associação Internacional de Curadores de Arte ContemporĂąnea) (1) celebrado em Madrid. Escrevia sobre os temas abordados nos debates, mas tambĂ©m do que se falou nos encontros informais: da precariedade do trabalho do comissĂĄrio independente ou, o que Ă© o mesmo, da precariedade de trabalhar em arte. E nĂŁo diremos que esta era uma situação inimaginĂĄvel hĂĄ cinco anos, porque tambĂ©m era impensĂĄvel que o mundo estivesse governado pelos mercados financeiros da maneira que estĂĄ agora mesmo.

Nalguns contextos começam-se a tomar medidas: no Reino Unido iniciou-se a campanha “What Next”, uma iniciativa dos responsĂĄveis dos equipamentos culturais, desde teatros a museus, passando por escolas de dança, para promover o investimento pĂșblico nas artes. O objetivo Ă© que as artes se convertam numa espĂ©cie de manifesto na vida polĂ­tica. Trata-se de que os polĂ­ticos entendam a importĂąncia e o valor da cultura (e sim, a cultura pode ter rentabilidade polĂ­tica e econĂłmica), ainda que o debate de fundo seja sobre o tipo de sociedade que estamos a construir e em que tipo de sociedade queremos viver. Em Madrid estĂŁo a preparar-se fechos no Centro de Arte Reina SofĂ­a. O objetivo Ă© o mesmo, reivindicar o valor da cultura.

Harald Szeemann dizia que os artistas eram como uma espĂ©cie de sismĂłgrafos do que estava a acontecer na sociedade, porque detectavam ou refletiam (de maneira consciente ou inconsciente) as mudanças que estavam a ter lugar. A afirmação continua a ser vĂĄlida tambĂ©m a um nĂ­vel mais global. No mundo global em que vivemos aumentam as distĂąncias que separam uma classe extremamente rica e uma grande quantidade de pessoas cada vez mais prĂłximas da pobreza e das necessidades bĂĄsicas. A sociedade do bem estar estĂĄ a rebobinar a uma velocidade supersĂłnica. O mundo da arte tambĂ©m reflete esta situação: existe um mundo de leilĂ”es milionĂĄrios, de galerias de arte instaladas na periferia das grandes capitais, localizadas perto de aeroportos privados, de colecionadores vindos de paĂ­ses exĂłticos capazes de comprar tudo e mais alguma coisa e obras de arte Ășnicas cujo preço tem muitos zeros. E existem profissionais da arte (artistas, crĂ­ticos, comissĂĄrios, gestores, designers, etc.) que trabalham com ideias, com contextos, com conteĂșdos, e que fazem malabarismo com nĂșmeros e orçamentos. Parecia superada a ideia do artista do sĂ©culo XIX e princĂ­pios do XX com uma vida tĂŁo boĂ©mia como pobre, mas parece que volta a ser mais atual do que pensĂĄvamos.
O trabalho na ĂĄrea artĂ­stica vive outra sĂ©rie de contradiçÔes tambĂ©m: ainda falamos de comercializar peças Ășnicas ou de ediçÔes limitadas (em formatos absolutamente reprodutĂ­veis); de comprar e vender objetos; de acessos limitados; de instituiçÔes que cresceram demasiado, sendo-lhes muito difĂ­cil adaptar-se Ă  flexibilidade e ao dinamismo que os tempos, as prĂĄticas artĂ­sticas e o pĂșblico requerem; de querer/poder ser uma indĂșstria. Trabalhar em arte nĂŁo Ă© algo “bonito” ou “interessante”, trabalhar em arte Ă© algo necessĂĄrio, e nĂŁo Ă© fĂĄcil. Tem que ver com ser crĂ­tico, com a prĂĄtica de questionar as coisas, com o descontentamento, com procurar e criar sentido. É claro que como artista, crĂ­tico ou comissĂĄrio se pode criar sentido em qualquer parte, numa pĂĄgina Web ou no corredor de casa. O problema Ă© que se reconheça o valor e a necessidade. AlguĂ©m escreveu hĂĄ tempo: “A cultura Ă© a opção polĂ­tica mais revolucionĂĄria a longo prazo”. NĂŁo Ă© casualidade que agora mesmo esteja no ponto da mira.



Montse Badia
* Texto original publicado em a-desk.
www.a-desk.org/highlights/Trabajar-en-arte.html


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Nota

(1) Texto de Paloma Checa em: www.a-desk.org/highlights/Valor-e-IKT.html


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VĂ­deo animado de David Shrigley, An important message about the arts, disponĂ­vel em: www.youtube.com/watch?v=T6rYDaORe3k&feature=player_embedded