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TRABALHAR EM ARTEMONTSE BADIA2013-05-06HĂĄ uns dias Paloma Checa fez uma anĂĄlise do Ășltimo congresso da IKT (Associação Internacional de Curadores de Arte ContemporĂąnea) (1) celebrado em Madrid. Escrevia sobre os temas abordados nos debates, mas tambĂ©m do que se falou nos encontros informais: da precariedade do trabalho do comissĂĄrio independente ou, o que Ă© o mesmo, da precariedade de trabalhar em arte. E nĂŁo diremos que esta era uma situação inimaginĂĄvel hĂĄ cinco anos, porque tambĂ©m era impensĂĄvel que o mundo estivesse governado pelos mercados financeiros da maneira que estĂĄ agora mesmo. Nalguns contextos começam-se a tomar medidas: no Reino Unido iniciou-se a campanha âWhat Nextâ, uma iniciativa dos responsĂĄveis dos equipamentos culturais, desde teatros a museus, passando por escolas de dança, para promover o investimento pĂșblico nas artes. O objetivo Ă© que as artes se convertam numa espĂ©cie de manifesto na vida polĂtica. Trata-se de que os polĂticos entendam a importĂąncia e o valor da cultura (e sim, a cultura pode ter rentabilidade polĂtica e econĂłmica), ainda que o debate de fundo seja sobre o tipo de sociedade que estamos a construir e em que tipo de sociedade queremos viver. Em Madrid estĂŁo a preparar-se fechos no Centro de Arte Reina SofĂa. O objetivo Ă© o mesmo, reivindicar o valor da cultura. Harald Szeemann dizia que os artistas eram como uma espĂ©cie de sismĂłgrafos do que estava a acontecer na sociedade, porque detectavam ou refletiam (de maneira consciente ou inconsciente) as mudanças que estavam a ter lugar. A afirmação continua a ser vĂĄlida tambĂ©m a um nĂvel mais global. No mundo global em que vivemos aumentam as distĂąncias que separam uma classe extremamente rica e uma grande quantidade de pessoas cada vez mais prĂłximas da pobreza e das necessidades bĂĄsicas. A sociedade do bem estar estĂĄ a rebobinar a uma velocidade supersĂłnica. O mundo da arte tambĂ©m reflete esta situação: existe um mundo de leilĂ”es milionĂĄrios, de galerias de arte instaladas na periferia das grandes capitais, localizadas perto de aeroportos privados, de colecionadores vindos de paĂses exĂłticos capazes de comprar tudo e mais alguma coisa e obras de arte Ășnicas cujo preço tem muitos zeros. E existem profissionais da arte (artistas, crĂticos, comissĂĄrios, gestores, designers, etc.) que trabalham com ideias, com contextos, com conteĂșdos, e que fazem malabarismo com nĂșmeros e orçamentos. Parecia superada a ideia do artista do sĂ©culo XIX e princĂpios do XX com uma vida tĂŁo boĂ©mia como pobre, mas parece que volta a ser mais atual do que pensĂĄvamos. O trabalho na ĂĄrea artĂstica vive outra sĂ©rie de contradiçÔes tambĂ©m: ainda falamos de comercializar peças Ășnicas ou de ediçÔes limitadas (em formatos absolutamente reprodutĂveis); de comprar e vender objetos; de acessos limitados; de instituiçÔes que cresceram demasiado, sendo-lhes muito difĂcil adaptar-se Ă flexibilidade e ao dinamismo que os tempos, as prĂĄticas artĂsticas e o pĂșblico requerem; de querer/poder ser uma indĂșstria. Trabalhar em arte nĂŁo Ă© algo âbonitoâ ou âinteressanteâ, trabalhar em arte Ă© algo necessĂĄrio, e nĂŁo Ă© fĂĄcil. Tem que ver com ser crĂtico, com a prĂĄtica de questionar as coisas, com o descontentamento, com procurar e criar sentido. Ă claro que como artista, crĂtico ou comissĂĄrio se pode criar sentido em qualquer parte, numa pĂĄgina Web ou no corredor de casa. O problema Ă© que se reconheça o valor e a necessidade. AlguĂ©m escreveu hĂĄ tempo: âA cultura Ă© a opção polĂtica mais revolucionĂĄria a longo prazoâ. NĂŁo Ă© casualidade que agora mesmo esteja no ponto da mira. Montse Badia * Texto original publicado em a-desk. www.a-desk.org/highlights/Trabajar-en-arte.html ::::: Nota (1) Texto de Paloma Checa em: www.a-desk.org/highlights/Valor-e-IKT.html ::::: VĂdeo animado de David Shrigley, An important message about the arts, disponĂvel em: www.youtube.com/watch?v=T6rYDaORe3k&feature=player_embedded |