Links

O ESTADO DA ARTE


Museu de Serralves

Outros artigos:

2024-10-30


CAM E CONTRA-CAM. REABERTURA DO CENTRO DE ARTE MODERNA
 

2024-09-20


O MITO DA CRIAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE JUDY CHICAGO
 

2024-08-20


REVOLUÇÕES COM MOTIVO
 

2024-07-13


JÚLIA VENTURA, ROSTO E MÃOS
 

2024-05-25


NAEL D’ALMEIDA: “UMA COISA SÓ É GRANDE SE FOR MAIOR DO QUE NÓSâ€
 

2024-04-23


ÃLBUM DE FAMÃLIA – UMA RECORDAÇÃO DE MARIA DA GRAÇA CARMONA E COSTA
 

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÃPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÃFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÃTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTà FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÃDIO ÃLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÃSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÃBITOS CULTURAIS… DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÃGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ª BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÃRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÃSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÃSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÃVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÃTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÃRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÃCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÃLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÃVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE†– O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÃVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÃPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É…
 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLD´S FUTURES†- 56ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÃRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÃTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÃTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPAâ€
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÃTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÃLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÃLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÃLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusão)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÃNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÃNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÃTICO EXCELENTÃSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÃTICO EXCELENTÃSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃOâ€
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

O QUE FAZ CORRER SERRALVES?

AUGUSTO M. SEABRA

2008-03-24




Que a Fundação de Serralves é um caso de êxito, é um facto da ordem das evidências. Isso deve-se às condições institucionais enquanto parceria do Estado com privados, à sua localização ligada à Casa de Serralves e aos seus jardins, à política de programação e aos elevados níveis de adesão pública que tem suscitado, ainda agora confirmados pelos mais de 120.000 visitantes da exposição “Robert Rauschenberg: Em Viagem 70-76â€.
(Relembro, a propósito, que a ex-ministra da Cultura de má memória, Isabel Pires de Lima, tinha anunciado como objectivos para a sua “jóia da coroaâ€, a balofa e medíocre exposição do Hermitage, ultrapassar o número de visitantes das exposições de Amadeo de Souza-Cardoso na Gulbenkian e de Paula Rego em Serralves; não só o número, um pouco acima dos 100.000, ficou longe dos 157.000 respeitantes à de Paula Rego, como afinal a de Rauschenberg tem também mais visitantes – mesmo nesta lógica altamente mediatizada de “sucesso†por vezes ainda há notícias reconfortantes).

Se Serralves é um paradigma, e de primordial importância no tecido cultural português, há a atender que é contudo, a todos os títulos, um caso de excepção, longe de representar de um estado exponencional – designadamente de investimento mecenático – a que não correspondem na realidade outros níveis de menor dimensão devidamente sustentados. Esta situação pode ser entendida como motivo de particulares responsabilidades (é-o certamente) mas também de pressões – “O sucesso de uma instituição cultural está associado ao êxito mediático e a uma boa adesão do público. E isso acaba por criar condicionamentos de acçãoâ€, afirmava há algum tempo o próprio director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, João Fernandes, num colóquio, “Quanto custa a Cultura?â€, promovido pela Universidade do Porto (“Jornal de Notícias†de 21-11-07). E tem também sido fonte de repetidas solicitações no sentido de transportar “a marca de Serralvesâ€, com o seu estatuto de prestígio e peso institucional.
De acordo com os estatutos, “A Fundação de Serralves é uma instituição cultural de âmbito europeu ao serviço da comunidade nacional, que tem como missão sensibilizar o público para a arte contemporânea e o ambiente, através do Museu de Arte Contemporânea como centro pluridisciplinar, do Parque como património natural vocacionado para a educação e a animação ambientais e do Auditório como centro de reflexão e debate sobre a sociedade contemporâneaâ€. Há pois que frisar que a missão estatutária é a de “serviço à comunidade nacionalâ€, mas não menos está claramente expresso que esse objectivo se cumpre pelas actividades e património do Museu, do Parque e do Auditório.

Sucede que temos vindo a assistir, sob a direcção do muito dinâmico Presidente da Fundação, António Gomes de Pinho (ele próprio ex-secretário de Estado da Cultura), a uma profusão e disseminação de actividades, que não só se arrisca a descaracterizar o fundamental da instituição, nos termos estatutariamente consignados, como começa a ser um inquietante sinal de uma incapacidade de devidamente ponderar as diversas solicitações, inclusive legitimando políticas e práticas de graves consequências culturais.
Por exemplo, e como é notório, o ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, tem afirmado as suas pretensões na área cultural (e não apenas na sua arte de eleição pessoal, a fotografia), bem como uma vultuosa propensão para o “marketing†em termos que chegam a ser caricatos. Escapa-me de todo que o entendimento de “serviço da comunidade nacional†justifique o envolvimento de Serralves no projecto “Allgarveâ€, com quatro exposições aí apresentadas no verão passado. Mais preocupante ainda, mesmo grave, é o protocolo com a Câmara Municipal de Coimbra desde que aí foi instalado o Pavilhão de Portugal para a Feira de Hanôver, obra de Siza Vieira e Souto Moura.

Na opinião publicada em Portugal existe uma forte hostilidade à criação cultural, aos apoios a essa criação e às estruturas vocacionadas para a arte contemporânea nos seus diferentes campos, há uma estigmatização dos pretensos “subsídiodependentes†que toca mesmo as raias do delírio, e de que o principal expoente e manipulador é Pacheco Pereira (só a pura cegueira pode “explicar†que, por exemplo, a propósito da crise na Câmara de Lisboa tenho escrito isto: “O único exemplo a seguir é o de Rui Rio. Apareça alguém a dizer que vai seguir o exemplo do Porto, ouça-se o ‘espernear’ dos animadores culturais a dizer que o ‘contabilista’ está a matar a ‘cidade’, e Lisboa pode vir a ser finalmente governável†– “Sábadoâ€, 10-05-07).
Desde logo pelo gravoso exemplo do Porto e da gestão de Rui Rio, o autarca de estimação de Pacheco Pereira, os responsáveis de Serralves não podem desconhecer quanto grande parte dos problemas reais das actividades culturais em Portugal se radicam na falta de empenhamento e de investimento de autarquias – algumas das quais até podem querer ter também um museu ou um centro de arte (e a colaboração de Serralves até), mas sem a menor ideia de como concretamente o preencher e gerir.

Com menor impacto mediático nacional que a aguerrida e controversa gestão de Rio, a situação em Coimbra não é menos alarmante, com um continuado desinvestimento orçamental na cultura, e um vereador, Mário Mendes Nunes, que é mesmo um caso caricato de provincianismo (vale a pena visitar www.marionunesdixit.blogspot.com, uma verdadeira antologia de “pérolas de cultura†como esta “Nós (eu) sempre nos orgulhámos das nossas origens provincianas e é com respeito e honra que sublinhamos ser Coimbra uma lição para todo o Mundo†– “para todo o Mundoâ€!). Esta política tem tido os mais gravosos efeitos para as estruturas existentes, como o Centro de Artes Plásticas e o Centro de Artes Visuais, inclusive no incumprimento pela Câmara de protocolos firmados.
Só a endémica ausência de uma efectiva “comunidade artística†e um reconhecimento pelo trabalho de Serralves que se confunde com a reverência intimidada, podem explicar que a objectiva “cobertura†de tão danosa situação, que o acordo da Fundação com a edilidade tem vindo a constituir, não tenho ainda sido objecto de uma pública e cívica questionação.
Neste quadro, é de particular infelicidade a abertura da nova exposição, de José Pedro Croft, no momento em que surgiu um movimento cívico, “Coimbra – Pelo Direito à Cultura e pelo Dever de Cultura†(www.amigosdacultura2008.blogspot.com). É também Serralves que, de outro modo, se está a eximir ao seu dever, no entendimento de “serviço da comunidade nacionalâ€.
Noutra ordem de debate, não deixa também de ser questionável o projecto “IN Serralvesâ€, lançado conjuntamente com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, visando criar no espaço da Fundação “uma incubadora de indústrias criativasâ€.

A questão é, desde logo, de outra ordem de debate porque, muito para além do caso particular desta iniciativa, há equívocos que se estão a gerar também com a crescente importância económica de iniciativas e redes culturais. Desde logo há que destrinçar “arte†e “culturaâ€, pois que nem todos os factos culturais (longe disso) são da ordem da experiência estética, e se as economias da cultura têm uma importância cada vez maior (e nessas se incluem igualmente as consequências económicas de “inputs†propriamente artísticos) ainda uma outra coisa são as indústrias criativas, em que das base tecnológica são também de primordial importância. Contudo as equivalências e confusões vêm-se estabelecendo (assim, por exemplo, o mais recente projecto do galerista Luís Serpa, “O Fascínio de Ulissesâ€, tentando também pensar Lisboa como “uma plataforma transcultural para o século XXIâ€, pretende relacionar-se com um “think tank†a realizar na cidade sobre cidades e indústrias criativasâ€).

Há um importante “know how†constituído em Serralves e é compreensível mesmo, do ponto de vista cívico, confirmada a crescente subalternização da Região Norte, que a Fundação possa ter entendido dar este outro contributo. Mas aquele, fundamental e insubstituível, tem sido o do dinamismo das suas actividades próprias e o importantíssimo pólo artístico e cultural que constitui – indústrias criativas são outra coisa que não se enquadram na sua missão estatutária, e que lhe podem inclusive vir a criar condicionamentos de acção.
Por todas estas questões, também há razões para perguntar: o que faz correr Serralves?


Nota – Tenho colaborado e tenho colaborações em curso com a Fundação de Serralves.


Augusto M. Seabra