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30 ANOS DO KWCONSTANÇA BABO2021-04-23
Ao próprio diretor, e também curador sénior, colocou-se a seguinte questão sobre o presente e o futuro do KW: Constança Babo - A data dos 30 anos assinala o passado, mas também anuncia o futuro do KW. Desde o início da sua direção que se observa uma nova estratégia, a partir do ponto de vista dos artistas, estabelecendo-se relações entre diferentes práticas artísticas e culturas, a partir daí debruçando-se sobre problemáticas sociais e políticas, como é próprio do Instituto. Pergunto-lhe quais são as preocupações centrais bem como a estratégia da programação do KW para os próximos meses. Krist Gruijthuijsen - O nosso programa procura, sempre, responder às tendências globais, nacionais e locais, através do ponto de vista artístico e visual, sendo que as várias problemáticas atuais emergem nas várias vertentes que desenvolvemos. Por exemplo, encontramos a questão da descolonialização no Metabolic Museum-University, desenvolvido pela curadora associada Clémentine Deliss, nos filmes que produzimos enquanto parte da KW Production Series, mas também na próxima mostra da artista americana Renée Green. Ao longo do ano passado, submergimos na esfera do digital ao contratar o curador Nadim Samman que lançará a extensão digital da instituição no próximo mês. Como instituição, vamos lentamente dissolvendo as hierarquias entre apresentação, produção e investigação no âmbito de desenvolver diferentes colaborações que tenham, também, por sua vez, distintas relações com o tempo. [1] Com efeito, desde a sua fundação, o KW afirma enquanto preocupação central a análise crítica das tendências e práticas artísticas contemporâneas ligadas à atualidade sociopolítica. Nesse contexto, refira-se como exemplo o valioso projeto expositivo REALTY, iniciado em 2017 e assinado pelo curador do Instituto, Tirdad Zolghadr, que se debruça sobre a gentrificação e o capitalismo. Requer-se igualmente realçar o caráter pioneiro e o papel fundamental do Instituto no panorama artístico e cultural da capital alemã. Situado no centro da cidade, foi fundado por Klaus Biesenbach e um grupo de jovens artistas, sensivelmente um ano e meio após a queda do muro de Berlim, numa época de profundas mudanças na cidade. Desde então, a instituição tem definida enquanto missão contribuir para o desenvolvimento da que é, hoje, uma das maiores capitais de cultura do mundo. A estrutura física do Instituto resulta da recuperação de dois edifícios, um classificado como património cultural e uma antiga fábrica. O complexo que a partir daí se construiu, estruturado em torno de um icónico pátio, divide-se em distintas alas, destacando-se a assinada pelo arquiteto Hans Düttmann e o Café Bravo, da autoria de Dan Graham, concebido em 1999 com a colaboração da arquiteta Johanne Nalbach. Ora, considerando a data que se assinala este ano, impõe-se não só recordar o percurso do Instituto como também refletir sobre a sua atual posição no campo da produção, da exposição e disseminação da arte contemporânea. O KW propõe fazê-lo sob dois pontos de vista, um retrospetivo, de exposições e eventos apresentados no passado, e outro que se projeta no futuro. Como tal, recuperam-se obras e retomam-se colaborações, ao mesmo tempo que se inauguram novas. A programação [2] foi desenvolvida com a colaboração da Berlin Biennale for Contemporary Art, parceira do Instituto desde a sua fundação, em 1996, também por Klaus Biesenbach e, ainda, Nancy Spector e Hans Ulrich Obrist. O programa do aniversário do KW inaugurou no passado dia 15 de janeiro com uma instalação de som de Susan Philipsz, intitulada Rosa [3], em homenagem à ativista política Rosa Luxemburg. A obra, concebida em 2002 durante uma residência artística no instituto, reproduz-se, agora, diariamente, às 12h, no pátio. Da extensa e diversificada agenda que se anuncia, refiram-se desde já as exposições coletivas. A primeira, Zeros and Ones, que decorrerá de julho a setembro, com a co-curadoria entre a curadora assistente do KW, Kathrin Bentele, Ghislaine Leung e Anna Gritz, seguindo-se, entre outubro e janeiro de 2022, Understudies: I, Myself Will Exhitib Nothing, comissariada por Iman Issa. As mostras contam com nomes tais como Louise Lawler e o cineasta Sergei Parajanov, respetivamente. Sobre as mostras individuais destaca-se a da artista berlinense Amelie von Wulffen, uma das mais relevantes pintoras contemporâneas alemãs, cuja obra cruza a história nacional e a herança cultural da Alemanha com uma narrativa autobiográfica, através de uma imagética interpelante e impressionante. Também partindo da pintura, mas estendendo-se à tridimensionalidade, sob a forma de instalações de médias-grandes dimensões, encontra-se o trabalho do artista neozelandês Michael Stevenson que, entre julho e setembro, apresenta a sua primeira exposição individual em Berlim. Com um caráter mais heterogéneo, refira-se a obra da artista americana Renée Green, conhecida pela sua abordagem multicultural à história e à memória, incorrendo nos campos da escrita, da instalação, do filme e do som, entre outros media. A sua mostra no KW, entre outubro 2021 e janeiro de 2022, tem a particularidade de ser concebida em colaboração com o programa de residências artísticas DAAD - Artists-in-Berlin Program. Um outro nome internacional a destacar é o de José Leonilson, artista brasileiro que, a partir de 2 de maio, exibe a que consiste na sua primeira retrospetiva na Europa, com o título Drawn, e obras datadas entre 1975 e 1993. Sobre os artistas que retornam ao KW, destaque-se Katharina Sieverding, com o projeto Deutschland wird deutscher. Os seus cartazes que, em 1993, não somente invadiram o Instituto como as ruas da cidade de Berlim, ressurgem, de abril a maio, tão marcantes quanto então. Também Sissel Tolaas regressa ao KW com um projeto muito particular intitulado KWOPE_2012 que consiste na produção de sabões a partir de partículas de margarina recolhidas na antiga fábrica do edifício. Ao programa ainda se juntam várias performances, das quais se destaca a do coreógrafo e artista multidisciplinar italiano Michele Rizzo, a 27 e 29 de maio. É também fundamental referir nomes incontornáveis da arte contemporânea, caso de Joseph Kosuth com Berliner Chronik, que consiste na inscrição de uma citação de Walter Benjamin na fachada interior do edifício, datada de 1994, na ocasião da sua primeira mostra no KW, a qual permanece enquanto uma das exposições mais especiais do Instituto. Por fim, porque nos últimos anos, principalmente no contexto da recente pandemia global, tem-se evidenciado a relevância e a urgência da expansão da arte para o universo digital, apresenta-se o KW Digital: The Last Museum. Ora, se na última Berlin Biennale, em 2020, se propôs a ideia de um Inverted Museum que recuperasse o que a história e os museus da cultura ocidental capturam, procura-se agora o nascimento do novo. Trata-se, pois, de ir de encontro ao futuro ao invés do passado. Com curadoria de Nadim Samman, curador da programação digital do KW, inaugura-se uma exposição coletiva que, como é próprio do online, organiza-se em rede. Neste particular caso, uma ligação entre seis continentes é estabelecida pelo Instituto e os cinco artistas Nicole Foreshew, Juliana Cerqueira Leite, Jakrawarl Nilthamrong, Zohra Opoko e Charles Stankievech. Transita-se entre as esferas virtual e real, explorando a tensão entre ambas, bem como a especificidade do local, nomeadamente a própria internet e as suas poéticas. Com acesso livre a partir da página do KW [4], é passível de explorar entre os dias 30 de abril e 6 de junho. A programação celebrativa também contempla um leilão de arte organizado em colaboração com a prestigiada leiloeira Grisebach, distribuído em dois momentos, um primeiro em junho e um segundo em dezembro, contando estes com obras de mais de 60 artistas relevantes no percurso do KW. Anuncia-se, ainda, um importante livro, que constitui a primeira publicação dedicada à história do Instituto, bem como ao papel deste no campo cultural de Berlim. Assim se celebram as três décadas do KW ao longo deste ano, reaproximando o instituto, a cultura e a arte, do público, como muito se anseia.
Constança Babo
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Notas [1] “Our program always tries to respond to the global, national as well as local tendencies filtered through a visual and artistic lens. Many current issues emerge into the various strands we have developed. For example, the subject of decoloniality finds itselfs in the Metabolic Museum-University developed by associate curator Clémentine Deliss, but also in the films we develop as part of our KW Production Series as well as in the upcoming survery of American artist Renée Green. |