Links

O ESTADO DA ARTE


Vista exterior do CAM; área coberta Engawa. © Fernando Guerra


Vista exterior do CAM; área coberta Engawa. © Fernando Guerra


Vista exterior do CAM; área coberta Engawa. © Fernando Guerra


Vista exterior do CAM; área coberta Engawa. © Fernando Guerra


Vista exterior do CAM. © Fernando Guerra


Vista exterior do CAM. © Fernando Guerra


Vista interior do CAM. © Fernando Guerra


Vista da exposição O Calígrafo Ocidental. Fernando Lemos e o Japão, Espaço Engawa - CAM. @ Pedro Pina


Vista da exposição O Calígrafo Ocidental. Fernando Lemos e o Japão, Espaço Engawa - CAM. @ Pedro Pina


Vista da exposição Linha de Maré, Galeria da Coleção - CAM. © Pedro Pina


Vista da exposição Linha de Maré, Galeria da Coleção - CAM. © Pedro Pina


Vista da exposição Linha de Maré, Galeria da Coleção - CAM. © Pedro Pina


Vista das Reservas Visitáveis, CAM. © CAM / FCG


Vista das Reservas Visitáveis, CAM. © CAM / FCG


Vista da exposição da desigualdade constante dos dias de leonor*, de Leonor Antunes; CAM. @ Pedro Pina


Vista da exposição da desigualdade constante dos dias de leonor*, de Leonor Antunes; CAM. @ Pedro Pina

Outros artigos:

2024-10-30


CAM E CONTRA-CAM. REABERTURA DO CENTRO DE ARTE MODERNA
 

2024-09-20


O MITO DA CRIAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE JUDY CHICAGO
 

2024-08-20


REVOLUÇÕES COM MOTIVO
 

2024-07-13


JÚLIA VENTURA, ROSTO E MÃOS
 

2024-05-25


NAEL D’ALMEIDA: “UMA COISA SÓ É GRANDE SE FOR MAIOR DO QUE NÓS”
 

2024-04-23


ÁLBUM DE FAMÍLIA – UMA RECORDAÇÃO DE MARIA DA GRAÇA CARMONA E COSTA
 

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÍPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÁFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÁTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÍSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÁBITOS CULTURAIS… DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÍGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ª BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÁRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÍSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÍSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÍVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÍTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÍCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÁLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÁVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE” – O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÁVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÍPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É…
 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLD´S FUTURES” - 56ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÁRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÁTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPA”
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÍTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusão)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÍNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃO”
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

CAM E CONTRA-CAM. REABERTURA DO CENTRO DE ARTE MODERNA

JOÃO BORGES DA CUNHA

2024-10-30




 


Comece por dizer-se da dificuldade que há em nomear com termos comuns o que sucedeu ao Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian [CAM], nesta reabertura em Setembro de 2024. Não apenas no que se refere ao conjunto arquitectónico, edifício, espaços de exposição e demais recintos, mas também à vocação institucional e museológica. Se no primeiro caso, a junção de uma peça de arquitectura como o é o Engawa – uma cobertura sobre o espaço exterior adjacente à empena sul do edifício original –, desenhada pelo arquitecto japonês Kengo Kuma, inibe a simplicidade de designações correntes como, por exemplo, as de recuperação, reabilitação, remodelação; no segundo, e citamos os princípios da missão respectiva disponíveis no sítio da instituição, aquilo que foi concebido, em 1956, como «espaço para acolher uma coleção de arte moderna e contemporânea», será agora um lugar onde se almeja «a possibilidade de proporcionar experiências impactantes, (…) experiências artísticas imersivas [n]uma ligação mais próxima com a natureza e a ciência», o que constrange a pensar-se numa mera renovação de objectivos sem a ideia de estar-se, de facto, perante uma refundação do Centro. Por isto, este novo CAM parece ser antes um contra-CAM. E não se pense que nesta vacilação, ou declinação, possa apontar-se um deslize por parte da Fundação Calouste Gulbenkian, a quem, em questões de cultura no nosso país, parece ter sido outorgado um papel constitucional semelhante ao do monarca de Inglaterra, ou seja, não pode falhar: tudo o que faça é intrinsecamente bom. Pois a bondade deste contra-CAM tem muito a ser posto sob escrutínio, não tanto pelo que nele haja de fracassos, mas antes pelo que pareceria serem valores seguros surgirem enredados em contradições que fazem talvez temer que mesmo naquilo que se tem por perpétuo, há mudanças que não resultam em que tudo fique na mesma. Na verdade, aquelas contradições são apenas fruto de debates redivivos a que mesmo as instituições doutrinariamente mais blindadas não conseguem resistir. Debates que convém percorrer, e a que o novo CAM oferece irradiações.

O carácter iconográfico obrigatório a que as peças de arquitectura que se relacionam com a arte devem procurar, sobretudo tendo em vista a inscrição num circuito mais ou menos internacional (por vezes, apenas regional) de espaços artísticos visualmente identificáveis para lá das obras e dos artistas que albergam, advém de uma lógica cheia de reveses (e que Hal Foster cunhou como “art-architecture complex”). O fenómeno redundou num “estilo global”, reconhecível em edifícios tão desiguais como a consensualíssima Tate Modern ou o muito embotado Reina Sofia. O debate está aqui inquinado por argumentos que extravasam os campos disciplinares da arte, da arquitectura, do planeamento urbano e das práticas culturais, e que, na verdade, são argumentos políticos disfarçados de divisas estéticas sobre a cidade, onde ora tanto grassa um cosmopolitismo dissolvente (Guggenheim Bilbao), que diz faça-se aqui como se fosse lá, quanto um ultra-identitarismo personalista (Ala Siza de Serralves), que diz faça-se aqui como só cá.

 

Vista exterior do CAM; área coberta Engawa. © Fernando Guerra

 

A peça prodigiosa que, no CAM, Kengo Kuma concede à cidade de Lisboa está enredada nesta contradição. A iconicidade cheia de fotogenia, que apenas espera que se lhe juntem as letras da palavra “Lisboa” à cobertura contra-curvada para que resulte na melhor ilustração gráfica de um destino artístico de prestígio, parece trair uma necessidade de afirmação em termos de imagem arquitectónica que não é retribuída pela experiência da escala extravagante a que ela obriga o lugar, e sobretudo o edifício antigo projectado, em 1983, por Leslie Martin (edifício que foi sempre mal-amado, incompreendido e a que, é inegável, o tempo não vinha favorecendo, apesar do preciosíssimo desenho em escalonamento espacial na tradição dos hanging gardens). Esta nova área coberta, de nome Engawa, e que recria os espaços avarandados em torno das casas tradicionais nipónicas, tem sido sujeita, na divulgação ao público, a um esforço tradutório para inscrevê-la na arquitectura e na cultura portuguesas, o que denuncia aquilo que de mais escusado ocorre neste género de intervenção: a má-consciência por trazer-se qualquer coisa vinda de fora. E é assim que entre ser uma ‘pala’ ou ser um ‘telheiro’, entre ser um ‘alpendre’ ou ser um ‘terreiro coberto’, ou ainda, sem que se tenha poupado na caricatura, entre ser ‘casco de navio’ ou ‘telhado de azulejos’, tem vivido este Engawa as suas equívocas referências imagísticas. O que lhe estará reservado porém, e é o que constitui já um dos seus trunfos, será vir a ser conhecido somente como o Engawa de Lisboa. E melhor sorte haverá ainda se, num golpe de metonímia, o nome Engawa de Lisboa for substituindo a designação Centro de Arte Moderna, recorte terminológico que pouco interessará à actual direcção de Benjamin Weil, curador de artes dos media. E que mostra bem como este CAM é contra o outro CAM. O Engawa de Lisboa não é uma peça fácil, sobretudo ao nível da escala, com desequilíbrios vários que se reflectem, por exemplo, nas diferentes dimensões dos apoios verticais em “V” invertido que resulta num jogo desconexo e pouco elegante, além de estar cheio de intenções desencontradas: quer ser espaço de abertura do CAM ao novo jardim a Sul, mas o contacto visual que dali se estabelece é com uma manta cerâmica cega e duplamente dobrada; quer ser espaço de permanência, mas uma configuração sobre o comprido transforma-o num espaço-canal, mais propício à circulação de circunstância, o que, de resto, quem teve a oportunidade de visitá-lo nos primeiros dias pôde comprovar, transformado que foi no abrigo das filas de visitantes, não muito diferente do que sucede no controle de segurança de um terminal aeroportuário, o que, espera-se, não lhe marque para sempre o uso. Mas à parte a volumetria exuberante, à parte uma detalhação refinada e uma execução irrepreensível – veja-se a maravilha técnica que são as vigas metálicas em perfis encurvados –, o Engawa tem um momento de glória dentro do edifício do CAM, nas janelas da galeria semi-enterrada que lhe pede o nome, e também ela se chama “Espaço Engawa” (onde está montada a exposição «O Calígrafo Ocidental. Fernando Lemos e o Japão»): trata-se de uma longuíssima janela horizontal sobrelevada que dá para o terreiro debaixo de sombra, e onde se pode observar num suave contra-picado, efeito amplamente cinematográfico, a vaga dança dos visitantes e passeantes debaixo do Engawa, puro cinema. Porém, o encantamento maior vem-lhe talvez do que tem de mais discutível, e que é ser um espaço abertamente cenográfico, no sentido em que encena, e reproduz, um espaço segundo. Acontece por isso que, a trecho, tornar-se-á seguramente num espaço cénico, lugar daquelas manifestações artísticas que abafam num museu, não procuram um auditório e também não demandam um anfiteatro. Quem sabe, talvez nem precisem de paredes. Saberemos quais são, com certeza, quando em dois mil e cinquenta, pela reabertura de outro CAM e pela reconversão urgente deste Engawa, se tiver de celebrar a memória de todas elas.

 

Vista da exposição Linha de Maré, Galeria da Coleção - CAM. © Pedro Pina

 

O papel do CAM como sede da mais ampla colecção de arte moderna e contemporânea portuguesa pode trazer perplexidade, senão mesmo indignação, ante a opção curatorial de dedicar a galeria subterrânea às soi-disant «Reservas Visitáveis», isto em vez de consagrar-se uma selecção fixa das cerca de doze mil obras do acervo para exposição permanente na nave principal, como anteriormente, ou no mezanino (ou agora no “Espaço Engawa”). Trata-se, antes de mais, de uma estratégia museográfica, que responde às perguntas ‘como expor?’ e ‘quando expor?’, e não tanto de uma resposta de índole museológica à questão de fundo, ‘o que expor?’. Nestas «Reservas Visitáveis», as obras em exposição irão rodando. O efeito que isto desencadeia não é desprezível, porque dá azo àquelas perguntas de sabor contrafactual a que a história da arte, com a celebração dos seus cânones, costuma reagir mal, como, a exemplo, a de saber se o que foi guardado e esquecido não merece igual atenção à do que sempre esteve exposto. Se desse modo for, que o que já andou exposto terá de recolher a reserva. Inicia-se uma espécie de contra-história, ou uma história alternativa desafiantíssima. Ao assim fazer, este CAM é um contra-CAM. Porque ao poder correr-se ali para ver o muito inesquecível quadro de Jorge Pinheiro Stabat mater (2006), já pintado neste milénio, em vez de um enésimo estudo de vanguarda novecentista; porque ao poder ver-se a muito inesperada sequência de dez xilogravuras do livro-de-artista de Hein Semke Apocalipse à Portuguesa (1975), em vez da consabida collage surrealista; porque ao poder experimentar-se a peça enigmática de Graça Pereira Coutinho Viagem ao interior desconhecido através de linhas paralelas (2015), em vez do tão regurgitado desencanto conceptual; aquilo que este CAM está de certa forma a replicar é o fenómeno de que a arte contemporânea mais se tem aproximado, o da deflagração das contraculturas (que depuseram as vanguardas). E nisto há coragem a assinalar. Tanta que as obras dos modernistas Amadeo, Eloy e Almada, num gesto que dá brado, e que fez subir o tom dos que oferecem as suas reservas a este novo CAM, podem apenas ser vistas numa exacta sala do depósito, penduradas em grades e calhas de suporte, e dispostas sem outra ordem aparente que não a de ocuparem a máxima superfície disponível, com um mínimo de respiração entre elas. Mas por sorte de uma ironia que parece bafejar as manobras arriscadas, se alguém quisesse demonstrar visual e espacialmente esse cisma em que vivem já as instituições de protecção e salvaguarda da arte moderna e da arte contemporânea de modo a distinguir as duas, não teria sucesso maior do que o acaso que se dá nesta sala dos fundos da galeria subterrânea do CAM, e a que alguém chamou já a “gaiola dos Amadeos”. É que a arte moderna ainda consegue pendurar-se e expor-se nas reservas e nos armazéns. A arte contemporânea já não. Precisa pelo menos de um Engawa.

 

[Na linha do que antes se veio cunhando de efeito “CAM e contra-CAM”, é ainda curioso, e eloquente, processo de acareação, face e contra-face, que a exposição de Leonor Antunes, «da desigualdade constante dos dias de leonor*», engendra entre as obras da artista e um conjunto de obras do acervo da autoria de artistas mulheres, o que merece observação estudada e comentários ulteriores; as peças de Leonor Antunes transportam complexidades raras e que não se deixam exibir prima facie, nem colher por imagens, o que lhes conferem um apelo irrecusável]

 

 

 

 

João Borges da Cunha
Doutorado em Estudos de Cultura, Universidade Católica Portuguesa. Arquitecto, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. Professor no Departamento de Arquitectura da ECATI [Escola de Comunicação], Universidade Lusófona. Investigador nos centros ARQ.Id e CECC. Publicou ensaio, teatro e ficção.