Links

O ESTADO DA ARTE


Imagem via Twitter de Yusaku Maezawa: “I am a lucky man…”


Imagem via Instagram: "I am happy to announce that I just won this masterpiece. When I first encountered this painting, I was struck with so much excitement and gratitude for my love of art. [1]"


Leilão Sotheby´s


Jean-Michel Basquiat

Outros artigos:

2024-10-30


CAM E CONTRA-CAM. REABERTURA DO CENTRO DE ARTE MODERNA
 

2024-09-20


O MITO DA CRIAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE JUDY CHICAGO
 

2024-08-20


REVOLUÇÕES COM MOTIVO
 

2024-07-13


JÚLIA VENTURA, ROSTO E MÃOS
 

2024-05-25


NAEL D’ALMEIDA: “UMA COISA SÓ É GRANDE SE FOR MAIOR DO QUE NÓS”
 

2024-04-23


ÁLBUM DE FAMÍLIA – UMA RECORDAÇÃO DE MARIA DA GRAÇA CARMONA E COSTA
 

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÍPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÁFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÁTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÍSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÁBITOS CULTURAIS… DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÍGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ª BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÁRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÍSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÍSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÍVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÍTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÍCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÁLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÁVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE” – O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÁVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÍPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É…
 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLD´S FUTURES” - 56ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÁRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÁTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPA”
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÍTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusão)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÍNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃO”
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!

SÉRGIO PARREIRA

2017-06-06




 


OK. Vamos imaginar que todos nós tínhamos um salário mensal de 20 milhões de dólares, e que eventualmente ao fim de juntarmos um dinheirinho para a reforma, sei lá, decidíamos ir comprar uma obra ali a Nova Iorque à Sotheby’s… Fazia algum tempo que já andávamos a “namorar” um Jean-Michel Basquiat cujo valor base de licitação até encaixava no nosso pé-de-meia, aproximadamente 60 Milhões. Infelizmente, tínhamos mais três candidatos à aquisição daquele que nós queríamos, e a licitação levar-nos-ia a perder a cabeça, esquecer as consequências, eventualmente a lógica, qualquer tipo de razoabilidade, mas nunca, jamais, abandonar o nosso capricho e emoção que nos colocou naquela sala para conquistar o troféu!

Tudo isto é um pouco disparatado, certo? Esta história naturalmente é fictícia, mas os números não poderiam ser mais reais.

Claro que não está ao nosso alcance este tipo de shopping, assim como não está ao alcance de quase ninguém no planeta. No entanto, as portas destes centros comerciais abrem com alguma regularidade para as elites multimilionárias, os clientes entram, ou compram online, nós assistimos, como se de um espetáculo se tratasse, e por fim resignamo-nos aos factos, nada “alternativos”, mas a pura realidade.

A comercialização de objetos de arte em Nova Iorque, nas principais casas de leilões, roça o ridículo, está para além do razoável, e o mundo e os profissionais da arte, assistem, compactuam, escrevem livros e artigos sobre a matéria, mas ninguém se arrisca a legislar.

O que hoje são 110.5 milhões de dólares pode seguramente vir a ser daqui a um, dois ou três anos, meio bilião de dólares. Porquê? Não há rigorosamente nada que impeça estes valores de escalarem, inflacionarem, dispararem para importâncias cujos dígitos jamais figurarão na conta bancária de 99.9 % dos seres humanos do planeta; mesmo assim, fazemos notícia, registamos o recorde, indignados, não pelo ridículo, mas pela surpresa. E para que fique claro que isto é real, esta obra foi adquirida pelos anteriores proprietários, Emily e Jerry Spiegel, em leilão na Christie’s em Maio de 1984 por dezanove mil dólares ($19,000 US dólares).

Quem comprou este Jean-Michel Basquiat, “Sem Título” de 1982 foi um bilionário Japonês, Yusaku Maezawa, que após rebentar um sonoro aplauso generalizado na sala de leilões, postou na sua conta de instagram @yusaku2020 a seguinte frase “Estou extremamente feliz por poder anunciar que acabei de conquistar esta obra-prima”. Este jovem empresário de 41 anos que é fundador da maior loja de moda online do Japão, tem uma incomensurável paixão por arte contemporânea e por alguns artistas em particular, não se coibindo a despesas para concretizar ou “conquistar” obras dos seus preferidos. Tudo isto seria aceitável, se estes colecionadores não estivessem a ditar as regras de um mercado já ele disfuncional. Ao atuarem também eles de forma “descontrolada” e emocional durante estas “batalhas” de conquista de troféus, eles não se apercebem que estão a inflacionar uma moeda que não tem controlador; ou seja, após esta venda inesperada, que registou diversos recordes; para uma obra de arte americana, por um artista afro-americano e para uma obra criada após 1980 que suplantou os 100 milhões, todas as obras do artista entram num ciclo um pouco incerto de valorização. Incerto, pois após se estabelecer o recorde com uma obra que não era tornada pública há cerca de 30 anos, colecionadores de obras de Basquiat, como Larry Warsh, recolocam na praça pública a importância e relevância do artista, tentando também eles colocar a sua fortuna num patamar superior, declaradamente legitimado pelos novos valores de mercado. Como podem fazê-lo? Pois é extremamente simples: o mercado da arte não tem muitas regras ou praticamente nenhumas, as poucas que tem aplicam-se em taxas, fees, buyers premium (taxa aplicada no valor final de venda que normalmente beneficia na totalidade a casa de leilão alegadamente para despesas administrativas – 12% acima dos 2 milhões - dados disponíveis mais atualizados) que para quem tem dinheiro digamos que é irrelevante (mais milhão menos milhão…), depois é tudo uma questão emocional e talvez de ocasião, se faz frio ou faz calor, se o dia correu bem ou mal, se beberam um copo a mais ou um a menos, e a adrenalina no topo de tudo isto que é apenas gerada no momento… isto pode parecer uma vez mais impensável, mas tem muito de realidade e tamanhas consequências. Os dealers, que hoje em dia podem vir em vários formatos e feitios, colocam-se rapidamente no mercado através dos meios que tem disponíveis, e recolocam obras deste artista disponíveis, para deleite dos colecionadores mais modestos que querem juntar uma novíssima superstar às suas obras. Um conhecido site de arte, no dia seguinte a esta venda, e depois da notícia online que eles mesmo fizeram e publicaram que descrevia esta venda, disponibilizavam um link com um anúncio, em que eu, você, qualquer pessoa, poderia passar também a ter um Basquiat na sua coleção de arte, e isso estava simplesmente à distância de um click no site deles, onde poderia escolher de entre mais de 100 obras disponíveis.

Tudo isto seria salutar se o mercado revelasse alguma coerência, e se o leilão como espaço e local de aquisição de obras de arte não fosse apenas um passeio de bilionários na busca e conquista de troféus. As pessoas que estão a ditar o que é ou não válido no mercado da arte são bilionários, que eventualmente não têm qualquer conhecimento aprofundado da história de arte ou do que poderá ser ou não uma obra determinante para a mesma. Sabemos que estas compras são sustentadas por conselheiros na especialidade, mas no final tudo se reduz a um jogo de interesse e mercado. A venda de uma obra de arte num leilão que ultrapassa os limites da razoabilidade, tem implicações drásticas no mercado da arte, no valor do artista, em coleções de arte dos mais diversos proprietários, isto naturalmente influência fortunas e a “riqueza” e valor de muitos indivíduos. Há um claro jogo de interesses por detrás de tudo isto, e há claramente uma “máfia” de aquisição de obras de arte, que não é mais que um grupo organizado de bilionários a nível mundial.

Se sabemos tudo isto, se nada disto é novidade e cada vez se torna mais escandaloso, como é que não há legislação que impeça que os bilionários se autoproclamem mais ricos, através de aquisição de arte, que os próprios estabelecem como as obras mais valiosas da nossa história de arte?

Estamos para além da ponderação, em que a catalogação ou categorização da qualidade e valor de um objeto de arte deixou de ser feita com base em fatos históricos que legitimam as obras, mas sim e maioritariamente, o estatuto do objeto artístico está neste momento legitimado pelo poder económico do seu comprador, que não tem necessariamente que ter qualquer tipo de conhecimento especializado em objetos artísticos, tem unicamente que ter emoção, sentimento, capacidade e vontade de possuir.

 

 

Sérgio Parreira
IG: artloverdiscourse 

 

:::

Notas

[1] "I am happy to announce that I just won this masterpiece. When I first encountered this painting, I was struck with so much excitement and gratitude for my love of art. I want to share that experience with as many people as possible." Via Instagram.