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MARIA VLACHOU

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“Muitas pessoas sentem-se desconfortáveis ​​com o rótulo 'as artes' e associam-no apenas às artes visuais ou à 'alta cultura', como o bailado ou a ópera. (…) Ao mesmo tempo, a maioria das pessoas neste país tem vidas culturais activas e valoriza oportunidades para ser criativa.” As frases não foram retiradas da publicação do estudo da Fundação Gulbenkian sobre os hábitos culturais dos portugueses. Foram retiradas do documento do Arts Council England Let’s Create, que apresenta a sua estratégia para a década 2020-2030. No contexto português, a primeira frase soa muito familiar; o estudo português não confirma a segunda, mas poderia ser um desejo. Será…?

No Reino Unido, e especificamente na Inglaterra, não se ficou pelo desejo. Nos anos 1950, o académico Raymond Williams, ao defender um maior investimento nas artes (e também na aprendizagem ao longo da vida), esclarecia que este não deveria servir apenas para apoiar as grandes instituições nacionais, mas também para acolher, encorajar e fomentar as tendências regionais de recreação, que começavam a manifestar-se, “pois, a cultura é comum, uma pessoa não deveria ter de ir a Londres para a encontrar”. Muitos anos mais tarde, já no século 21, são desenvolvidos projectos culturais que colocam o foco no cidadão, qualquer cidadão, onde quer que esteja. O Creative People and Places (apoiado pelo Arts Council England) pretende criar condições para que as pessoas possam escolher, criar e participar em experiências artísticas brilhantes nos lugares onde vivem. O Fun Palaces (cuja fundadora Stella Duffy tivemos a oportunidade de ouvir no Isto é Partis da Fundação Gulbenkian em 2020) trabalha no terreno para que todos possam ter uma opinião sobre o que conta como cultura, onde acontece, quem a faz e quem usufrui dela. Foi precisamente o que defendia em 2017 o estudo do King’s College London Towards cultural democracy: promoting cultural capabilities for everyone: “uma liberdade social substancial para criar versões de cultura; (...) liberdades reais e concretas para escolher que cultura fazer, bem como que cultura valorizar. (…) Oportunidades para ver e ouvir coisas; coisas novas, coisas velhas, coisas estranhas, coisas bonitas, coisas divertidas e coisas ferozes; coisas que mobilizam, confundem e movem; coisas que confortam e coisas que inspiram.”

Chegámos assim ao ano 2020, para o Arts Council England assumir como um dos objectivos da sua estratégia para a próxima década “valorizar o potencial criativo de cada um de nós, proporcionar às comunidades de todos os cantos do país mais oportunidades para apreciar a cultura e celebrar a grandeza de qualquer tipo.” Levou muito tempo (muito mesmo) e ainda temos de esperar para ver qual será a sua concretização. Mas o país, o seu sector cultural, entendeu a necessidade de ir além da “democratização da cultura” para se focar numa cultura mais democrática.

Gosto e fazem-me falta os estudos de público no nosso trabalho. Costumamos guiar-nos pelas nossas intuições, convicções empíricas, trocas de opiniões com colegas. Não desvalorizo estes factores, mas são também necessários dados mais concretos e objectivos, mais detalhados, cruzados em função de vários parâmetros, que permitam pensar melhor o nosso trabalho e tomar decisões mais informadas. Nesse sentido, sinto-me muito contente com o estudo encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian sobre os hábitos culturais dos portugueses. Não me trouxe surpresas, no entanto; infelizmente, nem no que diz respeito a muitas das primeiras reacções aos resultados apresentados.

Em 2013, a situação foi muito parecida quando saíram os resultados do Eurobarómetro sobre o acesso e participação cultural dos cidadãos nos países da EU (escrevi na altura aqui). Senti que algumas das nossas reacções, reacções de quem trabalha no sector, foram tão ou mais preocupantes que os resultados em si. Agora, está a acontecer o mesmo.

Alguns comentadores, desiludidos ou mesmo zangados com os portugueses incultos, desinteressados ou ignorantes, questionam se deveremos, então, ir à rua buscar as pessoas e trazê-las para dentro. Outros defendem o contrário, que devemos levar o que temos e sair para a rua. Poucos questionam o que é que queremos, realmente, partilhar? Porquê? Que relevância vêem nele os Portugueses? Aliás, a palavra “relevância” aparece duas vezes no estudo da Gulbenkian, mas nunca associada à oferta cultural (aparece uma vez associada à educação e outra à sociabilidade). No entanto, deveria ser uma questão central na análise dos resultados do estudo (e para quem tem dificuldade em definir “relevância”, o livro The art of relevance, de Nina Simon, é um bom ponto de partida).

Fico com a sensação que queremos impingir algo aos portugueses. Não interessa quem são, onde vivem, em que pensam, o que anseiam por fazer ou discutir. Planeamos, e programamos, “apesar” deles. Amuamos quando afirmam não ter interesse no que propomos (ou, pior, não ter conhecimentos para apreciar o que propomos…). A questão do preço dos bilhetes aparece como tábua de salvação (“não vêm porque é caro”). Tudo menos questionarmos o que fazemos, como e porquê.

A comunicação social faz as suas interpretações e escolhe títulos como “Muita televisão e telemóvel, poucos livros e museus”. Tão preconceituoso, tão limitador e com tanto impacto nas conclusões simplificadas que muitas pessoas vão tirar dos resultados. Lembro-me da Acesso Cultura organizar em 2020 um debate com colegas, profissionais da cultura, que cresceram em meios rurais. Todos eles falaram da importância da televisão nas suas vidas, em tudo o que ficaram a conhecer, em tudo o que puderam imaginar. O problema não é o meio em si (o mesmo em relação ao telemóvel). O nosso questionamento tem de ir um pouco além.

Os autores do estudo afirmam que, para perceber as raízes da fraca adesão às práticas culturais, o estudo inquiriu também os entrevistados sobre as razões que os levam a ignorá-las. No entanto, a “falta de tempo”, a “falta de dinheiro”, a “falta de interesse”, só por si, não revelam o que muitas vezes está por trás destas afirmações. O “é caro” pode esconder algo como “é tão grande, tão bonito, não é para mim” (estou a citar uma pessoa real). O “não tenho interesse” ou “não tenho conhecimentos para entender” são referências que devem ser aprofundadas, isto é, se tivermos a coragem de nos confrontarmos com o que revelam sobre a forma como comunicamos. O “não estou bem vestida para ir visitar a exposição” é um factor real, muito real. Temos ainda a “falta de tempo”, invocada também por quem trabalha na Cultura. Uma realidade que a pandemia nos permitiu questionar de forma intensa, mas… já passou.

Mais uma vez, fica claro para mim que não estamos dispostos a questionar-nos, a pôr-nos em causa. Para quê fazer estudos, se não estamos preparados para actuar sobre eles? Para quê fazer estudos, se vamos passar uns dias indignados, para voltarmos ao que sempre fizemos, como sempre o fizemos, culpando os portugueses, o Salazar (inevitável referência nestas discussões), a escola…?

“Toda a política cultural é centrada na oferta, ou seja nos artistas e nas estruturas que os mantêm. Mas não conhecíamos a consequência disso ao nível da procura”, disse Miguel Lobo Antunes na conferência de imprensa. Pois é, mas eu acho que conhecíamos também a consequência disto. Aliás, essa mesma política cultural, quando pensa nos “destinatários” da oferta, não vai além do “digital” e das entradas gratuitas, da tal “democratização” - ou “impingimento” (neste post de 2016 reflectia sobre o programa do governo para a cultura).

Um dia antes do estudo ser apresentado, a nossa colega brasileira Marta Porto partilhou comigo o artigo de um jornal do seu país intitulado “Volta pra tua terra”, “nossa cor é a branca”, dizem os racistas em Portugal, que começava com uma referência ao espancamento de uma aluna brasileira de 11 anos no pátio da sua escola em Portugal. A Marta perguntou-me: "Como os museus e os programas portugueses estão lidando com a xenofobia crescente em Portugal?" A minha resposta foi directa e curta: não lidam. Como não lidam com vários outros assuntos, pequenos e grandes, graves, mas também felizes. Aqui não se trata de dizer “Mas não conheces o projecto a, b, c…?”. Conheço alguns e, com certeza, desconheço outros tantos. Mas o que está aqui em causa é o posicionamento de um sector inteiro em relação à vida e às pessoas, esta terra e o mundo. Se quisermos questionar a relação dos portugueses com “a Cultura”, devemos começar por um honesto auto-questionamento. Tentar responder à pergunta desconfortável “Porque é que fazemos o que fazemos?”; e, ainda, “Qual a nossa relevância?”. O que seria mesmo preciso agora era um estudo sobre os hábitos culturais das próprias organizações culturais. O que é que os portugueses podem esperar delas? De nós?

 

 

Maria Vlachou
Consultora em Gestão e Comunicação Cultural. Directora Executiva da Acesso Cultura. Gestora do grupo de Facebook Textos em Museus e co-gestora do blog Museums and Migration. Foi Directora de Comunicação do São Luiz Teatro Municipal e Responsável de Comunicação do Pavilhão do Conhecimento. Fellow internacional e membro do ISPA (2018, 2020). Fellow do DeVos Institute of Arts Management no Kennedy Center em Washington (2011-2013). Mestre em Museologia (University College London, 1994), com tese sobre o marketing de museus.