Links

O ESTADO DA ARTE


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Pavilhão de Portugal, © Renato Ghiazza


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Pavilhão de Portugal, © Renato Ghiazza


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Pavilhão de Portugal, © Renato Ghiazza


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Pavilhão de Portugal, © Renato Ghiazza


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Still do filme.


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Still do filme.


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Still do filme.


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Still do filme.


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Still do filme.


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Still do filme.


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Still do filme.


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Still do filme.


Pedro Neves Marques, Vampires in Space. Still do filme.


Pedro Neves Marques, artista, e João Mourão & Luís Silva, curadores. © José Pedro Cortes

Outros artigos:

2024-10-30


CAM E CONTRA-CAM. REABERTURA DO CENTRO DE ARTE MODERNA
 

2024-09-20


O MITO DA CRIAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE JUDY CHICAGO
 

2024-08-20


REVOLUÇÕES COM MOTIVO
 

2024-07-13


JÚLIA VENTURA, ROSTO E MÃOS
 

2024-05-25


NAEL D’ALMEIDA: “UMA COISA SÓ É GRANDE SE FOR MAIOR DO QUE NÓS”
 

2024-04-23


ÁLBUM DE FAMÍLIA – UMA RECORDAÇÃO DE MARIA DA GRAÇA CARMONA E COSTA
 

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÍPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÁFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÁTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÍSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÁBITOS CULTURAIS
 DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÍGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ÂȘ BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÁRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÍSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36Âș PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÍSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÍVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÍTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÍCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÁLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÁVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE” – O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,
 VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÁVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÍPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É

 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLDÂŽS FUTURES” - 56ÂȘ EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ÂȘ BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÁRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÁTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPA”
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÍTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusĂŁo)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÍNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃO”
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM

LEVINA VALENTIM

2022-05-29




 

 

Enquanto durar a Bienal, Veneza é o reino das mulheres e das pessoas não-binárias. “O Leite dos Sonhos” escorre para os canais numa viagem a partir do universo surreal de Leonora Carrington (1917-2011) que Cecilia Alemani reinventou, na sua curadoria, em três estações: corpos e as suas metamorfoses; indivíduos e tecnologias; a conexão entre os corpos e a Terra. O que está sobretudo em jogo é a especificidade histórica e mítico-narrativa do Humano.

No meio de muito ponto-cruz, muita lã, macramé, terra, animais, monstros e espíritos, surgem muita tecnologia, sangue, suor, mamas, vaginas, leite e lágrimas. Neste reino complexo de um mundo pós-coronavírus, ecoando as aventuras mais ou menos íntimas de inúmeros territórios plásticos francamente desprezados pela história e a crítica da arte durante um século, a arte mostrada em Veneza aponta duas visões antagónicas: leituras de uma quase insustentável leveza e fé na humanidade, e, por outro lado, visões de um futuro apocalíptico e sem esperança.

Leonora Carrington desenhou, para os seus filhos, nas paredes de uma sala de casa, pequenas histórias saídas do seu mundo singular e surrealizante. Nele “descreve um mundo mágico no qual a vida se reinventa constantemente através o prisma da imaginação e em que se pode mudar, transformar, tornar-se outro", conta Cecilia Alemani. As paredes da sala seriam mais tarde caiadas, mas alguns dos desenhos e os contos subsistiram num caderninho de notas da autora e tornaram-se um livro a que chamou “The Milk of Dreams”. A ambiguidade sexual da expressão dispensa explicações.

Nascida em Inglaterra, artista plástica e escritora, pioneira feminina do Surrealismo, Carrington viveu a maior parte da sua vida na Cidade do México, depois de ter passado algum tempo em Paris, onde se apaixonou por Max Ernst, em Santander, onde esteve internada pelo pai por alegada “desestabilização psíquica”, e em Lisboa, a caminho de Nova Iorque. Justa homenagem, este reviver do seu leite dos sonhos, numa Veneza subtil e claramente diferente, em termos de proposta artística. Esta é capaz de, por um lado, celebrar um passado em grande medida ‘abaixo do radar’; por outro, de apontar um novo futuro, por via de experimentos no presente, mas também novos horizontes míticos, nomeadamente ecológicos, integrando o universo da mente.

A Bienal, renascida das cinzas pandémicas, particularmente duras em Itália, tem pela primeira vez, na sua história de 130 anos de existência, uma curadora mulher que faz jus à diferença e ao diferente. Nesse gesto inclui o tantas vezes rebaixado, obscurecido, tabu. E o mais interessante é que, como é habitual, Veneza 2022 está a ditar, no aqui e agora, fortes tendências na arte atual, pelo menos para um público que tenha estado distraído a toda uma arte feminina que já merecia este palco. É lógico e ressonante que Sonia Boyce tenha ganho o Leão de Ouro.

Oficialmente presente com a instalação Vampires in Space, de Pedro Neves Marques, e com Paula Rego a integrar a exposição principal no Giardini, Portugal é dos países mais alinhados com a proposta curatorial de Cecilia Alemani. Paula Rego (numa sala tão íntima quanto cenográfica ) afirma-se como uma presença de um dos tantos lugares onde a mulher conseguiu reinventar o mundo quotidiano e exorcizar os seus fantasmas.

Com curadoria de João Mourão e de Luís Silva, Vampires in Space é, dado estatístico, a primeira obra declaradamente queer apresentada pelo nosso país em Veneza. Nela “as questões de representação trans e não-binárias ganham uma visibilidade sem precedentes”, refere o comunicado de imprensa. Nós subscrevemos. “Ao apresentar este projeto, Portugal coloca-se na vanguarda das discussões sobre questões-chave do nosso tempo, em que os processos identitários, a ecologia, o transumanismo e a biopolítica são temas interdependentes e complementares para pensar e agir no presente e, sobretudo, no futuro.”

E o futuro, que está aqui ao lado, é o que Pedro Neves Marques, nascido em Lisboa em 1984, um artista visual não-binário que é também e se apresenta como “realizadore” e “escritore”, nos propõe. Ocupa o segundo andar do Palazzo Franchetti, um magnífico exemplar da arquitetura neogótica veneziana, com uma instalação que nos faz entrar num universo futuro, mas reconhecível, na qual é necessário submergir.

Vampires in Space é uma narrativa em três estações e cinco poemas, numa “nave espacial” especial. Três salas acolhem três segmentos de um filme que, funcionando autonomamente, constituem um todo. Outras três salas apresentam poemas inéditos, em Inglês, que se cruzam com a narrativa fílmica e propõem outros caminhos de leitura. No filme, temos uma história aparentemente simples e melancólica de cinco personagens, com as suas rotinas e os seus pequenos dramas, ao longo de uma viagem, de séculos, até um planeta distante.

O desenho expositivo, contrastante com a arquitetura neogótica do espaço, mas curiosamente integrado, é da responsabilidade de Diogo Passarinho Studio. E, como é realmente preciso tempo para ver esta instalação, houve um atento cuidado no conforto. Duas salas de exibição do filme têm cadeirões/tronos almofadados e a terceira sala espreguiçadeiras – em francês, chaises loungues – minimais-futuristas nas quais os espetadores assistem confortavelmente deitados a cada segmento do filme. Num palácio tão distinto como o Franchetti, a intervenção dos DPS tem marca, personalidade e afirmação. Os poemas expostos estão em vitrinas estofadas, preciosamente guardados/expostos atrás de vidros. Tudo é cuidado, e a proposta é a entrada paradoxal numa “nave espacial” que não o pode ser já que o palácio está lá, maravilhosamente impositivo e belo. Então, ficamos entre um estar aqui e no espaço, numa instalação imersiva: a viajar no tempo, num tempo de questões referenciadas no universo estético da obra da antecipação, “2001, Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick (1968).

Um vampiro é ser noturno, ou uma personagem da crença popular, quase eterno, que sobrevive alimentando-se da essência vital das criaturas vivas – por norma, o seu sangue. Múltiplos filmes sobre este tema forneceram-nos banhos de sangue. Não há sangue neste espaço de vampiros, clean, quase acéptico, mas sim questões de identidade de género, de reprodução não convencional, de famílias não-nucleares, de intimidade e, muito curiosamente, sobre a saúde e a diversidade mental, uma problemática que atravessa toda a exposição principal e que vamos reencontrar em vários momentos da bienal e no Pavilhão Madnicity, no Museo della Folia na ilha de San Servolo, também com marca portuguesa.

Segundo a lenda, um vampiro vive eternamente, na noite, se não lhe espetarem uma estaca no coração. Seres fantásticos e perfeitos para uma viagem espácio-temporal incomensurável. Do comunicado de imprensa: “A longevidade imaginada do vampiro, reforçada aqui pela distância física do planeta Terra e pela noção de humanidade, permite um exercício retrospetivo que se poderá designar de ‘autoficção científica’, ancorada na própria experiência trans não-binária de Neves Marques, bem como uma revisão política de uma extensa história de controle sobre os corpos e o desejo. Se os vampiros sempre refletiram debates sobre género em diferentes épocas, desde a era vitoriana até a libertação feminista e a crise da SIDA, como respondem hoje aos avanços da biotecnologia ou à emancipação de vidas e ecologias queer?”

A leitura dos poemas no espaço expositivo é uma aventura discursiva dentro da viagem espacial (literal e metaforicamente). Complementa a audição hipnotizante dos seus lentos diálogos. O dispositivo permite que cada poema se torne uma espécie de slideshow de palavras. Pela sua localização precisa e pela sua estruturação interna, lemo-los não como legendas da componente audiovisual do pavilhão, mas como um percurso paralelo. Questionamentos fenomenológicos – Whose taste / Is this / That sometimes viralizes / Our tongues – cruzam-se com nano-manifestos – We are all the same / In time / Your time as well / Will come. O filosofar – How ironic / The dead / Might bring life / To a twin planet – mergulha no surrealizar – A family of two / Is sometimes enough / To make dreams / Solipsistic. E tudo pode conduzir a uma máxima – Inhumans / Are ideal / Candidates / To roam the stars – ou uma evidência intratextual: Even / Vampires / Need / Vitamin D.

Lê-se o texto, os seus blocos de quatro muito curtos versos, a sua sucessão regular, como uma mensagem do futuro. A linguagem, no seu jogo de antecipação, comunica um tempo outro, ou mesmo uma era outra. Com uma espécie de neutralidade clean. E nela, o que é hoje um tema da moda – o queer –, resgata a sua legitimidade às agendas atuais, conseguindo oferecer o prazer da sua leitura como essa viagem ao futuro. Ou seja, as palavras são encenadas no espírito e na lógica de todo o pavilhão. Ao ritmo da eternidade que é antecipada. É por essa via que são concisa e delicada cartografia de condições. Demarcam assim uma posição subtilmente interativa. Mais não seja porque – aqui e agora, aqui na Terra – há um mundo ainda: árvores e rios, a par de tecnologias e corporações, em que corpos sonhando acordados são o veículo para paradoxais paisagens. Pela sua veloz passagem por nós (mais do que de nós por elas), é possível retirar dessas paisagens, na ótica de Pedro Neves Marques, um horizonte narrativo tão perturbante quando fascinante.

Vampires in Space é, por outras palavras, uma experiência estética total. Uma arquitetura-cinema-teatral que remete para um distanciamento do imediato, do próprio ativismo, para que a crítica na esfera da sociopolítica passe para o espetador como um sedutor mistério em que mito e tecnologia dialogam. A arte, enquanto espaço de poesia e reflexão, agradece. A noção de empoderamento, traduzida para a ideia-experiência da viagem, é simultaneamente irónica e trágica e sedutora. Talvez. có(s)mica.

No texto curatorial, lê-se: “A prática de Neves Marques, que inclui trabalho nas artes visuais, mas também no cinema, poesia e teoria, tem vindo a desenvolver uma forma de ficção especulativa que aborda algumas das questões mais prescientes do nosso tempo, desde a ecologia às políticas do corpo. Neves Marques entende os códigos da ficção científica de uma maneira única, interrogando os futuros distópicos que se avizinham no horizonte e, nesse processo, dar-nos um vislumbre de outras formas, críticas, de estar no mundo.” O statement é certeiro e enquadra com rigor um trabalho tão interdisciplinar – abrangendo arte e cinema, escrita crítica, ficção e poesia – quanto capaz de verter uma sensibilidade especulativa. Há diletâncias que são viagens ao futuro.

Paralelamente, o projeto inclui um programa público com curadoria de Filipa Ramos – uma plataforma discursiva para mediar e discutir os temas explorados em Vampires in Space através de um conjunto de filmes, música, performances e palestras.

 

Levina Valentim
É licenciada em Belas Artes/Pintura, especializada em Estudos de Teatro e frequentou o mestrado na mesma área na Faculdade Letras da U.L. Tem o Curso de Gestão e Produção de Artes do Espetáculo, do Forum Dança. Colaborou com diversos jornais e revistas, tendo começado a escrever no Diário Popular e na revista O Actor. Trabalha em comunicação, assessoria de imprensa e edição, áreas em que tem vindo a colaborar em vários projetos, nomeadamente com o FIAR/CAR e com as associações Produções Independentes, Org.I.A, Linha de Fuga, CasaBranca, os ateliês Item Zero e Silvadesigners ou o Projeto P! Performance na Esfera Púbica (2017) no qual também fez curadoria. É coordenadora editorial do livro Vicente. Símbolo de Lisboa. Mito Contemporâneo (Theya, 2019).
 

  

:::

 

Pedro Neves Marques (Lisboa, 1984)
É artista visual, realizadore e escritore (pronomes não-binários). Ao longo dos últimos quinze anos viveu em Londres, São Paulo e Nova Iorque. Apresentou exposições individuais em instituições como Galerias Municipais – Cordoaria Nacional (Lisboa), CA2M Centro de Arte Dos de Mayo (Madrid), CaixaForum (Barcelona), 1646 (Haia), High Line (Nova Iorque), Castello di Rivoli (Turim), Gasworks (Londres), Pérez Art Museum Miami, Museu Colecção Berardo (Lisboa) e e-flux (Nova Iorque). O seu trabalho foi incluído em inúmeras bienais, entre as quais se destacam Liverpool Biennial, Gwangju Biennale, Göteborg International Biennial, Guangzhou Image Triennial, New Museum Triennial, Ural Biennial for Contemporary Art, Contour Biennial e Bienal Internacional de Cuenca. Uma lista de exposições coletivas e screenings recentes em que participou incluem Trondheim Kunsthall, PinchukArtCentre (Kiev), Inside Out Art Museum (Pequim), Antenna Space Gallery (Xangai), Le Fresnoy (Tourcoing), Matadero (Madrid), Harn Museum of Art – University of Florida, MAAT (Lisboa), Parco Arte Vivente (Turim), Fundacíon Botín (Santander), Kadist (Paris), Tate Modern Film (Londres), Serpentine Galleries Cinema (Londres) e Guangdong Times Museum (Guangzhou). Os seus filmes foram mostrados em festivais de cinema como Toronto International Film Festival e New York Film Festival, tendo sido premiados em festivais como MixBrasil (São Paulo), Go Shorts (Nijmegen), Short Waves (Poznan), Sicilia Queer Film Festival e Moscow International Experimental Film Festival, bem como nomeados para os European Film Awards. Enquanto escritore, é co-fundadore com Alice dos Reis da editora de poesia Livros do Pântano / Pântano Books, com a qual publicou o livro de poemas Sex as Care and Other Viral Poems (2020) e traduziu para português a obra de poeta norteamericana CAConrad. É autore do livro de contos Morrer na América (Abysmo e Kunsthalle Lissabon, 2017) e editou as antologias YWY, Searching for a Character Between Future Worlds: Gender, Ecology, Science Fiction (Sternberg Press, 2021) e The Forest and The School (Archive Books, 2015); co-editou também um número especial da revista de arte e teoria e-flux journal para a 65.ª Bienal de Veneza (2015). Foi premiade com o Present Future Art Prize na Artissima em 2018; vencedore do “Special Prize” do PinchunkArtCentre Future Generation Art Prize 2021; e estreou recentemente o filme Tornar-se Homem na Idade Média (2022) [que pudemos ver no Indie, competição nacional/curtas, a 2 de maio de 2022] na Ammodo Tiger Short Competition do Festival Internacional de Cinema de Roterdão (IFFR), com o qual foi galardoade com o prestigiado Ammodo Tiger Short Award, sendo também nomeado pelo IFFR Pro ao European Film Awards para curtas-metragens. A sua obra artística é representada pela Galleria Umberto di Marino (Nápoles) e os seus filmes distribuídos por Portugal Film e Agência da Curta Metragem.

 

:::

 

VAMPIRES IN SPACE
Pavilhão de Portugal
Palazzo Franchetti
59a Exposição Internacional de Arte – La Biennale di Venezia
23.04 – 27.11.2022

Artista
Pedro Neves Marques
Curadores
João Mourão e Luís Silva