Links

O ESTADO DA ARTE


Paula Rego, "Mulher Cão", 1994

Outros artigos:

2024-12-01


O CALÍGRAFO OCIDENTAL. FERNANDO LEMOS E O JAPÃO
 

2024-10-30


CAM E CONTRA-CAM. REABERTURA DO CENTRO DE ARTE MODERNA
 

2024-09-20


O MITO DA CRIAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE JUDY CHICAGO
 

2024-08-20


REVOLUÇÕES COM MOTIVO
 

2024-07-13


JÚLIA VENTURA, ROSTO E MÃOS
 

2024-05-25


NAEL D’ALMEIDA: “UMA COISA SÓ É GRANDE SE FOR MAIOR DO QUE NÓS”
 

2024-04-23


ÁLBUM DE FAMÍLIA – UMA RECORDAÇÃO DE MARIA DA GRAÇA CARMONA E COSTA
 

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÍPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÁFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÁTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÍSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÁBITOS CULTURAIS… DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÍGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ª BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÁRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÍSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÍSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÍVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÍTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÍCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÁLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÁVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE” – O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÁVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÍPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É…
 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLD´S FUTURES” - 56ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÁRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÁTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPA”
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÍTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusão)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÍNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃO”
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?

AUGUSTO M. SEABRA

2010-04-13




Os museus são por definição e História instituições de interesse público, abertos à comunidade, aos visitantes. Esse é desde logo o princípio dos museus de domínio público, no sentido de estarem na dependência do Estado central ou da administração local ou regional, como em certos países, por exemplo em Espanha, onde o florescimento de museus de arte contemporânea se deve em grande parte às instituições autonómicas, regionais.

Há museus adquiridos pelo Estado a um coleccionador, ou família de coleccionadores como ainda em Espanha é o caso do Thyssen-Bornemisza, que espelham um gosto particular mas são do domínio público. Há museus privados, muitos nos Estados Unidos; há a Saatchi Gallery em Londres, as importantes colecções dos dois grandes magnatas franceses Bernard Arnault, detentor nomeadamente do grupo de luxo LVMT (Louis Vuitton - Moet Hennessy), com uma fundação a abrir no centro de Paris este ano, com projecto de Frank Gehry, e François Pinault, do grupo Printemps-La Redoute, com o museu na Île Seguin, nos arredores de Paris, e com o Palazzo Grassi e a Punta della Dogana em Veneza, o primeiro e o último com projectos de Tadao Ando, estes sendo privados também no sentido em que fortemente influem nos mercados e por essa via na valoração de certos artistas, o que por sua vez não deixa de ter repercussões na procura por outros museus, públicos. Há em Portugal o caso do Museu Gulbenkian, que patenteia o gosto de um coleccionador, a Fundação tendo outros espaços expositivos, do Serviço de Belas-Artes e o Centro de Arte Moderna, fundação essa privada mas com os estatutos aprovados pelo governo de então, por Salazar, convém recordar.

E há os museus de parceria pública-privada. Existe em Portugal a Fundação e o Museu de Serralves, sempre apontado, e justamente, como caso de excelência dessa parceria. Além da capacidade de atrair capitais privados (ser mecenas de Serralves é prestigiante, uma marca de status) e da beleza do espaço em si, o sucesso de Serralves, que aliás tem de ser questionado, funda-se também no facto de, com sucessivos presidentes do Conselho de Administração (João Marques Pinto, Teresa Gouveia, António Gomes de Pinho e agora Luís Braga da Cruz), os directores do Museu, Vicente Todolí e João Fernandes, terem gozado de plena autonomia de programação.

E existem outros dois casos, bem mais controversos, O Museu Berardo e agora a Casa das Histórias Paula Rego. Muito foi já devidamente escrito sobre a falta de acautelamento dos interesses públicos no caso da Fundação do Museu de Arte Moderna e Contemporânea da Colecção Berardo, desde logo pelo Presidente da República, que exprimiu as suas reservas quando da promulgação do respectivo decreto-lei. A instalação do Museu, sem dúvida importante pelo seu acervo, amputou um grande equipamento cultural interdisciplinar, o Centro Cultural de Belém, do seu Centro de Exposições, que era imprescindível, e o acordo vigora apenas por 10 anos, ao fim dos quais, em caso de renovação, haverá uma nova avaliação da colecção, a qual, note-se, é reveladora mais de uma política de aquisições do que estritamente do gosto de um coleccionador. Importa ainda salientar outro dado, que tem sido pouco referido: a gratuitidade das entradas.

A gratuitidade é uma das mais prementes questões da cultura contemporânea. Há uma jovem geração, adita à internet, para a qual a gratuidade, a cópia, é a prática corrente, com evidentes prejuízos para os criadores e intermediários culturais, o que se traduz, portanto, a todos os títulos numa desvalorização da cultura.
È certo que pode dizer que nos seus fundamentos e História os museus foram constituídos para permitirem o livre e gratuito acesso da comunidade aos bens artísticos. No mais emblemático caso, e no museu que conta maior número de visitantes, o Louvre, a sua fundação em 1791 pela Assembleia Revolucionária, visava o acesso do “povo” a obras que até então eram propriedade da realeza e da nobreza, só nos anos 20 do século passado a entrada se tendo tornado paga. Medidas recentes de introdução da gratuidade em museus e instituições culturais da Grã-Bretanha e da França têm suscitado vivas controvérsias, e se muitos aplaudem outros fazem notar que não se trata de uma panaceia, e que o importante é a sensibilização, não a entrada livre. Em Portugal, a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, anuncia agora (Expresso de 10-04-10), que “Queremos encontrar mecanismos que nos permitam abrir os museus com entradas livres em certos dias da semana. Serão pequenos passos que, quem sabe com o apoio da iniciativa privada e no final da legislatura, nos possibilitem ter entradas gratuitas, por exemplo para os residentes em Portugal”. Trata-se de uma declaração de intenções, apesar de tudo cautelosa, que tem um grande ponto de interrogação, na actual conjuntura de crise económica, no “apoio da iniciativa privada” e respeitante apenas a “residentes em Portugal”, a tal colectividade ou comunidade nacional.

Se essas são questões genéricas, em que os prós e contras têm de ser devidamente ponderados, de todo diferente é a gratuitidade do Museu Berardo. O acesso livre começou por ser estabelecido para o período subsequente à inauguração em 25-06-07, estendeu-se depois até ao final desse ano, e foi prolongado depois indefinidamente, aliás numa “concorrência desleal” com as outras instituições museológicas. E sobretudo tem que ser assinalado que se tratou de uma decisão majestática do próprio Berardo, posição afinal de vanitas também, como se o museu continuasse a ser do seu domínio privado.

O recente afastamento de Dalila Rodrigues da Casa das Histórias Paula Rego em Cascais, cargo para o qual tinha sido convidada pela própria pintora, revela outro caso em que os interesses públicos não foram devidamente acautelados. É facto do maior relevo que Paula Rego, que a si própria se define como “artista londrina”, tenha decidido que a sua obra de gravura, bem como um importante espólio de desenhos, uma cedência de um conjunto de pinturas por 10 anos, e ainda obras do seu falecido marido Victor Willing, ficassem expostas num local da sua infância. Não obsta isso a que outra vez a contratualização estatutária tenha sido errada, não acautelando devidamente o interesse público e o investimento da Câmara Municipal de Cascais, que fez erguer o museu, um projecto de Souto Moura, e se responsabiliza pelas despesas de funcionamento.

Por desentendimentos que tenha havido entre Paula Rego e Dalila Rodrigues, e houve-os certamente, a situação tornou-se crítica com a entrada em cena do galerista da pintora, John Erle-Drax. Paula Rego tem certamente uma relação com a Marlborough Gallery muito profunda, mas é inaceitável a confusão de papéis que faz entrar um representante dessa galeria, Francesco Rossi, no Conselho de Administração, juntamente com dois representantes da artista, a sua advogada Maria João Liberal, que preside, e a sua filha Carolina Willing, e outros tantos em representação da câmara, Sofia Galvão e a directora municipal de cultura Ana Clara Justino. Mais: a directora, agora Helena de Freitas, não goza de autonomia face à administração e pode apenas “propor” um plano de actividades.

Pelo maior relevo que tenha o facto de haver um museu Paula Rego em Cascais, ele é pago com dinheiros públicos, contrapartidas do jogo no Estoril, mas em qualquer caso dinheiros públicos, pelo que é inaceitável que seja afinal outro domínio privado, com a participação decisiva de uma entidade comercial como a Marlborough Gallery.



Augusto M. Seabra
www.letradeforma.blogs.sapo.pt