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CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?SÉRGIO PARREIRA2017-07-26
Comecei a ouvir falar neste conceito o ano passado, e confesso que não lhe prestei muita atenção. Condo debutou este mês a sua primeira edição em Nova Iorque, que se segue à pioneira de Londres, que em Janeiro de 2017 inaugurou a sua segunda apresentação. Condo vai buscar o seu nome à palavra “condominium”. Um condomínio é entendido como um conjunto de edificações, que partilham espaços comuns a todos eles, maioritariamente de lazer, e que podem ser disfrutados por todos os “habitantes” desse local. Pois bem, e então o que é Condo, e como é que esta ideia de partilha se aplica ao mundo da arte e se pode apresentar como uma alternativa à tradicional feira de arte? Condo é uma exposição colaborativa de larga escala, em que galerias numa determinada cidade acolhem exposições de galerias oriundas de outros países ou cidades que não aquela onde a iniciativa se vai realizar. Este conceito foi implementado pela primeira vez em 2016 pelas mãos da galerista Vanessa Carlos do espaço Carlos/Ishikawa em Londres. Nesta primeira edição em Londres, 24 galerias internacionais apresentaram exposições dos seus artistas em 8 espaços de galerias locais. A edição deste ano, demonstrou uma solidificação do conceito, trazendo a Londres um total de 36 galerias internacionais a 15 espaços de acolhimento. Vanessa Carlos conseguiu provar que há outras formas de desenvolver uma ideia de coletivo e espaço expositivo com uma vasta representação comercial internacional, alternativo à tradicional feira de arte. A ideia torna-se ainda mais pertinente quando entendemos que os espaços de acolhimento não só não beneficiam de nenhuma parte das vendas como ainda partilham custos com a galeria que estão a acolher, sejam estes de instalação ou por exemplo para a inauguração. Durante um mês esta proposta transporta de vários locais espalhados por todo o mundo para uma única cidade artistas que de outra forma não poderíamos ver, a não ser se nos deslocássemos à cidade onde a galeria que os representa se encontra. O segredo deste projeto está também na inclusão de galerias não dominantes no mercado, e que não apresentam unicamente Blue-Chip arte, facultando exponencialmente a estas duas entidades a única oportunidade de se apresentarem internacionalmente sem custos astronómicos associados. As feiras de arte, posicionam-se hoje como um local onde as galerias e os artistas aspiram estar representados, não porque isso possa significar vendas ou lucros, mas pelo simples fato que, num curto espaço de tempo, dezenas de milhares de profissionais da arte, colecionadores, curadores, outros artistas e galeristas, ou simplesmente curiosos, irão cruzar-se com eles. Esta presença, e dependendo da feira de arte, demonstra o poder e a capacidade das galerias em posicionarem os seus projetos entre os demais. Isto muitas vezes não significa mais que isto mesmo, o fato de ter feito feira X e feira Y, e a reputação que lhe possa ser atribuída por tal concretização. Sim, porque uma representação numa feira de arte hoje em dia não é mais que, para a grande maioria, uma hipoteca de notoriedade, sendo que a maioria das galerias que se apresentam numa feira de arte nem tem dinheiro na conta para pagar o preço do stand. Mas isto levar-nos-ia para uma outra discussão. Condo vem assim boicotar um pouco este conceito de pagar para vender nos principais mercados internacionais. Apesar deste fato, e pelo menos em Nova Iorque, o projeto tem um caráter um pouco marginal e alternativo, que não é necessariamente bom nem mau, só que não se entende se é intencional. O site do Condo não nos dá grande informação, pelo menos do projeto enquanto todo, e a informação do que cada galeria de acolhimento vai apresentar está apenas descrito no site das mesmas sem menção na grande maioria delas ao projeto original que as considerou. Para conhecermos as várias exposições e obras, temos que abrir todos os sites, o que não é de todo prático se considerarmos que no final, o objetivo é fazer chegar as obras ao potencial comprador. Outro aspeto que poderá também ser menos sedutor neste formato, e particularmente em Nova Iorque, é a dispersão dos espaços que não estão necessariamente num raio geográfico delimitado, apesar de se concentrarem em apenas três “bairros/áreas”, Tribeca/Chinatown, Lower East Side e Chelsea. Durante a última semana consegui visitar algumas das galerias e ver algumas das exposições na zona da China Town, à volta da Canal Street. Os projetos e os artistas visitantes são oriundos de cidades em distintos continentes, como Shangai, Detroit, Los Angeles, inúmeras outras da América Latina e Europa. O que é extraordinariamente válido neste projeto, é o espírito colaborativo, definitivamente inverso ao do competitivo mercado da arte, em que galerias comerciais abrem mão do seu objetivo pessoal, e viabilizam a apresentação e potenciam o sucesso dos seus rivais. As cidades que estão a ser pioneiras neste projeto, são também duas das principais capitais de comercialização de arte contemporânea, em que muitas vezes a singularidade dos projetos é protegida, num afastamento intencional e estratégico, antagónico à peculiaridade da concretização de parcerias. Condo é decerto um projeto a encalçar, e seguramente que pode crescer se houver vontade de agentes noutras capitais mundiais. Não é, no entanto, um projeto para os “grandes”, mas sim uma lógica a manter entre os mais “pequenos”, e para proteger as galerias menos mainstream. As bases estão desenhadas, certamente que estruturalmente pode ser otimizado, mas como qualquer outro formato vanguardista, são vários os estágios de aperfeiçoamento, e Condo ainda não fez dois anos e já pode afirmar que facultou a itinerância de mais de 60 galerias comerciais oriundas de diversas cidades de todo o mundo. Imaginar que o espaço físico e identitário de uma galeria pode ser transportado para diferentes locais no mundo, não é apenas estimulante, mas redefine também os limites e o próprio conceito desses espaços, assim como questiona a singularidade de muitos outros.
Sérgio Parreira
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