Links

O ESTADO DA ARTE


Ensaio de Artivismo (video e performance), de Rui Mourão.


Video still da videoinstalação Os Nossos Sonhos Não Cabem nas Vossas Urnas.


Video still da videoinstalação Os Nossos Sonhos Não Cabem nas Vossas Urnas.


Video still da videoinstalação Os Nossos Sonhos Não Cabem nas Vossas Urnas.


Acto I - Performance artivista no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado. Fotografia: Madalena Ávila.


Acto I - Performance artivista no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado. Fotografia: Madalena Ávila.


Acto I - Performance artivista no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado. Fotografia: Madalena Ávila.


Acto I - Performance artivista no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado. Fotografia: Jairo Marcos.

Outros artigos:

2024-10-30


CAM E CONTRA-CAM. REABERTURA DO CENTRO DE ARTE MODERNA
 

2024-09-20


O MITO DA CRIAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE JUDY CHICAGO
 

2024-08-20


REVOLUÇÕES COM MOTIVO
 

2024-07-13


JÚLIA VENTURA, ROSTO E MÃOS
 

2024-05-25


NAEL D’ALMEIDA: “UMA COISA SÓ É GRANDE SE FOR MAIOR DO QUE NÓS”
 

2024-04-23


ÁLBUM DE FAMÍLIA – UMA RECORDAÇÃO DE MARIA DA GRAÇA CARMONA E COSTA
 

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÍPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÁFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÁTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÍSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÁBITOS CULTURAIS… DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÍGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ª BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÁRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÍSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÍSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÍVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÍTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÍCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÁLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÁVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE” – O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÁVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÍPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É…
 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLD´S FUTURES” - 56ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÁRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÁTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPA”
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÍTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusão)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÍNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃO”
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I

RUI MOURãO

2014-09-03




[Este texto é a primeira parte do ensaio OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro. A segunda parte pode ser lida aqui]


:::


"Não há espaço público porque está nas mãos de umas quantas pessoas cujo discurso não faz mais do que alimentar a inércia e o fechamento sobre si próprios da estrutura das relações de força que elas representam. Os lugares, tempos, dispositivos mediáticos e pessoas formam um pequeno sistema estático que trabalha afanosamente para a sua manutenção. A situação não se apresenta com melhor aspecto noutros sectores da vida pública portuguesa. Apesar das exposições, do seu número e da sua importância, a arte não tem espaço público. Não são as raríssimas revistas especializadas (…); não são os livros publicados sobre arte; não são os poucos (e de repente, muitos) colóquios que se realizam que conseguem construir um tal espaço. As pessoas vão às exposições e aos espectáculos, "gostaram" ou "não gostaram", e voltam para casa, quer dizer, para outras preocupações. A crítica sofre idêntico destino (…). Os pintores, os escultores, raramente falam entre si sobre a sua arte. A arte é uma questão privada. Não entra na vida, não transforma as existências individuais. Expõe-se em vitrinas (como durante tantos anos as exposições, espectáculos, concertos de artistas estrangeiros se produziam nas "montras" da Gulbenkian, que apresentavam o que se fazia "lá fora" na época da ditadura)." "Inscrever-se significa, pois, produzir real. É no real que um acto se inscreve porque abre o real a outro real. Não há inscrição imaginária e a inscrição simbólica (apesar do que pretende a psicanálise) não faz mais do que continuar a realidade já construída. Quando o desejo não se transforma, o Acontecimento não nasce, e nada se inscreve."

José Gil in Portugal, Hoje: O Medo de Existir, 2004.

 


Poucas décadas depois de um regime salazarista que arredou o país, entre muitas outras coisas, da democratização do acesso à Cultura, ao conhecimento e à arte, eis que nos deparamos novamente com um recuo, um desbaratar do esforço que desde o 25 de Abril foi feito nesse sentido, e quando ainda tanto havia por fazer. Ao diagnosticado "medo de existir" nacional, soma-se agora um neoliberalismo internacional que se implanta de forma cada vez mais hegemónica, totalitária. Sabemos que o modelo dominante economicista inclui a arte na sua lógica de mercado, despojando-a do seu valor imaterial e reduzindo-a cada vez mais a uma forma de investimento (atual valor-refúgio face à instabilidade financeira). Subtilmente, o neoliberalismo vai enredando o próprio setor cultural público nessa lógica, o qual à partida estaria mais imune nos países europeus, incluindo Portugal, onde a maioria optou há décadas por modelos de estado-social. Primeiro suborçamentam-se as instituições e posteriormente vai-se financiando o seu espaço público com interesses privados. No lugar de todos sobrepõe-se o interesse de alguns. Temos assim espaços museológicos nacionais que passam a ser veículo publicitário, enquanto simultaneamente adjudicam em outsourcing parte da sua gestão a privados, com custos acrescidos para o contribuinte. Tão pouco é uma questão menor que as instituições culturais públicas, para as quais pagamos impostos, na prática concorram com os agentes culturais privados, geralmente mais pequenos, na captação de mecenatos, o que também não favorece o setor cultural privado.

Há ainda consequências de tudo isto para a própria criação artística, pelas condições oferecidas aos artistas ao nível da produção e apresentação. O contágio mercantilista à moldura do espaço expositivo apropria inexoravelmente as obras que nele se expõem. Tal é particularmente grave quando a obra de arte tem um discurso crítico com o sistema, pela sua consequente neutralização. Aliás, vivemos num tempo de crise, em que se regista um crescendo de produções artísticas com posicionamentos políticos mais contestatários, que por sua vez têm sido relativamente absorvidas pelo sistema. O establishment acolhe com a melhor das vontades a chamada “arte política” (o que quer que isso seja tendo em conta que toda a arte é consciente ou inconscientemente política). Há sempre algo de sedutor na rebeldia dos outros, que no plinto dos discursos intelectuais expositivos ajuda a tranquilizar consciências construindo crenças de oposição pela simples via de uma assimilação higiénica, sem riscos, onde convenientemente ninguém vê posições ameaçadas. Não faltam exemplos nacionais e internacionais de exposições e textos curatoriais com discursos que se apresentam como questionando os vigentes modelos ao nível económico, financeiro, político, social ou cultural. Mas existe realmente um compromisso sério com esse questionamento? A questão que se coloca é perceber até que ponto o atual sistema da arte contemporânea, e especialmente aqueles que mais beneficiam dele, estão realmente interessados numa verdadeira mudança do paradigma dominante. Até que ponto vai o seu posicionamento crítico em relação aos poderes políticos e económicos dos quais estão frequentemente dependentes?

Todo o establishment estrutura e é estruturado pelo poder. O establishment da arte contemporânea não foge à regra. Contudo prima por uma particularidade: adota um discurso frequentemente crítico com o poder, não obstante inserir-se nas mesmas dinâmicas e comportamentos do resto do sistema de que faz parte. Em geral aprecia muito a “arte política”, mas desde que permaneça numa dimensão simbólica descomprometida com o real, num registo de inócuo impacto nas hierarquias, instituições e estruturas de poder estabelecidas, porque na prática o sistema dominante das artes molda-se ao macrossistema de poder político-económico que só na aparência critica. Portanto, se por um lado o sistema da arte cria condições para que a reflexão crítica possa acontecer – e em parte isso é muito positivo – por outro lado esse encaminhamento da dissensão para um limite simbólico, contido e disciplinado, resulta num anulamento da própria dissensão. Na prática acaba por beneficiar o status quo que a energia da dissensão seja canalizada para o simbólico disciplinado, diminuindo as possibilidades de se efetivar.

A constatação deste paradoxo senti-o na carne, com essa experiência de autêntico laboratório artístico, que foi a performance artivista que culminou com a ocupação do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, ocorrida de 4 a 5 de julho, durante a inauguração da minha exposição Os Nossos Sonhos Não Cabem Nas Vossas Urnas. Houve até quem questionasse se tal era arte, o que muito me apraz pela possibilidade de expansão das fronteiras da arte numa época – quase cem anos depois do urinol de Duchamp – em que se pensava que essa questão já não se punha, visto tudo ser aceite como arte desde que o artista o afirme enquanto tal. Celso Martins chama-lhe mesmo um case study no seu artigo “A Arte de Ocupar” (na secção Ideias & Debates do caderno Atual do jornal Expresso de 12/07/2014).

Tendo em conta tudo o que já foi dito e escrito sobre o assunto, o que apresento neste artigo é a minha perspetiva – a perspetiva do artista, a perspetiva do investigador em antropologia, a perspetiva do cidadão ativo. Não obstante, é óbvio que não há apenas um único ponto de vista absoluto e definitivo sobre esta questão. Os que estão ligados ao establishment também têm as suas lógicas institucionais. Reconheço que estão a fazer o melhor que podem e sabem, ainda mais numa conjuntura difícil, e há certas obrigações e contradições das quais dificilmente escapam. Ao olhar crítico só escapam os que não se posicionam, os que têm "medo de existir" e não se "inscrevem" no mundo. E não sendo esse o meu caso obviamente que também eu não estou isento de críticas.

Toda a controvérsia em torno da performance decorreu porque o seu programa saiu significativamente da pauta institucional esperada. Pauta que tanto criava condições para a produção do projeto, como limitava as suas premissas. Por um lado acolhia-se positivamente o projeto – não é por acaso que o museu inclusive edita o meu livro – por outro lado temia-se o potencial impacto de uma arte crítica com o regime. Desejavelmente a crítica devia ser vista apenas ou maioritariamente pelos pares esclarecidos, aparentemente também críticos, mas não por quem a crítica idealmente visava. Nesse sentido, os agentes artivistas, que representados em vídeo, instalação e literatura despertavam um interesse bastante etnográfico, ao vivo revelaram-se muito mais indesejáveis. É aliás muito interessante confrontar a versão oficial do projeto no site do museu, com a performance não-oficial neste vídeo. No primeiro vídeo a Antígona nunca chega sequer a acordar – melhor metáfora era impossível – e o que se lhe seguiu é simplesmente censurado.

No meio de tudo isto há um dado relevante em jogo: o MNAC - Museu do Chiado, após recorrente suborçamentação do estado com penosas e inoperantes consequências para o seu funcionamento, optou por financiamentos privados, dentro das já referidas lógicas neoliberais internacionais, que levaram a rebatizar a antiga “Sala Polivalente” com o branding “Sala Sonae” (aproveito para esclarecer que sou favorável a mecenatos, não à apropriação e privatização da identidade pública dos museus – continuando por este caminho, hoje temos a “Sala Sonae”, amanhã, quem sabe, o “Museu Lidl do Chiado”). No entanto, eu, o primeiro artista a expor nessa rebatizada sala, inaugurei-a subvertendo a lógica de funcionamento esperada. Com a mudança de nome da sala (que ocorreu posteriormente a me ter sido endereçado o convite para lá expor) fiquei confrontado com 2 opções: recusar expor, remetendo o trabalho para a invisibilidade da não existência, ou aceitar um financiamento que coloca condições questionáveis ao museu que defendo, o que me tornaria hipócrita em relação às premissas críticas do meu trabalho artístico com o atual modelo económico-político. Eu escolhi uma 3ª via: aceitar as condições para depois as subverter e denunciar, fazendo dessa tensão uma das forças potenciadoras do trabalho. A dimensão de contrapoder já presente nos vídeos e no livro, expandiu-se a um real posicionamento de artistas e cidadãos no espaço público do museu. Dentro do respeito cívico pelo espaço e as obras de arte nele presentes, lutou-se pela arte através da arte. O conteúdo da performance rompeu o expectável e alastrou-se a uma intensa defesa dos ameaçados museus, das artes, da Cultura e democratização do seu acesso. Claro que quando o artista passa da teoria artístico-política que o establishment tanto aprecia, para uma praxis consonante, e a estética se alia com uma ética, ganhando o todo uma coluna vertebral, então já a coisa não pode ser permitida. Seguem-se os discursos e atitudes de repressão e exclusão. Esses são elementos que podem ser desagradáveis mas que não me desviam do meu foco, do que me faz sentido e me permite ser feliz: os meus valores e os meus sonhos, e não os meus medos e os medos deles. Defendo que a arte deve ser o campo do extraordinário, onde o inesperado é possível. Já há espaço mais do que suficiente para a banalidade e para a morte lenta.

 


Rui Mourão
Artista