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ARQUITETURA E DESIGN




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Não há problema se está a ter dificuldade em ler as palavras nesta imagem [na lateral]. É suposto ter dificuldade a lê-las.

O que está a ver é Helvetica, ou pelo menos, parte da Helvetica. Daniel Britton, designer gráfico de Londres, quer que se sinta frustrado. Quer que vá descobrindo as palavras lentamente, que tropece nelas, coce a cabeça confuso. Quer que sinta o que é ser disléxico.

Britton desenhou este tipo de letra para aumentar a consciência desta condição, que lhe foi diagnosticada no final do ensino secundário. Para criar esta fonte escolheu uma sans serif simples que poderia alterar facilmente. Subtraiu cerca de 40% - "as características chave" - de cada letra à mão. A barra transversal do A, por exemplo, e quase metade do O. "Já não é tipografia", disse. "Torna-se uma forma." Organizadas em ordem alfabética, as letras são facilmente analisadas. Dispostas em frases, a leitura torna-se absolutamente enlouquecedora.

Já vimos isto antes, com um efeito similar. Há um par de anos atrás, Sam Barclay, outro designer gráfico britânico disléxico, explorou o mesmo conceito no seu livro “I Wonder What It’s Like To Be Dyslexic”. Ele também cortou algumas palavras pela metade, escreveu outras com erros ortográficos ou imprimiu-as estrategicamente sobre a dobra. Foi um tiro certeiro no público: a sua campanha na Kickstarter [plataforma para financiamento de projectos criativos] arrecadou mais de £ 55.000 (87.000 dólares).

Os textos distorcidos não são na realidade a maneira como os dois designers vêem as palavras. Britton diz que a dislexia não é sobre como ele visualiza informação, é sobre como ele a processa. De facto, pesquisas recentes têm mostrado que a dislexia não é uma questão de deficiência visual, mas antes um obstáculo no processo de converter a palavra escrita em sons. Por outras palavras, a dislexia não é afectada pela tipografia, embora imensos designers tenham criado fontes que tentam atenuar os efeitos da doença, acrescentando peso na parte inferior das letras, ou enfatizando as serifas, os pequenos traços no final das letras. O que Britton e Barclay estão a fazer é diferente. Estão a tentar levar as pessoas a sentir os efeitos do que é ter dislexia.

Por outras palavras, estão a usar a tipografia para criar empatia.

 

Como é que o faz sentir esta fonte?

Poderia argumentar que os projectos de Britton e de Barclay inspiram empatia da mesma maneira que o pode fazer uma obra de arte - como artefacto visual que melhora a nossa compreensão de uma condição. Mas levantam uma questão interessante: Pode uma fonte inspirar empatia, ou qualquer emoção nesse sentido, naqueles que a lêem? As pesquisas em torno do impacto emocional da tipografia tentaram sempre medir respostas subjetivas. Psicólogos, curiosos em saber como um tipo de letra faz as pessoas se sentirem, muitas vezes fazem perguntas como: A Comic Sans faz-te sentir a) feliz b) triste c) enfurecido?

Em 2012, o realizador Errol Morris conduziu uma experiência intrigante que considerou esta questão. Morris queria saber se a forma de certas fontes tinha um impacto sobre o que nós acreditamos ser verdadeiro ou falso. Poderia o uso de uma tipografia particular tornar algo mais credível? Pode ler mais sobre a sua experiência aqui, mas resumindo, Morris chegou à conclusão que a Baskerville era a mais "confiável" das fontes que testou (também analisou a Georgia, Computer Modern, Helvetica, Comic Sans e Trebuchet). Porquê? Isso é a parte complicada. Não há nenhuma evidência científica de que a Baskerville é mais credível - só o facto de que tendemos a associar a sua aparência serifada formal com meios respeitáveis, enquanto que a forma borbulhante da Comic Sans é associada a conteúdos menos sérios.

Até agora não houve nenhuma evidência científica a sugerir porque é que um tipo de letra faz as pessoas se sentirem de uma certa maneira. Alessia Nicotra quer mudar isso. Nicotra é uma neurofisiologista no Charing Cross Hospital, em Londres, e professora no Imperial College, onde começou a estudar o impacto emocional da tipografia. Ela pretende usar máquinas de ressonância magnética para medir a forma como o cérebro reage a certas fontes. Uma compreensão objetiva de como a tipografia é processada pelo cérebro poderia ajudar a conhecer todo o tipo de coisas, incluindo uma melhor compreensão da dislexia. "Não acho que trocar uma fonte por outra fonte irá ajudar as pessoas com dislexia se é um distúrbio fonológico", diz, explicando que esta desordem afecta a capacidade de uma pessoa produzir sons necessários ao discurso. "Mas se talvez tivermos mais informações sobre as diferenças emocionais que uma fonte pode gerar em relação a outra, então há uma maior probabilidade de podermos oferecer um pouco mais de ajuda."

Podemos imaginar o tipo de aplicações que estes refinados dados poderiam trazer. A mais óbvia é no marketing. Designers gráficos já usam truques visuais para nos vender coisas; pensem só se eles pudessem optimizar a eficácia do design até ao detalhe da tipografia. Por exemplo, o uso pela Shake Shack da Galaxie Cassiopeia faz sentir desejo ou fome, ou qualquer tipo de afinidade em relação à marca? Os seus executivos e Paula Scher (a designer por trás o logotipo da cadeia de hambúrgueres) certamente esperam que sim, mas não há nenhuma maneira concreta de saber. A mensagem tem estado sempre intrinsecamente ligada à nossa percepção emocional da tipografia. O trabalho de Nicotra poderia separar os dois.

Claro que existem outros benefícios para este tipo de investigações além da venda de hambúrgueres. A fonte de Britton, sem dúvida, faz sentir alguma coisa, mas isso deve-se também ao facto de ter sido acompanhada por uma explicação do que o designer estava a tentar fazer. Imaginem um tipo de letra que poderia inspirar empatia intrinsecamente baseada na suavidade do vértice de uma letra ou no aumento ou diminuição do espaço negativo nos caracteres. Não é possível ainda – os tipógrafos vão continuar a criar letras baseadas na intuição, gosto e clareza - mas certamente é uma ideia extravagante.
[tradução portuguesa da versão original inglesa]

 


Liz Stinson
Jornalista sediada em Brooklyn, colaboradora da secção de Design da revista Wired.

 


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Este artigo foi originalmente publicado na revista Wired, a 18 de Junho, 2015.