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O QUE É QUE SE SEGUE?
TIAGO BORGES
"O que é que se segue? É a pergunta que todos nos fazemos, ainda que a não façamos. Porque não se trata de uma "crise" em que se sabe que um valor vai render outro que se gastou. Não se trata de uma "crise" mas de uma "mutação" que se funda no imprevisível e não depende de um status quo ante como impulso para um status novo. (1)
Crise: Estado de espírito.
Nos últimos meses o mundo ocidental testemunhou uma sequência de acidentes sem expressão física visível mas com um grande impacto social. Estes acidentes dissecados e explicados em quadros, factores e gráficos são pela sua natureza pouco clara e especializada, difíceis de compreender. Com epicentro nos Estados Unidos da América, a falência de grandes bancos e seguradoras despoletou uma crise financeira nacional e uma catadupa de situações similares em várias economias mundiais. Os media agarraram-se ao scoop e prontamente ensinaram a sociedade a soletrar palavras como subprime, liquidez, housing bubble, crédito mal parado, produtos tóxicos, madoff, lehman brothers, AIG, FMI, entre outros termos cuja complexidade trespassa a compreensão do comum mortal.
Grosso modo percebeu-se que a estrutura do sistema capitalista vigente não tem afinal garantia vitalícia e o fosso entre o know-how e o how-to decorre da ausência de um dispositivo regulador que permita cobrir a amplitude da rede económica-financeira da era da globalização. Nos vários círculos de debate da especialidade, os economistas continuam divididos entre os que julgam ser uma turbulência passageira e os que anunciam a sua visão apocalíptica para o presente, e re-fundação do sistema vigente.
O uso da palavra crise conheceu e conhece um crescimento exponencial. A cada dia que passa acentua-se o dramatismo na forma como a palavra é usada nos diferentes quadrantes sociais. Aliás, a crise tornou-se no grande rótulo genérico para quase todos os problemas que hoje a sociedade enfrenta, e o pano de fundo de qualquer ponto de situação sobre o estado das coisas. O senso comum, “depressa e bem”, sem muitas perguntas, assimilou o ar dos tempos e vive agora sob o medo de um colapso anunciado.
Independentemente do melhor guião que se elabore da situação actual, independentemente da procura incessante do onde, como, e porquê, a crise tornou-se num estado de espírito cujo componente medo trabalha por antecipação e com um estranho poder paralisante.
Sem excepção, como se de uma moda se tratasse, a arquitectura foi também tomada de assalto pela palavra crise e avivam-se as vozes que defendem uma pit-stop para a disciplina. Este artigo tenta recensear alguns dos sinais “críticos” que têm surgido nos círculos da arquitectura mais mediatizada para estimular uma reflexão. À partida é um exercício não exclusivo para momentos de crise, mas que se deveria exigir contínuo ainda que seja difícil acompanhar o passo da velocidade do tempo de hoje.
Crise: No money, no building.
A crise que abalou o pacato frenesim do universo económico-financeiro mundial tem gerado uma estagnação do investimento associada à redução de custos de grandes empresas com efeitos directos em grandes encomendas de arquitectura. A crise activou um princípio do tipo ‘no money, no building’ tomando como primeira vítima a arquitectura mainstream; precisamente a “corrente” que até agora tinha estado ao serviço da hegemonia dos grandes poderes económicos tornou-se na mais exposta aos cortes orçamentais das grandes multinacionais, outrora empenhadas na prática da auto-afirmação, explorando o valor mercantil e representativo da arquitectura e do arquitecto-marca. A mediatização e fama destes nomes tornaram-nos apetecíveis pelos grandes interesses privados e pelo “valor acrescentado” implícito na sua assinatura.
A acompanhar a ascensão da arquitectura-ícone seguiu-se o reconhecimento da profissão do arquitecto pela sociedade em geral como relatou o crítico do New York Times, Nicolai Ouroussoff: “Arquitectos como Rem Koolhaas, Zaha Hadid, Frank Gehry, Jacques Herzog e Pierre de Meuron, outrora considerados demasiado radicais face à mainstream, tornaram-se importantes figuras culturais” (2). Sobre a mesma ascensão e posterior queda, Zvi Hecker – num texto publicado no blog de Lebbeus Woods – acrescentou: “A arquitectura baseou-se na imagem do ‘Arquitecto como Artista’ comprometido unicamente com a suas fantasias e desejos pessoais, o ‘Arquitecto como Designer’ contratado para desenhar roupas, alta costura, cinzeiros e malas, o ‘Arquitecto como Entertainer’ exibindo-se em palcos pseudo-intelectuais” enquanto – alerta Hecker – a imagem do “Arquitecto como Arquitecto tornou-se rapidamente irrelevante” (3).
Com o anúncio da crise, do campo financeiro ao campo dos valores, a arquitectura mediática, que até agora tinha vindo a representar os gigantes privados é arrastada pelo declínio desses impérios virando-se o feitiço contra o feiticeiro: “em vez de representar uma riqueza pessoal ou o poder de um país, os mercados especulativos – sejam eles financeiros ou arquitectónicos – actualmente espelham a fraqueza de um império em declínio” (4) – como expôs Mark Taylor num artigo premonitório publicado na revista Log antes do eclodir da crise. Taylor acrescenta também que a arquitectura do espectacular tende, pela sua natureza tão entrosada nesta estrutura especulativa a ser a que mais sofre com a volatilidade do sistema.
Apesar de não se poder restringir os efeitos da crise unicamente a projectos de starchitects, a verdade é que se constata que são eles os mais visados pelas parangonas dos últimos meses.
A lista factual é extensa (5). O gigante farmacêutico Roche suspendeu a construção de uma torre projectada pela dupla Herzog e de Meuron. A Roche alegou problemas técnicos para interromper o projecto orçamentado em 550 milhões de francos e que viria a ser a torre mais alta da skyline helvética. O francês Jean Nouvel viu o seu projecto para uma torre residencial de 75 andares nas imediações do Moma adiado indefinidamente e Frank Gehry, o primeiro “arquitecto estrela” da era contemporânea, teve também dois importantes projectos suspensos: a Grand Avenue em Los Angeles e o projecto Atlantic Yard em Nova Iorque. Gehry viu ainda um outro projecto para 750 apartamentos em Brighton, Inglaterra, ser também anulado. Ainda nos Estados Unidos, a torre Chicago Spire projectada por Santiago Calatrava foi suspensa. O arquitecto Richard Rogers foi também afectado com o congelamento do seu projecto para a torre Leadenhall em Londres. (Como curiosidade refira-se que quatro dos cinco nomes referidos nestes exemplos já foram laureados com o prémio Pritzker.)
Também na Rússia se assistiu à suspensão momentânea de vários mega-investimentos, entre os quais, o projecto do que viria a ser o edifício mais alto da Europa: “Rossiya”, uma torre de 118 andares com 612 metros pensado nos escritórios do arquitecto britânico Sir Norman Foster. E no Dubai, o éden das folies e caso de estudo da teoria contemporânea, vários investidores privados anunciaram o adiamento de projectos como é o caso do hotel Trump International de Donald Trump, com um custo que ascenderia aos 238 M€.
A maioria destes projectos têm várias características comuns: saíram de escritórios de arquitectos-celebridades, e têm orçamentos onde os zeros se multiplicam. É também um facto que devido à anulação deste tipo de encomendas importantes, foram várias as grandes “fábricas” de arquitectura que se viram forçadas a despedir colaboradores como é o exemplo das firmas dos já citados Gehry, Richard Rogers, e Norman Foster (6).
Multiplicam-se os projectos vitimados pela recessão do sistema financeiro, projectos adiados cuja morte lenta afecta também o seu próprio significado no determinado contexto temporal em que foram concebidos. São pontos sem retorno que ficarão como conhecimento traçado sobre o papel cuja real verificação real nunca poderá ser validada. A recessão veio definitivamente desapossar a história da arquitectura de projectos cuja única certeza é hoje a incógnita do seu sucesso ou do seu falhanço ou, por outro lado – e sob a forma de pergunta – veio a recessão salvar a narrativa da arquitectura da vigência de um determinado discurso dominante?
Crise: Oportunidade e alinhamento
O desassossego financeiro levanta outras questões pertinentes à produção de conhecimento no campo da disciplina: é a arquitectura uma prática insustentável sem um sólido background financeiro? Como interpretar o dado “crise” e trabalhar respostas e posicionamentos adequados? Ou, como é que a chegada da crise pode gerar uma transformação significativa do status quo da realidade arquitectura?
Como já referido, a recessão afectou (e afecta) principalmente uma corrente mainstream que durante os últimos anos se especializou no oportunismo do boom económico. Esta arquitectura ocupou-se intensivamente na pesquisa formal “quão ícone é um ícone” (7) e centrou-se no factor “design” como observou Hal Foster no seu ensaio “Design and crime”: “É um velho debate que hoje ganha uma nova ressonância quando a estética e o funcional não estão apenas ligados mas acima de tudo submissos ao comercial.”(8) Para Foster, a arquitectura começou a padecer de um desejo de design que originou uma lógica narcisista e de “abundante sameness” da trindade imagem – espectáculo – capital.
A dificuldade nesta saturação não está no investimento contínuo das experiências formais, da dedicação extrema à procura do factor “espectacular”, aliás seria de extremo dogmatismo condenar as possibilidades que essa pesquisa potencia. O problema tornou-se incontornável quando a corrente mainstream ao descurar a consistência e importância do discurso cultural da arquitectura perdeu (e perde) a sua autonomia e se tornou vítima de um sistema em colapso quando podia ter algo a dizer.
O historiador de arquitectura Kenneth Frampton ilustrou o paradoxo da situação actual referindo-se ao Estádio Olímpico de Pequim dos suíços Herzog e de Meuron (HdM). Para Frampton “conceber um edifício espectacular é um desperdício de recursos por definição” (9) referindo-se à quantidade de aço que a estrutura utilizou – citando Frampton – no contexto de sustentabilidade e economia de recursos que actualmente se proclama, o estádio de Pequim é uma “estrutura excepcionalmente retrógrada e moralmente condenável” pelo hino ao desperdício que a caracteriza.
O historiador William Curtis foi outra voz que se manifestou recentemente contra a proliferação dos objectos-referência ao condenar o projecto “Triangle” dos HdM para Paris (10). Uma pirâmide com quase 180 metros de altura e largura no seu lado maior – para Curtis – uma proporção descomunal quando confrontada com o seu contexto. Na condenação deste “excesso”, Curtis, como Frampton o tinha feito, levanta a problemática contradição entre a economia de meios, economia de projecto, e a ideia de sustentabilidade no discurso da arquitectura. As preocupações com o impacto no meio ambiente tornam-se falácias que escondem o contínuo desejo e ânsia de afirmação da arquitectura-espectáculo. As preocupações com o meio ambiente tornam-se também um slogan para servir os interesses “publicitários” dos gigantes económicos. Para Curtis, com um discurso crítico que coloca uma tónica na relação de respeito que a arquitectura estabelece com a escala do seu contexto, os arquitectos deveriam estipular objectivos mais “sérios”: “servir a sociedade civil e a cultura a longo prazo” (11).
Ao mapear o que se tem escrito sobre a crise é notória a tendência que professa uma mudança de paradigma não exclusiva do ‘como’ se faz a arquitectura, mas também relacionada com a receptividade, acolhimento e entusiasmo social que provoca. O facto é que a recessão actual chega num momento extremamente oportuno. A crise global sobrepôs-se e reforçou a crise interna da disciplina tanto do “sameness” – que refere Foster – como do próprio discurso cultural que andou preocupado com o “out there” e com o “beyond building”.
A arquitectura-espectáculo atingiu um esgotamento criativo e tornou-se no bode-expiatório dos exageros da sociedade de consumo – ao ponto de se celebrar mediaticamente o incêndio que consumiu a torre CCTV do estúdio Rem Koolhaas/OMA na China. Este evento, “a íntima fusão entre arquitectura de vanguarda e catástrofe” (12), foi difundido através de centenas de vídeos online com honras de catástrofe e foi gabado pelos relatores de arquitectura(13) para marcar simbolicamente um ponto de ruptura.
A agenda da arquitectura começa a ser reprogramada. Os críticos alinham-se com discursos de resistência e de apelo a uma mudança do posicionamento dominante e a um maior compromisso desde as problemáticas sociais à sustentabilidade.
Outro actor que irrompe na cena é o Estado. À semelhança do papel interventivo e salvador na crise económica, o Estado (re)toma o papel de cliente para grandes projectos em prol da cidade num gesto também em si re-fundador O exemplo mais recente que ilustra o poder do Estado enquanto alavanca para a especulação criativa foi o concurso de ideias ‘Le grand Pari de l’agglomération Parisienne’, um brainstorming lançado pelo governo francês a dez equipas de arquitectos que visou repensar o futuro territorial da capital francesa. (14)
Crise: Ausência conclusiva
O arquitecto pertence a um grupo particular que trabalhou e trabalha entre a especificidade técnica, a subjectividade “artística” e a permeabilidade em relação aos eventos que marcam a contemporaneidade – características que concentram no arquitecto uma peculiar responsabilidade enquanto actor social. A presente situação não permite que o arquitecto reduza o seu papel ao de um técnico da construção. Essa premissa serviu apenas para colocar a arquitectura no confortável papel de espectadora (e também de vítima).
Neste período de recessão é necessário uma via mais interventiva (o que não significa mais arquitectura) e menos subserviente. Uma via que não reduza o papel do arquitecto ao criador da forma estética na resolução técnica para não desperdiçar a possível relevância da arquitectura enquanto participante nas dinâmicas culturais das cidades e do mundo. A arquitectura será para sempre prisioneira do seu valor de mercado, mas isso não quer forçosamente dizer que o discurso do arquitecto o seja – nem é desejável que o seja.
O futuro próximo da disciplina depende da capacidade subversiva dos arquitectos para formular afirmações que possam ser traduzidas para um quadro social face ao contexto desequilibrado dos tempos. Depende da capacidade dos críticos em traduzir essas afirmações quando não são claras, em explorar práticas emergentes sobre as quais se possa escrever e construir conhecimento para que estas se tornem pontos de referência. Depende da capacidade de leitura transversal da história para integrar as problemáticas fundamentais e perceber como pode o arquitecto participar em vez de assistir.
Os novos caminhos que vão surgir num futuro próximo para a arquitectura serão fruto do acidente de hoje – recuperando palavras de Paul Valery citado por Virilio: “the accident is the appearance of the quality of something which was masked by another of its qualities” (15).
“Il faut s’attendre l’inattendu. Être dans cet état de résistance qui permet de parier sur l’improbable. Par résistance, j’entends surtout celle qui est à même de lutter contre les barbaries.” (16)
Tiago Borges
Tiago Borges (Coimbra, 1983). Licenciado em arquitectura pelo Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra (2007), onde defendeu a investigação: “Pousser plus loin: o espaço doméstico e as invariantes no trabalho dos Lacaton & Vassal”. Frequentou a École Polytechnique et Fédéral de Lausanne ao abrigo do programa Erasmus. Vive e trabalha na Suíça desde 2008.
NOTAS
(1) Ferreira, Virgílio, Escrever, Bertrand Editora, 3ª edição, 2001, p.207.
(2) Ouroussoff, Nicolai, “It was fun till the Money ran out”, in The New York Times, 21.12.2008. Tradução livre.
(3) Hecker, Zvi, “Architecture stripped of its ornate garment”, in www.lebbeuswoods.wordpress.com 19.03.2009. Consultado em 20.03.2008. Tradução livre.
(4) Taylor, Mark, “Turning forty”, in Chynthia Davidson (ed.), in Log, 13/14, Fall 2008, pp.7-16. Tradução livre.
(5) O jornal alemão Spiegel inventariou num extenso artigo um conjunto de projectos suspensos devido à crise financeira. Ver “Global downturn dooms prestige construction projects”, in http://www.spiegel.de. Consultado em 23.01.09.
(6) O jornal britânico The Guardian, um dos poucos jornais atentos ao impacto da recessão na indústria da arquitectura no Reino Unido, noticiou que os arquitectos foram a profissão mais tocada pelo início da recessão segundo o número de pedidos de benefícios estatais que aumentou 760%. A título de exemplo o The Guardian assinalou o despedimento de 35 colaboradores da Richard Rogers, a redução para metade do número de colaboradores da Gehry and Partners. Outra notícia anunciava o despedimento de 400 colaboradores da Foster+Partners. Ver também a propósito do impacto da crise no Reino Unido: Waite Richard, “It’s a bloodbath: architects savage by the recession”, in Architects Journal, 20.02.09. O Architects Journal criou uma zona especial online dedicada à monitorização das consequências da crise sobre a profissão no Reino Unido.
(7) A propósito do ‘bom’ e do ‘mau’ ícone, Graham Morrison escreveu: “A Bad Icon is the built representation of an unsupportable claim, a meaningless or pompous gesture, which exceeds the reasonable representation of its content, initiated either by vanity or expedience, in which the efficient working of its accomodation is compromised and the context in wich it is built is left worse off”. Morrison Graham, “The trouble with icons”. Disponível no site www.alliesandmorrison.co.uk
(8) Foster, Hal, Design and Crime (and others diatribes), Verso, Londres, 2002. Tradução livre.
(9) Kenneth Frampton entrevistado por Petra Ceferin. “Architecture is a fragile enterprise”, in Werk Bauen und Wohnen, nº11, 2008.
(10) Curtis, William, “Les excès du star system: le Projet Triangle de Herzog & de Meuron”, in lemoniteur.fr, 09.12.2008. William Curtis reafirma as suas posições condenando a arquitectura subserviente da lógica de mercado na notícia “Los excessos de la arquitectura” publicado no site laopinioncoruna.es. Tradução livre.
(11) idem
(12) Goldberger, Paul, “Burning Koolhaas down”, in www.newyorker.com. 10.02.2009. Consultado em 11.02.2009.
(13) A revista Blueprint compilou várias reacções publicadas em torno do incêndio da torre TVCC no artigo Kelly Peter, “The Subject: in the press”, in www.blueprintmagazine.co.uk. 26.02.2009.
(14) Ver www.legrandparis.culture.gouv.fr/
(15) Paul Virilio, “Foreword” para a exposição “Ce qui arrive”. Fondation Cartier. Disponível em www.onoci.net/virilio/pages_uk/virilio/all_avertissement.php
Em 2003, o urbanista e filósofo Paul Virilio concebeu a exposição “Ce qui arrive” na Foundation Cartier. A exposição centrou-se no acidente como evento indissociável da história contemporânea e serviu de tubo de ensaio para Virilio defender uma museologia da catástrofe. Paul Virilio recenseou múltiplos tipos de acidentes que, quer pela sua dimensão, quer pela sua mediatização, se transformaram em eventos-catásfrofe cuja relevância os inscreveu no livro da História recente. A intensidade com que se sentiram no mundo global permitiu que fossem hiper-densificados de problemáticas e significados.
No teaser teórico da exposição, Virilio define pontos chave para o entendimento do seu pressuposto expositivo. Destacam-se três factores cuja “acidental” sobreposição amplia o impacto do acidente enquanto teste à nossa capacidade de resposta: o ‘inesperado’ como dado irredutível do conceito de acidente, a ‘simultaneidade’ como factor dificultante na gestão dos procedimentos a uma escala global, e a ‘velocidade’ inerente ao tempo de hoje.
O acidente-ocasional deu lugar a uma sequência de acidentes-automático, ou seja, a situação de catástrofe tornou-se numa condição permanente da contemporaneidade. Virilio conduz-nos à conclusão de que compreender o acidente é perceber o seu carácter cíclico, e equipar-se de respostas válidas para lhe fazer frente é trabalhar “one step ahead”.
(16) Edgar Morin em entrevista a Luc Debraine, in Le Temps, 30.12.2008. Disponível online em www.letemps.ch/template/print.asp?article=247002
Consultado em 31.12.2008.