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ARQUITETURA E DESIGN




Serpentine Pavilion 2009, SANAA. Fotografia: Inês Dantas.


Serpentine Pavilion 2009, SANAA. Fotografia: Inês Dantas.


Serpentine Pavilion 2009, SANAA. Fotografia: Inês Dantas.


Serpentine Pavilion 2009, SANAA. Fotografia: Inês Dantas.


Castle of Air, Cincinatti. Peter Haimerl Studio, 2004. Fotografia: Don Baudish. Equipa de projecto: Jutta Goerlich, Florian Wurfbaum.


Pormenor interior, Amalienburg, Munique. Fotografia: Inês Dantas.


Serpentine Pavilion 2010, Jean Nouvel. Render imagem Jean Nouvel. Fonte: http://www.serpentinegallery.org/architecture


Serpentine Pavilion 2003, Oscar Niemeyer. Fonte: http://www.serpentinegallery.org/architecture


Serpentine Pavilion 2005, Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura, com Cecil Balmond – Arup. Fotografia: © Duccio Malagamba.


Serpentine Pavilion 2006, Rem Koolhaas e Cecil Balmond – Arup. Fotografia: © John Offenbach.


Serpentine Pavilion 2007, Olafur Eliasson e Kjetil Thorsen. Fotografia: Luke Hayes


Philips Pavilion, «Poème électronique», 1958, Le Corbusier, Iannis Xenakis, Edgard Varèse. Fotografia: © Hans de Boer.


Driftwood AA Summer Pavilion 2009, Intermediate Unit 2; AA. Fotografia: Inês Dantas.


Pavilhão Feira do Livro 2005, Lisboa, marcosandmarjan: Marcos Cruz e Marjan Colletti. Fotografia: © Virgílio Ferreira.


Olifantsvlei Architektur für kleine Menschen. Fotografia: Projekt Olifantsvlei. Studio3 Institute for Experimental Architecture. Fakultät für Architektur - Universität Innsbruck.


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INÊS DANTAS


A ideia do efémero e do tempo das coisas é relativa e faz-me lembrar uma história que ouvi há muitos anos sobre a borboleta e a sequóia. Questionadas sobre a perenidade de uma flor cuja duração é de algumas semanas ou meses, a borboleta – cuja vida dura apenas alguns dias – afirma: “Toda a minha vida esta flor esteve aqui, neste mesmo sítio!” A sequóia – cujo tempo de vida pode chegar a atingir milhares de anos – por sua vez retorquiu: “A vida dessa flor é breve! Desde que aqui estou já vi centenas, mesmo milhares, nascer e desaparecer.”



UMA BORBOLETA NO HYDE PARK

Tipologicamente um pavilhão é um edifício isolado, assim denominado porque pertencente a um conjunto maior, ou pelo facto de ser temporário. É interessante analisarmos a etimologia do termo pavilhão que vem do francês “pavillon” e “papillon”, tendo a sua origem no latim “papilio” (borboleta) ou no seu acusativo “papilionem”.(1)
Todos os anos no Verão, no relvado adjacente à Serpentine Gallery no Hyde Park, em Londres, “nasce” um edifício temporário – um pavilhão. (Começa aqui a história de uma borboleta.)

Julia Peyton-Jones, directora da Serpentine Gallery, e Hans Ulrich Obrist (co-director) convidam anualmente um/a arquitecto/a contemporâneo/a de renome – e que ainda não tenha construído na Grã-Bretanha – a projectar uma ala temporária da galeria Serpentine.(2) A ideia é que esta ala temporária – materializada num pavilhão – esteja aberta ao público para eventos exteriores.
O projecto foi iniciado por Julia Peyton-Jones em 2000 e Hans Ulrich Obrist juntou-se-lhe em 2006, acrescentando também a sua experiência e habilidade como interlocutor transdisciplinar. Zaha Hadid projectou o primeiro Serpentine em 2000 e desde então o pavilhão já contou com projectos de diversos arquitectos (por ordem cronológica): Daniel Libeskind, Toyo Ito, Oscar Niemeyer, MVRDV (projecto não realizado), Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura com Cecil Balmond, Kjetil Thorsen e Olafur Eliasson, Rem Koolhaas com Cecil Balmond, Frank Gehry e SANAA. Uma presença constante tem sido a de Cecil Balmond e da equipa Arup, um recurso inteligente para assegurar a qualidade do sistema construtivo e a sua construção em pouco tempo,(3) uma vez que o processo – desde o momento da encomenda até à inauguração do pavilhão – tem a duração de um máximo de seis meses.
Este ano, no décimo aniversário da comissão Serpentine, Jean Nouvel foi o arquitecto convidado a projectar o pavilhão Serpentine 2010, a ser erigido no Verão.


PAVILHÃO SANAA: ÁRVORES E ESPELHO

O último pavilhão, construído em 2009, foi da autoria de SANAA: Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, a quem, muito recentemente, foi atribuído o prémio Pritzker 2010. O pavilhão consistiu numa película ondulante de 25mm de alumínio que se assemelha em planta às formas de Burle Marx. Esta encontrava-se elevada do chão por pilares de 50mm de diâmetro, espalhados aleatoriamente pelo jardim, organizando o espaço entre o chão e a cobertura flutuante para uso público, incluindo espaços de permanência e um café.
A metáfora das árvores é utilizada por SANAA para a génese do projecto. Esta é uma metáfora recorrente em muitas ideias arquitectónicas. O texto de Mark Wigley (4) no catálogo do pavilhão refere a ideia e dualidade árvore-arquitectura como uma das mais antigas na história da arquitectura. No entanto, no caso do pavilhão de SANAA, apesar dos esquiços e maquetes de estudo iniciais terem partido da ideia da árvore, o resultado acaba por não traduzir esta metáfora, assemelhando-se muito mais a um fumo ou névoa oriental que se tenha sub-repticiamente escapado de uma pintura. Uma pele reflectora que se descola do solo, como se levantasse voo. Apesar de existir uma certa bidimensionalidade nesta película voadora que se vai deformando até chegar perto do chão, nalguns momentos, a utilização do espelho denota o desejo de atingir a quarta dimensão através da reflexão do movimento. O tempo vai sendo registado, as árvores que estremecem com o vento, a luz londrina, o pôr-de-sol de verão, um entardecer sombrio, o movimento de quem visita, os passantes distraídos, a chuva que cai.

O espelho é um material bastante popular na tipologia do pavilhão de jardim, tendo sido utilizado no interior de alguns pavilhões no século XVIII – um dos melhores exemplos é o de Amalienburg [tinyurl.com/yasndn5], em Munique. Amalienburg é um pavilhão de prazer construído para a rainha Maria Amália. O edifício, idealizado como pavilhão independente, foi projectado por François Cuvilliés e completado em 1739. O seu interior forma um 'gesamtkunstwerk' rococó, pontuado pelas superfícies espelhadas que reflectem o jardim. A sala dos espelhos pretendia transportar o exterior para um espaço íntimo, reflectindo a natureza planeada, num espaço contido.
A ideia do espelho tem sido utilizada em diversos projectos de arquitectura desde o início da sua produção. Por altura das comemorações da geminação das cidades de Munique e Cincinatti, o atelier Peter Haimerl projectou um pavilhão espelhado (em aço inoxidável polido) apelidado de Castle of Air tendo sido posteriormente enviado para Cincinatti. A concepção partiu de uma inversão do Amalienburg e do Pagodenburg. Em Castle of Air a utilização do espelho acaba por também evidenciar uma referência directa a Dan Graham na relação espelho-natureza. [www.tinyurl.com/ydnrw9u] No pavilhão de SANAA a associação fica-me na memória.
Ainda a propósito do espelho, embora num outro registo urbano, o material reflector foi utilizado por Eduardo Souto Moura e Ângelo de Sousa, na fachada do pavilhão que representou Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza de 2008 ("Cá Fora: Arquitectura Desassossegada" comissariada por Joaquim Moreno e José Gil).

No pavilhão SANAA, de acordo com a explicação dos autores, pretendeu-se criar uma colecção de atmosferas. Para isso o uso do espelho revelou-se fundamental na diluição da materialidade. A escolha do espelho na arquitectura de SANAA apresenta-se em paralelo com a transparência, conseguindo criar uma materialidade imaterial e etérea.
Cada pavilhão Serpentine vai mostrando aquilo que cada arquitecto quer transportar, quase como ex-libris dos seus valores arquitectónicos ou como oportunidade de experimentação.


PAVILHÕES COMO OPORTUNIDADE: A ENCOMENDA E O EXPERIMENTALISMO

De uma forma geral – desde os pavilhões de jardim do século XVII, de repouso, de prazer, de caça, os gazebos, as follies – a função do pavilhão era a de complementar ou pontuar um conjunto espacial existente. A construção de estruturas temporárias durante o barroco demonstrou a oportunidade de criar cenários fantásticos de carácter efémero. Em 1851, o Palácio de Cristal, em Londres, inaugura a era das exposições mundiais com um enorme pavilhão de ferro e vidro.
No século XX poderia citar inúmeros exemplos de pavilhões que contribuíram para a história da arquitectura e foram oportunidade para testar ideias experimentais, entre outros, os pavilhões construtivistas – com a sua carga ideológica e política –, o emblemático pavilhão de Mies van der Rohe em Barcelona, em 1929, o Philips Pavilion, em 1958, de Le Corbusier. Este constituiu também a oportunidade de ser um momento de colaboração interdisciplinar de Le Corbusier com Iannis Xenakis, de exploração das fronteiras da arquitectura e de um questionamento de uma prática estabelecida. Ao declarar o Poème électronique(5), Corbu passou uma linha curva e electrónica sobre o seu poema do ângulo recto. A lista de exemplos seria bastante extensa, especialmente a partir dos anos sessenta até hoje.
Exposições mundiais, festivais, bienais de arquitectura, museus, instituições, e por aí fora, encomendam estruturas temporárias, entre elas pavilhões. O pavilhão, por se situar nebulosamente entre a instalação e a arquitectura, acaba por permitir uma experimentação arquitectónica relativamente descomprometida devido ao seu carácter efémero. O pavilhão acaba por ser um pequeno manifesto construído numa mensagem que se pretende veicular, sendo esta arquitectónica, cultural, social, ecológica, ideológica ou outra. Qualquer afirmação relativa à tipologia do pavilhão tem que ser analisada caso a caso, pois diferem as motivações que levam à encomenda, o contexto social, político, os projectistas, as narrativas espaciais, as respostas tectónicas...

Em 2008, com Florian Wurfbaum, no atelier tivemos oportunidade de desenvolver um projecto para o pavilhão austríaco [www.wuda.eu/project_shanghai.html] no concurso para a Expo 2010 de Xangai (6) sob o tema geral Better City, Better Life. Há algo de muito heterotópico quanto a desenhar um pavilhão representativo de uma ideia cultural. A arquitectura traduz uma narrativa de identidades múltiplas correspondentes à complexidade da matriz cultural. A partir de Maio os olhos estarão postos em Xangai e nas diversas respostas arquitectónicas e culturais ao desafio de um pavilhão nacional.

No caso do Serpentine o desafio vai sendo respondido de forma diferente por cada atelier. Se, por um lado, Niemeyer pretende sintetizar os princípios da sua arquitectura, e SANAA acaba por fazer o mesmo conceptualmente, no caso de Siza Vieira e Souto Moura, estes aproveitam o carácter solto e experimental da comissão temporária ao mostrar que cada projecto é uma resposta única a um conjunto de circunstâncias. Apresentam a sua ideia como um animal que se encontra ancorado no terreno mas com o corpo tenso, pronto a atacar a galeria. Isto é conseguido através da dinâmica curvilínea da cobertura – uma estrutura de madeira em grelha. A cobertura vai sofrendo “acidentes”, deformando-se. A preocupação contextual é materializada no uso do material, nestes “acidentes” (como refere Siza neste contexto, a arquitectura é, muitas vezes, feita de acidentes que dão o carácter aos edifícios) e na relação com a escala doméstica da galeria. A reacção às arvores que rodeiam o pavilhão foi um dos pretextos para a assimetria da curvatura da superfície, tal como a reacção à galeria onde a cobertura se inclina como uma saudação. Através da escolha de materiais e da solução da iluminação o pavilhão assume um certo carácter low-tech requintado. No caso do pavilhão de Kjetil Thorsen e Olafur Eliasson o projecto foi uma oportunidade de colaboração transdisciplinar [www.tinyurl.com/yahooah] esvanecendo as fronteiras da intervenção arquitectónica e artística.

Um outro aspecto muito satisfatório de projectos ligados a um evento é o da velocidade e fluidez do processo. Hoje em dia, com todas as incertezas na produção da arquitectura, a nível de comissão e desenrolamento do processo de projecto e sua construção, a certeza da conclusão numa determinada data e do empenho dos agente envolvidos num mesmo fim constitui uma excelente motivação para todos (muito embora em 2005 o pavilhão dos MVRDV não tenha sido construído). Concomitantemente, verifica-se uma predisposição das especialidades e das empresas para soluções experimentais. No caso do Serpentine os custos são patrocinados por diversas instituições e empresas que vêem o pavilhão como mecenato ou oportunidade publicitária. No final o pavilhão é vendido, e a sua venda representa no máximo 40% do custo total do investimento.

A função social do pavilhão pode registar-se a vários níveis, no exemplo do Serpentine esta assume-se enquanto dinamização do espaço público, e ao mesmo tempo tornando acessíveis determinados conteúdos e valores espaciais. Tal como o tema People meet in Architecture da 12ª Bienal de Arquitectura de Veneza, que decorrerá este ano dirigida por Kazuyo Sejima, os pavilhões no Hyde Park são um ponto de encontro de pessoas.

Por outro lado, a experimentação e o imaginário dos pavilhões pode revelar-se útil noutros contextos, em situações onde função social é sinónimo de resolução de carências sociais estruturantes e onde é necessário erigir expeditamente. Um exemplo é o projecto desenvolvido pelo Studio3 do Institute for Experimental Architecture, da Universidade de Innsbruck para a Social Sustainable Architecture em 2006 - um jardim-escola na África do Sul Olifantsvlei [www.olifantsvlei.net/#]. Este foi projectado e erigido por 30 alunos do departamento em parceria com entidades locais. O desenho foi utilizado enquanto potenciador da vivência espacial, na perspectiva de acrescentar valor à experiência diária das crianças-utilizadoras, numa atitude de “design does matter”. Tal como no Serpentine a maioria dos custos foi patrocinada, e a necessidade de construir a baixo custo e em pouco tempo fez uso de um know-how associado à construção temporária.


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Um dos aspectos mais importantes do pavilhão é o seu papel 'atractor' no espaço urbano. Durante o dia, o pavilhão tem a função de abrigo do sol ou da chuva, repouso, fruição, café, cenário de fotografias. Um grande contributo do pavilhão Serpentine para a dinâmica urbana é o seu lado nocturno – as Park Nights e o ciclo de Maratonas iniciado e imortalizado em 2006. Foi neste ano que Rem Koolhaas projectou o pavilhão e Hans Ulrich Obrist se lhe juntou ao projecto Serpentine como co-director e curador.
Rem Koolhaas, no seu pavilhão, criou um conto relacional com a galeria mãe, interpretando a forma circular do espaço central da galeria, aumentando-o, e criando a base do novo pavilhão – um cilindro translúcido de policarbonato. E, enquanto que a forma de SANAA levita, a de Koolhaas explode num balão de hélio que podia levantar voo. O insuflável de Koolhaas aproxima-se, a nível formal, dos projectos austríacos dos anos sessenta: Coop Himmelblau, Haus Rucker Co. e Hans Hollein no início da carreira.
Rem Koolhaas [www.tinyurl.com/ycgalkn] assumiu o seu pavilhão enquanto definido por eventos e actividades, assentando na ideia de arquitectura-evento de Bernard Tschumi, que, por sua vez, se inspira nas ideias austríacas e britânicas dos anos sessenta, reflectidas, por exemplo, no projecto Instant City dos Archigram.
Da dinâmica Hans Ulrich Obrist-Rem Koolhaas nasceu uma maratona de 24 horas – 24-hour Serpentine Gallery Interview Marathon – onde diferentes convidados relevantes em diferentes disciplinas debateram sobre a cultura contemporânea [www.tinyurl.com/ycpqshq].
Shumon Basar na Log 8 (7) reflecte sobre a vitalidade e a dinâmica que a maratona imprimiu na cidade em 2006 e como conseguiu criar um domínio público exploratório nas 24 horas que durou, assumindo o lado utópico dos organizadores no sacrifício pela arte ou pela sociedade. A Marathon, que este ano comemora o seu quinto aniversário e se ocupará do tema “Mapping”, é segundo Hans Ulrich Olbrist uma homenagem a Cedric Price, e na minha opinião emana algum espírito accionista vienense.

O Serpentine é uma iniciativa que se insere num contexto específico: Londres, Hyde Park, galeria Serpentine. Talvez Londres seja uma cidade propícia a eventos efémeros, pelo facto de se mostrar tão imóvel na sua estrutura interna. Daí que o pequeno pavilhão, para além da possibilidade de rápida construção, permite ultrapassar restrições e regulamentações. Neste sentido, veja-se, entre muitos outros projectos de instalações temporárias que vão sendo construídos pela cidade, o projecto de arte pública PORTAVILION [www.tinyurl.com/y939bx6], os Summer Pavilions da AA, o Hear here [www.tinyurl.com/ydx8n2o], da Unit 23 da Bartlett (8), e aguardamos o International Architecture Student Festival 2010 (9) para o qual estudantes de arquitectura de diversas faculdades internacionais estão a desenvolver projectos temporários para a cidade, a maioria destes tirando partindo das técnicas actuais de CAD-CAM.

Contemporâneo da ideia Serpentine, o Young Architects Program (YAP) [www.ps1.org/yap/] consiste numa série de concursos anuais para um pavilhão e comissões temporárias, co-organizada pelo P.S.1 Contemporary Art Center e pelo MoMA em Queens, Nova Iorque. Foi estabelecido em 2000 para consolidar a parceria entre as duas instituições; no entanto, uma versão análoga noutros moldes já decorria desde 1998 promovida por Alanna Heiss - P.S.1. A ideia difere do Serpentine nos critérios da escolha do atelier de arquitectura – enquanto que o Serpentine procura arquitectos aclamados, o YAP, tal como o nome indica, pretende dar oportunidade a arquitectos jovens e emergentes.

No contexto americano, em 2007, as comemorações do 25º Aniversário da Storefront [www.tinyurl.com/ydxfwqg] incluíram a construção de um pavilhão e 26 dias de actividades (no entanto o evento não teve continuidade). Em 2009, foram erigidos os Pavilhões Burnham [www.tinyurl.com/c9b6v4] no Millennium Park em Chicago, para comemorar os 100 anos do Plano Burnham para a cidade.


REPTO NO CONTEXTO PORTUGUÊS

Em Portugal, poder-se-ia fazer algo semelhante a nível de comissão anual e temporária, por exemplo com as feiras do livro, tal como já aconteceu em 2005 com o pavilhão para a Feira do Livro de Lisboa [www.tinyurl.com/yb346ew] desenhado por marcosandmarjan – Marcos Cruz e Marjan Coletti – (e tal como no contexto espanhol, em Madrid, com o pavilhão [www.tinyurl.com/ycl67ow] desenhado por Marcelo Dantas e Olga Sanina).

Há dez anos atrás, ao propor (10) a ideia de lançar um concurso de arquitectura para a Feira do Livro em Coimbra, perguntaram-nos se o que estávamos a propor era um concurso para uma “tenda bem desenhada”. Obviamente esta afirmação é redutora, e enquadrava-se na ausência de infraestruturas culturais em Coimbra. Uma solução temporária para um problema latente urbano era vista nestes termos, tendo em conta que depois da desmontagem a lacuna da cidade persistiria.


A BORBOLETA BATE AS ASAS – A IMPREVISIBILIDADE TRANSFORMADORA DO EFÉMERO

A ironia da “tenda bem ou mal desenhada” é, eventualmente, a crítica que pode ser lançada aos pavilhões. A cidade vê passar estes momentos efémeros como a sequóia vê passar as flores e as borboletas.
Inicialmente, Oscar Niemeyer, quando foi convidado para desenhar o pavilhão Serpentine, em 2003, começou por recusar o convite dizendo que apenas construía edifícios de betão. Niemeyer acabou por mudar de ideias convencendo-se da utilidade do pavilhão, mau grado o seu carácter efémero, no entanto (para além de ter construído em betão) confessou que teve a preocupação de que o pavilhão traduzisse em pequena escala as suas ideias arquitectónicas. (11)
Os pavilhões temporários não vão sendo absorvidos pelo tecido urbano e pela realidade física mas sim por uma história abstracta que vai coleccionando exemplos passados e inspirando eventos futuros. É este aspecto mediático e de multiplicação do/s sítio/s que Beatriz Colomina descreve ao referir-se ao pavilhão de Barcelona de Mies van der Rohe. Numa época em que os media e os instrumentos de informação se movimentavam de forma muito mais lenta, o pavilhão de Barcelona temporário conseguiu influenciar toda a história da arquitectura do século XX (12), acabando por ser reconstruído.

(Esta é a fase em que o casulo está tecido e a borboleta finalmente se solta. Terá ainda que esperar algumas horas até que as asas se encontrem suficientemente rígidas para poder voar.)
A borboleta bate as asas!
O bater da asa da borboleta representa uma pequena alteração da condição inicial do sistema provocando potencialmente uma reacção em cadeia com efeitos imprevisíveis. Este exemplo metafórico que serve para ilustrar a teoria do caos, bastante usado noutros campos disciplinares, pode revelar-se pertinente no que diz respeito à arquitectura temporária e ao seu potencial efeito catalítico.
A fragilidade de um pavilhão perante o tempo encontra-se revestida de um potencial de transformação, ainda que efémero. No entanto, este terá a capacidade de alterar temporariamente a cartografia da cidade, o seu imaginário e, potencialmente, outros lugares, físicos ou construídos disciplinarmente, podendo gerar um efeito em cadeia imprevisível.
Mas apenas o tempo o dirá.


Inês Dantas
Arquitecta pelo DARQ Universidade de Coimbra (2004). Vive entre Londres e Munique. Docente na Faculdade de Arquitectura de Innsbruck desde 2006. Conferencista no Rizvi College of Architecture Bombaim, MArch UD Bartlett, entre outros. Co-fundou em 2006 o atelier WUDA* Wurfbaum Dantas Architects. Encontra-se com licença de investigação, desde 2009, a desenvolver tese de Doutoramento sobre a Superfície da Cidade na área de Arquitectura e Urbanismo na Bartlett School of Architecture em Londres.


NOTAS

(1) O termo começou por ser utilizado com este sentido para designar as tendas erigidas nos campos militares pela semelhança do tecido têxtil em tensão com as asas de uma borboleta.

(2) A Serpentine Gallery é um antigo pavilhão de chá, de linha neoclássica, datado de 1934 e adaptado à função de galeria de arte em 1970.

(3) É interessante notar que Oscar Niemeyer fez absoluta questão em também integrar activamente o seu próprio engenheiro – José Carlos Sussekind – colaborador do arquitecto centenário há três décadas.

(4) Mark Wigley, “Optical Acupuncture”, SANAA Serpentine Gallery Pavilion 2009, Catálogo do Pavilhão, Koenig Books, 2009.

(5) Peça de música electrónica escrita por Edgar Varèse.

(6) WUDA* Architects – Projecto finalista em segundo-lugar ex-aequo – The Hills are Alive.

(7)Shumon Basar, “Don´t Stop, Never Stop”, Log 8, Summer 2006, Anyone Corporation.

(8) Ric Lipson's Diploma/Masters orientado por Bob Sheil e Emmanuel Vercruysse, Bartlett School of Architecture.

(9) O evento insere-se no contexto do London Festival of Architecture [www.tinyurl.com/y89z4vx].

(10) Ideia para a Feira do Livro de Coimbra 2001, com Gonçalo Azevedo; porém, o concurso não se chegou a realizar.

(11) Oscar Niemeyer, Serpentine Gallery Pavilion 2003, Catálogo do Pavilhão, Koenig Books, 2003.

(12) Entrevista a Beatriz Colomina, Revista NU#21 Marginalidades, Novembro 2004.