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RESOLUÇÕES DE ANO NOVO PARA A ARQUITETURA E DESIGN EM 2016
WILL WILES
Vamos chamar a estas as minhas resoluções de Ano Novo, em nome da arquitetura e do design, as coisas que eu gostaria de deixar para trás em 2016.
Ódio a Hadid
Em 2015 Zaha Hadid foi condecorada com a Real Medalha de Ouro RIBA, a primeira mulher a consegui-lo sozinha. Isto, parece-me, completa o seu álbum Panini de realização arquitectónica com a Real Medalha de Ouro, o Pritzker, Praemium Imperiale, Mies van der Rohe, Commandeur de l'Ordre des Arts et des Lettres.
Isto foi de certeza uma alegre nota de boas vindas naquele que foi um tórrido 2015; o estádio de Tóquio, uma ação judicial (resolvida) contra um jornalista, entrevistas de rádio abandonadas a meio, os projetos chineses a acabarem. Tudo isso juntamente com uma torrente agora familiar de críticas contra os países em que ela trabalha e os seus edifícios. Em outubro, por exemplo, Stephen Bayley protestou contra as suas "opiniões intratáveis, comportamento agressivo, a falta de charme e um mar de amargura".
A lista de clientes da ZHA às vezes é desagradável e a sua ideologia paramétrica é indigesta. Mas será que ela merece ser tão odiada? A atmosfera em torno do seu trabalho ficou envenenada com o rancor mais extraordinário, inclusive dos seus defensores - que, deve-se dizer, têm algum motivo para se sentirem em guerra. As minhas simpatias políticas quase sempre recaem nos detratores de Hadid, e esteticamente não estou convencido do parametricismo na teoria ou na prática. No entanto, passei 2015 seriamente preocupado com o espírito e a base dos ataques implacáveis a Hadid.
O furor crónico que envolve a prática tem-se tornado, ao que parece, auto-sustentável e está cada vez mais divorciado das ações da prática. Uma negatividade constante - por exemplo, num estúdio da BBC Radio - leva a uma certa animosidade natural por parte de Hadid, que incendeia ainda mais os seus críticos.
Ataques como o de Bayley deviam fazer-nos ter uma pausa séria, uma vez que se concentram tão duramente nas maneiras de Hadid. Isto resume-se a desejar que se comporte de forma diferente - ser um pouco mais sociável, menos assertiva, ignorar o que é dito sobre ela um pouco mais facilmente.
Um arquiteto com uma origem diferente não seria, penso eu, tratado desta forma. E ela podia não ter realizado metade do que fez se tivesse acatado este conselho mais cedo na sua carreira. As origens de Hadid não a isentam de críticas. No entanto, este ciclo de negatividade tem de ser quebrado, e acho que o discurso arquitectónico tem sido um pouco mais rápido a ignorar as deficiências dos seus Grandes Homens do que as desta Grande Mulher.
Claque do 3D
Por favor, deixem 2016 ser o fim da moda da impressão 3D. Não é a impressão 3D em si. É útil e está aqui para ficar. Mas as aplicações da tecnologia, até agora, dividem-se em duas categorias: funcionais e chatas, ou glamourosas e inúteis.
Coisas que são funcionais e chatas ainda têm o potencial de serem revolucionárias, é claro, embora de uma forma muito discreta. Aquele pino em falta na sua estante Billy do Ikea, por exemplo – um pedaço de metal de um centímetro que faz uma prateleira inteira ficar inutilizável. Não há necessidade de correr para o supermercado mais próximo ou abrir uma veia e cortar um bocado. Pode ser impresso em 3D.
Ser capaz de substituir uma pega ou um canto poderia estender a vida de numerosos objetos domésticos baratos. Isto acontecerá se a tecnologia baixar de preço para, digamos, £ 200 a £ 300, o que faz sentido economicamente em comparação com uns anos de Billys estragadas. Para isto é necessário a adoção pelo mercado de massas, e algum trabalho pode ter de ser feito no software de interface para ajudar a isso.
Assim, poderíamos todos ter impressoras 3D em casa. O que elas não farão é produzir vasos e sapatos paramétricos. O tipo de bugigangas e truques atualmente produzidos para mostrar a tecnologia são quase sempre triviais e feios.
Os designers estão errados em esperar que a impressão 3D irá produzir a sua própria estética, ou que pode impor uma. Um dos pontos fortes da tecnologia é que ela não tem estética inerente.
Correm o risco de sequestrar uma tecnologia que pode reduzir os resíduos do consumidor e usá-la para produzir um fluxo inútil, bugigangas baratas em linha reta para o aterro. Como o autor e designer Ian Bogost disse, as pessoas que pensam que as impressoras 3D serão revolucionárias devem perguntar-se o que há de tão revolucionário nas impressoras de papel.
No estaleiro de construção, a lição é similar. O precedente histórico é a pré-fabricação, que experimentou meio século de ser a "próxima grande coisa", enquanto furtivamente se tornou numa parte importante da construção sem a transformar ou a levar a uma revolução estética.
Dirigíveis
Requereria muito mais espaço do que eu aqui tenho para explorar plenamente o apelo dos dirigíveis. Uma tecnologia testada e abandonada na década de 1930, os dirigíveis combinam o exotismo da estrada não viajada com o glamour da Art Deco. Dos romances de Michael Moorcock à Fringe, eles permanecem o veículo emblemático da história alternativa.
Na nossa história real, porém, eles merecem pouco mais do que uma melancólica nota de rodapé. E ainda assim permanecem surpreendentemente populares na arquitetura e no design especulativo. Mais lentos que os aviões, mais caros que os navios e ferrovias, muito menos promissores do que os drones para micro-carga, os dirigíveis não têm vantagens para além do fascínio do retrocesso.
Os dirigíveis são os discos de vinil do céu, para lá do facto do vinil ter sido bem sucedido e dominante durante um tempo. O Minidisc dos céus.
O que realmente perfura a bolha dirigível é o problema do hélio. Hélio acessível é uma fonte finita e a diminuir, e precisamos realmente das reservas que temos para um número de tecnologias mais vitais, tais como aparelhos de ressonância magnética. Usá-lo para o arranque de um novo modo de transporte com pouco mais do que razões estéticas duvidosas é loucura. E quando se rejeita os argumentos ecológicos para os dirigíveis - que tendem a patinar sobre o problema do hélio - a estética é tudo o que resta.
Não temam! Há tecnologia muito bonita para mover cargas de forma mais barata - mas lentamente - ao redor do mundo, que tem um potencial fascinante para reduzir o consumo de combustível durante a utilização de um recurso abundante e totalmente renovável. É chamada vela, e está a ser explorada por empresas incluindo a Rolls Royce. Vendam os dirigíveis, comprem veleiros.
Diversão na Favela
Em agosto de 2015, o Instituto Adam Smith deixou cair o que deve ser o assunto mais quente em todo o urbanismo: o pedido de favelas na Grã-Bretanha.
Forçar as pessoas a viver em casas com janelas e instalação eléctrica não-letal é, afinal, uma ultrajante restrição da liberdade de mercado. Se um pouco de nutritivo bolor negro nos pulmões do bebé é o preço a pagar para uma habitação realmente acessível, quem somos nós para interferir? Mas quem é você, algum tipo de comunista?
É uma das grandes conquistas das chamadas políticas de habitação "falhadas" dos anos 1950 e 1960, que muitas pessoas no Ocidente parecem ter-se esquecido exatamente o quão horríveis as favelas realmente são. Os arquitetos e os reformadores sociais da primeira metade do século XX estavam certos ao considerá-las o rei das pragas. Foram um pesadelo de falta de saúde e de vidas atrofiadas - e permanecem assim nas partes do mundo onde persistem.
O Brasil, por exemplo. Com os Jogos Olímpicos no Rio a apenas sete meses de distância, seria bem vindo se designers pudessem pensar muito cuidadosamente sobre projetos apoiados no "inventividade" e "pujança" das favelas do Brasil.
As favelas não são, é claro, áreas vazias de tristeza e degradação - eles são o lar de tanta engenhosidade humana e ambição como em qualquer outro lugar. Mas também não são alegres oficinas de elfos para o mundo rico. Não estou a pedir muito, apenas um pouco de cuidado e nuance.
Livros longos
Alguns soberbos livros de arquitetura foram publicados em 2015. Espaço, esperança e brutalismo: Arquitetura Inglesa 1945-1975, de Elaine Harwood; Paisagens do Comunismo de Owen Hatherley; Cidades Imaginárias de Darran Anderson; Glória Caída, de James Crawford.
Estes são melhores do que bons - todos eles têm igual direito a serem clássicos no fazer, e não apenas excelentes, mas essenciais. E todos eles são muito longos. Estes quatro livros excedem 2500 páginas no total.
O dedicado leitor de arquitetura deixará 2015 consideravelmente mais experiente, mas também exausto. A década de 2010 não deveria ser uma idade de ouro do panfleto e do ensaio longo? O que aconteceu a isso? Onde estão as expressivas cem páginas?
Últimos Futuros: Natureza, Tecnologia e o Fim da Arquitetura, de Douglas Murphy, pela Verso em Janeiro de 2016, são umas perfeitamente respeitáveis 240 páginas, mas parece-se com uma bolacha fina em comparação com o festim anterior. Mal posso esperar. Só espero que não prove muito, como o fez para o Monsieur Creosote.
Will Wiles
É escritor e editor colaborador da revista Ícone, além de jornalista freelance na área do design.
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Este artigo é uma versão do originalmente publicado na revista digital Dezeen, a 29 de Dezembro de 2015.