|
PARTE II - FOZ VELHA E FOZ NOVA: PATRIMÓNIO CLASSIFICADO (OU NEM POR ISSO)
HELENA OSÓRIO
[A primeira parte deste artigo foi publicada em Setembro de 2018 e pode ser lida aqui: “PARTE I - PORTO ELEITO TRÊS VEZES O MELHOR DESTINO EUROPEU: PATRIMÓNIO AMEAÇADO PARA UNS, RENOVADO PARA OUTROS. PARA INGLÊS (NÃO) VER”]
Começamos por apontar o património mais antigo e ainda de pé que se arrisca a ser sacrificado na Foz do Douro, ou Foz Velha, sempre em obras radicais. Apesar de classificada como Conjunto de Interesse Público desde 2013.
O património de Nevogilde, dita Foz Nova – como o próprio nome indica –, é mais recente (se comparado), residindo o núcleo primitivo junto à Igreja de São Miguel de Nevogilde, de cariz barroco.
Incrivelmente (talvez por esta ter sido a freguesia menos povoada e, por consequência, a mais intervencionada na atualidade), aí existem casas de quinta, pontuais, do século XVII, umas já descaracterizadas, outras a cair. Longe de serem assinaladas. O esplendor de Setecentos, aliado à falta de conhecimento, ofusca as centúrias anteriores. Mesmo no centro histórico do Porto, onde se têm destruído inúmeros edifícios de medievais a neoclássicos, cuidando-se mais do barroco que caracteriza a cidade.
Em contrapartida, na Foz Velha – a zona privilegiada onde o rio Douro abraça o Atlântico, cuja História se perde no tempo, lembrando mais profundamente o memorial Porto de Carreiros –, observamos inúmeras peças renascentistas e raras de Quatrocentos. Distinguem-se pelo trabalho de cantaria, mormente pelas mísulas volutadas das varandas no casario das ruas Alegre, Bela, da Cerca, das Laranjeiras e enfim da rua do Padre Luís Cabral, com a qual todas comunicam; mais à frente, depois da Igreja Matriz barroca (com fases dos séculos XVII-XVIII [1]), a caminho da Cantareira, as ruas São João da Foz e Raúl Brandão, exibem também exemplares do século XVI, mal cuidados (ou nem por isso), com cantaria revestida a cimento. Nada está identificado e devidamente classificado, apesar de existir algures, no polo próximo da Universidade Católica, um estudo aprofundado levado a cabo por discentes, orientados pela arquitecta Sofia Thenaisie.
A Foz Velha, típica pelo casario baixo e ruas assimétricas e estreitas, encontra-se cada vez mais ameaçada por construções em altura e em permanente desrespeito pelos volumes vizinhos. Pior é o panorama da Foz Nova. As casas antigas já se contam pelos dedos. Vão-se preservando fachadas, fazendo crescer prédios em altura e moradias “encavalitadas” em condomínios fechados. Alguns construtores têm o cuidado de colocar tapumes elevados e de pintar vidraças para não se ver a destruição de interiores; outros exibem à descarada a má direção das obras, onde são reis o betão e o tijolo (esquecendo o tijolo maciço artesanal – o tradicional tijolo burro).
Tudo principiou nos anos 50 do século XX, com um ou outro prédio fora do registo, como aquele onde se instalou a famosa mercearia de Augusto Leite (1954), junto ao Jardim do Passeio Alegre. Nos anos 60-70, em torno do castelo, Forte de São João Baptista, encontrávamos mais edifícios incaracterísticos, como alguns da Esplanada do Castelo e entrada para a rua da Senhora da Luz. Os anos 80-90, preencheram de prédios a restante parte da Esplanada até à esquina da referida rua comercial por excelência, plena de lojas e restaurantes. Já sem referir a Foz Alta, onde se implantaram a Quinta de Miramar e Pinhais da Foz em que se desorganizou a ordenação de volumes e estilos possíveis e harmonizantes.
As “torres vermelhas”, na antiga quinta da Pasteleira, e a urbanização em frente ao Parque da Pasteleira e até à capela seiscentista da Ajuda – parte pertencente à antiga quinta de Sobreiras –, já estariam longe do núcleo a que se chama Foz Velha, incluindo parte da Foz Alta que se mantém “velha”. Consciencializou-o, a memória popular, como sendo aquele que Dom Miguel da Silva idealizou no século XVI[2]. A História não o atribui por falta de documentos que passam, porventura, por estudos mais aprofundados sobre o tema.
Recuamos.
O progresso do Porto deu-se no século XVI com o foral de Dom Manuel (1517), pelo comércio e navegação. A Foz do Douro ganhou novo dinamismo com o vaivém de navios, em especial com destino à Europa. A barra do Douro cresceu e entrou em cena D. Miguel da Silva, abade comendatário do mosteiro de Santo Tirso, mais tarde bispo de Viseu e cardeal[3], que deu à Foz a grandiosidade de cenários de um renascimento italiano.
Na atualidade, estes monumentos dispersam, aparentemente sem qualquer espécie de relação. A maioria encontra-se descurada e tende a desaparecer por notória falta de interesse pelo património e sede imobiliária. O tempo e as intervenções impensadas fizeram desvanecer o seu entendimento como um todo dialogante [4].
Se há historiadores que se queixam de dificuldades na relação e compreensão da articulação destes edifícios entre si – enquanto elementos de um programa urbanístico, projectado por Francesco Cremona (c.1480-c.1550)[5], e por encomenda de D. Miguel da Silva –, nós consideramos suficiente o diálogo entre os mesmos, que passa de terra para o largo da costa. Esta perceção advém da leitura de cartas topográficas e gravuras, depositadas no Arquivo Histórico do Porto [6].
O conjunto é constituído não apenas pela série de edifícios referidos nas descrições, como sejam uma igreja, um farol, uma guarita e duas ermidas, junto ao local onde o rio abraça o mar [7].
Imaginamo-nos um gigante… De pés assentes num e noutro penedo que delimitava o Porto de Carreiros, como o centro, e de braços abertos ao monte castrejo, formando um triângulo aberto [8]: A oeste, o Farol e Ermida da Senhora da Luz; a este, o Farol de Sobreiras com paço junto ao rio e guarita, porventura ermida, sendo que nos chegou em forma de capela. O término deste desenho imaginário seria a forma em concha do referido porto a apontar o mar ao mesmo tempo que o abrigava [9].
À época de D. Miguel da Silva, seriam todos elementos comunicantes, se vistos ao largo da Foz do Douro, por parte dos navegantes que acompanhavam o fogo dos faróis como guia. No topo do monte, a apontar os pontos cardeais (a oeste, o Farol da Senhora da Luz e, a este, o de Sobreiras); junto à Barra, a passagem pelo estreito, junto à Ermida do Anjo, a sinalizar o penedo a meio do rio para as embarcações se afastarem. As próprias janelas das ermidas, Igreja Matriz do castelo e paços viravam o olhar, umas para as outras. Esta perspetiva foi desaparecendo, ao longo do tempo, a partir de finais do século XIX, com a abertura do Jardim do Passeio Alegre [10], construções anexas aos monumentos e novas ruas com edificações cada vez mais altas que ocultam a vista de rio e mar.
A ideia original dispersou.
Nas rochas da praia onde se encontrava o Castelo (hoje já não percetíveis), existia uma ermida protorromântica, transformada em igreja e paço por D. Miguel da Silva em 1527, com risco do referido arquitecto que trouxe de Itália – Francesco da Cremona (lombardo). A historiadora, Maria Isabel Noronha e Azevedo Pinto Osório, defende [11]: “A exiguidade do espaço sagrado, o tipo de planta – corpo retangular e cabeceira quadrangular mais estreita – e a tipologia dos materiais cerâmicos detectados, inserem esta construção nos primórdios do século XI, senão mesmo em momento anterior, numa fase inicial da Reconquista. A origem deste pequeno templo, objecto de uma carta de doação de D. Afonso Henriques e da rainha D. Mafalda ao Mosteiro de Riba Paiva em 1145, poderá estar relacionada com a política de repovoamento iniciada pela monarquia asturiana [12]. (…) uma região recentemente pacificada, mas ainda sob ameaça de árabes e normandos (…)” [13].
Este conjunto foi fortificado para proteger a entrada da Barra do Douro, a partir de 1570, obrigando à deslocação da Igreja Paroquial para um novo local [14].
Concluindo:
Intramuros do castelo da Foz, construído e ampliado em momentos continuados, desde 1570 até 1790 [15], jazem as fundações da ermida protorromântica do século XI – com acrescento de finais do século XV [16] –, a abside e os vestígios do corpo da igreja renascentista construída a partir de 1527, ao mesmo tempo que o Paço de D. Miguel da Silva, hoje já só com parte da fachada.
Divagamos…
Porque há uma franca adesão a certames na zona, este parece ser o cenário ideal para se promover uma feira medieval – com tendas dispersas desde o Castelo ao Jardim do Passeio Alegre, molhe da Ermida do Anjo e frente ribeirinha junto ao Paço de Sobreiras. A feira podia inaugurar com o desfile de trajo em papel, no dia de São Bartolomeu (?-51 d.C.). Retratando a época de D. Miguel da Silva e conferindo à Foz Velha a verdadeira identidade.
Porque não?
Opções estéticas
Dizem que os autarcas contemporâneos não têm responsabilidade nas escolhas e manifestação de gosto. Limitam-se a aprovar projectos, sem filtro, desde que os meios justifiquem os fins.
Nem sempre assim foi.
D. Miguel da Silva, após uma embaixada de 10 anos em Roma – enquanto comendatário do Mosteiro de Santo Tirso e, por inerência, do couto de São João da Foz – promoveu o projecto urbanístico ressalvado, por forma a assegurar a organização e dinamização da zona e prover à segurança dos navegantes com recurso à gramática clássica com a assinatura de Francesco da Cremona que o acompanhou [17].
Não foi respeitado.
Recordamos a pintura mural da abóboda da igreja renascentista do castelo [18], ainda visível em finais dos anos 70 do século XX, hoje sem registo ou memória [19]. Suspeitamos que o mesmo tenha acontecido, com a Capela Farol de São Miguel-o-Anjo (mais ermida), no molhe da Cantareira, cuja cúpula oitavada se assemelha à anterior, mas em miniatura. No interior, a parede da zona do altar encontra-se com gesso [20], bem como os nichos em concha onde estariam figuras de invocação [21].
Na nossa opinião, as cúpulas comunicavam numa ponta e noutra do porto de Carreiros que as separava [22], sem outras construções ou vegetação pelo meio, observando a baía onde os pescadores coziam redes. Depois aterrada e transformada em Jardim do Passeio Alegre, nos finais do século XIX. Um espaço romântico que contou com a colaboração do arquitecto paisagista alemão Émile David (1839-1873) e onde se encontram elementos do século XVIII, como o par de obeliscos de Nicolau Nasoni (1691-1773), vindo da Quinta da Prelada (1754) – Imóvel de Interesse Público, em 1938-1977.
A torre, farol, capela ou ermida de São Miguel-o-Anjo, foi classificada como IIP desde 1951 e com ZEP desde 1960. Edificada entre 1527 e 1546, no topo de um penedo, é reconhecida como a primeira obra renascentista portuguesa [23]. A Ermida-Farol entrava no rio em abraço com o mar, como aquela do Senhor da Pedra, erigida posteriormente, no século XVII, sobre um maciço rochoso no areal da praia de Miramar, à mercê de nortadas e marés. Na sua cúpula oitavada foi edificado o farol “de fogo e facho” (já desaparecido) e estátua de figura romana por nós anteriormente salientada. Consta ser o mais antigo de Portugal e um dos mais antigos da Europa, construído para sinalização dos navegantes na entrada do Porto. Também integrado no projecto de Francesco da Cremona, discípulo de Rafael, ou Raphaello Sanzio (1483-1520).
A torre que antecipa a Capela Farol de São Miguel-o-Anjo está, atualmente, em obras. Vai separar-se e bem do edifício da estação salva-vidas da Marinha que a ela se agregou em 1841, destruindo a cantaria de uma janela que não se vê, outrora contemplando a Barra, e avistando a fachada principal do Paço e cúpula da Igreja Matriz renascentista [24].
Consta que este farol noturno possuía um altar com a imagem em honra a São Miguel, outras haveria. Na pedra está a marca de uma mesa em meia-lua que serviria de altar, encimada por três nichos em forma de concha, a maior ao centro. Encastrados na parede, com vestígios de gesso, apontam para uma pintura decorativa desaparecida. A escada em caracol de acesso ao Farol, mantém-se em perfeitas condições.
Fechado ao público, apesar de estar classificado, o edifício renascentista tem tutelas várias que só agora se entenderam para permitir a sua recuperação. Essas mesmas entidades anexaram no século XIX, à primitiva Ermida-Farol, uma outra torre semafórica pertença da Associação dos Portos de Portugal construída anos depois do edifício da estação salva-vidas da Marinha. Hoje, escondendo parcialmente a obra primitiva. O próprio terreiro da administração portuária, onde está implantada a Ermida-Farol, tem uma cota superior à original, escondendo a base do monumento. Nenhum dos edifícios será destruído. (Apuramos.)
O telhado da estação salva-vidas vai ser substituído por uma cobertura plana, para realçar o alçado poente da capela, e, virado para sul, um corte insinuará uma separação entre os dois volumes, permitindo, ao mesmo tempo, iluminar uma sala do edifício da Marinha que será transformada em centro de interpretação do monumento. No final da intervenção, será reaberto ao público com uma exposição que contará a sua história.
Entretanto, parece descurar-se a azulejaria produzida em várias fases e fornos – aparentemente, amontoada sem critério.
Pareceres
O Solar de Sobreiras (mais paço medieval), para o qual se dirige o olhar da janela da Ermida-Farol, virada ao curso de rio, passou recentemente pelas mãos de duas clínicas médicas. As obras de adaptação desvirtuaram parte dos interiores. O que uns atribuem ao século XVII, outros atribuem ao século XVIII. Na verdade estão presentes, nesta casa, ambas as centúrias e até os séculos XIX e XX, mais considerando as últimas intervenções do século XXI. Este edifício encontrava-se ladeado por torre, como prova a reprodução de gravura da Planta Geográfica da Barra da Cidade do Porto, publicada em 1789, do arquitecto Teodoro de Sousa Maldonado (1759-1799) [25]. A torre terá sido transformada em capela, na viragem do século XVIII para o século XIX, altura em que a casa terá ganho outros acrescentos.
Ninguém ousa atribuir o dito paço renascentista a Francesco da Cremona, por encomenda de D. Miguel da Silva. Pode ser mais antigo e integrar-se num daqueles recebidos por D. Miguel da Silva, depois remodelados [26]. Falam por si a cantaria do frontispício e especialmente fachada virada ao jardim a norte [27] e quinta, com registos que oscilam entre os séculos XVI e XVII: o portal encimado por concha, porventura associada ao Caminho Central de Santiago [28]; as janelas decoradas com grinaldas e outros elementos fitomórficos estilizados; e sobretudo a ínfima parte que resta da loggia traseira que dava para o antigo jardim e quinta [29], característica dos paços medievais, com colunata de fuste liso e capitel jónico associado a divindades femininas. Diferem os pinos no frontispício e recorte do portal da capela de transição entre os séculos XVII e XVIII, em honra da Senhora dos Navegantes, a qual recebeu muitos pedidos de intercessão na Idade Média, na época em que os cruzados faziam paragem na Foz antes de partirem, rumo à Palestina, para a proteção dos lugares sagrados. Todas as construções acima do primeiro andar, dito nobre, remetem ao século XIX. O seu jardim centenário e demais terrenos da Quinta de Sobreiras [30] foram sacrificados à construção de prédios, o último em condomínio privado.
Mais reforçamos que, apesar do edifício estar descrito como seiscentista e apresentar intervenções notórias nos séculos XVIII, XIX e XX, a loggia remete para o renascimento de D. Miguel da Silva com Francesco da Cremona – como defendemos anteriormente, com recurso a exemplos italianos [31]. A pedra talhada fala, como fala a árvore centenária das traseiras, preservada, que delimita a fronteira entre o Paço e o prédio do condomínio dos mais bem conseguidos da zona, no que concerne à arquitectura. Talvez não por acaso a janela da Ermida-Farol [32] aponta para esta casa recentemente vendida por cerca de três milhões de euros [33].
Zumidos
A viver na Foz do Douro, desde a década de 1970, sempre ouvimos dizer “vamos ao Porto” e “vamos à Foz”, discriminando Nevogilde (como parte integrante da última freguesia, sem o ser). Acaso deve-se à escassa expressão que teria Nevogilde em tempos remotos. Uma zona, essencialmente, agrícola com pouco mais de uma dezena de casas. Em contraste com a Foz, porto de rio e mar com acréscimo de importância pelo movimento de pessoas e bens e por bênçãos de beneditinos, senhores do Couto.
A Foz e Nevogilde, talvez se confundissem por serem geminadas. Separam-nas a rua Monte da Luz, junto à Praça de Liége – a qual vem dar às praias na avenida Brasil, originando a divisão da artéria que segue até ao Molhe, parte da Foz e parte de Nevogilde. (Só terminando na rua do Molhe com o inicio da avenida de Montevideu.) Pelo alto, a Foz continua até meio da avenida do Marechal Gomes da Costa, dobrando na rua João de Barros que se percorre até ao fim, atravessando o antigo território da Quinta da Pasteleira. Desce ao rio, pela rua Gomes Eanes de Azurara, continuando até à Polícia Municipal do Porto. Aí, contorna a Piscina Municipal Engenheiro Armando Pimentel (por baixo), ao encontro da rua 1 do Bairro Rainha D. Leonor que segue até onde as ruas do Passeio Alegre e de Sobreiras dão as mãos. Outrora fronteira das quintas da Boavista e Sobreiras, onde ainda sobrevivem as casas-mãe, atuais Centro Social do Bairro Rainha D. Leonor e Clínica da Foz. Sobre a última, com marcas de paço medieval, descura-se a história, se bem que a arquitectura, mesmo intervencionada, não o desminta.
Nevogilde ocupa um território mais extenso. O ser antes território menos povoado, fez com que tivesse maior número de terrenos livres e fosse mais explorado na modernidade. Mantém porém zonas testemunhas da sua antiga ruralidade, como aquela em torno da igreja barroca de São Miguel de Nevogilde (mais capela, a nosso ver) e pela rua de Fez, preservando casas de quinta. Algumas menos rústicas e mais raras, distinguindo portal encimado por cruz de Cristo em pedra. Como a da rua e largo de Nevogilde e a da rua Côrte Real, junto à capela –, eventual marca de foros de fidalgos [34].
Nevogilde, vai até à estrada da Circunvalação, subindo junto à rotunda da Anémona, já na fronteira com Matosinhos; e cortando o alto do Parque da Cidade, pela estrada Norte, até ao largo de Nevogilde. Percorre a rua de Fez, corta a rua do Crasto pelo Estádio FC Foz e desce pela rua do Ribeirinho. A zona alta do Monte da Ervilha já pertence a Paços.
Podemos concluir que estes são, aproximadamente, os limites da Foz Velha e da Foz Nova, nomes que o próprio tempo e estória de vivências nomearam. Tempo em certos casos favorável e noutros madrasto, mormente quando não se respeita o legado como atualmente. Vivências reconfortantes, enraizadas no privilégio de poder desfrutar de mar e rio “à porta” e no estatuto de habitar quase vilas, hoje com mais estadão e menos qualidade pela procura. O custo inflacionado dos terrenos, leva a quem caia na tentação de vender o património de casas grandes e chalés com jardim, logo depois destruído a favor de prédios e condomínios com apartamentos de luxo. Mesmo já com rara vista de mar, apenas seus aromas e rumores. Deitam-se abaixo árvores e edifícios centenários, sem a preocupação de fazer melhor. A maioria das novas fachadas carece de estética, os volumes rompem com a harmonia, nada é homogéneo, na eleição de materiais há um gosto duvidoso. Tudo à medida do novo-riquismo que, no Porto, ofusca e é tolerável pela própria condição histórica de burgo burguês. Hoje, e desde as derradeiras décadas do século XX, surgem volumes descontextualizados com contornos que descaracterizam a cidade. As suas peças mais antigas têm vindo a ser eliminadas, desvirtuando o todo. É o que está a acontecer no centro do Porto, em Miragaia e Massarelos junto ao rio e até à Foz e Nevogilde banhadas por mar. Mais em Vila Nova de Gaia do que em Matosinhos. Esventram-se edifícios de tempos remotos ou substituem-se por novos; quanto muito mantêm-se fachadas, recorrendo a janelas e portas de alumínio; desvastam-se recursos decorativos. Culpa-se o turismo, mas o turismo foge desses atos vândalos e não existe essa consciência. O turista que vem ao Porto não viaja com o mesmo propósito daquele que vai ao Algarve, vem pela cultura. Esquecem-se os de cá porque o boom imobiliário ofusca e, enquanto se enchem os bolsos, não se pensa em nada mais. Os bons exemplos contam-se pelos dedos.
Na Foz Velha, existem vestígios incomuns de ocupação castreja e romana em parte do monte amuralhado e aqueduto (já não mostras de calçada). Recuamos de novo... Dois anos após a Fundação, em 1145, D. Afonso Henriques doou aos confrades do Cenóbio de Santa Maria e São Miguel Arcanjo, tudo quanto possuía em São João da Foz. Seguiu-se uma nova doação a favor de Soeiro Mendes Maia, da qual resultou a passagem da posse para o mosteiro Beneditino de Santo Tirso de Riba d’Ave.
O Mosteiro de Santo Tirso detinha desde o século XII a jurisdição do Couto de São João da Foz [35], o que explica a relação territorial e de interesses. Dom Miguel, na qualidade de embaixador do rei de Portugal em Roma, conheceu de perto o refinamento cultural que se respirava nas cortes italianas, o Renascimento e, no regresso a Portugal, trouxe consigo Francisco da Cremona (ou Cremonês), na qualidade de arquitecto privado, que foi responsável pelo risco das várias obras empreendidas pelo prelado, dentro das quais se inscrevem a Igreja de S. João da Foz e anexo Paço Abacial, bem como o Farol de S. Miguel-O-Anjo.
O Farol foi desativado nos meados do século XVII, mantendo-se ao uso apenas como capela, tendo a sua implantação sido alterada ao longo do tempo.
Uma vez confirmada a doação por parte da neta, D. Mafalda, filha de D. Sancho I, ficou designado o território que ia até Matosinhos, por “Couto da Foz”.
Nesta época, Nevogilde era um pequeno povoado de vocação rural, com 17 casais, enquanto que, São João da Foz, o atual núcleo da Foz Velha, apresentava maior desenvolvimento, voltando-se ao rio e mar, com 37 casais e 14 cabaneiros. Número maior do que os existentes na mesma época em Aldoar e Lordelo, freguesias vizinhas. Em 1527, contavam-se já 286 fogos em São João da Foz e 12 em Nevogilde.
O Forte de São João Baptista, mais conhecido por Castelo da Foz, fica num ponto estratégico de proteção da entrada da barra do Douro, junto ao primitivo povoado de nome Foz Velha. O Forte de São Francisco Xavier, ou Castelo do Queijo, corresponde à frente construída da chamada Foz Nova, já em território da freguesia de Nevogilde.
Na Foz Velha, era notável a existência do Porto de Carreiros, que servia de alternativa à entrada da Barra do Douro, quando esta não era acessível. Embora não se saiba, exatamente, a data precisa da construção, em 1619 encontra-se representado na 1.ª edição da carta holandesa de Wilhelm Jansz Blaeu (1571-1638), desenhado em forma de concha. O mapa de 1755, elaborado por Jozé Gomes da Cruz, diz sobre Carreiros: “Este pequeno porto é salvação de muitas lanchas de pescaria, que se salvaram na areia do seu fundo”.
Consta ainda no “Mapa (...) ademonstração da Costa do Mar desde a Villa de Matozinhos, athe a Barra da Cidade do Porto” do anteriormente referido Piloto de Naus de Guerra: “(…) defronte da dita villa (Matosinhos) se reprezenta a grande pedra de Leixões, que pode servir para asento de hum castello, à sombra do qual tenhão abrigo os navios que não poderem entrar na Barra da dita Cidade do Porto, também se pode entulhar pela parte do Norte com Navios velhos carregados de pedra, hum espasso que ha entre a dita pedra e outras que lhe ficão pela parte do Norte (…) desta obra rezultará no tempo de Guerra escuzarem de hir os Navios recolher-se a Galiza e lá fiquarem prizioneiros, ou perderem-se hindos corridos com temporal (…) ficarão os navios assim abrigados dos ventos Sues, Oestes, Noroestes e Nortes, e não lhe poderão fazer muito danno os mais ventos (…)”.
Com efeito, desde sempre a foz do rio Douro foi um obstáculo penoso. Este porto chegou a ultrapassar a função de refúgio de barcos de pesca. Durante o cerco do Porto serviu para desembarque de bens de primeira necessidade. O exército das tropas liberais foi reforçado por centenas de novos recrutas aqui desembarcados.
Em meados do século XIX, a freguesia é integrada no concelho do Porto. Com o melhoramento dos transportes de ligação à cidade, quer por via fluvial, quer por via terrestre, a Foz transforma-se na primeira estância balnear do Porto, devido à moda dos “banhos” por recomendação médica. Esta época corresponde a um grande desenvolvimento urbano. Criam-se jardins públicos, abrem-se estradas e constroem-se inúmeras casas, segundo uma tipologia de vilegiatura, algumas apalaçadas, outras adotando a imagem de chalé, que ainda podemos encontrar.
O carácter balnear da zona foi reforçado na década de 30 do século XX, com a construção da praça de Gonçalves Zarco, da esplanada do Molhe e do passeio público das avenidas de Montevideu e do Brasil, incluindo a pérgula, a fonte luminosa e vários elementos escultóricos.
Entretanto, assistiu-se a uma substituição da frente construída da avenida do Brasil, que foi sendo ocupada por imóveis plurifamiliares com cércea média de cinco pisos. Se compararmos esta avenida do Porto, em termos de construção, com a avenida dos Banhos, na Póvoa de Varzim, a diferença é quase nula. Ambas assoladas.
Na viragem para o século XXI, o Município investiu na requalificação desta frente marítima, não apenas nos espaços verdes já existentes ao longo da avenida de Montevideu, mas também na abertura do Parque da Cidade ao mar.
Estamos bem no que respeita a arquitectura paisagística. E não há uma palavra a acrescentar, sobre o património histórico edificado?
Helena Osório
Nascida em Benguela, Angola, tem-se dedicado ao jornalismo cultural, coordenação editorial e escrita literária.
É doutora em Estudos sobre a História da Arte e da Música pela Universidade de Santiago de Compostela, com reconhecimento da Universidade do Porto. Mestre e pós-graduada em Artes Decorativas pela Universidade Católica Portuguesa. Licenciada em Estudos Europeus pela Universidade Moderna de Lisboa. Investigadora do Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (i2ADS/FBAUP).
:::
Notas
[1] Sabemos que, em 1640, foram doados – por Deão Jerónimo de Noronha de Távora Leme Cernache (1690-1754), Capelão Fidalgo da Casa Real, Deão da Sé do Porto, Senhor dos Direitos Reais de Távora e da Quinta da Aveleira e doutros –, uns edifícios “palácios”, na Foz, aos monges do Mosteiro de Santo Tirso. Estes iniciaram a adaptação para Igreja Paroquial, entre 1709 e 1713, com os rendimentos do couto da Foz a custear as obras, no atual largo da Igreja da Foz. Rede de Parques Metropolitanos na Grande Área Metropolitana do Porto, Relatório Final, fevereiro de 2009. pp. 26-28.
[2] “Quando, em 1526, D. Miguel visitou pela primeira vez (?) o pequeno mosteiro que existia junto à Foz do rio Douro percebeu que deveriam ser muito bons e benéficos os ares do mar, para a sua saúde, pelo que, a partir dessa altura, passou a mostrar vontade de para lá ir viver algum tempo.” MAIA, Sebastião Oliveira – Onde o Rio Acaba e a Foz do Douro Começa. Foz do Douro: O Progresso da Foz, 1988. p. 69. MOURA, Nuno Augusto Monteiro de Campos – A Foz do Douro: Evolução Urbana. Porto: Dissertação de Mestrado em Planeamento Urbano e Regional apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009. p. 17.
[3] OSÓRIO, Cónego Rui – Foz do Douro de 1216 a 2016: 800 Anos da Paróquia de S. João Batista. Foz do Douro: Paróquia de S. João Batista da Foz do Douro/Sersilito, 2015. p. 63.
[4] Acreditamos num programa urbanístico levado a cabo aquando do projecto de regularização da Barra do Douro, iniciado por volta de 1526. No entanto, para muitos historiadores, o entendimento da articulação dos edifícios, entre si, torna-se complicado dadas as descrições inconsistentes. Ana Isabel Correia de Queirós argumenta que, se no prefácio do Tombo os edifícios enumerados se dizem patrocinados por D. Miguel da Silva, bispo de Viseu, nas Memórias Paroquiais apenas se refere que as ermidas do Anjo e de Nossa Senhora da Luz foram feitas por um “Abbade de Santo Thyrço” sem menção a nomes nem datas. Com a escassez de documentação que sustenta a hipótese, concluímos por mera observação que se trata de um todo edificado segundo um projecto pré-estabelecido. Apesar das amputações e dos acrescentos que têm descaracterizado o terreno, conseguimos encontrar, ainda hoje, ligações nos elementos arquitectónicos e decorativos, e nos pontos estratégicos, o que confirmamos por cartas topográficas e gravuras que testemunham a evolução dos tempos. QUEIRÓS, Isabel – A Reabilitação da Barra do Douro no Século XVI: Um Desafio Urbanístico à Talassocracia Atlântica. Porto: II Encontro O Mar – Patrimónios, Usos e Representações, CITCEM/FLUP, 2011. p. 4.
[5] “(…) o destino de Francesco da Cremona liga-se estreitamente a esta figura extraordinária. D. Miguel da Silva passou a Portugal como Escrivão da Puridade e bispo de Viseu, cumulado ainda de cargos e bens eclesiásticos que aplicou em obras arquitectónicas de grande fôlego; e nos seus vastos domínios territoriais, este poderoso senhor, que fora embaixador português junto da Curia romana desde 1515, membro da fervilhante roda social dos Medici e familiar dos papas Leão X e Clemente VII, não abdicou dos mesmos confortos que conhecera na Roma papal, nem da expressiva grandeza das suas obras arquitectónicas. No remanso da província nortenha onde se recolheu, em Santo Tirso e Viseu, ou na Foz do Douro junto à cidade do Porto, D. Miguel protagonizou vastos empreendimentos de carácter representativo, cuja expressão formal, exibindo a sua condição de grande prelado à italiana, delegou no mestre de Cremona. A redescoberta crítica da obra de Francesco da Cremona liga-se, assim, à figura de D. Miguel (…) enquanto estudioso de antiguidades e patrono das letras e das artes, muito contribuiu para trazer para o país natal. Sob este desafio máximo, Francesco da Cremona levantará uma série de obras que se caracterizarão pela aplicação de uma proposta estilística então quase desconhecida em Portugal: a renascentista.” ABREU, Susana Matos – A Obra do Arquitecto Italiano Francesco da Cremona (c.1480-c.1550) em Portugal: Novas pistas de investigação. Porto: CEPESE, 2010. pp. 557-558.
[6] Na Planta Geográfica da Cidade do Porto (1789), sobressai a fortaleza, a Ermida do Anjo e as igrejas de S. João da Foz e dos Beneditinos. As casas, dispostas em anfiteatro, estendem-se do castelo à Cantareira. No ancoradouro da ermida onde foi construído o mais antigo farol português, observam-se embarcações que testemunham a forte ligação dos locais com o rio e mar. A Foz é cortada na lateral pelo Rio da Vila – o Rio da Bica. A norte, no espaço rural, duas aldeias com escassas edificações designadas por Nevogilde e Passos. ANDRADE, M. de – Cartas Antigas da Cidade. Porto: Câmara Municipal do Porto, 1943. Apud FERNANDES, José Alberto Vieira Rio – A Foz. Porto: Revista da Faculdade de Letras – Geografia, 1.ª série, vol. III, 1987. pp. 15-16.
[7] “Este Commendatario fez neste lugar cousas de muita consideração, como foi a Igreja de S. João cousa mui grandiosa, e tal que a ella encostarão o Castello e fortaleza (…) fez hum farol que ja não ha pera de noite mostrar a barra as Embarcasoes que quisessem entrar, fez huã guarita dentro na agoa que he como balisa a modo de padrão, pera se desviarem as embarcasoes do penedo que esta iunto a ella; fez na Cantareira hua Ermida de Nossa Sora obra reall grandiosa, de meã laranja, e em hum lenço della pera a parte do Rio pos hum letreiro (…)”. Memórias Paroquiais da Divisão Administrativa do Porto em 1758 – S. João da Foz. In O Tripeiro. VI Série, vol. 5, Ano V, n.º 7. Porto, 1965, p. 193. Apud QUEIRÓS, Isabel – A Reabilitação da Barra do Douro no Século XVI: Um Desafio Urbanístico à Talassocracia Atlântica. Porto: II Encontro O Mar – Patrimónios, Usos e Representações, CITCEM/FLUP, 2011. pp. 2, 4.
[8] No Cristianismo, a simbologia do triângulo expressa a Santíssima Trindade composta por Deus Pai, Deus Filho e Espírito Santo.
[9] Tanto a concha que constitui a forma do porto, como o triângulo imaginário que a localização dos faróis sugere, são símbolos de fertilidade, nascimento, renascimento.
[10] Em meados do século XIX, aquando da extração de rochedos da Barra para a construção do Jardim do Passeio Alegre, surgem duas notícias no Comércio do Porto: A primeira de 13 de junho de 1868, descreve o aparecimento de uma “(…) estátua de pedra de granito, que mede 1m30 de altura”, a qual estava “(…) bem esculpida e representava um homem vestido à romana”; a segunda de 19 de outubro de 1869, refere uma lápide inscrita que teria aparecido nas mesmas circunstâncias da estátua. A inscrição latina revelava, segundo o jornal, o seguinte conteúdo: MICHAIL SILVIVS/ EPISCOP VISENS/ NAVIGANTIOM/ SALVTIS CAVSA/ TORRIS FECIT II/ ET IIII COLVMNAS POSVIT/ ANN. M.D.XXXVI (Miguel da Silva/ Bispo Eleito de Viseu/ fez esta torre para governo da entrada dos navios/ e deu e consignou campos comprados com o seu dinheiro para que, do respetivo rendimento, se acendessem da torre fogos perpetuamente/ Ano MD XXVIII). QUEIRÓS, Isabel – A Reabilitação da Barra do Douro no Século XVI: Um Desafio Urbanístico à Talassocracia Atlântica. Porto: II Encontro O Mar – Patrimónios, Usos e Representações, CITCEM/FLUP, 2011. p. 3. Representaria este “romano” o próprio D. Miguel da Silva?
[11] Nas escavações iniciadas em 1987, foram encontradas as estruturas das fundações da sua fachada e parede norte onde foi reutilizada como pedra de construção uma ara romana, prova de uma antiga ocupação. O pano sul da primitiva ermida protorromântica terá sido totalmente levantado, aquando da obra de construção da igreja renascentista mais larga e profunda. OSÓRIO, Maria Isabel Noronha Pinto (Coord.) – O Porto das Mil Idades – Arqueologia na Cidade. Porto: Casa Tait, Câmara Municipal do Porto, 1993. p. 27 (e seguintes). Apud OSÓRIO, Cónego Rui – Foz do Douro de 1216 a 2016: 800 Anos da Paróquia de S. João Batista. Foz do Douro: Paróquia de S. João Batista da Foz do Douro/Sersilito, 2015. pp. 64-65.
[12] O Reino das Astúrias foi a primeira região da Península Ibérica a libertar-se do domínio dos Mouros. Foi a primeira entidade política cristã estabelecida na Península após a capitulação do Reino Visigodo de Toledo e morte de Rodrigo, último rei visigodo. A designação de Reino das Astúrias foi inicialmente ostentada por Pelágio das Astúrias. Foi tetraneto do primeiro rei das Astúrias, Bermudo I (c.760-797), o rei de Leão Ramiro II (900-965), filho de Ordonho II de Leão (c.871-924) e de Elvira Mendes, morta em 924. Casou três vezes e teve vários filhos legítimos que não seguiram: a primeira vez, em 925, com Ausenda Guterres (c.900-931), filha de Guterre Ozores de Coimbra (880-933) e de Aldonça Mendes de Coimbra (882-942); a segunda, em 930, com Urraca Sanchez de Pamplona (915-?), filha de Sancho Garcês I de Pamplona e de Toda Aznares; a terceira, em Onega, com quem não reza a História. Fora do casamento, com Ortega Ramírez – nome por vezes grafado como Ortigueda Ramírez, filha do conde Rodrigo Romaes –, teve Alboazar Ramírez (?-960) que seguiu, casando com Elena Godínez, e tendo Ermigo Alboazar (990-?) como representante da Casa. Ermigo Alboazar foi um nobre do Condado Portucalense. Este neto de Ramiro II de Leão, foi senhor da vila de Távora e castelo de Távora. Casou com Dordia Osóres (968-?), senhora do mosteiro de Arouca e filha de Osório Garcia de Cabrera e de Sancha Moniz. (Ozores, Osóres, Ossorio, Ozorio, Osório é um mesmo apelido com diferentes grafias, em Espanha sempre sem acentuação.) O filho deste casal, Egas Hermigues (c.1010-1095), casou com Gontinha Eriz (1035-?), filha de Ero Fernandes de Lugo e de Ouroana Soares, senhores do Castelo de Neiva e condes de Lugo. Seguiu seu 5.º filho, Paio Viegas (?-1190), fidalgo e cavaleiro medieval do Condado Portucalense, senhor da Quinta de Matos (Lamego) que casou com Aldara. Tiveram um filho, Ermigo Pais de Matos (1220-?), cavaleiro medieval do reino de Portugal, senhor da Quinta de Matos e Quinta de Cardoso (Braga), que casou com Mécia Soeiro Cardoso. Seguiu o 2.º filho, Vasco Ermigues Cardoso (1255-?), 4.º senhor da Quinta de Cardoso e Honra de Cardoso. Disponível em http://reinodasasturias.blogspot.com/
Foi este o sangue dos primeiros senhores que repovoaram o Condado Portucalense e o Reino de Portugal.
[13] OSÓRIO, Maria Isabel Noronha Pinto (Coord.) – O Porto das Mil Idades – Arqueologia na Cidade. Porto: Casa Tait, Câmara Municipal do Porto, 1993. p. 27 (e seguintes). Apud OSÓRIO, Cónego Rui – Foz do Douro de 1216 a 2016: 800 Anos da Paróquia de S. João Batista. Foz do Douro: Paróquia de S. João Batista da Foz do Douro/Sersilito, 2015. p. 64.
[14] Os monges beneditinos mantiveram-se até 1647, na igreja renascentista do Castelo, apesar de residirem fora do mosteiro velho, na rua da Cerca, no casario em frente ao término da rua do Padre Luís Cabral. Enquanto procuravam o terreno para a nova igreja, serviram-se da capela de Santa Anastácia para o culto paroquial. Daí que esta tenha sofrido obras de ampliação, ganhado colunata e coro alto reservado aos freis, com acesso por fora, por escadaria anexa, sendo que a Ordem de São Bento é a mais antiga ordem católica de clausura monástica. A construção da nova igreja, numa primeira fase, foi iniciada pelo abade de Santo Tirso, D. António Carneiro (1638-1641), terminando no tempo do abade D. João Osório (1674-1677). A segunda fase da construção, e definitiva, mediou o tempo de D. Frei António de S. Bento (1710-1713) e o de D. Frei Plácido de S. Bento (1737-1740). OSÓRIO, Cónego Rui – Foz do Douro de 1216 a 2016: 800 Anos da Paróquia de S. João Batista. Foz do Douro: Paróquia de S. João Batista da Foz do Douro/Sersilito, 2015. pp. 79-80, 83.
[15] Em 1567, com os ataques corsários franceses à ilha da Madeira no ano anterior, Simão de Ruão (1500-1580) é enviado ao Porto por ordem do regente do reino, o cardeal D. Henrique (1512-1580), para conceber um projecto de fortificação, estruturado em torno do mosteiro de D. Miguel da Silva, com quatro baluartes de desenho irregular. Em 1568, Simão de Ruão partiu para a Índia. Em 1570, D. Sebastião (1554-1578) enviou o fidalgo João Gomes da Silva ao Porto como vedor régio das obras da fortificação da Barra do Douro. Em 1570-78, decorreram as obras custeadas pelo município do Porto. A fortaleza ficou limitada a uma estrutura abaluartada, em torno da Igreja de D. Miguel da Silva, com plataforma elevada para a artilharia pesada, fazendo-se o acesso por rampa. Em 1643, a Igreja de D. Miguel da Silva permaneceu em funções. Em 1646-53, decorreram as obras projectadas pelo engenheiro Charles Lassart (ou Carlos Lasardat), atrasadas devido a falta de financiamento da Câmara do Porto. A obra, que incluiu o alteamento de três baluartes (noroeste, sudoeste e sudeste) e da cortina, bem como a construção de falsa-braga de cota baixa com canhoneiras, que rodeava toda a estrutura, e de fosso seco (a norte e a nascente), obrigou à destruição de uma parte da Igreja de S. João da Foz e outras dependências religiosas. A construção do fosso seco efetuou-se pela estruturação de escarpa, contra-escarpa e esplanada, erguendo-se um revelim voltado a leste hoje desaparecido. Assim, a nave da Igreja foi transformada em pátio de armas; a capela-mor em capela da fortaleza; o nártex em prisão e em cavalariças; e, a torre norte, passou a latrina. Foi ainda construído o quarto baluarte (nordeste) e colocadas guaritas em todos os baluartes, sendo introduzido um relógio solar no baluarte a sudoeste ainda existente. Em 1708, D. João V (1689-1750) converteu o Terço de Infantaria em Regimento. Em 1756, deu-se a proibição de celebração de missas na capela da fortaleza. Em 1796, Reinaldo Oudinot (1744-1807) projectou um portal neoclássico em substituição da primitiva porta de armas, com ponte levadiça, corredor de entrada acasamatado e corpo da guarda construído sobre o revelim seiscentista incompleto. No final do século XIX, foram realizadas obras no interior da fortificação que cobriram, com camada de argamassa e telha, a cúpula da igreja quinhentista. Disponível em http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5543
[16] OSÓRIO, Cónego Rui – Foz do Douro de 1216 a 2016: 800 Anos da Paróquia de S. João Batista. Foz do Douro: Paróquia de S. João Batista da Foz do Douro/Sersilito, 2015. p. 65.
[17] QUEIRÓS, Isabel – A Reabilitação da Barra do Douro no Século XVI: Um Desafio Urbanístico à Talassocracia Atlântica. Porto: II Encontro O Mar – Patrimónios, Usos e Representações, CITCEM/FLUP, 2011. p. 2.
[18] “(…) não podemos esquecer que na pintura mural que, como a expressão indica, se faz sobre um muro, existe uma íntima associação entre imagem religiosa e decoração, uma vez que há a necessidade de delimitar o campo da pintura figurativa (com molduras, por exemplo) e/ou de articular as figurações com a extensão da parede sobre a qual se colocam (fingindo um rodapé de azulejo ou um pano ou um retábulo, por exemplo). Neste aspecto, as pinturas murais na Rota documentam uma imensa variedade de soluções e de linguagens estéticas.” BESSA, Paula – Pintura na Rota do Românico. Braga: Departamento de História, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, 1.º Congresso Internacional da Rota do Românico, setembro de 2011. p. 41.
[19] O afresco da Igreja Matriz que, nos anos 70 do século XX, estava muito apagado, o que o rombo na cúpula agravou, exaltava figuras alongadas e esvoaçantes semelhantes às de Rafael, como as da sua pintura Transfiguração (1520) – “anjas”, como diria o escultor José Rodrigues (1936-2016). O domínio do corpo destas “anjas” não seria tão perfeito como aquele do mestre renascentista. A envolvência celeste de um azul e branco, penetráveis, lembrava o céu de Grão-Vasco (1475-1542), na Natividade do Políptico da Capela-mor da Sé de Lamego – artista apoiado por D. Miguel da Silva que conviveu com os maiores vultos do Renascimento, como Leonardo da Vinci (1452-1519), Miguel Ângelo ou Michelangelo (1475-1564), Rafael e Ticiano (c.1473/1490-1576). D. Miguel da Silva permaneceu em Roma durante uma década, de 1515 a 1525, como embaixador do rei de Portugal no Concílio de Latrão e como representante da Coroa Portuguesa junto da Santa Sé. BARROCA, Mário – As Fortificações do Litoral Portuense. Lisboa: Inapa, Coleção Portucale, 2001. pp. 17-18. Apud MOURA, Nuno Augusto Monteiro de Campos – A Foz do Douro: Evolução Urbana. Porto: Dissertação de Mestrado em Planeamento Urbano e Regional apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009. p. 14.
Privou com intelectuais de renome e à maneira do espírito renascentista cultivou várias artes. MOURA, Nuno Augusto Monteiro de Campos – A Foz do Douro: Evolução Urbana. Porto: Dissertação de Mestrado em Planeamento Urbano e Regional apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009. pp. 14-15.
De regresso, com Francesco da Cremona, provavelmente influenciado pelo espírito mecenas renascentista, e em 15 anos que permaneceu em Portugal, iniciou uma série de construções em Viseu, Landim, Santo Tirso e Foz do Douro. BARROCA, Mário – As Fortificações do Litoral Portuense. Lisboa: Inapa, Coleção Portucale, 2001. pp. 19, 21, 23. MOURA, Nuno Augusto Monteiro de Campos – A Foz do Douro: Evolução Urbana. Porto: Dissertação de Mestrado em Planeamento Urbano e Regional apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009. p. 15.
Também encomendou uma série de pinturas ao prestigiado pintor português Grão-Vasco ou Vasco Fernandes. MOURA, Nuno Augusto Monteiro de Campos – A Foz do Douro: Evolução Urbana. Porto: Dissertação de Mestrado em Planeamento Urbano e Regional apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009. p. 15.
Mandou construir o Paço Abacial, junto à Igreja (1546) que não viu terminada por ter saído de Portugal em 1540. Sabemos que contribuiu para a fábrica da capela-mor, sacristia e residência paroquial, pelo que consideramos a hipótese de Grão-Vasco ter participado na pintura das cúpulas da Igreja Matriz e da Ermida-Farol. Não obstante outros religiosos terem realizado obras na Igreja, como Dom Frei Plácido dos Anjos (1629-1632) que mandou fazer um altar com painel de São Plácido e Dom Mássimo de S. João (1632-1635), encomendador de outros trabalhos não discriminados. OSÓRIO, Cónego Rui – Foz do Douro de 1216 a 2016: 800 Anos da Paróquia de S. João Batista. Foz do Douro: Paróquia de S. João Batista da Foz do Douro/Sersilito, 2015. p. 68.
[20] Adivinha-se a intervenção de arqueólogos, no possível fresco sobre a parede de argamassa ainda fresca de cal queimada e areia.
[21] Ver desenho de Gouveia Portuense (1907-c.1975) do interior da Capela Farol de São Miguel-o-Anjo. OSÓRIO, Cónego Rui – Foz do Douro de 1216 a 2016: 800 Anos da Paróquia de S. João Batista. Foz do Douro: Paróquia de S. João Batista da Foz do Douro/Sersilito, 2015. p. 103.
[22] Característica da arquitectura renascentista é a construção de palácios, igrejas, villas para descanso fora das cidades, fortalezas com funções militares e planeamento urbanístico. Assim aconteceu na Foz do Douro. Francesco da Cremona parece ter-se inspirado nas villas palladianas – como a Villa Capra com templo centralizado, para projectar o Paço Abacial e Igreja Matriz, posteriormente amuralhados. Andrea di Pietro della Gondola, vulgo Palladio (1508-1580), ficou famoso pelas suas villas e palácios, tendo enorme influência sobre os séculos posteriores através do seu tratado Quatro Livros de Arquitectura, no qual se inspiraram pioneiros do neoclássico. A Villa Rotonda incorporou detalhes gregos e romanos, como pórticos, colunas jónicas, domo plano, como o do Panteon, e aposentos dispostos simetricamente em torno de uma rotunda central. Assim parece ter sido projectado o Paço de Sobreiras – como prova a loggia com colunata jónica –, cuja Ermida-Farol de São Miguel-o-Anjo observa, disfarçando a vista para a entrada e saída de navios em direção ao Porto e alto mar. O mesmo acontece com a janela contrária da dita ermida, virada à Barra, encoberta a partir do século XIX, pelo edifício anexo, estando direcionada para o Paço Abacial e sua igreja: “(…) pela primeira vez na arquitetura ocidental paisagem e arquitetura foram concebidas como pertencendo uma à outra. Aqui pela primeira vez os principais eixos das casas se prolongam para dentro da natureza, ou, alternativamente, o espectador contempla a casa como o coroamento da vista paisagística.” COSGROVE, Denis E. – Social Formation and Symbolic Landscape. Madison, EUA: University of Wisconsin Press, 1998. pp. 131-141.
[23] Na Memória Paroquial de 1758, a Ermida-Farol do Anjo está descrita com “(…) hum só altar, em que está Senhora da Encarnação (…) sobre hum penhasco, em forma de hua torre estreita e apertada sobre o rio Douro (…). Serve de balliza aos navios que entram e sahem pella barra, pera se desviarem das pedras, que estão debaixo d’agoa.” OSÓRIO, Cónego Rui – Foz do Douro de 1216 a 2016: 800 Anos da Paróquia de S. João Batista. Foz do Douro: Paróquia de S. João Batista da Foz do Douro/Sersilito, 2015. pp. 102-103.
[24] Como prova a gravura de 1790, pertença do Arquivo Municipal do Porto, a Ermida-Farol mantém-se afastada do casario – no topo de um penedo a meio caminho do rio e mar –, ainda sem as construções anexas que surgiram anos depois, no século XIX, desvirtuando a obra original.
[25] OSÓRIO, Cónego Rui – Foz do Douro de 1216 a 2016: 800 Anos da Paróquia de S. João Batista. Foz do Douro: Paróquia de S. João Batista da Foz do Douro/Sersilito, 2015. p. 127.
[26] Além das obras, conhecidas por via documental, realizadas para o bispo de Viseu no Porto (Igreja de S. João Baptista e Farol de S. Miguel-o-Anjo, na Foz do Douro), dois documentos mencionam Francesco da Cremona ao serviço da Câmara do Porto em 1539: “Mestre Francisco Italiano Carmones d’obras de pedraria que tem carrego das obras do Bispo de Viseu” e “mestre Francisco, pedreiro italiano”, a propósito de um parecer sobre a torre dos paços concelhios. Sem fundo documental, acredita-se que renovou os paços abaciais e ergueu (até 1536) um farol dedicado a Nossa Senhora da Luz hoje destruído. ABREU, Susana Matos – A Obra do Arquitecto Italiano Francesco da Cremona (c.1480-c.1550) em Portugal: Novas Pistas de Investigação. Porto: CEPESE, 2010. p. 558.
[27] Os castelos e torres medievais voltavam-se a norte por uma questão de defesa e porque havia a crença que os ventos de oeste engravidavam as damas.
[28] O Caminho Central Português Lisboa-Santiago, desde sempre o mais utilizado, foi aquele que a Rainha Santa Isabel (1271-1336) percorreu centenas de vezes, passando talvez pela Foz. De Coimbra à Mealhada, Anadia e Águeda, Albergaria-a-Velha, Oliveira de Azeméis; seguindo por Cucujães, Arrifana, Grijó, Perosinho, Rechousa, Vila Nova de Gaia; fazendo a travessia numa embarcação de São Pedro da Afurada para Sobreiras ou Cantareira – o que merece um estudo mais aprofundado em torno do referido paço em Sobreiras e da potencial relação com a Ermida-Farol de São Miguel-o-Anjo. As três conchas gigantes do seu altar estão associadas ao Renascimento, a Santiago e ao batismo pela água, sendo São Miguel protetor dos viajantes. Depois do Porto, e sempre próximo ao litoral, o caminho prossegue por São Pedro de Rates e Barcelos. Pelo interior, Lanheses, Ponte de Lima, São Bento da Porta Aberta, Valença do Minho. Na Galiza, Porriño, Redondela, Pontevedra, Caldas de Reis, Padrón, Santa María de Iria, Santa María de Cruces, Teo, Amañecida, Santiago.
[29] “Lembramo-nos, por exemplo, da Loggia anexa à igreja de S. Tomé de Negrelos (c. 1545), construída em Santo Tirso para o cardeal Alessandro Farnese (que era afilhado de baptismo de D. Miguel e foi herdeiro dos seus títulos e bens eclesiásticos em Portugal), ou do risco da nova Câmara de Vila do Conde (1538-1544), cujas ‘singulares janelas arquitravadas de tipo sangallesco’, semelhantes às dos paços abaciais da Foz do Douro, vêm permitindo atribuir o seu risco ao cremonês por estrita filiação formal. (…) A torre-farol ali bem próxima e a igreja junto ao paço, vimos já, enfermam de condição semelhante.” ABREU, Susana Matos – A Obra do Arquitecto Italiano Francesco da Cremona (c.1480-c.1550) em Portugal: Novas Pistas de Investigação. Porto: CEPESE, 2010. p. 567.
[30] Ver fotografia aérea, datada de 1939-1940, da zona rural da Foz do Douro e de Lordelo do Ouro, desde a Quinta da Pasteleira (noroeste), na rua do Padre Luís Cabral, à Quinta de Sobreiras (atual Bairro Rainha D. Leonor, sudoeste). Além destas quintas, observam-se algumas casas de lavoura; o Reservatório da Pasteleira, na rua da Quinta e a Quinta da Granja (sudeste), na rua com o mesmo nome. Arquivo Municipal do Porto, fiada 8, n.º 081. Disponível em http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/587507/
[31] A Loggia Veneziana de Héraklion (ou Iráclio) – a quinta maior cidade da Grécia e a maior e mais populosa da ilha de Creta –, construída por venezianos no século XVI, apresenta elementos interiores adotados tanto no Paço de Sobreiras como na Ermida do Anjo. Foi local de encontros sociais e políticos da alta classe cretense.
[32] Segundo o Jornal de Notícias, vão ser gastos 180 mil euros na recuperação da Ermida-Farol de São Miguel-o-Anjo, custo a suportar, em partes iguais, pela Direção Regional de Cultura do Norte, Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo – APDL e Associação Comercial do Porto. A capela não será intervencionada, sendo desmembrada uma fatia do edifício dos Pilotos da Barra do Douro (1841), encostado à janela da capela virada à barra, o que a desvirtuou. Foi eliminado o interior da Torre Semafórica ou Telégrafo, levantada anos mais tarde, em frente à capela. Disponível em https://www.airinformacao.pt/2017/03/27/180-mil-euros-para-o-restauro-do-farol-capela-de-sao-miguel-o-anjo/
[33] Disponível em https://expresso.sapo.pt/economia/2017-09-10-Porto-O-luxo-esta-a-chegar--a-rua-que-ja-foi-um-inferno#gs.GRy_Feo
[34] “O foro de fidalgo era concedido por mercê régia, chamando-se ao acto ‘filhamento’. Todos os foros concedidos de novo emanavam do Rei, constituindo uma mercê nova. Os foros também se transmitiam por sucessão automática a todos os filhos ou netos varões legítimos dos fidalgos inscritos nos livros régios. (…) Gozar do foro de fidalgo quer dizer haver sido feito fidalgo quando o pai o não era.” Disponível emhttps://monarquiaportuguesa.blogs.sapo.pt/fidalgos-da-casa-real-227189
[35] BASTO, Artur de Magalhães – História da Cidade do Porto. Desenvolvimento Topográfico da Cidade: Séculos XII a XV. Porto: Portucalense Editora, vol. I, 1962. p. 121. Apud FERNANDES, José Alberto Vieira Rio – A Foz. Porto: Revista da Faculdade de Letras – Geografia, 1.ª série, vol. III, 1987. p. 14.