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PARTE I - PORTO ELEITO TRÊS VEZES O MELHOR DESTINO EUROPEU: PATRIMÓNIO AMEAÇADO PARA UNS, RENOVADO PARA OUTROS. PARA INGLÊS (NÃO) VER
HELENA OSÓRIO
Se para uns a destruição do património antigo é uma desolação, para outros significa a oportunidade dum enriquecimento rápido, a agarrar a tempo do atual boom imobiliário.
É necessário mudar, revitalizar, à custa de quê?
O apelo faz-se a quem dispõe de propriedades. Edifícios antigos, de preferência devolutos e em mau estado de conservação. Casas dispendiosas com jardim, em terrenos valiosos, como os da marginal e do centro do Porto, em especial da Foz do Douro e Nevogilde (a chamada Foz Nova [1]), muitas ainda com rendas desatualizadas.
Se é possível vender/arrendar estes bens, a preços jamais praticados, e transformá-los em condomínios privados, hotéis ou hostels, lucrando milhões, como dizer não à demolição? Sem nada contra, o dinheiro move-nos e há que ser criativo para o triplicar… Obviamente, sem atropelar o património arquitectónico e artístico.
(Chega! Já passámos por cima da língua-mãe, cortando-lhe uma fatia da História, com o Novo Acordo Ortográfico vigente e logo tornado permissível por ter erros.)
É um crime a mera destruição, sem cuidar os elementos históricos. É um crime adulterar/eliminar a obra original, por vezes assinada por grandes arquitectos e artistas do passado que sequer existem para se defenderem. Como é um crime descaracterizar a paisagem urbana, descurando todos os detalhes e requisitos inerentes.
No Porto, parece não existir um plano urbanístico consistente. Tudo é construído à mercê das vontades e do poder económico, estando a cidade cada vez mais descaracterizada. Se melhorou em bom aspecto, piorou em conservação e recuperação do património, cada vez mais destruído ou, quanto muito, reconstruído à maneira de...
Segundo um inquérito efetuado por nós, para a presente pesquisa, a faixa etária dos 20-30 anos idealiza um Porto nova-iorquino, com arranha-céus e sem nada de “velho”. Mas, já em 1973, Pereira de Oliveira observou que, “(…) nota-se uma tendência para o abandono deste tipo de residência [a vivenda e] em contrapartida desenha-se um movimento no sentido dos andares em propriedade horizontal (…)” [2]. Os prédios que existem e se continuam a construir, apresentam estética cuidada e qualidade ao nível de interiores e na escolha de materiais, sendo o desenho das fachadas desinteressante. Sem nada contra, sempre se ouviu o povo dizer “o dinheiro fala” e o pensador reforça: “O dinheiro não somente fala, também impõe o silêncio” (Aldous Huxley).
Uns culpam a sede do dinheiro e a falta de cultura; outros atribuem a culpa ao turismo em excesso que transforma as cidades em locais massificados, assegurando a ruína, assim como às companhias aéreas low cost que contribuem para o fenómeno. Os jovens preferem e bem um mundo novo. E há que negligenciar o antigo?!
De que ensinamentos bebemos, nós?
A faixa etária que criou esses novos jovens, hoje pais e avós com 50-70 anos, deveria ter um pouco mais de cultura e não passou qualquer valor. Se o transmitiu, depressa o novo milénio sepultou iludido e cego com as redes sociais. A verdade é que, o Porto está mais belo e animado, com vantagens significativas para os cofres da cidade, seus cidadãos e economia portuguesa. Seja, ou não, só “para inglês ver”.
Sem nada contra, sempre se ouviu dizer “ao mau caminho, dá-lhe pressa”.
Como aponta a revista alemã Der Spiegel que chama a atenção para o “flagelo”, a Livraria Lello é uma das principais atrações turísticas do Porto. Em 2017, recebeu 1,2 milhão de visitantes e faturou sete milhões de euros [3].
Perguntamos: Com tanta afluência, não seria prudente fechar o centro histórico ao trânsito e apostar na eficácia dos transportes públicos?
Melhor saberão os gestores e governantes locais que têm apostado tudo, conseguindo dar à cidade segunda o carisma de capital do mundo.
Sem nada contra, sempre se ouviu dizer “nem tudo são rosas”, o que, por experiência de vida, asseguramos: “nem tudo são cardos”.
Em 2005, o projecto do Espaço de Lazer da Nova Marginal de Cantareira/Sobreiras, da autoria de Marisa Lavrador, mereceu uma menção honrosa, na categoria de Espaços Exteriores de Uso Público do Prémio Nacional de Arquitectura Paisagista.
É uma das maravilhas do Porto, passear por esta marginal ribeirinha, observando os rasgos de arquitectura pública, em convívio com a natureza, repovoada por espécies autóctones de fauna e flora. Mas, há se nãos. Não faltam queixas de os especialistas não estudarem bem a zona e descurarem o conhecimento empírico – o que ocasiona repetidas falhas que os mais anos de vivência e experiência costumam prevenir.
Assim sendo, e em permanência, observamos as vagas a levar bancos que contemplam o horizonte com a paixão de um poeta; os molhes, pérgulas, muros e até paredes-mestras a ganharem fissuras e vegetação; o próprio cimento que, hoje une as pedras, para além de ser uma solução pouco estética e destoada das antigas construções de pedra e taipa, vai causando problemas de humidade e infiltração. O constante fazer de novo.
Continuam a insistir, os entendidos, que o cimento agarra e fica maciço; a terra não. Notamos o insistente recurso, ao cimento, para segurar a pedra e a cantaria rompendo com a tradição e corrompendo os edifícios.
E perguntamos: Duram mais as construções modernas?
Porque não considerar a construção em alvenaria, com alicerces feitos de pedras, brutas, assentados em barro, já com registos desde a Antiguidade? Os construtores saberão…
O Porto eleito, pela terceira vez, o Melhor Destino Europeu, pela European Best Destination (Bruxelas, Bélgica), tem sofrido intervenções radicais, mas também ponderadas, dependendo dos interesses, cultura, sensibilidade dos proprietários dos imóveis intervencionados. Os espaços públicos sofrem de um mal menor, sendo melhor repensados, como o Parque da Cidade e os jardins oitocentistas que hoje se encontram cuidados.
Segundo dados de 2018 do Instituto do Planeamento e Desenvolvimento do Turismo, o Porto que já havia sido distinguido em 2012 e 2014, recebe 4.500 turistas por dia, o que faz com que se concentrem diariamente na cidade 9.041 visitantes. Há que “lavar a cara” a fachadas, criar infraestruturas, fomentar atrações, empregar alguma gente mais velha e capaz cansada de rejeições. Nos EUA deixou de ser exigida a idade no currículo. Caiu em desuso. Aliviam-se os jovens de aceitar trabalhar mais e ganhar parcamente. Enchem-se e exploram-se menos, uns e outros. É que o empobrecimento da maioria gera a exploração, a favor do enriquecimento fácil de muitos. E, a ganância invade todas as áreas.
À falta de historiadores, investigadores, arquitectos, artistas interessados em debater o desrespeito pelo património; à falta de conhecimento e flexibilidade do PDM; à falta de manutenção e classificação dos edifícios; à falta de uma eficaz fiscalização da CMP; à falta de associações de moradores fortes e íntegras; à falta de tanto, os portuenses têm vindo a destruir o seu património histórico arquitectónico e artístico. Quase sem darem por isso.
O que é uma pena para os cidadãos que passam a não se identificarem com a cidade; uma pena para o turismo que aumenta diariamente (e mais se interessa pela história e cultura do Porto); uma pena para o próprio centro histórico classificado pela UNESCO, como Património Cultural da Humanidade, desde 1996; uma pena para as origens e características que se perdem, nomeadamente aquelas medievais das freguesias da Sé, São Nicolau, Vitória e Miragaia que marcam a diferença em Portugal e no mundo.
O novo Porto, mais belo “para inglês ver” (e não ver), tem uma alma que morre por dentro. As fachadas, melhor apresentadas, escondem a destruição total dos interiores, surpreendentes pelas épocas que carregavam. Estamos a fazer menção a edifícios, frequentemente encostados e até integrados na Muralha Fernandina (1368-1437), reedificada nos séculos XV, a qual veio substituir a antiga cerca alto-medieval do século XIV. Não há tempo para serem “picotados” um a um, como deveriam, por arqueólogos e historiadores, investigadores ilesos. Os erros vêm do passado…
Perguntamos: É necessário repeti-los?
Pior quando nem as fachadas sobrevivem, com o pretexto de estar tudo a cair de velho e a recuperação ser ineficaz. Por isso, encontramos frontarias contemporâneas que nada têm a ver com as formas da cidade.
Não somos contra o modernismo nem contra o contemporâneo e, sim, contra a negligência.
Tornou-se moda desventrar edifícios medievais, armazéns setecentistas, torres mais ou menos exibicionistas do século XIX, sustentando-os com estruturas de betão e cimento. Como se os interiores fossem uma obra menor. Vão-se afrescos, ornamentação fixa de pintura decorativa, talha, azulejaria e estuques manufaturados, tetos artesoados, pavimentos de madeiras exóticas, chaminés ornadas na coroa que respeitam condições ambientais, molduras esculpidas de portas e janelas, mobiliário integrado. Há casos de desrespeito em todo o Porto, junto ao mercado do Bolhão, Aliados, Batalha, Foz do Douro, Miragaia, Nevogilde, Sobreiras. O Porto oriental acaba por ser o mais respeitado, outrora habitado por antigas famílias de uma mais alta burguesia que apenas se deslocavam à Foz na época dos banhos – uma moda da cosmopolita Belle Époque que se foi alterando, com o tempo, por ser mais confortável e saudável a permanência à beira-mar.
Se o atentado ao património é mais visível no Porto, por hipótese, pelo fluxo do turismo, não deixa de vitimar outras cidades portuguesas.
E perguntamos: Não há em Portugal profissionais capazes de recuperarem, os imóveis, com materiais adequados e técnicas de construção, mais próximos dos de origem?
As boas recuperações existem, contam-se pelos dedos e não servem de exemplo a ninguém pelo saber, morosidade, pormenor e financiamento que exigem. O betão é a solução mais fácil e económica. Não fosse o Porto, por tradição, um “burguês avarento”; porém reconhecido pelo bom gosto, simpatia e requintes de bem receber.
Sem nada contra, sempre se ouviu dizer “o barato sai caro”.
Não podemos esquecer que, esta atitude de desinteresse patrimonial, é portuguesa e não apenas do Porto, ou do norte de Portugal. Se bem que, o património, seja mais respeitado nas regiões centro e sul.
Não são palavras escritas, as obras e o seu resultado estão à vista.
Vem tudo abaixo, não obstante o interesse histórico, arquitectónico e artístico dos imóveis e as tentativas de preservação por parte de associações de moradores, ilustres e intelectuais, com alguma visibilidade, que promovem abaixo-assinados. A demolição acontece nas últimas décadas, a olhos vistos (ou na calada da noite), excepto no Alentejo. Um paradoxo: Os municípios comunistas são, na sua maioria, os melhores conservadores.
O Estado Novo (1933-1974) teve um grande papel na arquitectura, com o mesmo nome. Depois dos anos de 1970-80, começamos a ver de tudo, menos o que se possa chamar de “boa arquitectura”.
Deixar ruir os edifícios é uma tática para a sua destruição total, à qual se segue comummente a “má arquitectura” e a “má construção” que os tapumes encobrem numa primeira fase, evitando reclamações. Os finais do século XX, parecem ter sido peritos nestas artes de malfazer. Confirmem-se as queixas de clientes nos arquivos dos arquitectos de então, contando sempre com exceções.
Hoje, dá-se preferência a edifícios com idade próxima da atualidade e, mesmo estando estes degradados, continua-se a discriminar os mais antigos exemplares do século XIX e primeiras décadas do século XX, com artes decorativas, materiais e risco de eleição. Quiçá por questões de época e gosto; por questões de orçamento; por questões de rapidez da obra e facilidade construtiva; por questões de falta de educação cultural e estética. O horror com as placas de aviso de licença e obras. E não há quem se não queixe, mesmo comprometido ao silêncio por questões profissionais e de subsistência.
Depois do mal feito, tudo é permissível. Valem-se do PDM e da construção em altura (há sempre um exemplo vizinho de Novecentos), da não classificação dos edifícios e em especial da falta de protestos com notabilidade nos media.
Vem tudo abaixo, sem sequer preservarem ou cuidarem do risco, para memória e por interesse patrimonial. Porque tudo é uma questão de imagem política e apadrinhamento.
A continuada sede de dinheiro!
Todos ganham (muito e repentinamente). Todos, menos a História.
A situação piora com a permissão de engenheiros assinarem projectos de arquitectura [4]. Sem nada contra, sempre se ouviu dizer “cada macaco no seu galho”.
Perguntamos: Para que queremos um território sem marcas do passado, sem cultura sustentável e sem boa arquitectura?
Tudo é secionado, tudo funciona por módulos, como numa construção de Lego. Fachadas limpas, interiores desfeitos, arquitectura nuns casos adaptada, noutros nem por isso, e sempre o betão, tornam a intervenção mais económica e viável.
O betão pode durar até 100 anos e é extremamente resistente a terramotos, furacões e incêndios. O betão proporciona uma boa insonorização, ao contrário do aço (se for fino) ou da madeira (se não for tratada para o efeito). É um material que assegura a segurança e permite soluções modernas. Mas, o betão não devia ser a solução para todos os casos, em especial na reabilitação de edifícios antigos.
Vale-nos quem se dedica a recuperações, respeitando os materiais e modos de construção de cada época. À falta de documentos são estes que identificam e creditam a obra.
Os edifícios do século XIX contam com 200 anos (ou mais), os de Setecentos, 300, e já nem focamos os anteriores que se mantêm na atualidade, desconhecendo as virtudes do betão. Temos toda uma história de expansão marítima e colonização por países tropicais e pelo Oriente, com climas agrestes, vitimados por todo o tipo de desastres naturais (pragas de insetos, tremores de terra, maremotos, furacões, ciclones). A maioria viveu décadas de guerra, como Angola, e ainda aí encontramos construções dos séculos XVIII-XIX e até anteriores mais raras. Sem cimento e sem betão.
O desrespeito pelo património histórico acontece, ocasionalmente, noutros países ditos civilizados e mais não devia afirmar-se na cidade que criou uma escola de arquitectura, conhecida em todo o mundo, e encabeçada pelos premiados Álvaro Siza (n. 1933) e Souto de Moura (n. 1952).
Sem esquecer Fernando Távora (1923-2005), o melhor conservador, que nos deixou o exemplo em obras fundamentais de reabilitação, conservação, restauro e adaptação. Relevamos o Convento de Santa Marinha a Pousada (1975-1984) e o centro histórico (1987), em Guimarães; o Mosteiro de Refóios do Lima a Escola Superior Agrária (1987-1993), em Ponte de Lima; o Museu Nacional de Soares dos Reis (1992-2001) e o Palácio do Freixo a Pousada (1995-2003), no Porto; a Assembleia da República (1994-1999), com Álvaro Siza, em Lisboa.
Outros de arquitectura moderna há a louvar, integrados na escola do Porto e com obras de referência no norte, como Adalberto Dias (n. 1953), Alcino Soutinho (1930-2013), Arménio Losa (1908-1988), Cassiano Barbosa (1911-1998), Januário Godinho (1910-1990), Joaquim Massena (n. 1953), José Carlos Loureiro (n. 1925), Lixa Filgueiras (1922-1996), Mário Bonito (1921-1976), Marques da Silva (1869-1947), Viana de Lima (1913-1991).
Agostinho Ricca Gonçalves (1915-2010) passou a vida a defender a sua obra, tantas vezes desrespeitada. Relevamos a casa de Arnaldo Sá Lima (antigo dono da Quinta da Conceição em Leça da Palmeira), nos Pinhais da Foz, datada de 1956, destruída em 2004 para dar lugar a um condomínio de moradias em banda [5].
Outro mártir tem sido o Parque Residencial da Boavista (também conhecido por Foco ou William Graham), construído no local da antiga fábrica têxtil de William Graham[6]. Foi idealizado por Ricca no início da década de 1960, com os arquitectos João Serôdio (n. 1932) e Magalhães Carneiro (n. 1935)[7]. Primeiro a destruição da sua sala de cinema Estúdio Foco, por via da ampliação do Hotel integrado no complexo com o Clube e Piscinas (1969-1973); mais recentemente a ameaça de obras profundas na instalação de um hospital privado. Já antes, ainda este ano, a fachada do edifício Santo António (1964-1969) foi ameaçada com uma proposta do artista Vhils (n. 1987). Sobre esta, Álvaro Siza e Souto de Moura, entre outros, pronunciaram-se contra por estar em causa a preservação de um importante património arquitectónico da cidade [8].
Álvaro Siza comenta ao jornal Público: “O Foco é talvez a melhor e mais prestigiada solução urbanística e arquitectónica dos anos 60. Se se está a pensar numa intervenção que altera completamente a fachada, isso não deveria ser feito, independentemente da qualidade do que se propõe para lá. Uma recuperação de um edifício tão importante daquela fase deveria preservar o desenho do arquitecto. É preciso lembrar que ele foi um dos arquitectos mais importantes desta época, a par com Cassiano [Barbosa], [Arménio] Losa, [Januário] Godinho e [José Carlos] Loureiro. Fazer isto na cidade onde eles tanto trabalharam, parece-me muito estranho e mau, embora não seja caso único” [9].
Não se trata da arte em si, visto o projecto estar enriquecido com obras de artistas como Charters de Almeida (n. 1935), José Rodrigues (1936-2016) – um mural com mais de 90 metros –, Júlio Resende (1917-2011) e Zulmiro de Carvalho (n. 1940). A intervenção de Vhils não estaria de acordo com a preservação e respeito pelo risco e materiais da fachada do edifício Santo António, em diálogo com a Igreja de Nossa Senhora da Boavista, dita do Foco (1974-1999).
O turista vai ao Porto mais interessado na arquitectura classificada e premiada, ou assinada por nomes internacionais, como Álvaro Siza, Rem Koolhaas (n. 1944), Souto de Moura, e por projectos que fazem parar pelas soluções surpreendentes – como a Casa de Fez (2004-2005) de Álvaro Leite Siza Vieira (n. 1962). O turista está interessado no património artístico e cultural. Não em “caixotes” sem assinatura.
A arquitectura serve todos, ricos e pobres. Não obstante o período em que se insere, quer seja apreciada ou não, deveria ser entendida como cultura e arte aliadas ao funcional. Como deveria ser vivida, com respeito às linhas e conceitos, sem acrescento de “aberrações”, como marquises e materiais diferentes dos originais pensados que “berram” no todo. O princípio de todos os males está no adulterar a forma a meio caminho para a degradação. Mas as obras não são apenas dos arquitectos, são de quem as interpreta, comercializa e vive, dos clientes e vendedores.
Sem nada contra, sempre se ouviu dizer “quem paga manda”.
Não falta quem pague para fazer o que quer, não deve e apetece.
Não apenas os cidadãos se desiludem com o panorama. Os arquitectos e artistas sofrem com a afronta à sua arte.
Arquitectura moderna premiada
Álvaro Siza com os prémios internacionais de Arquitetura Contemporânea Mies van der Rohe (1988), Pritzker (1992), Praemium Imperiale (1998), Wolf de Artes (2001); as medalhas de ouro do RIBA (2009) e UIA (2011) e Medalha Alvar Aalto (1988). Obras de referência no Grande Porto: Casa de Chá da Boa Nova (1958-1963); Piscina das Marés (1961-1966); Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (1986); Museu de Arte Contemporânea de Serralves (1991-1999); Estação de Metro de São Bento (1996); Casa Atelier da Artista Armanda Passos (2006).
Eduardo Souto de Moura, também agraciado com os prémios Pritzker (2011) e Wolf das Artes (2013) e ainda com o prémio de carreira Piranesi (2017). Os melhores edifícios no Porto: Casa das Artes (1981-1991); Torre Burgo de 20 andares (1991-2007), Prémio Internacional de Arquitectura Chicago Athenaeum Museum (2008); Estação de Metro da Trindade (1997-2005), Casa Maia (1996-2007), Casa do Cinema Manoel de Oliveira (1998-2003). Outros projectos de eleição: Estádio Municipal de Braga (2000-2003), Prémio Secil de Arquitectura (2004), Prémio FAD de Arquitectura (2005) e Prémio Internacional de Arquitectura Chicago Athenaeum Museum (2006); Casa do Bom Jesus do Monte (2007), Prémio Internacional “Stone in Architecture” (1995); Casa das Histórias Paula Rego (2006-2009), Prémio Secil de Arquitectura (2011).
De entre os destaques mais recentes, referimos o Prédio Living Foz que venceu o Prémio Internacional de Arquitectura “Leaf Awards 2011”, na categoria Young Architect of the Year. Um projecto do arquitecto Paulo Fernandes Silva, do atelier dEMMarquitectura, em colaboração com os arquitetos Isabela Neves e Tiago Soares Lopes. O edifício distingue-se pelos rasgos de arquitectura arrojados. Bem-sucedidos, se comparados aos dos demais condomínios da zona envolvente dos Pinhais da Foz, povoada de mata até meados do século XX.
Ocupa o espaço limite de uma quinta desaparecida da Foz Velha, a Quinta do Carvalho[10], que fazia fronteira com a Quinta da Pasteleira, popularmente conhecida por Quinta do Vieira (ou dos Vieiras) [11]. Plena de árvores centenárias que não se conseguiram preservar, nem com abaixo-assinado nem com providência cautelar [12]. Escusado será dizer que o mesmo aconteceu à casa [13]. Menos uma a contabilizar nas pertenças das famílias tradicionais que não resistem à tentação de se desfazerem das propriedades a preço de ouro. Consciente, ou inconscientemente, foram estas que abriram caminho à destruição do património histórico, substituído pelos prédios que hoje predominam, desvirtuando a paisagem.
O caso da Foz do Douro
A Foz do Douro encontra-se, ainda, algo marcada pela presença de povoados castrejos[14] – como importante póvoa marítima onde os moradores se dedicavam à atividade piscatória, complementada com agricultura e pastorícia[15]. Encontram-se rasgos desse tempo que a raros importa, nos muros e vielas em subida pelo monte, como a rua Dom Miguel da Silva a meio da rua do Padre Luís Cabral, cuja calçada romana foi substituída por asfalto nos anos 90 do século XX.
O alto da Foz Velha foi a zona das ricas quintas[16], atravessada pelo aqueduto de serventia que corria certamente todos os terrenos do couto beneditino, até ao Paço Abacial (antes 1538-1544)[17]. Este edifício fica a poente da cabeceira da igreja renascentista de S. João Baptista[18], estando ambos integrados no conjunto urbanístico levado a cabo por Dom Miguel da Silva em colaboração com Francesco da Cremona.
Os únicos vestígios existentes do aqueduto, são os da rua Montebelo[19] e os que se encontram à frente do frontispício que resta do Paço Abacial, intramuros do castelo, ou forte de São João Baptista.
Nas imediações do Prédio Living Foz, na Quinta do Carvalho[20], atual rua de Bartolomeu Velho, existia outra antiga casa de quinta, toda em pedra. Foi destruída e só depois embargada a obra, parada há anos. Acreditamos que fosse trespassada pelo aqueduto que vinha do Paço Abacial e passava pelas quintas de Sobreiras e Romualdo – a última posteriormente dividida nas quintas da Boa Vista ou Boavista (atual Bairro Rainha D. Leonor) e Monte (Belo) [21]. Por hipótese, continuava já em terras da Quinta do Paraíso – onde foi instalada a Universidade Católica Portuguesa (UCP)[22] –, para dar a volta à Foz, pelo alto das ruas de Diu e do Teatro onde fica o Farol da Senhora da Luz [23].
Em frente à UCP, nas imediações da praça do Império, existe hoje um jardim com lago e arcada estilizada que evoca o aqueduto da rua Montebelo. Este apontamento (ilusório ou não), faz acreditar que o aqueduto subiria a rua Central, em terras dos Carvalho, e continuaria por terras dos Álvares Ribeiro, possivelmente entrando na Foz Nova (Nevogilde) e voltando a descer à Foz Velha [24].
Melhor dizendo: O aqueduto seguiria, por um lado, em direção à praça do Império e, em sentido contrário, pelas ruas Montebelo e da Quinta até Sobreiras; depois, dobrando para a Cantareira, a caminho do castelo onde encontramos um fragmento em frente ao que resta da fachada do Paço Abacial[25]. Foi aproveitado para muros de casas e muralhas. Do paço, subiria o monte para a Esplanada do Castelo[26] que integrava a rua da Cerca junto à casa dos beneditinos, na rua da Cerca, onde se preserva uma pequena casa renascentista bem recuperada. As casas do lado, já com fachadas oitocentistas, foram transformadas em apartamentos. Uma obra bem pensada, na medida em que se preservaram os frontispícios, mantendo nos interiores vestígios de um antigo claustro e pias de pedra de uma fonte. Possivelmente, o conjunto envolvia todo o quarteirão até à rua da Senhora da Luz.
Junto ao aqueduto, na rua Montebelo [27], surge outro abaixo-assinado a 24 de setembro de 2017. Segundo o Correio do Porto, a Assembleia de Freguesia aprovou moção para travar construções com 16 mil metros quadrados em zona protegida. A Autarquia diz que não pode rejeitar o projecto. A obra foi embargada em 2018, estando já a casa desmembrada sem sustentação e o terreno escavado em grande profundidade para as fundações, sem critério [28]. Parte do muro foi destruída para abrir entrada a máquinas [29].
Com certeza, nas obras destes terrenos, fronteiriços às quintas do Monte (Belo) e do Carvalho, encontrar-se-iam achados arqueológicos que foram descurados. Espera-se o momento certo para avançar e é sempre uma questão de tempo, como aconteceu com outras casas da Foz e Nevogilde (dita Foz Nova) [30], mormente aquela da avenida Brasil onde viveu e morreu o poeta António Nobre (1867-1900), recentemente deitada abaixo depois de anos de contestações [31]. (Resta saber o que mais acontecerá à casa Arte Nova, ao lado, construída em 1911, por Manoel Ferreira da Silva Janeira, atualmente já só com fachadas.)
Do outro oposto da rua Montebelo, na parte alta da rua do Padre Luís Cabral, um chalé de veraneio de finais do século XIX, poderá ter melhor sorte. (Ou não.) Dizem ser obras de ampliação de uma moradia. (Parecem mais.) Está a ser invadido por novas construções de tijolo e cimento, no jardim traseiro para onde apontam os vestígios do aqueduto que acompanhava quiçá o sentido das construções antigas da Foz, cortadas transversalmente pelo rio da Vila [32]. Seria talvez o rio da Bica, sinalizado no nome largo do Rio da Bica (antigo largo da Feira), no final do Caminho Fonte de Cima a meio da rua Padre Luís Cabral.
E perguntamos: Onde estão os historiadores, idóneos e com peso?
Não basta dissertar sobre o que já foi, mas lutar pelo que ainda existe.
Rui Cunha publica no blogue Porto de Agostinho Rebelo da Costa aos nossos dias, a 11 de abril de 2016: “(…) a Quinta do Monte fica situada entre a rua do Padre Luís Cabral, a Travessa Alegre e a Rua Alegre, na Foz do Douro, e possui um singular edifício residencial de estilo neoclássico e, a poucos metros deste, uma pequena capela privativa, estando toda a propriedade rodeada por altos muros. Os terrenos da Quinta pertenceram ao Couto de São João Baptista da Foz do Douro, propriedade dos Mosteiros Beneditinos de Santo Tirso e da Foz do Douro e faziam parte duma outra, muito mais extensa, denominada Quinta do Romualdo, de que a Quinta do Monte, antes Quinta do Nassau e, mais tarde, Quinta do Monte Belo é um resquício”.
Seriam originalmente propriedades beneditinas, em frente às quais existe um fragmento do aqueduto[33] que poderá ter sido cortado para a abertura da rua Central[34], já que o século XIX na Foz foi desastroso para a preservação do património e mais sofrendo a Guerras Liberais (1828-1834). As terras terão sido aforadas, reabilitadas após abandono, como a da Quinta do Monte (Belo) com palacete neoclássico de 1808, e vendidas em hasta pública, com a extinção das ordens religiosas em 1834, tendo ganho as construções dos religiosos outros usos e perfis. As casas grandes de finais do século XIX, primeiras décadas do século XX[35], mantendo-se algumas de lavoura[36], reservam reminiscências [37].
Curiosamente, nenhum destes monumentos foi classificado com vista à preservação. A zona da Foz onde se inserem é, sim, classificada (desde 2013) e de nada serve, cada vez mais com casas destruídas e adulteradas. Estamos a falar de construções sobreviventes, datadas entre os séculos XIV e XIX, que se têm vindo a desvalorizar.
As distinções vão-se dando, com mais frequência, à arquitectura contemporânea, felizmente com mérito. Na zona do Grande Porto, relevamos o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões e a Casa Cabo de Vila em Paredes, entre os projectos premiados no “Edifício do Ano 2017”, pela plataforma internacional Archdaily, sedeada em Nova Iorque. O projecto do Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, da autoria de Luís Pedro Silva, foi vencedor na categoria “Arquitetura Pública”; o projecto da Casa Cabo de Vila, da autoria do atelier de arquitetura Spaceworkers, em Bitarães, foi vencedor na categoria “Casas”.
Os vencedores da edição de 2018 do Prémio Nacional de Reabilitação Urbana, a norte, são: Albergues Noturnos do Porto (1881), pelos arquitectos Nuno Valentim, Frederico Eça e Margarida Carvalho; Real Vinícola de Matosinhos (1897-1901), pelo arquitecto Guilherme Machado Vaz; Quinta de Catapeixe no Marco de Canavezes, pela arquitecta Marta Campos; Quitãs – Farm Houses em Arouca, pelo arquitecto António Júlio Caseiro.
Não faltam arquitectos que sabem o que estão a fazer e preservam o património e a identidade, não sofrendo influências do mal plantado. Exemplo disso é a avenida Montevideu[38], em Nevogilde, onde as grandes casas e palacetes estão a ser recuperados e adaptados a novas vivências, sendo construídos blocos de apartamentos nos jardins. Infelizmente, o mesmo não aconteceu noutras zonas, como nas avenidas Marechal Gomes da Costa e Marechal Saldanha já descaracterizadas. No lugar das casas com jardim, viram despontar condomínios de prédios e de moradias que aproveitam com tanto rigor o metro quadrado que, uns e outros vizinhos, podem espreitar a vida alheia. Como nas Ilhas do Porto, espaços de viver escondidos nas traseiras das ruas, em confusão entre o público e o privado.
Por último, perguntamos: O que mais pode acontecer?
Sem nada contra, sempre se ouviu dizer, “não adianta tapar o sol com a peneira”.
Helena Osório
Nascida em Benguela, Angola, tem-se dedicado ao jornalismo cultural, coordenação editorial e escrita literária.
É doutora em Estudos sobre a História da Arte e da Música pela Universidade de Santiago de Compostela, com reconhecimento da Universidade do Porto. Mestre e pós-graduada em Artes Decorativas pela Universidade Católica Portuguesa. Licenciada em Estudos Europeus pela Universidade Moderna de Lisboa. Investigadora do Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (i2ADS/FBAUP).
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Este artigo divide-se em duas partes, sendo a segunda, intitulada “PARTE II - FOZ VELHA E FOZ NOVA: PATRIMÓNIO CLASSIFICADO (OU NEM POR ISSO)”.
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Notas
[1] DIAS, José Resende; RIO, Francisco Sousa; VASCONCELOS, Domingas R. – A Frente Marítima do Porto: Uma Paisagem Urbana a Salvaguardar e Valorizar. Porto: II Encontro CITCEM – O MAR – Patrimónios, Usos e Representações, FLUP, 2011. p. 1.
[2] OLIVEIRA, José Manuel Pereira de – O Espaço Urbano no Porto: Condições Naturais e Desenvolvimentos. Coimbra: Instituto de Alta Cultura, 1973. p. 369. Apud FERNANDES, José Alberto Vieira Rio – A Foz. Porto: Revista da Faculdade de Letras – Geografia, 1.ª série, vol. III, 1987. p. 24.
[3] Disponível em https://www.dn.pt/cidades/interior/amor-toxico-como-os-turistas-estao-a-destruir-o-porto-9753747.html
[4] Disponível em https://www.jn.pt/nacional/interior/aprovadas-alteracoes-a-lei-que-permite-engenheiros-assinar-projetos-9308473.html
[5] Restam apenas duas árvores centenárias, na rua Dom Luís de Ataíde, onde Ricca projectou a casa nos anos 50 – outrora terrenos da antiga Quinta do Carvalho (ou da Carmona) que iam até ao atual Pingo Doce, na avenida Marechal Gomes da Costa, parte passando para o outro lado desta via aberta em finais de 1930. Ao contrário do que se publicou: “A casa já foi abaixo, mas os jardins e árvores de grande porte ficaram de pé.” VITORINO, Manuel – Casa Desenhada por Agostinho Ricca Cede a Moradias de Luxo. Porto: JN, 19 junho 2006. Disponível em https://www.jn.pt/arquivo/2006/interior/casa-desenhada-por-agostinho-ricca-cede-a-moradias-de-luxo-556173.html?id=556173
[6] “Quando em 1809 chegou ao Porto o escocês William Graham Jr. acabavam de ser expulsos os franceses da segunda invasão. Logo em 1814 decidiu dedicar-se, logicamente, ao comércio do vinho. Mandou vir o seu sobrinho John Graham e com ele se associou na firma William & John Graham & Cº. O séc. XIX foi muito agitado até aos anos 50 (…) decidiram entrar na indústria têxtil. Em 1880 compram, em Lisboa, a Tinturaria e Estamparia do Braço de Prata. (…) verificado que no Porto seria mais rentável (...) fundaram a mais importante fiação, tecelagem e tinturaria do país, a Fábrica de Fiação e Tecidos da Boavista, mais conhecida por fábrica do Graham ou dos ingleses, que aliás eram escoceses. (…) Em 12 de Maio de 1897 deflagrou um violentíssimo incêndio que quase destruiu esta fábrica. (…) foi reconstruída. Com o eclodir da guerra, em 1939, e as dificuldades de exportação, a fábrica foi encerrada nos anos 50.” Disponível em http://portoarc.blogspot.com/2013/01/
[7] Sobre este modelo de complexo habitacional, o historiador José Alberto Vieira Rio Fernandes reflete: “Agrupamos (…) quatro grandes complexos habitacionais que são conhecidos pelas designações de Parque da Foz, Pinhais da Foz, William Graham e Quinta de Miramar (…) muito similares (…). É este tipo de estrutura morfológica o mais propício aos interesses dos investidores e o mais adaptável aos elevados preços dos terrenos que aqui se praticam. Convém porém lembrar das desvantagens da natureza paisagística e ambiental que advém da edificação destes prédios, descaracterizantes e alteradores da fisionomia do tecido urbano (…)”. FERNANDES, José Alberto Vieira Rio – A Foz. Porto: Revista da Faculdade de Letras – Geografia, 1.ª série, vol. III, 1987. p. 27.
[8] Disponível em https://www.publico.pt/2018/01/23/local/noticia/cancelada-intervencao-de-vhils-no-foco-1800412
[9] Disponível em https://www.publico.pt/2018/01/18/local/noticia/intervencao-de-vhils-em-predio-de-agostinho-ricca-alarma-arquitectos-1799726
[10] Com base em várias entrevistas que realizamos, aquando da escrita do presente artigo, a moradores antigos de 60-90 anos, concluímos: Maria Amélia de Sousa Oliveira, com o cognome de Carmona, herdou dos pais a Quinta do Carvalho. A casa-mãe da quinta ficava duas acima do chalé, hoje em obras para ampliação de moradia, na parte alta da rua do Padre Luís Cabral. Outras casas se conservam na família até ao final da rua, antes do Prédio Living Foz que também integrava a Quinta com casa de lavoura posteriormente melhorada e adaptada a habitação de herdeiros. Do lado oposto, na rua do Carvalho, vivia a prima Maria do Carvalho numa casa de pedra muito antiga demolida recentemente. A Quinta do Carvalho ia da capela de Nossa Senhora da Conceição do século XVIII, atribuída a Nicolau Nasoni (ou discípulo), até ao Pingo Doce que abriu recentemente na avenida Marechal Gomes da Costa. Ver Processo de expropriação judicial (1934/01/29-1938/04/16) que fez a Câmara Municipal do Porto, contra Maria Amélia de Sousa Oliveira, referente a diversas áreas para abertura da avenida Marechal Gomes da Costa (Processo dos Serviços Jurídicos n.º 254, Arquivo Municipal do Porto). Da antiga Quinta do Carvalho, restam algumas árvores centenárias que ainda servem de marcos, como as das ruas de Alfredo Keil e Gabriel Soares de Sousa onde existia um dos portões da quinta, ainda com vestígios do antigo muro; ruas João de Lisboa e Afonso Baldaia, junto ao antigo Colégio Brotero (atual Escola Básica Francisco Torrinha), apontando para a zona do Campo da Ervilha. Os limites com a Quinta da Pasteleira – cujos últimos herdeiros, irmãos Vieira, morreram solteiros, sem descendência –, são possíveis de visualizar no terreno, através de outras tantas árvores centenárias poupadas. Plátanos a meio da avenida Marechal Gomes da Costa, virados à rua Duarte Pacheco Pereira; castanheiros e eucaliptos nos Pinhais da Foz e rua Fernão Lopes – a última com campo já referido anteriormente, até rua de Diogo Botelho, adquirido recentemente pelos irmãos Ferreira da Costa (a CMP vendeu o campo em hasta pública por não haver registo ou reclamação de herdeiros e só ser conhecida exploração deste por parte de Augusto Almeida, “o último agricultor da Foz”). Já os limites da Quinta do Carvalho com a Quinta do Paraíso – mais conhecida por Quinta do Gesso e, agora, Quinta da Foz –, são ainda marcados por carvalhos, na bifurcação da rua do Carvalho com a rua de Diogo Botelho, e no Caminho Fonte de Cima (antiga Praça do Mercado, popularmente Feira). Nas escadas que dão para a rua Alegre, começava já a Quinta do Monte (Belo) que subia a antiga rua Central até junto às escadas que dão para a Capela de Nossa Senhora da Conceição, antes dedicada a São Sebastião)]. O percurso do território da família Carvalho, pelos Pinhais da Foz, é feito pelas ruas Henrique Lopes de Mendonça, Pintor Amadeu Sousa Cardoso e de Bartolomeu Velho – com vestígios de um muro de pedra, sustentado por rede de arame em vez de argila. Termina na rua Fernão Lopes que antes se ligava à rua da Quinta. Era esta, possivelmente, a maior e mais antiga quinta da Foz. No alto da antiga rua Central (note-se que o nome da rua mudou para Padre Luís Cabral, assim como os números das portas foram invertidos de cima para baixo desta via, como alternaram de ímpares para pares), existia o chamado Casal de Castalheiros com casa de outro membro da família Carvalho, ladeada por par de árvores desta espécie que lhe deu o nome. No lugar da propriedade ligada também à antiga quinta, passou a figurar um casal (ou par) de prédios de cinco andares cada. Mais acima, na rua Central n.º 4 (e possivelmente números anteriores de uma zona cortada) – onde ainda hoje existe um terreno aparentemente abandonado –, começava a Quinta da Pasteleira (ou do Vieira), que ia até à rua da Pasteleira, paredes-meias com a Quinta de Serralves. Os dois campos que ficavam mais abaixo do Prédio Living Foz e do Casal de Castanheiros, entre as ruas Central e dos Prazeres, pertenciam à família Carvalho, estando arrendados a agricultores. A rua dos Prazeres não acaba nas escadas com que parece terminar. Do outro lado da rua de Diogo Botelho (“Estrada Nova”, como é conhecida), continua a rua dos Prazeres, com cerca de vinte metros e duas casas. Termina na rua Montebelo, junto ao final do aqueduto ou o que resta dele. Como os antigos muros testemunham, assim como a continuação da própria via, outrora ligada à rua do Carvalho, estes terrenos continuavam para o outro lado da posteriormente aberta rua de Diogo Botelho que eliminou parte do aqueduto. Como prova, a planta topográfica da Licença de obra n.º: 1064/1912 (Arquivo Municipal do Porto): “Diz, Antonio Gonçalves da Costa Carvalho, proprietário, residente na rua Central n.º 432-Foz; que pretende reconstruir a frente do prédio n.º 284 da rua da Quinta, Foz, que lhe pertence (…)”. Disponível em http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/79433/?q=quinta+do+carvalho
[11] A quinta vai da Pasteleira até à avenida Marechal Gomes da Costa. A casa-mãe da quinta ficava na atual rua João de Barros onde ainda se preserva a ermida a pedido do último proprietário da família Vieira. Todo o bairro da Marechal Gomes da Costa, até junto à Escola Francesa do Porto. Atualmente, quem sobe a parte alta da rua do Padre Luís Cabral – após atravessar a rua de Diogo Botelho –, a Quinta do Carvalho ficava à esquerda e a Quinta da Pasteleira, à direita. A licença de obra n.º 33/1908 (Arquivo Municipal do Porto), assinada por Manoel Ferreira da Silva Janeira, a 19 de fevereiro de 1908, confirma os Vieira como proprietários da Quinta da Pasteleira: “Custódio José Vieira, proprietário da quinta da Pastelleira, na rua Central, com o n.º 4, freguesia de Lordello de Ouro, pretende mandar construir um armasem para (…) utensilios de lavoura e cereais (…) desviado da via publica”. Disponível em http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/75412/
[12] No vizinho conjunto habitacional das “torres vermelhas”, do bairro da Pasteleira (1956-2013), também se preservaram alguns eucaliptos centenários da antiga Quinta da Pasteleira que se estendia entre as atuais ruas de João Rogrigues Cabrilho, de Bartolomeu Velho, e João de Barros, junto do parque Urbano da Pasteleira, conhecido como Mata da Pasteleira, e do Parque de Serralves, bem como da nova urbanização de iniciativa pública da Pasteleira concluída em 2001. As “torres vermelhas” foram projectadas em 1966 pelos arquitectos João Serôdio, Luís Almeida d’Eça (1921-2011) e Rui Paixão (n. 1932), tendo a construção sido iniciada em 1972. Mas, já desde 1948, se foi alterando a zona da atualmente denominada Quinta de Serralves e malha da Foz Velha. PIMENTA, Ana Rita dos Santos – O Conjunto Habitacional das “Torres Vermelhas” da Pasteleira. Porto: Dissertação de mestrado em Arquitectura, apresentada à Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2013. pp. 14, 59.
[13] Como consta no artigo Construção na Foz em Tribunal, assinado por Inês Schreck, publicado no JN a 10 de setembro de 2009: “Em causa está a edificação de um prédio de 21 metros, com rés-do-chão e seis pisos, no gaveto das ruas de Bartolomeu Velho e Padre Luís Cabral (perto do campo de jogos do Pasteleira), onde antes havia uma ‘casa de quinta’. A zona está classificada no PDM como ‘frente urbana contínua em consolidação’. (…) o projecto viola o PDM e levantam dúvidas sobre a área de implantação do edifício. (…) o promotor tinha de ceder ao domínio público municipal, para espaços verdes ou equipamentos, 3198 metros quadrados e entregou apenas 277 para construção de um passeio (…). A lei prevê a troca destas cedências pelo pagamento de taxas municipais, mas para isso é necessário haver ‘interesse urbanístico relevante’ (…). Ao não cederem milhares de metros quadrados, os cálculos são outros e a volumetria do edifício passa a ser ‘gigantesca’. (…) acusa ainda a Autarquia de tentar ‘tirar objecto aos processos judiciais em curso’ (…) revogou o licenciamento e no mesmo dia ‘alterou o alvará de construção’ (…)”. A 21 de abril de 2010, o JN publica outro artigo da mesma jornalista, Câmara vota contra embargo de obra na Foz: “ (…) acusa a Câmara de ser ‘cúmplice do empreiteiro’ em todo o processo. Em causa está a construção de um prédio de sete pisos da construtora J. Camilo (…) em relação ao qual o Tribunal Central Administrativo do Norte aceitou uma providência cautelar, interposta por um conjunto de vizinhos, para travar a empreitada. Tribunal não aclarou sentença. (…) Questionado sobre o facto de, na maioria das vezes a aceitação de uma providência cautelar pelo tribunal conduzir ao embargo de uma obra, Rui Rio disse que ‘as leis que temos não tornam isso tão óbvio’. (…) O prédio, com 21 metros, está a ser construído num terreno onde antes havia apenas uma vivenda.” Um exemplo entre tantos.
[14] Como indicia o nome da rua do Crasto (o mesmo que castro).
[15] FERNANDES, José Alberto Vieira Rio – A Foz. Porto: Revista da Faculdade de Letras – Geografia, 1.ª série, vol. III, 1987. p. 14.
[16] Na página Geneall.net, encontramos as seguintes referências à Quinta do Monte: “(…) que faz quase todo o quarteirão da Rua do Montebelo e da Rua do Padre Luís Cabral (…) sabe-se que pertencia ao Couto de S. João Baptista da Foz do Douro, propriedade do Mosteiro Beneditino de Santo Tirso. Conhecem-se todos os foreiros desde 1600 e poucos. Nos fins do século XVIII e princípios do XIX, pertencia a (…) Guilherme de Nassau, do qual era procurador Charles Butler. Os herdeiros irão queixar-se dos danos causados pelos bombardeamentos de 1833-34, durante o Cerco do Porto. Deve ter passado para as mãos de Fladgate em meados do século XIX, que ali fixou residência. (…) esteve nas mãos de muitas famílias, como Bessa Ribas, dos Guedes de Almeida e, finalmente, dos Folhadella. (…) Em 1889, data em que o Fladgate já teria falecido, passou para as mãos de Benardino Vareta e, só depois, para as dos Bessa Ribas. (…) Foi chamada Quinta do Rumoaldo, creio que em referência ao príncipe, depois Quinta da Boa Vista e, só mais tarde, Quinta do Monte (Belo). (…) pertenceu no principio do século XX à família Mudat, que suponho tinha algo a ver com a velha Fábrica Aviz. (…) Oscar Mudat ainda vivia, há umas décadas (…) numa casa em frente ao portão da Quinta do Monte. Era casado com D. Alice Martins da família proprietária da Empresa de Saboaria do Bolhão e morreu sem descendência. Depois destes é que passou aos Folhadelas.” Disponível em https://geneall.net/pt/forum/42761/familia-fladgate/
[17] Ver figuras n.º 5 e n.º 6. ABREU, Susana Matos – A Obra do Arquitecto Italiano Francesco da Cremona (c.1480-c.1550) em Portugal: Novas Pistas de Investigação. Porto: CEPESE, 2010. p. 575.
[18] OSÓRIO, Maria Isabel Noronha Pinto – A Intervenção Arqueológica no Castelo de S. João da Foz: Novos Elementos para a Reconstituição dos Espaços. In A Arquitectura Militar na Expansão Portuguesa. Porto: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1994. Apud QUEIRÓS, Isabel – A Reabilitação da Barra do Douro no Século XVI: Um Desafio Urbanístico à Talassocracia Atlântica. Porto: II Encontro O Mar – Patrimónios, Usos e Representações, CITCEM/FLUP, 2011. p. 1.
[19] É mesmo neste encontro da rua Montebelo com a rua do Padre Luís Cabral que verificamos o corte do aqueduto ainda virado para o alto da rua do Padre Luís Cabral (entre a Quinta do Monte e a antiga Quinta da Pasteleira) cortada pela “Estrada Nova”, ou rua de Diogo Botelho, no século XX. O aqueduto terá desaparecido, aquando do projeto de alinhamento e alargamento da rua dos Olivais e outras da Foz, desde a Cantareira à rua Central, em meados do século XIX.
[20] A Foz era uma vila coroada de verde das matas de suas extensas quintas. Ver fotografia aérea, datada de 1939-1940, da zona rural da Foz e Lordelo do Ouro, desde a avenida Marechal Gomes da Costa (noroeste, antiga Estrada do Americano), à Quinta da Pasteleira, na rua com o mesmo nome. Arquivo Municipal do Porto, fiada 7, n.º 059. Disponível em http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/587485/
[21] Primeiro Quinta do Romualdo, indo até Sobreiras e englobando a Quinta da Boavista que se separou da que perdurou Quinta do Monte, pertença do Couto de S. João Baptista da Foz do Douro, propriedade do Mosteiro Beneditino de Santo Tirso. Em finais do século XVIII e princípios do XIX, a Quinta do Monte foi conhecida por Quinta de Nassau por residência do príncipe Guilherme Frederico de Nassau-Orange (1772-1843), aclamado rei dos Países Baixos em 1815, grão-duque de Luxemburgo e duque de Limburgo. Por volta de 1889, passa a ser era conhecida por Quinta do Vareta quando passa das mãos do barão de Roeda para Bernardino Vareta. Foi John Fladgate (1809-1901), nobilitado barão de Roeda, que instituiu a denominação de Quinta do Monte Belo – hoje, de novo, Quinta do Monte. Disponível em http://portoarc.blogspot.com/2016/04/quintas-do-porto-e-arredores-xii.html
[22] Conhecida por Quinta da Foz que os antigos não lembram, continua a ser para os populares a Quinta do Gesso, por ter sido explorada, durante gerações, pela família dos “Gessos” (esta e a Quinta do Carvalho). O primeiro Gesso ganhou a alcunha de “menino de gesso”, por nascer muito branco e bonito. A alcunha passou aos descendentes que o revelam hoje com cerca de 70-80 anos – bisnetos do primeiro que confirmam que o avô continuou a ser Gesso, mesmo moreno. Esta que originalmente era a Casa e Quinta do Paraíso de Alberto Álvares Ribeiro (1842-1926), casado com sua prima direita, Maria da Natividade do Vale Pereira Cabral (1844-1931), irmã do Padre Luís Cabral e de outros membros ilustres pertencentes à alta burguesia do Porto de então, com casa de veraneio na rua Central da Foz do Douro, onde nasceu, tal como o irmão Luís (na rua do Padre Luís Cabral, n.º 901). Formou-se em Engenharia Civil de Pontes, de Estradas e de Minas, na Academia Politécnica do Porto, entrando, em 1864, por concurso, para o quadro de engenheiro de obras públicas. Viveu a maior parte da vida ativa na casa-oficina dos Álvares Ribeiro na rua Chã, freguesia da Sé, casa editora e livreira. Após a implantação da República retirou-se e passou a viver durante todo o ano, e não apenas no verão, na Quinta do Paraíso, onde hoje se localiza o Centro Regional do Porto da UCP. Foi fidalgo cavaleiro da Casa Real e comendador da Ordem de S. Gregório Magno da Santa Sé, como reconhecimento do seu valor. Nessa casa da rua do Paraíso, nasceram e viveram cinco dos seus seis filhos (quatro seguiram a vida religiosa). Um dos netos, Alberto José, do filho Francisco José e de Maria Lúcia Maciel da Costa, nasceu igualmente na casa da rua do Paraíso (n.º 86), mas já após o desaparecimento de seu avô, falecendo solteiro em 1944. MEIRELES, Rodrigo – Alberto Álvares Ribeiro (1842-1926). Breves Nota Biográfica e Comentário: A Propósito da Troca de um Convento e Igreja por uma Estação Central com o Nome de S. Bento (1893-1916). Porto: Fundação Instituto Marques da Silva, Universidade do Porto, 2015. pp. 2-3, 5. Maria Lúcia foi última senhora da Casa e Quinta do Paraíso. Cedo enviuvou e perdeu o único filho, Alberto José, com tuberculose. Consta que este namorava contra vontade da família, com uma filha bastarda do 1.º Conde de Vizela, Diogo José Cabral (1864-1923). O segundo conde, Carlos Alberto Cabral (1895-1968), era filho do primeiro por casamento com Raquel dos Reis (1874-1898). Herdou em 1923, a Quinta de Lordelo – propriedade de veraneio da família, à rua de Serralves, que confinava com a Quinta da Pasteleira –, e mandou construir a Casa de Serralves (1932-1944). Carlos Alberto ainda adquiriu terrenos adjacentes para ampliar a que passou a ser Quinta de Serralves, como aqueles da Quinta do Mata-Sete herdada por um irmão. María de la Soledad Cabral López (1889-1956), era filha natural de María de la Soledad López, solteira, e do 1.º Conde de Vizela. Viveu na Casa de Serralves do meio-irmão, acabando por casar com Juan Tapias Rodríguez, advogado de Vigo. Testemunhos vivos confirmam que, Alberto José, a ia procurar de bicicleta, em subida pelas quintas, e adoeceu. Daí que, por morte prematura do herdeiro direto da Quinta do Paraíso, a mãe a tenha doado à Diocese. Porventura, ter-se-á refugiado em Matosinhos onde herdou dos pais inúmeros terrenos na Senhora da Hora (entre as zonas do Hospital Pedro Hispano e NorteShopping).
[23] Um farol virado à vila da Foz Velha, com vista que se estende da barra do Douro a Espinho, constituído por pequena torre hexagonal, no cimo de torreão quadrangular. Consta existir desde o século XVII. Foi construído junto da Ermida da Senhora da Luz, à época existente no mesmo lugar, pelo que julgamos anterior: “(…) com uma Torre Velha Unida, tudo feito por um Abbade de Santo Thyrço, e na Torre tem as suas armas. Estâ cituada fora do Lugar para aparte do Norte dois, ou três tiros de espingarda, mais elevada, que a Povoação, e na mesma distancia do Mar. Do Terreyro, e porta principal della se descobrem as embarcações, em grande distância, que fazem viagem pera as partes do Norte e do Sul, e a barra do Porto, que lhe dista pouco.” Memórias Paroquiais da Divisão Administrativa do Porto em 1758 – S. João da Foz. Porto: O Tripeiro, VI Série, Vol. 5, Ano V, n.º 7, 1965. p. 194. Apud QUEIRÓS, Isabel – A Reabilitação da Barra do Douro no Século XVI: Um Desafio Urbanístico à Talassocracia Atlântica. Porto: II Encontro O Mar – Patrimónios, Usos e Representações, CITCEM-FLUP, 2011. p. 3.
[24] Disponível em https://www.publico.pt/2004/05/14/jornal/junta-da-foz-do-douro-contra-construcao-de-novo-predio-junto-as-torres-altis-188240
[25] Os corpos laterais foram adulterados, com marcas visíveis dos séculos XVII, XIX e XX, o que poderá ter causado a destruição do aqueduto, talvez para aproveitamento da pedra na construção da muralha encostada ao paço. Uma segunda muralha mais recente dá a volta ao forte, unindo-se no portal da entrada. Como confirmam os vestígios da arcada do aqueduto ainda observados pela lateral junto à estrada que acompanha os campos de ténis.
[26] Ruy de Brito e Cunha, descendente de Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896), a Ferreirinha – como ficou conhecida, carinhosamente, no comércio do vinho do Porto –, herdou uma pintura assinada pelo grande amigo da tetravó, Barão de Forrester (1809-1861), em cujo revés está retratada, como um segredo, a ligação entre o castelo da Foz e o antigo poço que existiu no átrio de entrada do Hotel Boavista até às obras de ampliação em finais do século XX. Por tradição oral, sabemos que o poço situado no que foi monte da praia, dentro do território da cerca dos beneditinos, funcionou como passagem secreta em tempo de invasões – o que permitia aos populares penetrarem, sem exposição nem riscos, intramuros do castelo onde se mantém o poço de conexão, com eventuais tunéis, no pátio de entrada. Existem, nas imediações, outros subterrâneos abertos à inves