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ARQUITETURA E DESIGN




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GALERIA DE ARQUITETURA

CONSTANÇA BABO


 


A Galeria de Arquitetura reabriu, no dia 27 de janeiro, com um novo espaço na Rua do Visconde de Bóbeda, próximo da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Instala-se, assim, numa zona da cidade com crescente e vibrante movimento artístico, trazendo novas propostas no âmbito da arquitetura e da arte. Com um ciclo de exposições intitulado Build don´t talk, sugere a construção, tanto arquitetónica como artística, interdisciplinar e conceptual.

A primeira ocasião deste projeto concretizou-se em novembro de 2016, mediante a abertura da Galeria de Arquitetura na sua localização inicial, na Rua do Rosário, inserida no quarteirão de galerias de arte da cidade do Porto, Miguel Bombarda. A exposição inaugural Tabula Rasa consistia unicamente no próprio espaço desocupado, exibindo a sua modesta dimensão quadrangular. O lugar expositivo surgia, pois, como o próprio objeto estético sobre o qual se debruçava a ocasião, convidando à observação da sua forma, estrutura e dimensão, elementos determinantes na área da arquitetura. Nas paredes brancas, apenas se encontrava uma frase discretamente impressa, quase imperceptível, em vinil de recorde com brilho: is this an architectural exhibition? Questionavam-se a prática e a disciplina da arquitetura e os conceitos de exposição e de galeria de arte. A partir daí, era também proposta uma reflexão sobre a relação entre as respetivas práticas e quais as suas possibilidades quando trabalhadas em conjunto.

Hoje, lançam-se os mesmos desafios a quem visitar a nova galeria. Os fundadores deste ambicioso projeto, Andreia Garcia e Diogo Aguiar, eles próprios arquitetos, dão continuidade à procura de suscitar e desenvolver o debate sobre a disciplina da arquitetura e sobre os seus limites.

Desta vez, correspondendo à quinta exposição da Galeria de Arquitetura, mostram-se elementos físicos representativos de vários projetos, na sua grande maioria já concretizados, resultantes da parceria de Filipe Paixão, Rui Martins, Alexandre Trofin, Sandra Andrei, Nicolò Martin e Dennis Sóla. À parte dos dois últimos, que já não integram o grupo de arquitetos, são eles que constituem o Corpo Atelier. Sediado em Vilamoura desde que se formou, há dois anos, o escritório tem apresentado um trabalho jovem e dinâmico, contando já com vários projetos elegantes e de grande escala.

O atelier, representado nesta ocasião no Porto, não surge somente na lógica expositiva, mas também numa laboral, tão inovadora quanto ele próprio. A proposta que Andreia Garcia e Diogo Aguiar conceberam, consiste na cedência do espaço a Filipe Paixão, fundador e diretor do Corpo Atelier, durante três meses, para que este o ocupe e transforme no seu escritório, espaço-laboratório experimental. O arquiteto instala-se agora na Galeria de Arquitetura, ocupando-a com o seu material e utilizando-a como espaço de trabalho, tendo a oportunidade de desenvolver, proximamente, novos projetos para o norte do país e de participar nesta singular experiência, desenhada para expor ao público geral a conceção de projetos arquitetónicos.

No caso de Filipe Paixão, o processo é particularmente conceptual, mais do que físico, algo que se verifica, desde logo, através dos nomes que atribui aos projetos, tais como estrutura de madeira dentro de paredes de pedra ou entre dois muros brancos. É forma de identificação é tão literal quanto narrativa e poética, algo pouco usual na arquitetura. Ora, é esta particularidade que permite compreender como a conceção de cada projeto de Filipe Paixão começa com uma ideia, um conceito, seguido de uma pesquisa através de várias abordagens e práticas, até avançar para a sua materialização.

Como se pode ver exposto na galeria, os estudos surgem de um modo altamente visual e expressivo, compostos por desenhos e colagens, pela imagem, pela cor, pelo traço e por estruturas representativas dos projetos. Estas últimas advêm de uma concepção dos edifícios a partir do que será a sua vista frontal, perspectiva bastante distinta da habitual aérea, tão recorrentemente utilizada por arquitetos na construção de maquetes e plantas. Todos os objetos detêm uma interessante qualidade visual e formal e, de acordo com esta, um forte caráter conceptual e particularmente plástico. O trabalho do arquiteto mostra-se singular e indiscutivelmente próximo da dinâmica e da lógica da criação artística, principalmente no modo como é percecionado e recebido pelo público. Como tal, o conjunto de peças expostas e, certamente, as que irão ser desenvolvidas ao longo do tempo da exposição, permitem compreender a arquitetura como intimamente relacionada e, até, enraizada na esfera da arte.

Este é o primeiro momento do novo ciclo de exposições que evoca o fazer, acompanhado por outras ações que Filipe Paixão considera determinantes na sua área de trabalho, tais como multiplicar, nivelar, preencher ou redefinir. Os verbos representam, justamente, a forma de atuar através da anatomia da própria arquitetura, dos seus elementos, desde a parede, ao chão, à porta ou à varanda. Compõem-se, assim, duas colunas distintas, numa das paredes da galeria, que apresentam o léxico do arquiteto, a sua linguagem, sugerindo ao espectador um jogo de leitura e interpretação, de multiplicação de relações entre palavras e sentidos.

Ora, se o Corpo Atelier procura, através da expansão dos elementos da arquitetura, prolongar as possibilidades da área, no que diz respeito à Galeria de Arquitetura, um dos seus grandes desígnios é o desdobramento dessa mesma disciplina e das artes. Com tal intuito, este projeto abre, de modo inovador, as portas para uma maior compreensão de ambas as áreas e da dinâmica expositiva e de galeria. Quebra barreiras entre práticas e disciplinas e apresenta-se como um lugar de criação, projeção, construção e exposição, amplo, híbrido e plural. E não serão, precisamente, estas características as mais determinantes da arte contemporânea?

 

Constança Babo