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VICO MAGISTRETTI NO DIA DO DESIGN ITALIANO
CARLA CARBONE
No âmbito do "Dia do Design Italiano", Lisboa recebeu, entre dia 1 e 6 de Março, no espaço do Centro Cultural de Belém, a exposição itinerante "Svicolando, Homenagem a Vico Magistretti.". Com curadoria de Nadir Bonaccorso, a mesma exposição prepara-se agora para ser levada para a "Casa do Design de Matosinhos", onde estará patente de 14 a 26 de março.
No espaço do Centro Cultural de Belém, reservado para receber as peças de Magistretti, pôde observar-se, ao centro de uma sala ampla, de planta rectangular, duas estruturas em cartão que albergavam reproducões de esboços e desenhos, em grande número, e ainda fotografias de momentos da vida e obra do designer. A circundar estes elementos expositivos encontravam-se, também, expostas peças emblemáticas do designer, como a peça Atollo, ou a peça Elisse. Peças estas que compreendem um período importante de afirmação do design moderno italiano.
Vico Magistretti, candeeiro de mesa Atollo, 1977. Fotografia Courtesia Oluce.
Vico Magistretti foi um designer que, em conjunto com Marco Zanuzo e Achille Castiglioni mais contribuiu para o sucesso internacional do design Italiano.
O início do seu percurso projectual foi marcado pelo exercício da arquitectura, tendo amadurecido, nos finais dos anos 50, com a prática do design de mobiliário.
Pela personalidade inovadora patente nos seus projectos, Magistretti ainda é hoje fonte de inspiração para muitos designers, assim como assunto de interesse para críticos e historiadores de design.
Muitas das suas peças, não se furtam a uma preocupação de reconstituição da memória, de contextualização cultural e histórica, além das habituais preocupações de ordem técnica, estas mais comuns no exercício do design.
As peças presentes na exposição revelam um esforço do designer, sobretudo nas primeiras décadas (anos 50/60, do século XX) no sentido de uma suavização do racionalismo que então imperava, e de um restabelecimento do diálogo da memória com a modernidade. O que não quer dizer, com isto, que Magistretti fosse um designer insensível aos avanços da técnica, aos desafios apresentados pelos novos materiais, ou até, às exigências dos principais problemas que afectavam o design naquele momento. Muito pelo contrário. Magistretti, acompanhado na altura por Achille Castiglioni, Marco Zanuzo, Tobia Scarpa, procurava humanizar o design, e a própria arquitectura. Sem ser um activista convicto, o certo é que ajudou, com os seus projectos, a trilhar novos caminhos no pensamento do design e a reforçar a ideologia de que o design era mais do que uma mera reprodução de um estilo internacional (nomeadamente da escola de ULM) que se provava frio e separado da vida, e que em nada traduzia uma realidade popular italiana. Há o episódio da Villa Arosio (1959), obra arquitectónica de Magistretti, que despertou muitas reacções, sobretudo pelos modernistas ortodoxos, quando decidiu integrar no edifício elementos e motivos vernáculos. Magistretti possuía uma intuição conceptual, aspecto que, conscientemente, o levava a lidar com o projecto segundo uma forma totalmente empírica. Ciente do contexto e dos aspectos particulares que implicavam cada desafio, o designer procurava responder, também de forma específica e particular, a cada um dos seus projectos. O racionalismo de Magistretti não o impedia, por isso, de responder, com elegância e simplicidade, às exigências de um produto, salvaguardando nomeadamente a expressão de individualidade, também importante nos objectos.
Vico Magistretti, candeeiro de mesa Eclisse,1966.
Em 1966 Magistretti começou a desenhar mobiliário em plástico. As mesas "Demetrio" foram as primeiras peças em que o designer usou a técnica de moldagem por injecção, permitindo, segundo Gillo Dorfles, à "criação de formas de essencial pureza". Esta possibilidade de multiplicação de formas essenciais facilitou o trabalho do designer, dado o seu gosto por formas geométricas puras. Como podem constactar-se pelos candeeiros Eclisse de 1965. uma iluminação de mesa de cabeceira, cuja intensidade de luz é regulada e onde podem observar-se a justaposição de formas geométricas. Três meias esferas, uma que faz de base, e as outras duas que regulam o fluxo da luz. Magistretti "brinca" com a luz, e é observável a sua efectiva influência sobre as formas das coisas.
Também visível esta atenção pela luz, na peça Atollo, 1977. Patente na exposição, e com difusor de luz a negro. Mais uma vez constacta-se a composição geométrica simples. Conservando a estrutura do candeeiro tradicional, de abajour, Magistretti depurou a forma até esta se tornar uma escultura abstracta. Evidenciando a subtileza das formas e luz, e a elegância - típica neste designer -ao ligar, numa junção fina, o difusor negro de luz à base de suporte do candeeiro.
Carla Carbone
Estudou Desenho no Ar.co e Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Completou o Mestrado em Ensino das Artes Visuais. Escreve sobre Design desde 1999.