Links

PERSPETIVA ATUAL


Mark Manders e Roger Willems, “Newspaper with Fives”, 2001


Mark Manders e Roger Willems, “Newspaper with Fives”, 2001


Mark Manders, “Chair/Staged Android (reduced to 88%)”, 1996-1998. Metal, madeira e outros materiais. Colecção de Van Abbemuseum, Eindhoven.


Marc Nagtzaam, “(Single Objects)”, 2005


Oksana Pasaiko, “Short Sad Text” (inspirado nas fronteiras de 14 países), 2004-2005. Cabelo sobre sabão. Colecção da artista.


Marije Langelaar, “De Rode Hamer Club”, 2005


Mark Langelaar, “Birthday scene for Jara”, 2002. 60 diapositivos. Colecção de Mark Manders e Marije Langelaar.

Outros artigos:

2024-11-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2024-10-21


AISHWARYA KUMAR


2024-09-21


ISABEL TAVARES


2024-08-17


CATARINA REAL


2024-07-14


MAFALDA TEIXEIRA


2024-05-30


CONSTANÇA BABO


2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



UM LUGAR ONDE AS COISAS PODEM NÃO TER FIM. TRêS IDEIAS SOBRE ROMA PUBLICATIONS



JOSÉ BÁRTOLO

2006-08-17




Um lugar onde as coisas podem não ter fim (1)
Três ideias sobre ROMA Publications

1. A Galeria 1 da Culturgest acolhe, numa área de aproximadamente 700 metros quadrados, a exposição ROMA Publications (2). Trata-se de um acontecimento digno de nota por, pelo menos, duas razões: pelo interesse do projecto ROMA Publications e pela pertinência das questões que subtilmente tal projecto coloca; pelo carácter excepcional que as exposições de design gráfico têm em Portugal. Concentremo-nos na primeira, as razões da segunda ficarão para um outro texto.

ROMA é um acrónimo criado a partir das duas primeiras letras dos nomes próprios de Robert Willems e Mark Manders que em 1998 criaram oficialmente um projecto editorial sui generis na medida em que o trabalho de edição funciona como espaço de ancoragem de ideias, pessoas e projectos que partilham afinidades. Se à primeira leitura, uma certa arborescência do projecto ROMA o parece indefinir, sob um olhar mais atento há um sentido que deixa revelar uma espécie de espaço imaginário, fisicamente esquivo, que funciona como lugar ad quem e ad quo da ROMA, esse espaço é o design concebido como horizonte de comunicação utópica e, neste sentido, espaço que se procura manter imune às regras do mercado da arte e do design.

O modo a partir do qual, habitualmente, procuramos compreender alguma coisa corresponde a um processo de definição. Estabelecendo identidades e diferenças, forçamo-nos por reduzir a complexidade das coisas à (pelo menos aparentemente) simplicidade de uma definição. Tal definição, se apressada, torna-se relativamente ao projecto ROMA não apenas difícil como desaconselhável. Três exemplos: 1) Difícil e desaconselhável é a anulação das especificidades do projecto de Mark Manders e Roger Willems integrando-o, sem mais, na (in)definição do design holandês. Se por um lado existe uma espécie de dutch touch que perpassa por muita da produção gráfica holandesa, por outro lado essa cultura de design corresponde mais à coexistência de diferentes linguagens e de diferentes perspectivas sobre o design e, muito menos, a efeitos de replicação do mesmo. É indiscutível que o projecto ROMA herda tesouros da cultura do design holandês - que em traços gerais podemos caracterizar reconhecendo a existência de: a) uma fortíssima tradição projectual recente à qual podemos associar os nomes de Wim Crouwell (3), Berry van Gerwen ou Michiel Uilen; b) a existência de uma “cultura pública” de design gráfico, pensemos nas identidades corporativas desenhadas pelo Dumbar Studio, na riqueza dos cartazes de espectáculos (uma série deles desenhados pelos estúdios Mevis & Van Deursen ou AAP Designers fazem já parte da história do design gráfico), na profusão de elementos de comunicação urbana (flyers, stickers, tags), nos inúmeros eventos públicos como os organizados pela Mediametic; c) a existência de apoios e instituições protectoras do design editorial como a CPNB (Foundation for the collective promotion of the Dutch book), bem como a existência de inúmeros museus e galerias com lógicas de funcionamento e processos de fidelização de públicos muito interessantes; d) a existência de uma “cultura crítica” responsável pela teorização da prática, garante do seu enriquecimento e dinamização, pensemos, por exemplo, em autores como Max Bruinsma ou Mieke Gerritzen – mas sabe pôr a herança a render, sabe, a um tempo, honrá-la e relacionar-se com ela com a criatividade e o pragmatismo do deserdado. 2) Difícil e desaconselhável é, também, procurar pensar o projecto ROMA Publications “apenas” como um projecto editorial e, tarefa ainda mais desaconselhável, como um entre muitos projectos editoriais de pequena dimensão e espírito independente existentes na Holanda. É verdade que, sem dificuldade, podemos encontrar outros projectos editoriais que, confundindo-se um pouco com a actividade dos seus dinamizadores, ganham uma dimensão quase rizomática, isso acontece com editoras de maior dimensão como a 010 Publishers (que reflecte o dinamismo e os interessses de Hans Oldewarris e Peter de Winter) ou a Em. Querido’s e acontece, de um modo mais evidente, com editoras menores e ateliers de design (e até mesmo escolas como Jan van Eyck Akademie) com forte dinâmica editorial como Veenman Publishers ou a [Z]OO Producties. No entanto os mínimos denominadores comuns que possamos identificar nos vários projectos serão sempre desviantes relativamente à efectiva compreensão daquilo que autenticamente mobiliza cada um deles. 3) Difícil se torna, finalmente, uma definição disciplinar que limite o campo de trabalho da ROMA. A exposição presente na Culturgest é, a este título, claríssima. Ali coexistem a presença de vídeos, desenhos, esculturas, fotografias, instalações, intervenções site-specific, livros e jornais. Cada obra é desafiante, porque nela se representa um jogo marcado por tensividades entre o papel do autor e do espectador; entre o estatuto da cópia e do original; entre a interdição e a permissão; entre a rigidez ideológica e a abertura utópica. ROMA é assim espaço de encenação de uma forma de comunicação que partindo de referências canónicas sobre a obra de arte, sobre o artista e as lógicas de exposição, as repensa a partir do envolvimento de referências de design (entendido, à maneira de ULM como acção socialmente eficaz), assim se constrói o território que é ROMA e as suas premissas críticas: da tensão entre autor/espectador resulta a intenção de gerar um projecto colectivo, a obra dá-se a aberturas relativamente ao receptor que assim a pode continuar seja fisicamente seja conceptualmente; da tensão entre original/cópia, promove-se a valorização do que é reproduzido, apelando ao reconhecimento de uma aura que individualiza a cópia e a torna única, o que envolve, necessariamente, a acção do receptor-autor; à tensão entre interdição e permissão, defende-se um envolvimento responsável, esquissando-se formas de responsabilidade que, por vezes, se parecem com formas de intimidade; à tensão entre rigidez ideológica e abertura utópica, propõe-se uma ética comunicativa, participada, perspectiva sob a qual a democracia e a amizade se tendem a aproximar.


2. Para a exposição da Culturgest a ROMA Publications concebeu um livro, o seu título: “Books make friends/Os livros fazem amigos”. Poderá ser considerado o catálogo da exposição na medida em que nele encontramos a apresentação dos 90 livros publicados pela editora, bem como referências aos trabalhos não-editoriais expostos e textos (de Miguel Wandschneider, de Christoph Keller e um último e excelente de Dieter Roelstraete) sobre o projecto. No entanto, este livro é subsumido pela exposição, tornando-se dela constitutivo. Coisa estranha num catálogo que, tradicionalmente, tende a explorar distanciamentos sobre a exposição de modo a permitir a sua inteligibilidade.

Desta forma “Os livros fazem amigos” constitui-se não tanto como catálogo que nos remete para a exposição, mas como um fragmento da própria exposição, um de entre noventa. Esta numeração dos livros, por sua vez, cedo se revela despistante para o espectador: por um lado porque cada livro fez parte de uma tiragem que permite a multiplicação do mesmo; por outro lado porque aos livros se chega e dos livros se parte, pela Galeria da Culturgest há folhas, fotografias, esculturas cujo sentido se constrói tecendo ligações de alguns desses objectos para determinados livros e de determinados livros para certos objectos.

A partir de um processo de possível duplicação continua do sentido dos objectos expostos, apresentados como “duplos” - como a escultura de Mark Manders “Chair/Staged Android (reduced to 88%)” que sabemos ser uma reconstrução a 88% de uma peça entretanto destruída, como na extraordinária “Paralell Encyclopedia” de Batia Sutter que se constitui como uma espécie de projecto taxinómico de exploração de semelhanças entre disemelhantes ou, ainda, como o lindíssimo “Short sad text (based on the borders of 14 countries)” onde vemos uma de duas peças de Oksana Pasaiko ao mesmo tempo que sabemos ter sido a outra peça largada numa casa de banho pública em Oslo – a partir, também, de um processo de construção de alteronímias – o exemplo simbolicamente flagrante é dado pelas quatro séries de fotografias da autoria de Marije Langelar, autor fictício que representa a união de dois autores representados na exposição – a partir destes processos o visitante da exposição é, assim, convidado a encontrar afinidades electivas entre o que está presente e o que está ausente e nesse jogo é o próprio espectador que entra (consciente ou inconscientemente) no processo de autoria.

O projecto ROMA Publications alicerça-se em posições que embora subtilmente apresentadas se tendem a revelar muito claras: a afirmação de uma autoria colectiva associada às obras de arte e de design. As obras não são terminadas no momento em que um determinado autor as liberta, elas dão-se a ser continuadas e permanentemente modificadas. O museu ao impor regras artificiais de conservação (como a vitrina que protege o sabão de “Short sad text”) apenas consegue fixar um momento da vida da obra, agarrar uma determinada cristalização, na certeza de que a existência autónoma da coisa não pode ser prevista nem controlada, o que ela é apenas pode ser aproximadamente construído pela nossa imaginação (como quando imaginamos diferenças entre o sabão exposto na Culturgest e aquele que foi deixado na casa de banho de Oslo) mas esse exercício não nos aproxima do “estado actual” do objecto mas antes nos confronta com uma imagem que, uma vez materializada, se tornará uma outra obra.


3. ROMA Publications é uma exposição sobre livros e uma exposição cheia de livros, democraticamente dispostos de várias formas, horizontalmente, verticalmente, abertos, fechados, que podemos olhar e tocar. Há livros de diferentes cores e tamanhos, há livros que nos atraem pelo apelo visual das capas e há livros sem capa como se alguém as tivesse tomado para si tornando-as parte – quem sabe? – de um outro livro, há livros que são só uma imagem e há livros que são só texto, elegantes manchas tipográficas a partir de tipos de letra familiares (Helvética, Times, Futura), há livros em devir-música e há muita coisa – ideias, memórias, desejos, mãos, dedos e olhos – em devir-livro. ROMA Publications é uma exposição sobre livros, dissemos. Nela se conta de novo a história da bela adormecida, ou melhor, da beleza que aguarda ser despertada em alguns livros. O seu príncipe, já o sabemos, é o leitor e o beijo corresponde a uma particular tarefa interpretativa a partir da qual a relação entre o leitor e o livro se consuma. Ler corresponde, na expressão de Hamann, a salvar o livro da morte: retira-se da morte o que se reconhece vivo, o que se vivifica. A exposição ROMA Publications lança, secreta mas insinuadoramente, ao visitante esse chamamento para que ele não se limite a olhar o que está exposto mas que procure ver. Que procure naqueles caminhos os seus caminhos, que encontre por entre pequenos pensamentos tristes os seus próprios pequenos pensamentos, que descubra, naqueles (como noutros) livros, lugares. Lugares onde as coisas podem não ter fim.


José Bártolo
Professor e investigador de design e cultura visual




NOTAS
(1) O título deste artigo remete para uma frase citada por Christoph Keller numa carta dirigida a Roger Willems que se encontra reproduzida em “Os livros fazem amigos”. A frase original é: “um lugar onde as coisas não podem chegar ao fim”.
(2) A exposição foi comissariada por Miguel Wandschneider, Mark Manders e Roger Willems e corresponde, em grande medida, a uma “expansão” da exposição de Roma Publications que em Abril teve lugar no S.M.A.K de Ghent.
(3) O designer holandês Wim Crouwell esteve em Portugal em Junho, tendo proferido uma palestra na ESAD de Matosinhos integrada no excelente ciclo “Personal Views” comissariado por Andrew Howard e que já trouxe a Portugal nomes decisivos para a compreensão do design gráfico como Ken Garland, Katherine Mccoy, Steven Heller ou Hamish Muir.