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FRANKFURT: DOUBLE KABINETT FÜR AKTUELLE KUNSTLUÍSA SANTOS2009-09-13Sobre a exposição “Seestücke” (7 Julho - 13 Setembro 2009), parte da série de nove mostras “Double – Kabinett für aktuelle Kunst, Bremerhaven: 40 Years”, sob a curadoria de Gregor Schneider e Moritz Wesseler, iniciativa do MMK (Museum für Moderne Kunst) de Frankfurt A série de exposições “Double – Kabinett für aktuelle Kunst, Bremerhaven: 40 Years” começou em Março deste ano e prolonga-se até Outono do próximo ano no MMK (Museum für Moderne Kunst), em Frankfurt am Main. O ponto de partida desta série de nove exposições é a reconstrução de exposições feitas especificamente para o Kabinett für aktuelle Kunst, Bremerhaven (Sala para arte contemporânea em Bremerhaven), uma plataforma não comercial para exposições de arte contemporânea, fundada em 1967 por Jürgen Wesseler. No contexto da série, o trabalho artístico de Gregor Schneider toma uma posição de espaço expositivo em si, levantando questões sobre a especificidade temporal e espacial da obra de arte. O Kabinett für aktuelle Kunst foi um fórum para a arte de vanguarda dos anos 60 e 70, a nível nacional e internacional. Foi um dos espaços pioneiros na exploração da dicotomia “público - privado” e na transformação de um espaço originalmente comercial num espaço assumidamente não comercial. Originalmente uma loja com trinta e três metros quadrados de área total, recebeu artistas como Gerhard Richter, Hanne Darboven, Sigmar Polke, Bernd & Hilla Becher e On Kawara nas fases iniciais das suas carreiras. Dois anos depois da sua apresentação no Kabinett em 2001, Gregor Schneider repetiu, num re-enactement, a sua exposição performativa “N Schmidt” em Frankfurt. Na última década, o termo re-enactement e a sua prática têm tido um crescente uso no contexto artístico. Este uso acontece lado a lado a um regresso ao interesse pela performance, tanto enquanto género praticado pelas novas gerações como prática artística histórica. Por outro lado, o termo re-enactement acompanha dois fenómenos que, à primeira vista, têm pouco em comum: a repetição de performances artísticas que já foram feitas e a realização, com recurso ao meio da performance, de eventos ligados à história ou ao momento presente, sempre num comentário sociopolítico. Neste contexto, Gregor Schneider instalou de modo permanente a sua versão do espaço Kabinett no MMK. Esta interpretação forma o contexto espacial para a série de exposições, estratégia de duplicação dá o título à mesma série: “Double” de modo a que cada repetição, interpretação ou reinterpretação (no caso das performances, i.e.) de uma obra, de uma exposição e, neste caso, de um espaço, é o duplo (double) do original. A primeira exposição da série, “Objects” (7 Março - 26 Abril 2009), consistiu na apresentação de trabalhos do escultor e fotógrafo Reiner Ruthenbeck (n. 1937 em Velbert, Alemanha), apresentados pela primeira vez em 1971 no Kabinett. A segunda exposição da mesma série aconteceu entre 5 de Maio e 28 de Junho sob o nome “Towards a reasonable end”, título do trabalho de Lawrence Weiner também mostrado pela primeira vez no Kabinett für aktuelle Kunst em Bremerhaven em 1975. Mas não só a reconstrução de exposições que foram criadas especificamente para o Kabinett é comum a todas as exposições da série de nove. Também objectivo e aspecto unificador de “Double” é o facto de apresentarem sempre obras adquiridas ou de algum modo relacionadas com a colecção do MMK. De 7 de Julho a 13 de Setembro de 2009, o espaço construído por Gregor Schneider acolhe o que foi a terceira exposição individual de Gerhard Richter, intitulada “Seestücke” (1975), que teve lugar no Kabinett, em Bremerhaven, logo depois da exposição do seu “Farbtafeln” (1971) e da pintura monumental (250 cm x 625 cm) “Parkstück” (1971). Os dois trabalhos “Seestücke” (paisagens marítimas) apresentados no MMK fazem parte do grupo de obras de paisagem de Gerhard Richter. O tema da paisagem foi caro ao artista desde os primeiros passos na sua carreira, tendo sido interpretado e reinterpretado em modos diversos em representação, da mais fiel ao real à mais abstracta, em pequenas e em grandes dimensões. Os dois “Seestücke” aqui apresentados e realizados em 1975 são mais do que mera ilustração do fascínio de Gerhard Richter pelas paisagens marítimas, um tema que tem interessado inúmeros artistas ao longo da história da arte. Estes dois trabalhos específicos são uma referência directa a Bremerhaven enquanto cidade costeira do Norte da Alemanha. Tal como na exposição anterior, com os dois trabalhos escultóricos (texto em escultura) de Lawrence Weiner, também esta apresentação em par, com uma tela de grandes dimensões perante a outra, tal espelho, reforça a ideia do título das séries: “Double”. As duas pinturas, ambas com base em fotografias do mar (método a que Gerhard Richter se manteve fiel ao longo dos seus temas e fases, na sua exploração das relações entre a fotografia e a pintura enquanto meios), mostram uma vista em aberto para o mar. Apesar da dimensão, a visibilidade é francamente reduzida pela falta de definição das formas e movimentos, como que um nevoeiro, também comum às pinturas de Richter. A ondulação do mar e o céu coberto de nuvens são como que encobertos por um véu de névoa numa atmosfera onírica. Nesta exposição, estão também obras de raro acesso público, em empréstimo ao MMK por colecções privadas. O museu tem vindo a adquirir obras de Gerhard Richter ao longo das últimas décadas. Deste modo, a terceira exposição da série “Double” cumpre o segundo papel a que se propôs quando teve início: mostrar aspectos da colecção do MMK. Luísa Santos |