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FIAC 2007 CAP. I: JUST BUY IT! OU ARTE PARA TODOSSÍLVIA GUERRA2007-10-20Paris de 18 a 22 de Outubro Grand Palais, Cour Carré du Louvre Eventos associados: Show-off, Espace Pierre Cardin, Campos Elísios A FIAC voltou para trazer centenas de coleccionadores a Paris. Começou esta semana, e de novo sob a direcção de Martin Bethenod e Jennifer Flay, a 34ª Feira Internacional de Arte Contemporânea. Este ano as estatísticas são as seguintes: 179 galerias vindas de 23 países, sendo 76 as galerias francesas e 103 as galerias do resto do mundo que produzem ou vendem arte contemporânea. Portugal encontra-se representado pela Galeria Cristina Guerra Contemporary Art, de Lisboa. Os 18 novos expositores provém na sua maioria de Nova Iorque, o que demonstra a atracção ainda hoje existente entre as duas capitais e algumas das mais influentes galerias parisienses têm uma segunda sede na Big Apple (caso da Yvon Lambert e da Lelong, entre outras, e vice-versa, como por exemplo a galeria americana Marian Goodman). Estas novas admissões na restrita lista de expositores da FIAC são a prova do poder económico destas galerias, bem como do seu prestígio internacional, pois os stands nos espaços nobres do Grand Palais não desceram a fasquia de preços por metro quadrado. A nossa Ministra da Cultura talvez não dê um salto a Paris para ver o que se vende, ao mais alto nível financeiro, no eixo Paris-Nova Iorque-Berlim- Londres- Zurique, mas o comissário Alexandre Melo encontrava-se quarta-feira à tarde no stand da galeria portuguesa, com um sorriso nos lábios. Para além dos artistas portugueses representados pela Galeria Cristina Guerra temos expostas duas esculturas monumentais de Joana Vasconcelos (a brilhar na imprensa nacional francesa - com fotografia no “Le Monde” de 18 de Outubro) e a presença de Pedro Cabrita Reis, nos Jardins des Tuilleries e no primeiro dos eventos que abriu paralelamente à FIAC, o SHOW-OFF onde está também representado o jovem artista português Marco Godinho. Feita a referência às presenças nacionais que este ano deverão atrair à FIAC uma grande comitiva de coleccionadores lusos, membros da sucursal portuguesa da ADIAC (Associação para a Difusão Internacional da Arte Contemporânea) ou conselheiros culturais das recentes fundações privadas portuguesas, começarei mais um périplo pelos locais oficiais e alternativos desta FIAC de modo a permitir aos leitores da Artecapital fazer uma visita virtual ao acontecimento mais mundano da vida artística francesa. Este ano mantêm-se os dois eventos off: o SHOW-OFF no Espace Pierre Cardin e a SLICK Art Fair nos espaços da Bellevilloise. O polémico evento que abalou esta edição foi o surgimento de uma manifestação, não abençoada pela organização da FIAC, que sob o nome “Les Elyséees de L’art”, apresenta 51 galerias dedicadas à arte moderna e contemporânea em tendas gigantes no percurso que vai do Grand Palais a Concorde, nos Campos Elísios. Este aparecimento sem anúncio prévio deu origem a um processo judicial desencadeado pelos organizadores da FIAC, mas a batalha foi ganha pelos independents, tal como no tempo do governo de Napoleão III em que o Salão dos Recusados onde se expunha “Olympia” de Manet e as obras de Courbet se apresentaram contra a indignação da arte oficial. Curiosamente os “Elysées de L’art” situam-se ao lado da exposição monográfica sobre Courbet que se realiza na outra ala do Grand Palais. Este ano quem decidiu atrair em primeiro lugar as bolsas dos coleccionadores foi o SHOW-OFF que fez uma Preview no dia 16; e por volta das 16 horas da tarde alguns galeristas afirmavam já ter vendido tudo. O número de expositores também cresceu. Estão as habituais galerias de renome parisiense como: as Filles du Calvaire e Magda Dinasz que abriu o percurso com uma exposição individual do colectivo de artistas Ultralab, que também expõe no Jeu de Paume até Dezembro. A fotografia volta a ocupar um lugar privilegiado nesta feira pois vendem-se pequenas tiragens em séries de 4 ou 5 que rondam os mil euros. As obras em vídeo são raras com excepção do humorístico “Marie” de Pascal Lievre. Em relação aos prémios a novidade é o do Gruppo Campari que se soma à lista dos galardões promovidos pelas entidades privadas, como o famoso Prémio Marcel Duchamp, que tem honras de exposição no Centre Georges Pompidou. O ambiente partilhado nesta inauguração, realizada exclusivamente para jornalistas e Vips, era o de um “cocktail party” de fim-de-tarde de Outono, entre as folhagens douradas dos Campos Elísios, já para não citar as folhas caídas de Almeida Garrett. Na quarta-feira, às 11 da manhã, a Instituição abriu as portas da sua sede nobre aos coleccionadores. E os nomes dos artistas começam a ser conhecidos do público geral: Marina Abramovic, Mario Merz, Gregor Schneider, entre tantos outros. O stand com maior clientela e com direito a performance activa pelas assistentes da galeria foi o do francês Emmanuel Perrotin que expõe as obras de Wim Delvoie como se fossem “souvenirs” da Disneylândia. O artista alude ao grafismo Disney nas iniciais do seu nome e criou exclusivamnte para este evento uma série de modelos da sua “Cloaca” em dimensões reduzidas sob a forma de bonecos de plástico produzidos na China e vendidos a 275 euros. É a democratização total do preço da obra de arte e o “iconizar” pop do “Made in China”. A fronteira do coleccionador de arte pode ser atravessada pelo comum dos mortais sem contas na Suiça. Já não se trata da desmistificação da obra de arte por um processo duchampianno mas a sua acessibilidade económica. A arte torna-se lúdica como uma boneca “Barbie” podendo ser adquirida por qualquer um de nós, mantendo a sua qualidade artística mesmo quando produzida em larga escala. Mas o meu deambular pelo Grand Palais continuará nos próximos dias… Sílvia Guerra |