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ARTE LISBOA - ALGUMAS OBSERVAçõES PóSTUMAS E VOTOS DE FESTAS FELIZES PARA AS INAUGURAçõES SIMULTâNEASSÍLVIA GUERRA2007-11-17No Inverno mais quente da Europa Ocidental, a Arte Lisboa teve este ano duas participações de galerias do país irmão que, por certo, não nos trouxeram o que de melhor tem hoje a arte contemporânea do Brasil para nos oferecer, como as obras de Ernesto Neto ou de Cao Guimarães. Todavia pautaram as lacunas internacionais da Arte Lisboa. Ainda assim não poderemos dizer que algumas das presenças espanholas como a galeria Mito, com as esculturas de Steve Gibson, tenham contribuído para os momentos altos deste certame. No entanto, foram 60 as galerias presentes na feira e foi com esta representação colectiva do mercado da arte que o público se confrontou este ano. Quem esteve lá? Vamos começar pelas galerias “clássicas” e já com diversas décadas de história no panorama luso: A Galeria 111, a nossa mais antiga galeria comercial, como é referido no Cátalogo da Feira (à venda por 20 euros), ainda fundada durante o período “de costas voltadas para a Europa” do regime salazarista (1964). E que apesar das contrariedades com o Governo de então, nunca fechou as suas portas. Este ano apresenta os trabalhos de uma das artistas escolhidas para os Project Rooms de Isabel Carlos: Ana Vidigal. A Alvarez (1954), a nossa outra pioneira representa o coerente desenvolvimento pictural de Jaime Isidoro entre o seu leque de artistas. A Fernando Santos continua com os clássicos da arte contemporânea portuguesa tais como: Alberto Carneiro, Rui Sanches e Pedro Cabrita Reis (o Omnipresente). E analisando a crononologia estabelecida pelo artista Miguel Leal numa das suas obras em que data o nascimento dos artistas representados por esta galeria, verificamos que as gerações presentes nesta casa são anteriores aos anos 70 do século XX, ou seja são valores confirmados pré-revolucionários. A Quadrado Azul apresenta os incómodos retratos físicos de Paulo Nozolino, onde se cruza numa cicatriz a vida e a morte, e as telas João Querioz, sempre mais diluídas no espaço-cor. O que me inquieta nesta feira é que todas as obras, mesmo as dos artistas mais irreverentes, apresentam-se num formato clássico e se possível emoldurável num pequeno T2 do Campo Grande. Na Arte Lisboa não existe um espaço dedicado exclusivamente às galerias jovens, o que parece envolver todas pela formatação do comprador médio. Ora os preços, no entanto, superam os das obras mais vendidas na FIAC, onde nos espaços nobres da Cour Carré e do Grand Palais se podia aceder à arte contemporânea por menos de 500 euros. Um outro facto curioso é a aversão inconsistente de alguns agentes culturais portugueses ao “Mercado”. Ora, hoje, é difícil a um artista viver como Van Gogh, pois os actos de loucura “Artaudianos” são esporádicos e sem relevo mediático e a imprensa continua a ser a nossa única fábrica de mitos nacionais. Excepções sejam feitas a algumas galerias como a Vera Cortês Agência de Arte que me abriu a curiosidade pela exposição e trabalhos de Catarina Dias; a VPFCream Arte que expõe os últimos trabalhos dos artistas por ela representados e ainda mais alguns, como Gustavo Sumpta, mais uma vez performer do absurdo, desta vez em formato vídeo. E a recente 3+1 Arte Contemporânea, um projecto luso-brasileiro neófito ao qual desejo boa sorte para o futuro. De resto tenho que observar que a galeria Filomena Soares que se apresentava na entrada da feira foi um dos melhores stands a nível dos trabalhos expostos e de accrochage. A Lisboa 20 Arte Contemporânea ofereceu-nos uma mala armadilhada, no seu disfarce passe-partout, criada por André Guedes. E com esta mala parto para ver o que oferece o Porto neste fim-de-semana em montagem de inaugurações simultâneas. Um desejo: espero que os Project Rooms, uma das melhores iniciativas desta 7ª edição da Arte Lisboa, não fiquem localizados no próximo ano no final dos quilómetros de stands, todos alinhados ao lado das revistas e do café que infelizmente recriava um ambiente de decadência lusa. We’ll meet again at Bologna or in ARCO or in Basel ! Longa vida às feiras! Sílvia Guerra |