Links

PERSPETIVA ATUAL


Cartaz


Yan Pei Ming, "Pirates Flags" , 2006


Liz Larner, "Reflector Wizards", 2005


Alfredo Jaar, "Geography=War", 2006


Vivan Sundaram, "12 Bed Ward", 2005


Thomas Hirschhorn, "RE", 2006


Stencil

Outros artigos:

2024-11-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2024-10-21


AISHWARYA KUMAR


2024-09-21


ISABEL TAVARES


2024-08-17


CATARINA REAL


2024-07-14


MAFALDA TEIXEIRA


2024-05-30


CONSTANÇA BABO


2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



BIACS2 - À ALEGRIA DOS SONHOS DE SZEEMANN SEGUIU-SE A INSóNIA DE ENWEZOR



CRISTINA CAMPOS

2006-12-15




Uma viagem em direcção ao Sul, rumo à capital da Andaluzia, proporciona - até 08 de Janeiro - uma visita à 2ª edição da Bienal Internacional de Arte Contemporáneo de Sevilla (BIACS2). Okwui Enwezor, director artístico da mostra, teve menos de um ano para montar todo o projecto e seleccionou 91 artistas (Thomas Ruff, Thomas Schütte, Gerhard Richter, Steve McQueen, Alfredo Jarr, Thomas Hirschhorn, Renée Green, entre outros) provenientes de 35 países que produziram cerca de 400 obras em exibição entre o Monasterio de la Cartuja (na Isla Cartuja) e as Reales Ataranzas (centro histórico da cidade, novidade nesta edição). A maioria das quais, sob diversos suportes, foram concebidas especificamente para a bienal. Dos 91 artistas, sete são espanhóis e destes quatro andaluzes. Portugal não está representado (em 2004 Pedro Cabrita Reis e João Pedro Vale participaram) nem qualquer artista/país da lusofonia.

“Lo Desacogedor. Escenas fantasmas en la sociedad global” foi a temática escolhida por Okwui Enwezor (nascido na Nigéria em 1963, a residir nos EUA e responsável pela última edição da Documenta e pela 2ª Bienal de Joanesburgo) para dar o mote à mostra. Depois de, na edição anterior, o mediático Harald Szeemann (falecido o ano passado e responsável pela incontornável “When attitudes becomes form: live in your head”, pela Documenta 5 e por duas edições da Bienal de Veneza) ter optado por “La Alegría de mis sueños”, Enwezor seleccionou uma temática bastante menos cativante, mais complexa e, consequentemente mais hermética – com teor marcadamente político e com inevitável enfoque na violência e na destruição. Pretendeu reflectir sobre as novas relações sociais, políticas e culturais que emergem no mundo globalizado; sobre a coexistência deste com a inevitabilidade do sentimento de estranheza, de constrangimento e desapego que surge face ao desconhecido. Sugeriu uma análise da sustentabilidade das especificidades locais face à massificação, dos mecanismos de absorção e reclusão implícitos. Mais concretamente foram propostos quatro blocos temáticos principais: “Individualidade e Isolamento”; “Rebelião contra as imposições totalitárias”; “Identidade e Diversidade” e “Geografia da Tensão”. O conceito de “adjacência” foi igualmente crucial (definido enquanto importância sintomática de viver ao lado de, fora de ou dentro de um determinado espaço-contexto). Propôs, finalmente, avaliar a forma como a arte contemporânea se relaciona com todos estes factores, considerando impossível e incompreensível, qualquer estratégia de alheamento. Interessou-lhe também mais, como o próprio afirmou, a intensidade do imediato do que a lógica da meditação e isso reflecte-se na maior parte das obras em exibição.

A visita à BIACS - este ano dividida entre os dois espaços expositivos que unem as margens do rio Guadalquivir - iniciou-se pelo Monasterio de la Cartuja (sede do Centro Andaluz de Arte Contempóraneo - CAAC) – construção que remonta ao século XIV e tem associado um passado religioso, militar e industrial (foi uma importante fábrica de louça e porcelana no século XIX). A chegada ao complexo histórico deve fazer-se pela Pasarela de la Cartuja que apresenta uma instalação de Yan Pei-Ming “Pirates Flags”: noventa bandeiras impressas a preto e branco, serigrafadas a partir de aguarelas que representam, entre outros motivos, rostos sofridos de crianças. Bandeiras de pirata (cidadãos sem fronteiras, marginais e usurpadores violentos), um eficiente presságio para o teor dramático das obras que nos aguardam para lá da ponte. No Monasterio o corpo principal da mostra está concentrado num único edifício adaptado e labiríntico, assemelhando-se a white cubes, mas estende-se também a espaços que mantêm a traça antiga (caso de pequenas capelas). Contrariamente à edição anterior, os jardins e restantes espaços circundantes ao complexo não foram ocupados com intervenções. A instalação escultórica inicial “Reflector Wizards” (Liz Larner) é premonitória e bastante apelativa, apresenta uma espécie de armaduras fantasmagóricas concebidas com estilhaços de espelhos que se agitam suspensas e reflectem fragmentos de nós; assemelham-se a monges desintegrados, guardiões do mosteiro. Andreas Slominski seleccionou um conjunto de esculturas que também permitem estabelecer uma conexão directa e bastante eficiente com a temática proposta: peças que funcionam como armadilhas (muitas vezes labirínticas) concebidas para serem implantadas ao ar livre. Afirmações pessimistas da clausura forçada ou por nós imposta, apresentam igualmente alguns sinais de resistência e esperança na fuga. Deixarmos o CAAC com a persistente sensação de constrangimento e mal-estar face ao estado do mundo – a maioria das obras expostas despertam a nossa consciência para o que de mais violento e deprimente o caracteriza.


Os trabalhos em exposição nas Reales Atarazanas – edifício situado no casco antigo da cidade, mandado erguer no século XIII e destinadas inicialmente à construção naval - atenuam esse sentimento de desconforto, afloram-no, senão com mais optimismo, pelo menos com mais humor e leveza. Aqui a informalidade reina, o chão encontra-se lamacento (o que não é difícil, sendo de terra batida), algumas salas estão encerradas pelo efeito da intempérie e vários baldes encontram-se dispersos pelo espaço para recolher a chuva (em jeito de instalações). Destaque especial para uma das intervenções mais surpreendentes de toda a mostra: “Geography=War” de Alfredo Jarr, formada por um conjunto de grandes bidons de metal que armazenam água e reflectem imagens de caixas de luz. Tratam-se de fotografias, de carácter documental, muitas delas rostos de crianças africanas. Jarr pretende enfatizar o facto de que a consciência do espectador ocidental é muitas vezes manipulada e distorcida por interesses de ordem político-económica. De salientar também a instalação da indiana Vivan Sundaram, “12 Bed Ward”; numa sala escura, com luz bastante difusa, estão dispostos doze esqueletos de camas (das quais só resta a estrutura de metal) forradas com solas de sapatos gastos na zona dos estrados. De um efeito contemplativo sugestivo suscita também inquietação, assemelha-se a uma espécie de hospital de campanha, numa batalha perdida, em que dos pacientes só restam as solas dos sapatos (símbolo de pobreza e de exaustivas e penosas caminhadas). Memorável, finalmente, mais uma avassaladora instalação de Thomas Hirschhorn, “Re”, em que é revisitada a experiência do “Musée Précaire Albinet” (bairro Landy, Aubervilliers, França), propondo uma espécie de manifesto sobre o papel do artista na vida pública. Constituída por um amontoado de objectos em que sofás totalmente cobertos com fita adesiva, estantes com livros, televisores e cartazes predominam - para além de imensas folhas explicativas que o visitante é convidado a levar. O projecto pretende levantar questões sobre quatro temas fundamentais: “A Utopia”, “O Outro”, “A Precaridade” e a “Autonomia da Arte”. Uma vez mais com teor marcadamente político, centrado em conflitos bélicos, Hirschhorn transmite a sua absoluta crença na autonomia da arte, na precaridade exclusivamente física e na confluência entre os termos utopia e realidade.

Apesar dos projectos de arte pública serem praticamente inexistentes, um pouco por toda a cidade encontram-se stencils (contabilizámos três distintos) que deixam antever alguma animosidade da população para com a bienal, jogos de palavras como “Lo Desacoged´OR” e “Realmente Desacoged´OR”, acompanhados do mais explícito “Biacs NO, arte todos los dias” ilustram-no. Um dos movimentos organizados que se opõe à bienal, a PRPC (Plataforma de Refléxion sobre Politicas Culturales) agrupa um número considerável de artistas, produtores e gestores culturais de Sevilha que contestam os excessivos gastos com o evento que contabilizou 55% de Investimento Público (cerca de 1,6 milhões de euros dos quais 600.000 foram cedidos pelo Ayuntamento de Sevilla e 500.000 pela Junta), assim como a ausência de uma maior conexão entre a bienal e a própria cidade e a inexistência de uma política de investimento a médio-longo prazo com enfoque na criação de infra-estruturas permanentes de modo a fidelizar potenciais públicos que se tenham conseguido captar - galerias de arte contemporânea, por exemplo, são praticamente inexistentes (a famosa Galeria Juana de Aizpuru - impulsionadora da ARCO e da BIACS – encerrou as portas em Sevilha no ano de 2000, após 30 anos de existência). A constituição de uma colecção de arte contemporânea por parte do CAAC gerou igualmente um conjunto de polémicas centradas no desconhecimento dos critérios que conduziram à selecção. O evento acabou também por ser criticado pelo Consejo de Hermandades y Confradías de Sevilla que acusou a direcção da BIACS de mau uso da liberdade de expressão e de falta de respeito para com as tradições e os sentimentos da cidade (profundamente religiosa, recorde-se), numa clara alusão à instalação de Josephine Meckseper que une os conceitos de sexo e Semana Santa – da instalação faz parte uma peça de lingerie que tem suspenso um crucifixo.

Depois de em 2004 se ter visitado a primeira edição da BIACS parte-se com a sensação de que à alegria dos sonhos de Szeemann se seguiu, efectivamente, a insónia de Enwezor; uma mostra menos cativante e mais hermética que não permite sonhar nem adormecer; mantém-nos despertos a custo, com a esperança de embalar num sono inevitavelmente agitado e previsivelmente confuso. Mas necessário.