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COMMUNIST CHIC, A COMUNIDADE POR VIR? A PROPÓSITO DO PROJETO FORMER WESTROSANA SANCIN2012-07-163rd Former West Research Congress - Part 1 Beyond What Was Contemporary Art 19 a 21 de Abril 2012 Secession, Viena e Faculdade das Belas Artes, Viena FORMER WEST é um projeto de pesquisa, educação, publicação e exposição de longa duração no âmbito da arte contemporânea, cujo objectivo é “reinterpretar criticamente as nossas histórias recentes, pós-1989, e especular sobre os nossos futuros globais. Através da proposição “Former West”, o projeto considera assim o designado Ocidente como uma das províncias do mundo que contribui construtivamente para as narrativas globais, fazendo-o, no entanto, fora das estruturas de dominação. Tendo isto em mente, o Former West pretende iluminar outras possibilidades da arte em relação ao desenvolvimento social e político das sociedades. A terceira edição do Former West Research Congress, com o título Beyond What Was Contemporary Art e organizado pelo BAK - basis voor actuele kunst -, de Utrecht, juntou artistas, coletivos, agentes culturais, académicos num encontro cujo tema de debate foi “a possibilidade da arte sob a condição de “ex-Ocidente”. Neste momento de transição, o projeto criou assim “uma plataforma para tentar falar de maneira diferente sobre e com o mundo”, propondo-se investigar “as novas possibilidades que surgem à partir da ‘formerness’ da arte contemporânea” e refletir sobre a esta pergunta: “Como podemos especular para além do que era a arte contemporânea e agir tendo em conta os novos imaginários resultantes deste processo?” Beginning From the “Formerness” of Contemporary Art A arte contemporânea é entendida como um período na História da Arte, que cobre a arte emergente desde 1989, em paralelo a outras formações hegemónicas como o neoliberalismo, que a tornou possível, mas que também está a aproximar-se do seu fim. O que está então para vir? A palestra principal no dia de abertura coube a Nancy Adajania, a curadora independente de Bombaim conhecida pelo público português por comissariar a exposição Zoom! Art in Contemporary India (Culturgest, 2004). Adajania tem escrito e leccionado extensivamente sobre arte e esfera pública, como também sobre as práticas artísticas transculturais. Em An (Un)timely Meditation: Pointing to a Future Ecumene of Art examinou as questões urgentes da arte, sobretudo quando o poder político deixa as suas marcas por todo o mundo. Segundo ela, temos que ter em conta quatro trajectórias inter-relacionadas quando entramos na condição pós-contemporânea: o colapso do capital neoliberal global, a saliência do Islamismo global, a narrativa da cidadania como foi reconstituída nas sociedades pós-coloniais desde os anos 90, e a narrativa da cidadania nas sociedades ocidentais em “transição”, que encontram o pós-colonial no número crescente de comunidades imigrantes. Tendo por pano de fundo as revoltas recentes no Norte da África e na Ásia Ocidental, Adajania debruçou-se sobre a questão da pertinência da arte desfazer-se enquanto prática distinta e infiltrar-se nas instituições culturais e políticas existentes. I. Organizing a Difference As questões propostas vão desde o modo como a diferença é organizada até quais as possibilidades que decorrem da interligação das práticas artísticas, intelectuais e ativistas e de que forma gerem estruturas diferentes das que existiram até agora no campo da pesquisa, da produção e da sua disseminação. Como têm mudado as estratégias dos praticantes contemporâneos e como são constituídas as novas possibilidades dentro e para além do campo da arte contemporânea? CAMP é um estúdio de prática crítica transdisciplinar de Bombaim. O grupo consiste em artistas e programadores de software que trabalham com a tecnologia e as suas contradições no sentido mais vasto. Neste momento estão também a participar na dOCUMENTA (13). A iniciativa How Art May Construct, foi mais do que uma conferência, constituindo-se como apresentação de alguns projetos do CAMP acerca da noção de “rede”, entendida no sentido que lhe atribuiu Latour: as relações que são construídas pelos atores... Uma rede “rizomática, pegajosa, capilar”, que existe para além das superfícies, domínios, estados nacionais e discursos. Tendo noção dos limites desta descrição – da abertura da rede e da liberdade do ator – os participantes do grupo Camp, questionam ainda como será possível atravessá-los artisticamente. h.arta é um grupo de três artistas, cujos projetos se focam na produção de conhecimento e em modelos educacionais alternativos dentro de um quadro feminista. Os eventos e exposições que organizam pretendem criar novos espaços para a ação e expressão política, e são frequentemente geridos em colaboração com artistas, com ONGs, ativistas de direitos humanos e escolas. A sua metodologia é baseada na amizade, realidade que consideram essencial para a negociação diária de diferenças como também uma afirmação política sobre a solidariedade. Entre os seus projetos, destacam-se uma plataforma de debate, Feminisms: Histories, free spaces, participative democracy, economical justice e um espaço para encontros e debate intitulado Project Space localizado em Timisoara, na Roménia. Na conferência The Everyday Ruptures in the Dominant Order, o coletivo h.arta, questionou através de uma abordagem fragmentada o que poderia ser a arte feminista, em tempos nos quais estamos a assistir ao “crescente sexismo, racismo, homofobia e nacionalismo acelerados pela crise, que serve também para legitimar os discursos neo-conservadores sobre a religião e a família tradicional.” Esta conferência serviu igualmente para abrir o território de Former East (ex-Leste) às suas questões urgentes e teve continuação com Multiple Faces of Feminist Art Against a Neoconservative Backlash, uma resposta à prática artística de h.arta realizada pela curadora, crítica e historiadora de arte de Moscovo, Ekaterina Degot. Colaboradora assídua da Artforum, a autora analisou o recente debate que se iniciou na Rússia com a performance e subsequente prisão da banda musical Pussy Riot, enquanto na Ucrânia, num momento de profunda mudança social, uma importante instituição de arte fechou por causa de duas exposições que trataram a questão do género. II. Speculating Forward Na penúltima sessão, e antes do Fórum Aberto, a filósofa vienense Ruth Sonderegger, cuja investigação se centra na história do conceito de crítica na Filosofia e examina a arte como uma forma possível da crítica, propôs uma série de reflexões sobre os acontecimentos desse dia, e Irit Rogoff, a crítica, curadora e organizadora que trabalha na intersecção da arte contemporânea, teoria crítica e as emergentes manifestações políticas, fechou o dia com a palestra The Expanded Field – Actors, Agents, Platforms. “It questions not only who is involved with cultural practices, but also how we imagine their mode of engagment as moments of intensity that have an affinity with other such moments, and perhaps most importantly, how we can think of the outcome of those practices as a transformative instance.” Mais uma vez, tratou-se de refletir sobre os coletivos artísticos e não sobre a prática artística enquanto realidade tomada a título individual e singular. O campo expandido é co-habitado pelos actores, agentes e plataformas. Ouvimos falar também do “communist chic”. Será esta a comunidade por vir? Rosana Sancin Nota: Mais informação em www.formerwest.org, onde estão disponíveis todas as sessões para assistir online. |