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WEIWEI-ISMS, DE AI WEIWEIMARIA JOÃO GUERREIRO2013-06-04Poderíamos com ousadia afirmar que Ai Weiwei é hoje um fenómeno global. Cada comentário, vídeo, trabalho, expressão de todo o género do artista que é, atualmente, o rosto da resistência na China é alvo imediato de notícia nos media e de aparato contagiante nas redes sociais. Ai Weiwei é, sem dúvida, uma personalidade contagiante, entusiasmante até, devido ao seu caráter criativo e politicamente fervilhante. De opiniões francas, é o homem que faz da sua prática artística uma batalha e que traz para o discurso artístico o discurso do quotidiano, indissociando-os. “Everything is art. Everything is politics”, afirma num dos muitos apontamentos compilados neste Weiwei-isms, livro que pela forma, organização e conteúdo chega a recordar os grandes manuais de pensamentos, máximas e aforismos de tradição oriental. Publicado pela Princeton University Press no final do ano passado e editado por Larry Warsh (colecionador de arte oriental e fundador da AW Asia, organização privada de divulgação de arte chinesa), Weiwei-isms reúne citações do artista extraídas de posts do seu blogue, tweets e entrevistas, e encontra-se organizado segundo seis núcleos temáticos: liberdade de expressão; arte e ativismo; governo, poder e escolhas morais; mundo digital; história, o momento histórico e o futuro; e reflexões pessoais. As declarações de Ai Weiwei presentes neste compêndio revelam de um modo mais particular – nos termos dessa secreta relação que entre autor e leitor sempre se estabelece – que o seu universo privado se confunde com o seu compromisso político. Dedica-se uma parte do livro à brutal experiência de encarceramento de Weiwei em abril de 2011, e sobre a qual o artista tem vindo a dar especial destaque nos últimos tempos, seja, por exemplo, no vídeo musical recentemente lançado sobre o assunto, Dumbass, ou na instalação S.A.C.R.E.D. agora patente na igreja de Sant’Antonio, em Veneza, no âmbito da Bienal, em que explora a violenta violação de intimidade a que foi exposto durante esses 81 dias. Quase em tom de confissão, escreve: “this is something you can never erase. It leaves a scar on you”. O seu testemunho é moderadamente descritivo e procura, acima de tudo, salientar que o terror é um sentimento generalizado. Como diz, “at midnight they can come into your room and take you away. They can put a black hood on you, take you to a secret place and interrogate you, trying to stop what you’re doing. They threaten people, your family, saying: Your children won’t find any jobs”. Nesta edição, têm também lugar reflexões sobre alguns episódios marcantes da história recente da China, como o terramoto de Sichuan ou os Jogos Olímpicos de Pequim (ambos em 2008), que evidenciam o olhar crítico de Ai Weiwei em relação ao governo autocrático do seu país, que considera assumir uma superficialidade perante a comunidade política internacional, enquanto “ruthlessly violates every human’s basic rights to serve its own purpose”. Singularmente transversal, percorrendo a arquitetura, a instalação, a escultura, a música, a curadoria, a fotografia e a escrita nas redes sociais, Ai Weiwei sempre fez do texto uma componente determinante da sua obra, publicando diariamente milhares de fotografias e comentários na blogosfera e no twitter. Como refere, “I want people to see their own power”, sendo, por isso, a sua arte política e um ato de comunicação: “My definition of art has always been the same. It is about freedom of expression, a new way of communication. It is never about exhibiting in museums or about hanging it on the wall. Art should live in the heart of the people”. Maria João Guerreiro |