Links

PERSPETIVA ATUAL


“Return to Sender - Letters from Tentland” (Helena Waldmann)


"Quiet Please!" (Nina Rajarani)


"Lygia chamando" (Suely Rolnik)


"Personal Belongings" (Claudia Fischer) © Henrique Figueiredo


Orquestra Gulbenkian © Henrique Figueiredo


"Woman on the beach" (Hong Sang-soo)


"Tarrafal" (Pedro Costa)

Outros artigos:

2024-08-17


CATARINA REAL


2024-07-14


MAFALDA TEIXEIRA


2024-05-30


CONSTANÇA BABO


2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



€O ESTADO DO MUNDO€ € TRIUNFO DO PÓS-COLONIAL?



JOANA LUCAS

2007-07-15




Antes de mais, e será esta uma das premissas de “O Estado do Mundo”, é necessário baralhar e voltar a dar os conceitos de fronteira, de nação, de cultura e de raça, e outros que possam ter contribuído no passado para a criação e reificação de identidades “étnicas”. É no hibridismo e na mestiçagem que pode assentar a compreensão deste novo mundo, que para lá de globalizado (palavra gasta no vocabulário da contemporaneidade), será mais do que nunca desterritorializado.

Pensar “O Estado do Mundo” e não o “estado da nação”, revela à partida uma preocupação globalista que não encontra uma finalidade redutora nos umbiguismos nacionalistas, e que questiona entre muitas outras coisas os modelos até agora utilizados para lidar com a diferença e com a heterogeneidade nas sociedades que habitamos. A premissa, surge também como indicadora de uma certa ideia de ponto da situação, de balanço necessário após longos anos de convivialidade com alguns conceitos que foram ganhando forma, espessura e peso no vocabulário gasto do “multiculturalismo”.

Assim, na programação apresentada, a ideia de desterritorialização da cultura e da produção artística está presente por exemplo em algumas criações de dança. Assim temos um “Return to Sender” onde a criadora alemã Helena Waldmann parte de um trabalho concebido em Teerão com mulheres iranianas, para o reformular em Berlim ainda com mulheres iranianas, mas desta vez na condição de exiladas, imigrantes ou filhas de emigrantes. Ou também um “Quiet Please” onde a coreógrafa Nina Rajarani de origem indiana a viver em Londres, reinterpreta as danças Bharatanatyam que são tidas como tradicionais em contexto indiano e acelera os seus movimentos em velocidade estonteante no corpo de bailarinos que desafiam os estereótipos entre o que é tido como ocidental e o que é tido como oriental.

Dois exemplos que apenas ilustram a forma como a programação de “O Estado do Mundo” conseguiu manter no geral, mas mais concretamente no decorrer da Plataforma 2, recentemente terminada, uma coerência nas escolhas e nas propostas apresentadas, onde alcançou a proeza de não recorrer à grande loja dos clichés multiculturalistas, que se pautam na maior parte dos casos pela aposta num exotismo essencializado que acaba por reificar a ideia de que as culturas “exóticas” estariam concentradas dentro das fronteiras dos “países longínquos”. Pelo contrário, a programação de “O Estado do Mundo” apostou na ideia de diáspora cultural e de transnacionalismo, onde perpassa uma nova leitura da palavra “migração” que poderá vir a revelar-se de bastante utilidade para um futuro muito próximo.

Também no que toca à programação das conferências estas foram diversificadas nas áreas representadas, se bem que com alguma predominância de temas ligados ao multiculturalismo e ao pós-colonialismo. O mote foi dado aliás na conferência proferida por Homi Bhabha em Outubro passado, onde as contradições e as ambivalências das sociedades globalizadas e pós-coloniais, agora em processo de transição, foram exploradas de forma crítica. Será talvez no seguimento da conferência de Homi Bhabha que ganha particular interesse a afirmação de António Pinto Ribeiro a propósito da pertinência da realização de um Fórum como “O Estado do Mundo”: “o projecto multiculturalista falhou, mas o mesmo não se pode dizer do projecto pós-colonial”(1).

Efectivamente o “projecto multiculturalista” pode ser hoje amplamente criticado tanto pela sua vertente hegemónica, como pelo seu teor marcadamente “tolerante” em relação à diferença o que acaba por contribuir para a “outrificação” quer das comunidades quer dos sujeitos migrantes. Na realidade as políticas multiculturalistas negam na sua génese a possibilidade de serem enriquecidas ou transformadas pelo “outro” do qual pretensamente enaltecem a “diferença”, constituindo-se em efeito num mecanismo de afirmação de uma certa arrogância cultural. Mas se o projecto “multiculturalista” pode ser desta forma criticado e desafiado, será porventura excessivo tentar substituí-lo por um “projecto pós-colonial” sem previamente desafiar o seu conteúdo. Na verdade talvez seja melhor começar por pensar na densidade deste tipo de conceitos utilizados por vezes exaustivamente, ao mesmo tempo que devemos tentar pensar também no que poderá caracterizar este denominado “projecto pós-colonial” que agora se nos afigura.

É preciso relembrar que é o binário “nós – outros” que marca profundamente o terreno colonial e acaba por o caracterizar na sua génese. Assim, a construção de um “outro” faz-se às custas da formação identitária do mundo ocidental, para perpetuar esta divisão binária – e frequentemente redutora, porque dela permanece refém, dissipando eventuais diálogos culturais que a análise da produção discursiva imperial não concedia. É através da obra de referência de Edward Said, “Orientalismo” (1978) que as questões da alteridade, da produção de conhecimento sobre o “outro”, se colocam nos seus exactos termos, e tornam clara a percepção de que o “outro” só existe a partir do “nós”, assim como o “oriente” só existe quando nos colocamos no “ocidente”.

Esta construção e manutenção da oposição e da dicotomia entre o “nós” e o “outro” pelos regimes coloniais é desta forma fundamental para a compreensão das questões e das contradições do colonialismo ele mesmo. A noção dessas contradições torna-se essencial, para que ele possa ser agora trazido para uma arena de estudos em que se deseja que a análise, na produção teórica, dos acontecimentos que fizeram do colonialismo um momento de dominação e imposição sem par na história não perpetuem o silêncio a que as vozes dos colonizados são perpetuamente condenadas. Por isso surgem correntes como os subaltern studies ou os cultural studies que dão voz ao que se pode eventualmente considerar como um contributo para o “projecto pós-colonial” que lentamente vai ganhando forma.

No entanto se há algo que deve ser trazido para a arena do contexto pós-colonial é precisamente a urgência em diluir tudo aquilo que o colonialismo contribuiu para reificar. Assim torna-se imperioso: 1) Repensar a ideia de fronteira num cenário em que o conceito de estado-nação se encontra anacrónico e disfuncional; 2) A diluição da ideia que toma as categorias identitárias como estanques e essencialistas, num cenário em que as mesmas só podem ser estratégicas e situacionistas.

É este o verdadeiro desafio do “projecto pós-colonial”, assumir a decadência dos nacionalismos que marcaram o século XX, e dotar de capacidade de agência todos os actores sociais para os quais, migrantes ou não, os seus mecanismos de auto-representação no mundo global em que vivemos passam muito por um exercício de bricolage permanente, onde as identidades se sobrepõem e são geridas de forma a proporcionarem uma mais-valia situacional.

Com este “O Estado do Mundo” a Fundação Calouste Gulbenkian conseguiu de alguma forma superar os lugares comuns que pautam muitas vezes os “eventos multiculturais”. Trata-se agora, a partir das inquietações suscitadas, pensar em muitas outras formas de poder construir um novo estado do mundo.


Joana Lucas
Investigadora na área de Antropologia



NOTAS
(1) in Suplemento Ípsilon do Jornal Público de 15 de Junho de 2007, p. 30.