|
PARIS: 33ª EDIÇÃO DA FIAC - EM EPISÓDIOS A SEGUIRSÍLVIA GUERRA2006-10-27Episódio 1 – O Grand Palais De l’art et du cochon Após a exposição “Força da arte” o Grand Palais acolhe 95 galerias de arte moderna e contemporânea participantes na 33ª edição da FIAC, Feira Internacional de Arte Contemporânea de Paris. Este ano as sedes principais da feira são três: o Grand Palais, a Cour Carré do Louvre e o Jardin des Tuileries num total de 169 expositores. A visão de conjunto dos stands das galerias francesas e estrangeiras presentes no palácio de cristal parisiense é de uma grande sobriedade; as galerias são assinaladas por um pequeno letreiro com o seu nome e as divisórias a cinza e branco. Faço a minha entrada, na grande babilónia da arte: pela sua ala da esquerda, começo pela galeria Gmurzynska de Zurique e vejo “IKB - 83” nome de código-patente de Yves Klein, um dos artistas celebrados na rentrée artística do Centre Pompidou; segue-se “Tony Cragg – new sculptures” na Thaddeus Ropac de Salzburgo e logo começamos a perceber que estamos numa “big money art fair”: tal como os materiais nobres (mármore branco, madeiras orientais) das dinâmicas esculturas de Cragg demonstram-no e a circulação de criações de Issey Myake (a cachemira que os visitantes vestem) comprovam. É a primeira noite do evento, aberto ao público e os galeristas de renome internacional acolhem com champagne os seus clientes vip. Encontro Pierre Huber, grande coleccionador e não menos conhecido galerista que expôs este ano uma parte da sua colecção no Le Magasin de Grenoble. Huber começou a sua carreira de “amateur d’art” em Portugal nos anos 60 onde comprou as suas primeiras obras de pintura, ainda antes do 25 de Abril. Para além de abrir uma cadeia de clubes de fitness é hoje um pioneiro na descoberta de novos valores artísticos que ultrapassam a esfera da Europa e dos Estados Unidos. A sua galeria Art & Public sediada em Genebra apresenta artistas chineses como Tiehai Zhou e ainda um flair do glamour artístico francês nas obras de Sylvie Fleury, caso da sua obra “Elle”. Segue-se um outro personagem da vida artística e mundana parisiense, Monsieur Emmanuel Perrotin, galerista de Sophie Calle, Takashi Murakami, que apresenta uma das grandes obras (para mim fétiche) do Grand Palais: “Rex” (2006) de Wim Delvoye, um porco empalhado, tatuado com um Cristo nas costas; o animal sorridente brilha dentro da sua vitrine de acrílico olhando, satisfeito e feliz, a fauna de compradores de arte. Wim Delvoye encontra-se também representado na galeria Krinzenger de Viena, com a obra-radiografia “Lick”. O espaço do Grand Palais subdivide-se nos seus extremos em um primeiro andar, e nestes jardins suspensos podemos encontrar a “Air de Paris” com obras gráficas dos “Continous Project” e o “Welcome to reality park” de Parreno, bem como o vídeo de Carsten Höller “one minut doubt ” que poderia ser uma metáfora à hesitação do coleccionador de arte. A galeria Luis Campaña de Colónia expõe exclusivamente o trabalho de Gregor Schneider, fotografias e esculturas, mas neste espaço de stand, parece que se vendem lembranças da “Totes haus Ur”, obra sensação e leão de ouro da excelente Bienal de Veneza de 2001, sob o comissariado de Harald Szeemann. Adel Abessemed, um dos jovens artistas revelação em França, divulgado “oficialmente” por uma exposição monográfica no Plateau em Paris, é representado pela galeria Kamel Mennour com o grupo escultórico “Travaux”. Estas obras fazem-nos pensar pela sua forma nas últimas esculturas de Sugimoto inauguradas há dias no Atelier Brancusi. A linguagem dos subúrbios urbanos que transparece nas criações de Adel (um dos pré-seleccionados para o Prémio Marcel Duchamp) é assimétrica da perfeição formal das “Mathematical forms” de Sugimoto, mas em Tokyo e nos arredores parisienses os arranha-céus perfuram o espaço da mesma maneira. Momentos de pausa no percurso: exclusivamente para as visitantes femininas, encontramos o Espaço Armani, com exposição de fotografias e poltronas em veludo para ler tranquilamente o catálogo da feira, perfumando-se da última fragância da marca… ; o “grignotage” e refresco necessário após os quilómetros de arte, são servidos por uma sucursal do Transversal, o restaurante da nova cultura Fooding de museu, sediado no MAC Val ( Musée d’ Art Contemporain du Val de Marne). Sento-me na grande escadaria e vejo um “desesperate man” na peça de Julião Sarmento representado pela Lisson de Londres. A seu lado e na mesma galeria, as fotografias de James Casabere e as recentes esculturas de Anish Kapoor; atrás do muro ouvimos as risadas das peças mutantes de Tony Oursler…. Na ala da direita do Grand Palais as galerias que expõe os grandes clássicos modernos como: Le Corbusier, Fontana, Picasso, Alighiero Boetti ou Dan Flavin. Encontramos ainda as nova-iorquinas Marian Goodman com obras de William Kentridge, Thomas Struth, Tacita Dean entre outros, e a Malborough, e diversas galerias italianas entre as quais a Galeria Continua baseada em San Gimignano e Beijing com trabalhos de Bruno Peinado, outro dos artistas pré-seleccionados para o prémio Marcel Duchamp 2006. O vencedor do prémio, organizado pela ADIAF (Association pour la Diffusion internationale de l’Art Français) e pelo Centre Pompidou será anuciado durante o período da Fiac. O Grand Palais acolhe algumas das galerias mais conhecidas a nível internacional, que maioritariamente representam artistas consagrados e muitas vezes já com uma longa carreira internacional. O Grand Palais é a gaiola dourada do papagaio de Flaubert. Amanhã acordarei entre as esculturas de grandes dimensões instaladas no Jardin des Tuileries para continuar o meu périplo. Na minha cabeça entre o vermelho sangue das peças de Kapoor e a pedra negra de Gregor Schneider ecoa o refrão final de “Landscape with argonauts” de Heiner Muller: “… IN THE BACK THE PIG who as the sharper teeth the blood or the stone …” |