Links

PERSPETIVA ATUAL


‘Aplasticaplipse’, Casa 77, Mercado do Peixe. Instalação com projeção de vídeo. Uma das instâncias ativistas de qualidade, aberta todos os dias, durante o decorrer de todo o evento das 15h às 00h.


‘Ce Soir Spectacle á lá Maison’, Casa 8, Rua dos Artistas, nº3. Esta era a oferta de livros para quem quisesse fazer uma leitura. Eu li um poema de José Duro, constado no seu livro Fel.


‘Ce Soir Spectacle á lá Maison’, Casa 8, Rua dos Artistas, nº3. Projeção no terraço, vista da rua.


Casa do artista e mural adjacente que a CoopCASA erigiu em colaboração com a Câmara Municipal das Caldas da Rainha e a Casa da Juventude.


‘O Tanque’, Casa 74, Rua Engenheiro Duarte Pacheco, nº13. Desenho a tinta da china e canetas gráficas, num ambiente escuro iluminado a luz negra.


‘O Tanque’, Casa 74, Rua Engenheiro Duarte Pacheco, nº13. Impressões a cianotype, num ambiente escuro iluminado a luz negra.


Exposição de COA e de Alexandre Alagôa, Silos, Sala Farinha. Cerâmica, som e vídeo.


Exposição de COA e de Alexandre Alagôa, Silos, Sala Farinha. Cerâmica, som e vídeo.


Exposição de COA e de Alexandre Alagôa, Silos, Sala Farinha. Cerâmica, som e vídeo.


Palco e recinto na zona exterior dos silos.


Palco na Praça 5 de outubro.


Exposição de Sara Baptista ‘Jogo de Chronos’, Galeria de Exposições, Espaço Turismo Caldas da Rainha.

Outros artigos:

2024-09-21


ISABEL TAVARES


2024-08-17


CATARINA REAL


2024-07-14


MAFALDA TEIXEIRA


2024-05-30


CONSTANÇA BABO


2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



CALDAS LATE NIGHT: ATORES, AGENTES.... FESTA! E A DESCENTRALIZAÇÃO DAS ARTES



INÊS FERREIRA-NORMAN

2019-06-22




 


Nos passados dias 30 de maio a 1 de junho, o Caldas Late Night bombardeou as Caldas da Rainha com aquilo que parece ser hoje em dia o evento do ano desta cidade. Nesta 23ª edição a cidade estava ao rubro!

O CLN começou em 1996. Os alunos da ESAD.CR (Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha) queriam uma plataforma para mostrar trabalhos que não foram selecionados pelo corpo docente para as exposições de final de ano, e assim começaram a organizar este evento que agora se tornou num ritual em que mais velhos, novos, crianças e adolescentes fazem parte e mostram o quanto a população das Caldas da Rainha está recetiva, e participa, na vida cultural da cidade! No entanto, as artes são feitas de muitos mundos, o CLN abordou uma série deles e deixou outros um pouco à quem. Após 23 edições, pondero à cerca do que estes alunos e o seu público ganham em vir a esta festa.

A última vez que eu fui ao CLN foi há 18 anos. Ainda não eram três dias de música, jogos, experiências, e um total de 92 sítios para visitar. Nessa altura, era a casa da estação (agora um parque de estacionamento), uma dezena de casas onde se via arte, a casa do Benfica (agora o Silver Coast Hotel e o Restaurante Lisbonense) e as instalações e o pinhal da ESAD. Todo o foco eram as artes, as instalações multimédia e a rave no final onde também tocavam algumas bandas locais. Passando à frente até 2019, dou de caras com uma experiência do género Hackney Wicked, mas a nível estudantil. E foi mesmo esse o sentimento que o CLN me deixou, que é uma celebração de uma subcultura estudantil, a das artes.

No entanto, enquanto profissional das artes, não pude deixar de sentir um desaproveitamento desta oportunidade que já é ouro, mas que ainda parece ser um ensaio-geral. Existe uma beleza inegável na naiveté da forma como toda a ecologia social e a malha juvenil desenvolveu o projeto e dos resultados finais apresentados. O que me deixa a pensar que esta mostra não é tanto uma mostra ao público, mas é mais o ato de mostrar. Sinto que no core do CLN, há um desejo de liberdade de expressão, mas que ainda é tímido, como se se auto-mutilassem as cordas vocais. A ideia do ermita apresenta e alude um certo romantismo, pois este tem de emergir das profundezas físicas da sua alma para mostrar a sua arte. Mas a indústria não é um sítio onde se possa viver ou trabalhar isolado, e o trabalho do artista é um de expressão, mas também de reflexão e contextualização (sem ordem de preferência). E frequentar a universidade, pressupõe a integração de uma carreira, e não o isolamento do ermita.

Na minha carreira, já organizei festivais de estúdios abertos de várias dimensões, já fiz parte enquanto artista, já fiz parte enquanto organizadora de palcos, já montei exposições nos arraiais principais e em galerias, já geri projetos inteiros como este. Devem existir sim, uma pletora de distrações para entreter o público, mas tem que existir, principalmente, a preocupação com a arte, e com o artista que produz a arte.

As artes nas Caldas têm vários agentes, dos quais destaco os Silos e a CoopCASA pelo trabalho de intermediário de mundos que fazem. A CoopCASA mostra-se pelo apoio coletivo, o trabalho em equipa em realidades não só artísticas, e o Silos pelo trabalho de exposição e também de atelier e espaço de congregação. Os Silos e a Casa do Artista (CoopCASA) representaram dois dos aspetos mais fortes do que é fazer e ser arte nas Caldas.

Os Silos, no espaço fantástico que têm, apresentaram uma exposição de COA e Alexandre Alagôa, na qual a arte urbana se fundiu com a cerâmica, a música e a instalação de vídeo e a interação com o público. Uma representação muito afinada e precisa do que são as artes nas Caldas da Rainha. Vê-se muita recuperação de materiais achados, muito graffiti, uma história e património representados pelas inigualáveis faianças Bordallo Pinheiro, muita música, e o CNL é muito à cerca da interação e atividades coletivas: a procissão, o slide, o pillow-fight, o quarto-escuro, são todos indicadores de uma comunidade que gosta de tocar uns nos outros, uma intimidade que se deixa de verificar quando saímos da escola de artes, e entramos no mundo profissional. Este aspeto estava vinculado nesta exposição, que inebriou vários sentidos: tocámos nos instrumentos, visualizámos projeções e ouviam-se variações sonoras conforme os participantes. O trabalho de COA elegante e relevante para a cidade em que expõe, o de Alexandre mágico e envolvente, criou a osmose, o flow, da exposição.

A Casa do Artista (CoopCasa) lembrou-me de como devia ser, ser artista em 1968 e da explosão dos Situacionistas, da forma casual como a arte se desenvolve, do flaneur. Haviam leituras coletivas, uma roleta para determinar a sorte do consumidor de bar, projeções no terraço e o tão famoso (disseram-me) quarto-escuro, assim como um mural coletivo. Aqui, o espirito genuíno e sério das artes vem à tona, e o ser arte sente-se. A casa está meia em ruínas, o que traz à alma imediatamente o romanticismo da criação, e senti-me como uma criança numa loja de rebuçados! As pessoas que fazem parte da CoopCASA já foram alunos do ESAD.CR, mas agora dedicam-se à missão da sua cooperativa, que é uma ferramenta integracionista dos artistas na vida ativa da cidade, e que certamente contribui para o sucesso do CLN durante o ano todo pelo cariz das atividades que desenvolvem dentro e fora das artes.

Mas voltando ao roteiro na cidade, e aos atores do evento: os estudantes-artistas! A primeira casa na qual entrei intitulava-se ‘Isto não é uma casa de putas’, a segunda ‘O Tanque’, na terceira estava uma banda a tocar num quarto que tinha uma varanda à volta. À medida que entrava nestes edifícios, muitos de estilo Arte Nova e Arte Deco, e me deslumbrava com a arquitetura e o estilo interior destas habitações, dava-me conta do anonimato presente, pois só em dispositivos comerciais existiam legendas (cartões de visita) com os nomes dos autores dos trabalhos, e mesmo assim nem em todos. As casas que visitei optaram por uma identidade coletiva, e o protagonismo artístico esmoreceu. E é pena. O coletivismo tem muito que se louve e logre, sou total apologista; mas, é a soma das partes, e por isso fiquei sem saber quais eram as partes, sendo que o trabalho estava apresentado em partes. Exceto quando pedi informações diretamente aos artistas...mas outro problema era mesmo encontrar os artistas!

Os alunos do ESAD.CR parecem que vivem numa bolha de ar, quente, aquecida pelo fumo da canábis que não deixa de pairar no ar. A idade é tenra já sei, eu própria já passei por ela, mas no meu tempo não haviam nem metade das oportunidades que hoje existem. Portugal ainda se estava a inteirar do que significa fazer parte da União Europeia e ouvia-se falar do prémio EDP e da Gulbenkian, que eram sempre ganhos por artistas não tão novos como os prémios anunciavam. No meu tempo, ninguém nos levava a sério, os artistas a sério. Em várias instâncias do CLN 2019, o que vejo são os próprios artistas a não se levarem a sério.

O CLN é uma iniciativa que se tornou incontornável no âmbito de aproximar e educar o público regional. Ainda que muito público esteja nisto pela música e diversão, o tema são as artes. Mas a questão que coloco prende-se com a forma como o público para as artes continua a ser educado em centros urbanos, mas cuja mentalidade e estilo de vida não é a de uma metrópole. A população desta região - de uma forma geral - vê artistas como ‘pobrezinhos’ e vê a arte como um hobby. Neste CLN ouvi artistas dizerem - tal como há 20 e tal anos atrás - que ‘os meus pais não quiseram que eu fosse para artes plásticas porque não ganho dinheiro com isso’. Este sentimento, presente horizontalmente na região Oeste de Portugal, do qual posso falar por experiência própria, vem de uma mentalidade provinciana, conservadora e capitalista, agarrada ao Catolicismo. O formato social de uma vida pseudo-urbana é muito diferente da fluidez das metrópoles e a realidade destes artistas é que não há muito público a confiar nas capacidades de um artista, e especialmente e principalmente no valor intrínseco de se fazer e ver arte. Isto faz com que oportunidades estagnem, estilos de vida não mudem, e com isto gera-se um ciclo vicioso em que os artistas não confiam no seu público, e acabam por melindrar a confiança em si mesmos, e quiçá até a sua própria prática artística.

Por exemplo, um local belíssimo, encantador, charmoso, rico, único como o (Jardim do Museu do) Hospital Termal, um ex-libris arquitetónico com acesso a um dos pontos artísticos mais vibrantes da cidade, o Jardim da Água por Ferreira da Silva, foi usado como arraial eletrónico, e exposição de seis artistas em tábuas de serradura mal instaladas, que quase caiam com fotocópias de trabalhos, e outros não identificados. Era aqui, que o sentido coletivo de se ser e fazer arte era bem-vindo e deveria ter sido aplicado. As oportunidades de instalação e performance neste espaço eram infinitas, e ainda que houvessem tentativas louváveis (como por exemplo a instalação de vários bustos femininos pendurados nos troncos de uma árvore, e um vídeo de parkour que circulou no Facebook), estas por sua vez ficaram no anonimato, e não desenvolvidas o suficiente para terem o impacto que este património pede.

Peças não acabadas, locais mal explorados, uma abstinência profissional no mapa, foi tudo aparente e real. A realidade das casas e os horários no mapa não correspondiam, posters e folhetos informativos com erros ortográficos, arte em salas sem iluminação e obras de arte que pareciam desmoronar-se se respirássemos mais fundo do que o normal, com a agravante de não se verem nem nomes de artistas nas paredes das casas, nem informação escrita disponível, a não ser o mapa que descreve o título da casa e a sua morada.

É com isto que queremos dizer a um público conservador que ser artista é uma profissão acreditável? Tenho sérias dúvidas que seja esse o objetivo do CLN. Mas a verdade é que estudantes são os profissionais de amanhã, e estes estudantes estão a não perder, mas também a não ganhar com o CLN. Como referi anteriormente, começou – o espírito – por uma mostra de trabalhos rejeitados pela instituição. Então porque estou eu a indagar e tentar sobrepor parâmetros usados por instituições e estandardizações da indústria numa iniciativa que é de uma natureza oposta? Porque o CLN cresceu, porque já não estamos em 2001. Porque este evento é de um potencial internacional gigante, e mais ainda, porque este evento já tem uma escala regional (e até nacional) grande o suficiente para pôr em primeiro plano os artistas, e a sua arte, para promovê-los como profissionais credíveis que virão a ser. Porque já vi coisas que não perderam a sua essência anti-institucional, mas que, no entanto, sabem que ser profissional é crucial para a educação de públicos. A desconfiança do público mascara-se de festa e isso é denigrível para os artistas. Tal como é acreditar que o ermita é positivo para a arte por que é romântico. Não é! Porque o ermita, por razões tortas e distorcidas, representa o amadorismo ao qual a art scene regional se renegou, e a profissionalização (o desenterro do ermita) não retira nenhuma essência à arte. Antes pelo contrário, profissionalizar não significa sanitar, significa ter consciência que o artista está a dar um pedaço de si, e reconhecer que esse é o seu trabalho.

Hoje em dia nos centros urbanos, as artes são indispensáveis para uma vida harmoniosa, uma economia cultural estável e uma vida comunitária interativa. As artes, são um aspeto solidificado na vida contemporânea, principalmente nas metrópoles. O que o CLN me leva a questionar é se será que a descentralização das artes é um processo difícil por causa dos seus atores, e não necessariamente só dos agentes, ou falta destes? Os agentes, abundantes, pelo menos no distrito de Leiria, estão dispostos a incluir amadorismo, e em consonância, o Instituto do Emprego e Formação Profissional em Portugal não consta de artista nem de agente cultural enquanto profissões. Este é sim, um exemplo em que a ideia de romance é realmente traída, pois é penalizada a possibilidade de reconhecimento do que é ser artista na cultura profissional nacional. Isto inibe a integração do artista numa vida social saudável e ativa, o que leva à ostracização, que por sua vez leva ao isolamento, que volta a trazer-nos amadorismo e falta de confiança do público, que deixa de se educar.

O que quero dizer, é que a profissionalização das artes pode parecer antirromântica para os estudantes de artes, mas no fundo, faz exatamente o contrário: valida o valor societal dos artistas, e o seu intelecto e capacidades. Não deixa de validar o tal romantismo por qual o público tanto anseia, somente o enaltece. E esta é mais uma batalha para os artistas, que não foi desta que vi ser travada no Caldas Late Night. As Caldas da Rainha têm vários agentes e mecanismos, e a descentralização começa-se a fazer sentir através do seu trabalho. Os atores, no entanto, soltaram um grito tímido a seu público, que eu senti estar num período de ovulação. É necessário que eduquemos públicos não urbanos para a continuidade e visibilidade das artes, mostrar-lhes que vale a pena acreditar e investir numa descentralização profissional, e que isso é possível de acontecer sem se magoar a coerência da essência da arte que os atores queiram mostrar. Antes pelo contrário, que a profissionalização só fortalece a sua essência e a experiência do público.

 

 

 


Inês Ferreira-Norman
Trabalha em gestão artística desde 2007, então, no Reino Unido. Mudou-se para Portugal em 2019 e actualmente continua a ser editora do JAWS (Journal of Arts Writing by Students publicado pela Intellect) e é diretora da Matéria Cíclica. A linguagem sempre fez parte da sua prática artística, a qual encontrou um renovado fervor crítico desde que terminou o mestrado em Livros de Artista e Belas Artes em 2017. Trabalhar com artistas só lhe dá mais vontade de trabalhar com artistas e de falar sobre artistas. E pensar arte.