Links

PERSPETIVA ATUAL


Almada Negreiros no Zip-Zip, 1969

Outros artigos:

2024-09-21


ISABEL TAVARES


2024-08-17


CATARINA REAL


2024-07-14


MAFALDA TEIXEIRA


2024-05-30


CONSTANÇA BABO


2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



JORNALISMO CULTURAL: O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO PORTUGUÊS € PARTE I



ZARA SOARES

2012-09-21




A 24 de maio de 1969, era transmitida na RTP a primeira emissão de um dos primeiros talk shows da televisão portuguesa: o Zip-Zip. Com Almada Negreiros como convidado principal – um ano antes da sua morte –, esta transmissão que acontecia em plena “Primavera Marcelista” teve um êxito imediato.

À pergunta de um jovem Carlos Cruz: “Eu fiz-lhe a pergunta, porque eu li algures que o primeiro contacto de Almada Negreiros com Fernando Pessoa terá sido uma pergunta que Almada Negreiros lhe foi fazer acerca da sua primeira exposição de desenhos”, o Mestre Almada responde: “É exatamente assim que vem nos jornais”. Este tempo de antena – uma entrevista de 25 minutos – dado a um dos maiores artistas portugueses, resultou num dos mais importantes momentos de jornalismo cultural em Portugal. “Qual a importância do fenómeno comunicação na sua carreira?”, volta a questionar Carlos Cruz. “Tenho 76 anos de idade e desde que me conheço, nunca pisei o risco fora daquilo que não fosse comunicação”, remata Almada Negreiros.


As primeiras coberturas de cultura

“As primeiras coberturas de cultura surgiram por volta do século XVIII em França, com os panfletos literários e revistas dirigidas especificamente ao público feminino. (...) O desenvolvimento do capitalismo industrial e concomitante inscrição da imprensa como fórum de mediação privilegiado na passagem do século XIX para o XX dão origem às primeiras publicações especializadas na área cultural. Numa resenha muito breve, cabe lembrar, a nível internacional, o nascimento da revista New Yorker (...), um marco que se mantém como referência até hoje (...). Mais tarde, nas décadas de 60 e 70, revistas como a Interview, a Playboy com os seus ensaios sobre cultura contemporânea em ambiente gráfico inédito ou a inglesa Spectator, (...) marcaram a explosão de novas formas de cultura e suas figurações nos media, associadas ao movimento de emancipação juvenil daqueles anos.

Em Portugal, a primeira referência a uma revista de caráter cultural é a deliciosa Gazeta Literária ou Notícias Exatas dos Principais Escritos Modernos, editada em 1761, no Porto. Os séculos XIX e XX foram abundantes em revistas de cultura e pensamento, de vida efémera mas significativa. (...) Durante a ditadura, no que hoje pode parecer um paradoxo, floresceram tertúlias, cineclubes e movimentos literários cuidadosamente veiculados em publicações que marcaram gerações como O Tempo e o Modo ou a Vértice. Nos jornais, as páginas de cultura eram um importante refúgio do combate político, com prosas lapidares assinadas por vultos da literatura portuguesa. Durante este período, a oferta existente no âmbito das revistas generalistas centrava-se na Flama, que fidelizou um público de qualidade, e no Século Ilustrado. Fundado a 1 de janeiro de 1938, era o suplemento semanal do O Século e durou até 1977, com um estilo popular (não sensacionalista) que agradava a um público numeroso”. Esta breve contextualização história é-nos descrita no artigo Evolução portuguesa do jornalismo cultural, escrito pela jornalista Teresa Maia e Carmo.


E Depois do Adeus?

Segundo Teresa Maia e Carmo, “nos intranquilos anos pós-revolução muitos foram os títulos nascidos e/ou desaparecidos em combate (República, Jornal Novo, A Luta, O Tempo, O Jornal), observando-se uma tendência de segmentação e especialização cada vez maiores que fará com que, na década de 80, comecem a aparecer jornais e revistas especificamente dedicados à cultura. (...) São desta altura os dois únicos semanários exclusivamente dedicados à área da cultura e espetáculos: o Se7e, que marcou de forma decisiva a geração que tem hoje entre 40 e 50 anos, e o Blitz, resistente (...). Ambos iam bem para lá do jornalismo cultural, sendo responsáveis por uma vivificação da cena artística portuguesa, não só porque a acompanhavam exaustivamente como também porque criavam tendências e vanguardas, premiadas todos os anos nas sessões dos Se7es de Ouro e Prémios Blitz”. Com o desenvolvimento das indústrias culturais e o aparecimento de uma nova “geração” de espaço público, “a informação cultural alargou-se aos jornais generalistas, que criaram editorias de Cultura, como as de Economia e Desporto. (...) Aí começam a desenhar-se profundas alterações, com a privatização, comercialização e crescente concentração de propriedade, que fará de 90 uma década já portadora das tendências que hoje se observam”. Mas “de um panorama equilibrado de matutinos e vespertinos, não ficou um único vespertino (Diário de Lisboa, Diário Popular, República ou A Capital, entretanto várias vezes ressuscitada e defunta). Temos hoje apenas três diários de referência: Diário de Notícias, Público e Jornal de Notícias”.

A hegemonia televisiva instalava-se. E “deu lastro à multiplicação de revistas de “vida social”, as chamadas revistas “cor-de-rosa””. Segundo Armando Teixeira Carneiro, membro fundador e professor do ISCIA (Instituto Superior de Ciências da Informação e Administração de Aveiro): “O campo televisivo foi ocupado, desde 1957 até 1992, pela RTP em monopólio estatal, utilizando o espectro de emissão que estava internacionalmente outorgado a Portugal. Em 1992 inicia as suas emissões o primeiro canal privado, a SIC, e em 1993 é a vez da TVI/Quatro iniciar a sua atividade. No passado, a RTP, ainda que condicionada pela censura oficial e pela sua própria autocensura, teve programas literários e culturais de grande qualidade. Há ainda que referir a qualidade e o serviço educativo prestado, durante anos, pelo seu Canal 2 com a TV Escola. Com a evolução dos tempos e a luta pela clientela publicitante os planos das grelhas internacionais acabaram por se impor em todos os canais inclusivamente nos canais estatais, sobretudo no Canal 1”, esclarece no seu artigo A cultura e os media em Portugal (uma análise interpretativa). E com o atual futuro “incerto” da televisão estatal e do “serviço público”, agudizam-se estas questões.

De acordo com Teresa Maia e Carmo: “Atualmente, os principais diários têm suplementos de natureza cultural com periodicidade semanal, na esteira da precursora Revista do semanário Expresso. O Público tem os suplementos Y (...) e Mil Folhas (...) e o DN publica o DNA” – tendo este artigo sido escrito em 2006, há que referir que atualmente os suplementos Y e Mil Folhas foram substituídos pelo conhecido Ípsilon, e que o suplemento DNA já não existe – o Diário de Notícias publica diariamente as seções de artes e media e a revista Notícias Magazine, ao domingo. Mas “o Jornal de Letras, Artes e Ideias resiste desde 1981 como único jornal temático dedicado à cultura, agora com uma tiragem residual e periodicidade quinzenal. Há ainda a referir o importante papel da revista trimestral Colóquio/Letras editada pela Fundação Calouste Gulbenkian e o suplemento Atual do Expresso”. Armando Teixeira Carneiro refere também “a publicação mensal Os meus livros e a publicação trimestral Ler, Livros & Leitores”. E a jornalista Dora Santos Silva destaca: “As newsmagazines – de que a Visão e a Sábado são os exemplos paradigmáticos – têm dedicado cada vez mais páginas às artes e à cultura”.

Teresa Maia e Carmo critica, contudo: “O declínio do estatuto do crítico, cuja perda de legitimidade é um fenómeno observável noutros países, começou entre nós com a afirmação do semanário O Independente, com o seu estilo iconoclasta, a trazer à imprensa uma leveza interpretativa em que uns poucos que não sabiam nada de nada escreviam tudo sobre tudo”. E continua: “Num país que já de si dá pouca atenção à cultura, a única agência noticiosa, a LUSA, não tem editoria de Cultura, tal como as televisões, com exceção recente da SIC. Os programas culturais rareiam e o desaparecimento polémico do magazine diário Acontece do canal 2 da RTP deu lugar a um substituto sem alma que se concentra sobretudo na missão de “cartaz”, limitando-se a divulgar o que acontece, à semelhança do que se passa nas estações privadas, que o fazem de forma breve nas franjas das suas grelhas, mercê do insólito pacote de “serviço público” imposto por lei. Bons espaços como o Laboratório na SIC Notícias (cabo) ou o Palco TSF (...) desaparecem, em consequência da restrição orçamental que o próprio Ministério da Cultura (patrocinador de alguns destes programas) tem vindo a sofrer”.

Hoje, segundo Dora Santos Silva, “assiste-se a duas tendências de jornalismo cultural em Portugal: ao mesmo tempo que a cultura aparece normalizada subordinada à agenda de eventos e ao mercado das indústrias culturais, surgem novas instâncias de legitimação da cultura em revistas alternativas, que conseguem fidelizar públicos com propostas estimulantes e originais. São os casos da Egoísta, da NEO2, da N*Style, da DIF, da Parq e (...) da Time Out”. A Umbigo ou a Cine Qua Non, as publicações online Rua de Baixo (sobre lifestyle e cultura alternativa), ARTECAPITAL (dedicado à arte contemporânea), a newsletter cultural LE COOL ou sites como o bodyspace (dedicado à música), tornaram-se também referências no panorama atual do jornalismo cultural português. E os programas Câmara Clara e Bairro Alto, ambos da RTP2, são igualmente ótimos exemplos de marcos revolucionários recentes dentro do contexto televisivo português de cobertura e divulgação cultural.


Continua.....


Zara Soares


>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

Bibliografia

Luiz Gadini, Sérgio, Tematização e Agendamento Cultural nas páginas dos diários portugueses, 2001-2002.

Maia e Carmo, Teresa, Evolução portuguesa do jornalismo cultural, 2006.

Pereira Lopes, Ígor, Jornalismo Cultural nas Redacções: Um olhar sobre a actuação dos jornalistas no Brasil e em Portugal, 2010.

Santos Silva, Dora, Tendências do Jornalismo Cultural em Portugal, 2009.

Santos Silva, Dora, Possibilidades políticas do jornalismo cultural digital na perspetiva da democracia deliberativa, 2011.

Teixeira Carneiro, Armando, A cultura e os media em Portugal (uma análise interpretativa), 2004.