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VAN ABBEMUSEUM / DAN PERJOVSCHIINÊS MOREIRA2007-03-26Dan Perjovschi 18/02/06 - 22/04/07 Van Abbemuseum, Eindhoven, Holanda 1. O Van Abbemuseum, Eindhoven, é um Museu de Arte Contemporânea que vem repensando o que pode um Museu de Arte ser, enquanto espaço e instituição públicos, cujos papel e possibilidades pode oferecer à comunidade. Charles Esche, Director do Museu desde 2004, definiu uma plataforma com geometria flexível que inclui diferentes projectos, entidades e colaboradores, compreendendo diferentes direcções. Um fio desta reflexão é a identidade e desenvolvimento da importante colecção que possui. O projecto em curso “Plug In - Re-imagining the collection” é uma consulta colectiva que Esche, com a colaboração de comissários e artistas convidados, conduzirá até 2009 sobre a colecção. Diversas exposições pequenas, autónomas e sincrónicas, com peças da colecção vão-se sucedendo e substituindo em salas contíguas. A justaposição de diferentes períodos, artistas e comissários, estabelece novos sentidos, contribuindo para uma reflexão inclusiva baseada na diversidade de perspectivas sobre a colecção, identificando (des) continuidades e abrindo novas direcções na própria memória e na política de aquisições. Durante 2006, “Academy - Learning from the Museum”, uma exposição/evento que o Departamento de Visual Cultures do Goldsmiths College comissariou em volta de conceitos, áreas e expertises do conhecimentos implicados no repensamento sobre o Museu, apoiou, num plano mais teórico, a definição da plataforma que Esche pretende que o Van Abbe estabeleça. É neste contexto, politicamente efervescente, informado na teoria e na crítica e, simultaneamente, procurando uma informalidade e o acolhimento de públicos diversos, que o artista Romeno Dan Perjovschi é convidado a trabalhar. As intervenções de Perjovschi são eventos (têm linguagem efémera) e propõe/procuram efeitos (com maior ou menor duração). A intervenção no Van Abbe absorve a discussão e contextualiza através do espaço a reflexão em curso. 2. Perjovschi constrói sobre o humor e a caricatura; o seu trabalho artístico individual resulta de um processo longo de investigação e acumulação de imagens com conteúdos críticos fortes, que recolhe nas cidades e nos locais que percorre e vai registando em cadernos. A sua investigação satiriza conceitos dicotómicos da economia e política do mundo contemporâneo, global e mediatizado: Ocidente/Oriente, islamismo/cristianismo, homem/mulher, Mercado/mercados, hightech/lowtech, comunidade/comunicação, identidade/diferença. Denuncia ainda, num tom irónico, vícios, perversões e contradições do mundo artístico, das suas instituições e do mercado artístico e cultural globais. As suas intervenções, essencialmente murais de grandes dimensões, partem dos desenhos recolhidos e materializam-se com grande simplicidade formal e economia de meios, adoptando a linguagem utilizada em meios de grande circulação - com analogias ao cartoon rápido impresso nos jornais diários - para veicular, com grande clareza, um depurado sentido crítico. 3. Entre a cartografia do tempo contemporâneo, o mapa do quotidiano local, o registo etnográfico, ou a denúncia da orgânica das instituições públicas - e de suas opções arquitectónicas -, “tornando público” e simultaneamente “fazendo prova” da discussão, por ventura menos visível, Perjovschi formula ambiguidades inerentes ao próprio termo exibir (exhibit). Enquanto exibe, cita singularidades subtis dos próprios espaços de exposição – como o fez na Tate Modern, ao desenhar o skyline da cidade no vidro que delimita o miradouro do bar. No Van Abbemuseum, o espaço onde Perjovschi intervém é a superfície da clarabóia do átrio que relaciona o edifício clássico (remodelado em 2003) com a nova e extensa ala dedicada à Arte Contemporânea. Trata-se do átrio de acolhimento que, em sentido literal, oferece o conceito de “hospitalidade” desenvolvido por Charles Esche, e aloja, ironia institucional, a loja/livraria/merchandising do Museu. Este espaço é um território simultaneamente de intersecção - exterior a ambos edifícios -, e território de reunião – dá continuidade a ambos corpos do museu. Zona de passagem onde surge um novo, e improvável, espaço de exposição que se pode interpretar como interstício simbólico da estrutura. A situação concreta onde se instala reafirma os conteúdos dos seus desenhos, fornecendo com humor pistas sobre o entusiástico momento que o Museu vive. Esta especificidade não é perseguida em cada instituição onde trabalha. A intervenção no espaço da Culturgest no Porto, recentemente inaugurada, é uma acção distante da contextualização em Eindhoven. Na sala de exposição faz, em terminologia urbanística, tábula rasa da arquitectura da sala e da linguagem art déco, cobrindo de negro o espaço, e eliminando o carregado peso simbólico condensado nesta sala da antiga banca. Aí, Perjorvschi cria um vazio, um espaço abstracto mais identificável com as artes de palco e a imagem em movimento, no qual compõe um cenário crítico. Recorrendo à ampliação e redução de desenhos, assenta a sua composição numa “linha de terra” que ascende informalmente, desmaterializando-se. Ao evidente antagonismo espacial – whitecube vs. blackbox – e do suporte do desenho - marcador preto sobre branco vs. giz branco sobre preto -, junta-se o desprendimento do contexto local – na Culturgest sobressaem referências a questões de uma globalização mais indiferente ao ambiente e às estórias locais. Regressando ao espaço simbólico da arquitectura, é porventura na presença do pavimento de mármore original, que se relembra a imponência da instituição e reintegra o contexto do Porto. Inês Moreira Doutoranda em Curatorial/knowledge no Goldsmiths College, London Arquitecta (FAUP) e Mestre em Arquitectura e Cultura Urbana (UPC-Barcelona) LINKS www.perjovschi.ro www.vanabbemuseum.nl www.culturgest.pt www.tate.org.uk/modern |