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7ª ARTE LISBOA. DIA 7 - INAUGURAçãOSÍLVIA GUERRA2007-11-08Todas iguais, todas diferentes ou outra ARTE LISBOA Avião em direcção a Lisboa, vinda do frio alpino, algumas páginas de “Portugal, Hoje – O medo de existir”, de José Gil, um prazer filosófico quase masoquista e chego ao país tropical. Chego a Lisboa Oriental e deparo-me com o Parque das Nações, herança megalómana da Expo 98, a ficção dos pavilhões gigantes no país de “liliputianos”. A ARTE LISBOA encontra-se hospedada no Pavilhão 4 da FIL, e apesar da localização privilegiada em frente ao Tejo, o espaço não tem janelas, é uma grande pista de aviação que se presta a ser percorrida por pés humanos. É-me impossível deixar de pensar em duas questões: na estratégia conjunta que se estabeleceu na FIAC, entre o Governo (Ministério da Cultura e Câmara de Paris) e o sector privado (Sponsors e galerias de arte) para deslocar a feira até ao coração da cidade, onde estão os seus locais mais prestigiantes, como o Musée do Louvre e o Grand Palais; e numa hipotética deslocação da ARTE LISBOA para os jardins do Centro Cultural de Belém, para os espaços do Museu da Cidade ou para o Castelo de São Jorge… Mas esta 7ª ARTE LISBOA, com 60 expositores, dos quais 19 são galerias estrangeiras, declara a sua diferença com novas estratégias que, no entanto a aproximam cada vez mais das suas parceiras internacionais ou pelo menos na sua promoção ibérica, pois os coleccionadores espanhóis surgem cada vez em maior número. Dou início à visita 1, do dia zero, da ARTE LISBOA: 18.00 horas: encontro a comissária Isabel Carlos a dar apoio aos artistas por ela selecionados para os 11 PROJECT ROOM (s), iniciativa promovida por Ivânia Gallo. De repente já estou a participar na performance “Versus” do artista Kyungwoo Chun, com cerca de 20 mulheres desconhecidas, que criam pares contíguos num banco em meia-lua para se aproximarem num abraço de 15 minutos. Respiro com uma outra respiração, surge o desconforto e a curiosidade pelo outro. Mas porquê um abraço só entre mulheres? De qualquer modo, a experiência performativa leva-me a percorrer o resto da feira de uma forma mais descontraída. E entre o A, B, C, D, dos corredores de stands, noto a presença constante de obras de Pedro Cabrita Reis, representado pelo menos por 4 galerias: vejo primeiro a já antiga “Melancolia” de 1989, que está exposta na entrada da feira, no stand da Antiks Design, a dois passos da irónica “Caixa” (2007) de Vasco Araújo na galeria Filomena Soares; depois passo pelo “Retrato de um Cavalo” em radiografia de Pedro Medeiros na Galeria Sete. It’s on encre de chine! Diz com grande admiração um visitante anglófono referindo-se aos desenhos de Adriana Molder na Galeria Presença, que surgem gigantes como se tivessem sido amarrotados pelas mãos de um gigante que ama as heroínas de cinema. A 3+1 Arte Contemporânea apresenta os vídeos de Beatriz Albuquerque numa cadência de sapateado feminino e, por detrás de um magnífico automóvel, que não é uma instalação mas um verdadeiro automóvel, há um pequeno buffet de queijo da serra e bolachinhas de água e sal… Ah! A pausa portuguesa. E a “Passarola” ou “No entanto eles voam” de João Pedro Vale atrai a minha atenção. E mais uma obra dos Project Room. João Pedro Vale continua a metamorfosear alguns dos ícones nacionais e lendários, e ainda me recordo dos seus pés de feijão gigantes que cresciam no Convento das Cartujas em Sevilha, na que foi a última exposição comissariada por Harald Szeemann. Do céu à terra descemos com a “Plerona”, a instalação sonora de Frederico Ferreira na VPFCream Arte que é como que um reverso terrestre e sonoro da poesia aérea de João Pedro Vale. E neste espaço de utopias artísticas surge “Natureza mecânica, episódio 3; a queda do simulacro” de Susana Anágua (Project Room), ou uma imensidão de mecanismos eólicos, moinhos de vento que me arrastam a sair do pavilhão para ver o Tejo. São já 11 horas e a noite VIP terminará com um jantar... Até amanhã, para prosseguirmos as nossas aventuras no mundo dos coleccionadores de arte ibéricos. SÍLVIA GUERRA |