Links

PERSPETIVA ATUAL

























Outros artigos:

2024-10-21


AISHWARYA KUMAR


2024-09-21


ISABEL TAVARES


2024-08-17


CATARINA REAL


2024-07-14


MAFALDA TEIXEIRA


2024-05-30


CONSTANÇA BABO


2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



SHALL WE DANCE? ROCCO € A PHOTO ROMAN



MIRIAN TAVARES

2018-10-13




 

I've never done much, but I've lived my whole life thinking of myself as the only real man. And if I'm right, then a limpid, lonely horn is going to trumpet through the dawn some day, and a turgid cloud laced with light will sweep down, and the poignant voice of glory will call for me from the distance — and I'll have to jump out of bed and set out alone. That's why I've never married. I've waited, and waited, and here I am past thirty.
Yukio Mishima

 

 

Quando o vídeo entrou na cena artística, pensou-se que a imagem tinha, finalmente, adquirido movimento. A simulação do movimento que o cinema conseguia, através dos 24 quadros por segundo, podia agora tornar-se real – os objetos, e o mundo, captados pela câmara de vídeo incorporavam, à partida, o movimento que se expandia no ecrã através da varredura dos pixéis. O vídeo inaugurou a era da imagem captável e visível no mesmo instante, mas também da imagem sem densidade física, sem corpo, portanto mais plástica e moldável. Esta imagem com pouca profundidade de campo, fantasmática e anamórfica deu aos artistas, que escolheram trabalhar com o suporte, a capacidade de experimentar novas extensões da imagem no espaço e no tempo. Muitos transformaram as peculiaridades do medium numa linguagem que se traduzia na multiplicidade de imagens, nos cortes rápidos, na montagem excessiva, tirando ao espectador a possibilidade de contemplação. O tempo do vídeo era outro, acelerado ainda mais pelo advento do digital, o vídeo – eu vejo - tornou-se efetivamente uma escrita de imagens. Há outros artistas, porém, que contrariando o movimento, e a direção, do medium, decidiram usar o vídeo como dispositivo de criação de uma temporalidade própria, contemplativa, exigente. Uma temporalidade que em vez de acelerar, desacelera o movimento do mundo e dá a ver as sutilezas dos objetos, das pessoas, dos lugares, que nos torna espectadores de gestos repetidos em loop, de gestos que se preservam na memória de quem vê – continuados, rítmicos, insistentes.

É o caso de Hanspeter Amman. O artista usa o vídeo na contramão da História para contar histórias através das imagens, histórias que prescindem do texto, da fala. Histórias que são cartografias de corpos, que criam paisagens culturais através do movimento lento, do movimento contido, do não-movimento. As suas imagens exigem, do espectador, tempo de contemplação, de compreensão e de apreensão do que não é dito, mas que se diz por se apresentar no ecrã, que se expõe. E expor (se) é um termo chave para quem deseje penetrar na sua obra – o artista expõe os corpos que se disponibilizam, que se deixam percorrer pela câmara, que se deixam imobilizar e se transformam em imagens, simulacros de um universo paralelo, multicultural, híper étnico, num espaço de ambiguidade que torna o contemplador livre para desfrutar do que vê, como um voyeur solitário, interpretando, ou não, os contextos e subtextos que cada obra dispõe. As imagens não são trabalhadas para mascarar a realidade, mas sim para avivá-las, para torná-las mais realistas e mais reais, sem descurar, no entanto, a poesia, o lirismo implícito em cada plano. O neorrealismo italiano deu-nos filmes crus, desinvestidos de ambiguidade à procura de sentidos unívocos. Mas o neorrealismo deu-nos também Lucchino Visconti e Pier Paolo Pasolini, os mestres da ambiguidade e do lirismo, capazes de transformar a fealdade em beleza, a transgressão em arte. Rocco é uma obra que pede tempo, que é feita de imagens que se arrastam no tempo, seguindo outra lógica que não a do movimento contínuo e progressivo. Entre a fotonovela e o filme, desfilam ante nossos olhos um conjunto de imagens de corpos jovens, semidesnudos, em planos médios e em grandes planos. Corpos que encenam uma luta, um jogo de sedução, uma dança. Corpos em movimento contido e ensaiado, encenado. Corpos e rostos de homens comuns, de homens do povo, de homens que habitam o imaginário artístico desde, pelo menos, a obra de Caravaggio e que são reencontrados, mais tarde, no cinema neorrealista de Pasolinni e de Visconti. O Cristo de Pasolini não tem olhos azuis nem a tez delicada. A maneira como a câmara passeia pelos atores, nos seus filmes, é dura – deixando que a pele curtida, as imperfeições, as máculas, no fundo, a verdade de cada corpo que sua, que tem poros, reentrâncias, seja revelada. A câmara, e a luz do cinema de Pasolini extrai da fealdade, a beleza, do mundo real, o lirismo, sem mascarar, ou enfeitar o que se mostra. Pasolini expõe. Esta exposição crua, fotografada em alto contraste, é visível nesta obra de Hanspeter Amman – que lhe acrescenta a mise-en-scène poética da obra de Luchino Visconti. O seu photo roman reproduz, em diversos momentos, gestos que ficaram impressos na memória dos cinéfilos - gestos presentes em Rocco e seus irmãos, revisitados aqui por corpos orientais, de desconhecidos, o que torna ainda mais forte a ideia de transgressão do filme de Visconti – como amar aqueles que se perderam? Os que estão à margem? Os não-heróis? Os homens vulgares que não conhecemos? O olhar amoroso de Visconti e de Pasolini está presente aqui – amor pelos personagens, amor pelos seus corpos e pela sua imperfeição. A câmara espreita e admira. A câmara acompanha delicadamente cada gesto e vai registando o movimento que se prolonga em cada nova foto. O movimento simulado, o não movimento do cinema, reencenado também neste processo de negação da continuidade e da fixação de cada gesto. Espreitamos as histórias que os corpos no ecrã insinuam. Entre o jogo e a luta, entre a submissão e a conquista, entre o desejo e a fuga, as personagens executam uma coreografia exata, enxuta, perfeita. Uma coreografia que convida o espectador a cumprir o seu papel – ficar expectante, à espera de algo que nunca finaliza, que não se completa, que não se fecha. Uma história em aberto que convida ao gesto mais primitivo e a pulsão mais básica - o voyeurismo.

 

 

A obra está organizada em 4 capítulos e neles vemos uma história de jogo e de sedução entre 4 personagens de origem diversa, de quem nada sabemos, encerrados num espaço fechado - uma casa-cenário da qual temos apenas vislumbres, uma casa-cenário num espaço incerto, sem geografia explícita, indiciando apenas um gosto pelo excesso, insinuando o estilo barroco a cada composição. Podemos desfrutar dos capítulos como se fossem únicos – a narrativa dos dois primeiros se desenrola de maneira autónoma, mas a partir do terceiro capítulo, percebemos as ligações e implicações entre os capítulos precedentes e torna-se um pouco mais evidente o que está a ser encenado/exibido. De qualquer forma nada nos é dito, e as imagens, ao contrário do que se pensa, não são evidentes, podem ser ambíguas, podem nos levar por caminhos diversos e podem, sobretudo, deixar-nos contar a nossa própria história, seguindo as indicações dos corpos, as expressões, a mise-en-scène. Tudo nos é mostrado, mas nada nos é revelado. E é no interstício, neste espaço entre, que surge a arte.

No vídeo, e no cinema, eu vejo, sem ser visto. O meu gozo é este - não ser visto e desfrutar do que vejo à distância. As personagens olham, diretamente para cada um de nós e nós devolvemos-lhes o olhar, mas nossos olhos nunca se cruzam, há um ecrã entre nós, este espaço intransponível que nos protege. As personagens seguem, no ecrã, a sua dança interminável, executada, quadro a quadro, como num tempo mítico, fora do tempo. Um tempo outro que não tem pressa de andar para frente. Um tempo que permanece. Um tempo que se nega a reproduzir o movimento do vídeo, mas que se (re) produz passo a passo, delicadamente. O tempo da leitura. O tempo das imagens sem tempo de Hanspeter Amman.

 

 

Mirian Tavares 

 

 

>>>

 

Rocco, de Hanspeter Ammann, está patente na Galeria Trem, em Faro, de 16 de Outubro a 13 de Novembro de 2018.