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A IMINÊNCIA DAS POÉTICASARTECAPITAL2012-08-31Luis Pérez-Oramas, curador da 30ª Bienal Internacional de São Paulo, que inaugura no dia 7 de setembro, afirma não estar interessado em conceber um evento espetacular. Em entrevista ao jornal Globo afirmou estar “mais interessado em sentidos e relações”. Assim declarou: “Acho que a Bienal tem a responsabilidade de mostrar uma via que não é a do mercado ou da consagração industrial, mas do levantamento dos problemas a resolver, das questões iminentes, e tem também uma responsabilidade política.” Procurando ir ao encontro da diversidade das poéticas, o instrumento de trabalho fundamental na 30ª Bienal será a ideia de “A iminência das poéticas”, enquanto expressão de “o que está a ponto de acontecer, a palavra na ponta da língua, o silêncio imprevisto que antecede a decisão de falar ou de não falar, a arte como estratégia discursiva e a poética em sua pluralidade e multiplicidade”, conforme indica a nota de imprensa do evento. De entre os 111 artistas selecionados para esta edição, destaca-se a homenagem ao brasileiro Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), artista que morreu aos 80 anos em 1989. Diagnosticado como esquizofrénico durante anos, foi o paciente 01662 do hospital psiquiátrico − Colónia Juliano Moreira do Rio de Janeiro −, onde produziu quase toda a sua produção. Do seu acervo, guardado numa sala da administração do complexo, fazem parte mais de 800 peças, que produziu compulsivamente durante o seu tempo de internamento, com os mais variados e incríveis objetos: vassouras, canecas, móveis, colheres, lençóis e papelão serviam de base para o seu trabalho. Luis Pérez-Oramas, decidiu expor 348 obras nesta edição da mostra. O seu trabalho mais conhecido, e que estará presente na Bienal, é o Manto da Apresentação, no qual ele trabalhou a vida toda para vestir no dia da sua “passagem”. Para além de mostra esse conjunto alargado de obras do artista brasileiro, o curador pretende colocá-las em diálogo com intervenções de outros criadores presentes. Artistas, como as americanas Elaine Reichek, Sheila Hicks e a alemã Anna Opperman (1940-1993), estarão representadas com obras que remetem para o trabalho de Arthur do Rosário. As duas primeiras têm trabalhos em bordado, técnica usada pelo artista homenageado brasileiro e a instalação Being different (somehow she’s so different) , de Anna Opperman, remete para as cores e a intensidade da obra do criador brasileiro. A Luis Pérez-Oramas interessa nesta edição abordar a questão do que deve ser uma Bienal do século XXI. Nesse sentido, na sua seleção curatorial quer representar as possíveis relações entre a tecnologia e a produção artística, através da participação de Mobile Radio (a dupla formada pela inglesa Sarah Washington e pelo alemão Knut Aufermann), que criará uma rádio na Bienal. Sendo venezuelano e diretor de arte latino-americana do MoMA, em Nova Iorque, desde 2003 (e em licença do cargo para trabalhar na Bienal de São Paulo), Oramas, que também foi curador da coleção Cisneros, pretende pensar as relações entre os EUA, a Europa e América Latina. 45% dos artistas são latinos e Oramas acredita que é preciso expor a arte da América Latina no seu território. Na entrevista ao Globo, é contundente: “Nós, latino-americanos, esperamos que os europeus e americanos legitimem o nosso trabalho. Mas isso tem que mudar. Pela primeira vez, os latinos estão a conhecer os latinos na América Latina. Estão viajando de Bogotá para São Paulo. Antes, para ver arte daqui, era preciso ir para Nova Iorque ou Paris. Sendo o evento de arte mais importante das Américas, a Bienal precisa dar conta desse fato. Temos que superar esse complexo de inferioridade. Estamos sempre a perguntar: o que estão a pensar de nós? Temos que criar os nossos próprios critérios e perspectivas e projetá-los” afirmou. ARTECAPITAL |