Links

PERSPETIVA ATUAL


Suzanne Valadon, The Blue Room, 1923.


Romaine Brooks, White Azaleas or Balck Net, 1910.


Emília dos Santos Braga, Fumadora de Ópio, pintura a óleo, 1912.


Ofélia Marques, Sem título, tinta da china, aguarela, grafite e gouache, 21,5x16,5cm, Fundação Calouste Gulbenkian.


Ofélia Marques, Sem Título, tinta da china sobre papel, 1933, 24,9x21,4 cm, Fundação Calouste Gulbenkian.


Estrela Faria, Torso, óleo sobre tela, 1949, 100x64cm, Fundação Calouste Gulbenkian.


Estrela Faria, Barraca de tiro, óleo sobre tela, 50x40 cm, Fundação Calouste Gulbenkian.

Outros artigos:

2024-11-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2024-10-21


AISHWARYA KUMAR


2024-09-21


ISABEL TAVARES


2024-08-17


CATARINA REAL


2024-07-14


MAFALDA TEIXEIRA


2024-05-30


CONSTANÇA BABO


2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



PORQUÊ ESCREVER SOBRE HISTÓRIA DA ARTE FEMINISTA, NESTA ÉPOCA EM QUE AS MULHERES ARTISTAS ESTÃO JÁ PRESENTES NUMA GRANDE PARTE DAS INSTITUIÇÕES ARTÍSTICAS DO MUNDO? - PARTE II



MANUELA HARGREAVES

2020-05-21




 


[Este texto é a segunda parte do artigo "Porquê escrever sobre história da arte feminista...". A primeira parte pode ser lida aqui]

 

 

As imagens produzidas por modernistas como os Delaunay, a vanguarda russa e a Bauhaus, que se tornaram a base de uma ideologia moderna, na qual a mensagem veiculada da mulher é equivalente a um papel mais alargado de consumidora, é apenas válido para algumas mulheres, ricas e privilegiadas. Apesar de um imaginário visual que celebra a mulher trabalhadora sexualmente livre, não existem mudanças estruturais no estatuto das mulheres na Alemanha de Weimar, e em Paris, apesar de uma aparente libertação, as mulheres apenas têm direito de voto em 1946. Em Portugal só após a Revolução de Abril de 74 adquirem plenos direitos de cidadania, uma vez que o quadro jurídico então adaptado garante o respeito pela igualdade de tratamento de homens e mulheres.

E o Modernismo enquanto prática artística de inovações formais e estilísticas é em grande parte desenvolvido por meio de um pressuposto erótico que toma o corpo da mulher como objeto de experimentação. É tomado por Picasso nas prostitutas nas “Demoiselles de Avignon”, em Matisse nas Odaliscas, em Modigliani nas “Madjas”, em Gauguin nas suas primitivas, e nos Surrealistas como forma de explorar as fronteiras sexuais do inconsciente. Creio que em Manet, a representação da sexualidade feminina, tal como Chadwick sublinha, tema de dependência absoluta na arte Ocidental, não é disfarçada ou idealizada pela mitologia ou temas biblícos, torna-se evidente numa prostituta, e essa evidência é libertadora. Em “Olympia” e no “Dejeuner sur l’herbe”, as prostitutas são mulheres emancipadas, que nos olham sem nenhum constrangimento sexual, assumindo um estatuto na sociedade, meretrizes de uma burguesia endinheirada. Numa perspetiva moderna, Manet solta amarras que existiam há muitos séculos, e por outro, não utiliza a objetificação repetida do corpo sexualizado como meio de experimentação. 

Há por vezes dificuldade em distinguir as formas de olhar, observar o tema da subjetividade feminina, e a identificação do corpo da mulher com as várias simbologias a que está ligado. Existe conquanto uma atitude dos artistas modernos em fundir o sexual ao artístico, sendo a figura feminina apresentada como um objeto sexualmente subjugado à criação do homem,
tomando-o como tema preferencial de experimentação. 

Como já referido, essa realidade vai sofrendo alterações ao longo do século XX, à medida que as mulheres vão ganhando autonomia financeira, social e política, sendo progressivamente parte integrante da sociedade de consumo. 

No princípio do século XX, Suzanne Valadon e Paula Modersohn-Becker foram as primeiras artistas a trabalharem consistentemente com a forma do nu feminino. Valadon, também modelo, beneficiou desse conhecimento para a experimentação dos seus nus, rejeitando a apresentação estática e atemporal que dominou a arte ocidental, dando ênfase ao contexto, momento específico, e ação física. Os seus nus, especificamente ligados ao ato do banho, embora sensuais contrapõem-se ao arquétipo da figura da fertilidade feminina, dominante em alguns círculos da “avant garde”. Em “The Blue Room” (1923), a mulher retratada lembra no contexto de um quarto densamente decorado, uma Odalisca, esvaziada do sentido voyeurista sexual para conforto do macho viril, tal como era representada por Matisse.

Em Paula Moderhson-Becker os seus auto retratos nus, refletem uma tentativa de inserir as convenções artísticas existentes e a sua forma de encarar a imagem da mulher. A simplificação da forma mitiga a sensualidade normalmente associada à representação do corpo da mulher na história da arte Ocidental, a imobilidade, a monumentalidade e as grandes superfícies, tendem a criar uma imagem universal do nu feminino transcendente ligada à feminilidade, à fecundidade e à criatividade da artista.

Emília dos Santos Braga (1867-1949), discípula de Malhoa, foi a única mulher que neste início do século passado em Portugal, se dedicou a par do retrato, da pintura de género, e da pintura histórica e religiosa, à representação do Nu feminino. 

A pintura “Fumadora de ópio” de 1912, apresentada na Secção Portuguesa da Exposição Nacional de Belas Artes de Madrid, premiada com a Comenda de Afonso XII de Espanha, nu lânguido e sensual, representa um ideal de beleza de uma época já em extinção. A evocação de Rubens, pintor que admirava a par de Murillo e Velasquez, manifesta-se na carnação de uma mulher abandonada à morbidez do opiáceo. 

Pintora profissional, com atelier próprio no qual também ensinava, professora de Maria Eduarda Lapa, Mily Possoz e Maria Helena Vieira da Silva, criou a sua própria independência financeira, atraindo uma clientela burguesa frequentadora dos salões artísticos, que lhe permitiu circular livremente no meio artístico, visitar exposições e museus fora de Portugal. Emília rejeitou deliberadamente a nudez clássica mitigada pela história religiosa e mitológica, e concebeu-a de forma corajosa liberta destas amarras, de forma atrativa e sedutora, tendo mais facilidade em usar modelos do que os homens seus pares, por vezes as próprias artistas que frequentavam o seu atelier. Esta liberdade permite-lhe apesar do conservadorismo formal e sem os requisitos de um modernismo em ascensão, ganhar lugar na história da pintura do Nu feminino em Portugal. O seu trabalho carece de estudo aprofundado já que não existem obras da pintora em museus, mas dispersos por colecionadores particulares.

Nas duas primeiras décadas do século, são inúmeras as artistas que entram nesta grande panorâmica da arte moderna, a maior parte com ténue consideração crítica positiva. 

Gwen John e Camille Claudell, associadas entre si pela ligação a Rodin como mestre e amante, viram as suas carreiras subordinadas ao mito do amor romântico no qual o papel de musa prevalece sobre o de artista. Käthe Kollwitz (gravurista), Marie Laurencin, Florence Stettheimer, e Romaine Brooks, a primeira pintora que elabora um novo imaginário visual para a lésbica do século XX, teve a primeira exposição individual na galeria Durand Ruel em 1910. 

O quadro “White Azaleas or Black Net”(1910), pertence a uma série que rompe com o nu tradicional voluptuoso da arte Ocidental, pela representação da erotização da mulher lésbica, que contribui para desestabilizar as categorias tradicionais da masculinidade e feminilidade. No contexto da fotografia, Claude Cahun, fotógrafa da indeterminação de género, materializa essa convicção nos anos vinte, por meio da fotografia, numa série de auto retratos encenados, na escrita, e no teatro.
Georgia O’Keefe e Emily Carr desenvolveram um estilo muito pessoal com uma diversidade de influências, e formas filtradas a partir da monumentalidade da natureza, criando de alguma forma uma fusão entre a mulher, a natureza e a arte.

No panorama artístico português, o take off acontece entre as décadas de 20 e 40.

Mily Possoz (1888-1967) de ascendência belga, natural de Lisboa, e lá residente, nascida num meio privilegiado, cedo viajou por Paris, Alemanha, Holanda, Bélgica, onde se familiariza com o modernismo. Na sua permanência em Paris, de 1922 a 1937, pinta jovens mulheres que se passeiam e tomam de assalto a cidade, ou em ambientes de cumplicidade que tocam o erotismo; os interiores sugerem imagens de intimidade, gatos, crianças, mas também as figuras populares, e as paisagens de Sintra onde viveu. A ausência de homens é quase uma constante, são personagens secundárias num mundo feminino em conquista de território. Explora a cor, o traço simplificado mas seguro no desenho, a gravura é o principal meio de subsistência durante parte da sua vida integrando o grupo Jeune Gravure Contemporaine em Paris. No seu trabalho confluem influências de Chagall, Fujita, do qual se tornou amiga durante as suas estadias em Paris, Marie Laurencin, Dufy, da gravadora Hermine David, bem como de Kiki de Montparnasse, artista e modelo. 

Sarah Affonso (1899-1983), concluiu os estudos na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, tendo sido aluna de Columbano, também passou por Paris onde frequentou aulas de modelo vivo na Academia da Grand Chaumière, fora das contingências academistas. De lá traz um traço modernista, através da síntese das formas, e uma “poética da ingenuidade”, praticada por vários artistas desta época independentemente do género, meio de contrariar o pormenor e o rigor do período clássico, bem expresso nos inúmeros retratos que pintou de familiares e amigos. O desenho é um meio preferencial a que atribui grande importância, a par da pintura e de outras artes decorativas, a ilustração, o bordado e a cerâmica, tal como fizeram o Movimento Arts&Crafts no século XIX, e depois a escola da Bauhaus, na integração das artes decorativas em propostas de arte global. 

Ofélia Marques (1902-1952), autodidata nas artes, foi a primeira licenciada em Portugal (Filologia Românica), e mulher do artista Bernardo Marques, que terá exercido influência na opção da sua carreira artística. Nas suas viagens ao estrangeiro visitou museus e galerias, e terá contactado com as propostas expressionistas que marcaram a sua produção marginal de grande força anímica. Trabalhou principalmente o desenho, suporte onde traduz essa obra de pendor expressivo; as cenas de cafés e de jogo lembram o primeiro expressionismo germânico de Grosz e Dix, e os desenhos eróticos, ainda que de forma algo remota, evocam os nus lânguidos e sensuais de Romaine Brooks, na sua exposição de um universo íntimo homossexual feminino. Tal como várias das suas congéneres e seguindo uma tradição secular na obra da mulher artista, trabalhou o retrato, os auto retratos, bem como as caricaturas de amigos e um registo mais ligado ao público infantil, colaborando com a imprensa ilustrada e de escritores. Seria esta a sua produção oficial, a outra marginalizada à semelhança de vários artistas do nosso modernismo que se duplicaram neste reverso, foi a mais significativa, e inédita, no conjunto de obras desta geração de artistas portugueses. Em 1940 é-lhe atribuído o prémio Amadeo Souza Cardoso na pintura por via do retrato. No entanto em 52 a sua vida termina pelas suas mãos, não encontrando porventura forma de conciliar a sua forma de estar no mundo com a estreiteza imposta pelos ditames da política social e cultural do Estado Novo.

Na geração seguinte Isabel Meyrelles (1929- ) é das únicas artistas que em Portugal seguiu o Surrealismo, tardiamente assimilado no nosso país, no entanto com forte expressão nos anos 40, em Cesariny, Cruzeiro Seixas, Dacosta, António Pedro, Vespeira, Cândido Costa Pinto, Fernando Lemos, Fernando Azevedo, José Augusto França, Moniz Pereira, Alexandre O’Neil, entre outros. A sua poesia cruza-se com a escultura, e debruça-se sobre temas que dominavam o imaginário surrealista: a alusão ao fantástico, o humor e o amor, a ficção, os objetos alegóricos da vida e da criação.

Existe de facto um desfasamento na forma como o Surrealismo celebrou de forma apaixonada a ideia da mulher e a sua criatividade, o corpo feminino torna-se o significante por excelência, no qual o desejo é projetado, e assim rescrito, tomado de assalto, fragmentado em polaridades que confluem e colapsam numa nova realidade criativa. A quantidade de mulheres que se envolveram neste movimento noutros países é muito significativa, mesmo sendo protagonistas num papel complexo. 

Qual a razão desta ausência em Portugal? 

Cremos que em pleno Estado Novo, num regime que preconizava a hegemonia do homem, a mulher dificilmente usufruía da liberdade necessária, mesmo dentro do grupo surrealista, para assumir esta complexidade de papéis, que foi arcada por Leonor Fini, Leonora Carrington, Dorothea Tanning, Eillen Agar, Kay Sage, Remedios Varo, Frida Kahlo, Toyen, entre outras. 

A permanência de Isabel Meyrelles em Paris durante largos anos, e a sua condição económica privilegiada, permite-lhe criar algum distanciamento das limitações que pesavam sobre a criação artística das mulheres.

A abstração e arte figurativa coexistem no pós segunda guerra, e há um deslocamento da arte das mulheres para fórmulas sociais mais alargadas, e para a arte “mainstream” durante este período. O “Federal Arts Project” (1935-1943) nos Estados Unidos e outros projetos que se lhe seguiram apoiaram a luta das mulheres no reconhecimento profissional. Artistas como Louise Nevelson, Lee Krasner, Isabel Bishop, e Alice Neel, foram de início apoiadas por estes programas. 

Em Portugal um “equivalente” programa levado a cabo por António Ferro, tem por objetivo constituir uma fachada cultural do Estado Novo, que é na sua essência masculina. No entanto, é significativa a presença de dez mulheres entre os quarenta e três artistas elencados na ficha técnica do maior evento de propaganda de Salazar, a Exposição do Mundo Português de 1940: Adelina Berta de Oliveira, Estrela Faria, Irene Lapa, Maria Adelaide Lima Cruz, Maria Clementina Carneiro de Moura, Maria Keil, Mily Possoz, Sarah Affonso, Regina Santos e Vitória Pereira. Na sua maioria pertenciam a um meio sociocultural privilegiado, com acesso ao ensino artístico desde muito cedo, e nos casos de Sarah Affonso, Ofélia Marques, e Clementina, casaram com artistas, o que nos anos 30 em Portugal não se traduzia necessariamente em benefício, pois o olhar tendencialmente ia para o homem. 

Mily, Clementina, Sarah, e Estrela, tiveram oportunidade de estudar no estrangeiro, que constituía uma importante mais valia pela oportunidade de entrar em contacto com o trabalho das vanguardas artísticas europeias, pouco conhecido em Portugal. 

Estrela Faria (1910-1976), tal como Mily, teve uma carreira internacional, em 37 ganha uma medalha de Ouro na Exposição Internacional de Paris, onde colaborou na decoração do interior do pavilhão de Portugal, e em 38 uma bolsa do Instituto da Alta Cultura para a mesma cidade. Em Paris frequentou a Academia de La Grande Chaumière, a Colarossi e a classe de pintura “a fresco” nas Beaux-Arts. Trabalhou na Exposição do Mundo Português (1940), e para aí realizou dois painéis de pintura mural representando assuntos populares para a sala de Cinema do Pavilhão de Arte Popular e quatro gigantescos retratos destinados ao Pavilhão das Colónias. Em 45 ganha o prémio Columbano, com “Cabeça de Rapariga”, retrato de grande densidade expressiva, e em 50 participa na XXV Bienal de Veneza. Residiu, com interregnos, em S. Paulo e ali participou na I Bienal em 1951, na II em 1953, e na III em 1955, vencendo então o Prémio de Pintura da Secção Portuguesa. Em 1953 executou um belíssimo mural, alegoria do cinema, para a parede do átrio do cinema Alvalade, que na reabilitação do edifício, depois de ter sido danificado, sofreu restauro em 2008.

Entre Outubro de 1955 e o ano seguinte, esteve no Rio de Janeiro a decorar o Banco Ultramarino Brasileiro, e em 1964, foi uma das decoradoras da sede do Banco de Moçambique, na atual Maputo, produzindo um revestimento de parede em mosaico de vidro, de teor geometrizante e com efeitos óticos, que acompanha a escada helicoidal do interior do edifício. O seu dinamismo e plasticidade de ser artista, imprimem-se numa multiplicidade de técnicas e modos de fazer, tendo nos últimos anos conquistado aquilo que há muito desejava, ser professora na Escola de Belas Artes de Lisboa.

Um processo determinante inscreve-se entre as décadas de 50 e 60, com a internacionalização das carreiras de Vieira da Silva, e Paula Rego, mais tarde seguido por Helena Almeida e Lourdes de Castro. Vieira na abstração, e Paula Rego de início com uma linguagem de caráter expressionista, próximo de uma “bad painting” herdeira de Dubuffet, casadas com artistas estrangeiros, saem fora do contexto nacional e dos ditames da política salazarista do Estado Novo, que impunha à mulher um lugar de confinamento ao lar, subjugada ao casamento ou à autoridade paternal, no caso de Vieira numa jornada que passa pelo Brasil e Paris, e Rego em Londres. 

Vieira da Silva (1908-1992), tal como Helen Frankentheler nos Estados Unidos, foi a única artista que nos anos 50, consistentemente descartou o género como tema. Frankentheler não foi a primeira artista a manchar a tela, mas foi a primeira a desenvolver um vocabulário formal completo desta técnica. Apesar de ter o apoio de Clement Greenberg, só depois dos pintores Keneth Nolland e Morris Louis adotarem a sua técnica, ela foi considerada “inovadora”.

Vieira da Silva e Paula Rego deslocadas de Portugal e mais próximas dos centros artísticos europeus, vão ter mais facilidade em escapar às limitações subjacentes à receção/produção da arte feita por mulheres.

O aparecimento do mercado galerístico em Portugal ainda que de forma ainda débil, vai permitir uma maior abertura de gosto e de apostas comerciais. E por sua vez a fundação Gulbenkian nesses anos irá desempenhar o papel de Ministério da Cultura para os(as) artistas portugueses não fazendo diferenciação de género, financiando a sua deslocação para os centros artísticos internacionais. 

Entre as artistas que beneficiaram de bolsas da Gulbenkian, além de Vieira da Silva, que muito cedo partia para Paris naturalizando-se francesa em 56, Salette Tavares, Graça Pereira Coutinho, Paula Rego, Lourdes de Castro, Helena Almeida, Menez, Clara Menéres, e Ana Vieira entre outras, emigradas na sua maioria em Paris e Londres. As exposições destas artistas residentes no estrangeiro terão constituído um canal privilegiado de ligação com as tendências estéticas contemporâneas, num país de escassa informação e com restritas condições de trabalho.
 

 

 

Manuela Hargreaves
Doutorada em Estudos do Património –História da Arte (FLUP), pós graduada em Ciências da Educação, e em Dinâmicas Culturais (FLUP), docente e investigadora, tem realizado de forma sistemática entrevistas a agentes do mundo artístico português. Publicou o livro “Colecionismo e Mercado de Arte em Portugal – O Território e o Mapa”, na editora Afrontamento, em Dezembro de 2013, e uma segunda edição em Maio de 2016. Na mesma editora, a ser publicado em breve o livro “Mulheres e Cultura Artística em Portugal – O Território e o Mapa”.

 

 

:::


 

Bibliografia

CHADWICK, Whitney – “Women, Art and Society”. London: Thames & Hudson world of art (third edition), 2002.
FERREIRA, Emília – “Mily Possoz, uma modernista na Europa”. Faces de Eva, Estudos sobre a Mulher, nº38: Lisboa, Dezembro 2017.
FERREIRA, Emília - “Marques, Ofélia”. Dicionário da história da I República e do Republicanismo. Coord. Maria Fernanda Rolo, Lisboa: Assembleia da República.VoL II., 2014
SALDANHA, António Nuno; COELHO, Quadros Pereira – “JOSÉ Vital Branco MALHOA (1855-1933) O pintor, o mestre e a obra”, Tese apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de Doutor em História da Arte.

Documentos Eletrónicos
ALEXANDRA, Helena; MANTAS, Jorge Soares – “Maria Keil, ‘uma operária das artes’ (1914-2012)” Arte portuguesa do século XX Volume I. Disponível aqui.
CRESPO, Lúcia – “O Mundo Português em Belém”, fevereiro 2017. Disponível aqui.
ESQUÍVEL, Patrícia - “Mulheres Artistas na Idade da Razão. Arte e Crítica na Década de 1960 em Portugal”. Instituto de História da Arte, FCSH, Universidade Nova de Lisboa. Disponível aqui.
ROQUE, Maria Isabel – “Sarah Affonso: Tempos, lugares e coisas simples” in A.MUSE.ART, 2019/09/25. Disponível aqui.
WAH!,( Curadoria José Alberto Ferreira), Fundação Eugénio de Almeida, Centro de Arte e Cultura, Évora 2018. Disponível aqui.