Links

PERSPETIVA ATUAL


Capa do livro Une histoire mondiale des femmes photographes (2020), editado por Luce Lebart e Marie Robert. Editions Textuel.


Newsha Tavakolian, Portrait de Negin à Téhéran, 2010, p. 470-471.


Mary Willumsen, Carte postale nº2238, cerca 1914-21, p.125.


Hilla Becher, Typologies nº1 à nº6, 1965-1991 (Reservatórios de água, 1972-90), p. 306. (Bernd Becher está ausente da legenda)


Comtesse de Castiglione, Le pied, 1914, p. 45. (Pierre-Louis Pierson está ausente da legenda)


Emma Jane Gay, Choup-nit-ki (With the Nez Percés), cerca 1889-92, p. 41.


Hannah Höch, ST (Grande main au-dessus de la tête d’une femme), 1930, p. 127.


Anne Noggle, Stonehenge Decoded, 1977, p. 251.

Outros artigos:

2024-10-21


AISHWARYA KUMAR


2024-09-21


ISABEL TAVARES


2024-08-17


CATARINA REAL


2024-07-14


MAFALDA TEIXEIRA


2024-05-30


CONSTANÇA BABO


2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



UMA HISTÓRIA DE MULHERES FOTÓGRAFAS, ESCRITA POR MULHERES. CRÍTICA POR UM HOMEM.



MARC LENOT

2021-02-08




 

 

É uma excelente iniciativa este livro sobre mulheres fotógrafas editado na Textuel por Marie Robert e Luce Lebart: ninguém pode contestar que as mulheres fotógrafas não são suficientemente conhecidas, não são visíveis o suficiente e que, para corrigir esta situação, merecem exposições em museus, livros e revistas. A primeira exposição coletiva no mundo de fotógrafas femininas teve lugar há 115 anos em Hartford, Connecticut, em abril de 1906; mais tarde, houve a exposição fundadora de Margery Mann e Anne Noggle no SFMoMA em 1975. A primeira exposição dedicada a mulheres fotógrafas na Europa foi na Pinakothek de Munique, em 2008, e a primeira em França, em 2009, na Gulbenkian Paris, uma notável exposição com uma centena de mulheres fotógrafas (ao mesmo tempo que elles@centrepompidou, no entanto, apenas 15 das 100 mulheres expostas na Gulbenkian estavam representadas no Pompidou, com uma seleção mais francesa), mas que, curiosamente, teve muito pouco eco (provavelmente este assunto não era visto na altura como um assunto interessante, nem militante; confesso não a ter visto na altura, só mais tarde a ter descoberto, através de amigos portugueses, pelo seu excelente catálogo), seguido por esta, muito mais divulgada, na Orangerie e Orsay em 2015 (mais de 150 artistas). As mulheres fotógrafas merecem revistas como a Femmes Photographes e a edição especial da Katalog, e livros como este: não há muito mais em francês, ao contrário da profusão de livros em inglês; demasiadas vezes, em França, preocupamo-nos apenas com as estatísticas brutas que contabilizam publicações, menções na imprensa e presenças em exposições e festivais, sem as acompanharmos com uma reflexão substancial. A bibliografia, muito bem feita, enumera 150 livros: apenas quinze estão em francês (incluindo traduções), mas quase 120 em inglês. Este grande livro (500 páginas) apresenta monografias curtas (uma página, uma imagem) sobre mais de 300 fotógrafas, desde o princípio da fotografia (Anna Atkins, nascida no século XVIII) até hoje (a mais jovem, Newsha Tavakolian, tem 40 anos); a ordem é cronológica (ano de nascimento), e um índice permite recuperar a ordem alfabética. Note a diferença entre as duas primeiras imagens: a escolhida para a capa (será um manifesto subliminar?) apontando a sua arma ao leitor, é possível ser vista como a marca da violência agressiva, enquanto a da fotógrafa mais jovem (Portrait de Negin à Téhéran, 2010) prefere denotar uma atitude calma e assertiva de defesa contra a violência. Duas facetas, dois estilos.

Este livro remonta então à história e traz, bem, à luz fotógrafas desconhecidas do século XIX (Marie Robert foi uma das curadoras da exposição Quem tem medo das mulheres fotógrafas?). Enquanto quatro países, os Estados Unidos, a França, a Grã-Bretanha e a Alemanha, representam quase metade do total (sabendo que muitas fotógrafas são, de facto, bastante cosmopolitas), este livro tenta, no entanto, não se limitar às figuras conhecidas do Ocidente (as burguesas brancas, como diz a peruana Daniela Ortiz) e de apresentar também fotógrafas do Sul, cerca de um quarto do total. Mas por que só um quarto? Não deveria haver paridade Norte-Sul aqui como pedimos paridade de género? A história da fotografia, historicamente, tem negligenciado relativamente as mulheres fotógrafas (e este livro vai contra isso), mas a história da fotografia, atualmente, negligencia relativamente os fotógrafos do sul (e este livro vai no mesmo sentido). Este livro é uma oportunidade para descobrir desconhecidas (para mim): Naciye Suman, primeira fotógrafa turca, Karimeh Abbud, primeira palestiniana, Alice Seeley Harris, primeira ativista anticolonial (1904), ou, num registo diferente, Mary Willumsen, uma das primeiras fotógrafas eróticas em 1914, ou Anne Noggle (também curadora da referida exposição no SFMoMA em 1975) e o seu trabalho intransigente sobre o envelhecimento, incluindo o dela (estas são, penso eu, fotografias que só uma mulher pode fazer, e merecerá um pouco mais de reflexão sobre "female gaze"), e muitas outras. [adenda: três fotografias de Mary Willumsen, provenientes da galeria Lumière des Roses que a expôs em 2019, estiveram na exposição de Orsay, mas não são reproduzidas no catálogo].

Uma excelente iniciativa, portanto, mas um resultado misto. Em primeiro lugar, criticarei a escolha das fotógrafas: é, inevitavelmente, uma escolha subjetiva das duas editoras, e estamos muito satisfeitos por podermos fazer graças a elas muitas descobertas. Ao mesmo tempo, é um pouco paradoxal intitular o livro "Une histoire mondiale des femmes photographes" sem incluir Annie Leibovitz, nem Bettina Rheims, nem Valérie Jouve, nem Taryn Simon, nem Vanessa Beecroft (nem Ana Mendieta, talvez por não ser considerada exclusivamente fotógrafa; mas Hannah Höch, com práticas igualmente diversas, está incluída). Parece-me evidente que as duas editoras conheciam estas mulheres fotógrafas, que me parecem ser também figuras inevitáveis na fotografia; mas, em seguida, que razões presidiu à sua omissão? Será a imagem da mulher que Rheims ou Beecroft propõem que as envergonhou? Mas as imagens de poder e domínio político ou social que outras fotógrafas aqui apresentadas (por exemplo, Leni Riefenstahl) transmitem não levaram à sua exclusão (há mesmo uma Imperatriz no portfólio, Ci Xi). Mas Leibovitz (apenas uma menção desconcertante: Tsuneko Sasamoto será a "Leibovitz japonesa, uma sumidade no seu país", diz esta observação)? Mas Jouve? Mas Simon? Estas exclusões são muito estranhas e incompreensíveis. E há outras, menos conhecidas, mas, no entanto, fotógrafas importantes (entre muitas outras, Ahlam Shibli), que a falta de espaço parece ser capaz de explicar apenas em parte; é claro que qualquer escolha exclui, mas os critérios devem ser esclarecidos. Na exposição elles@pompidou em 2009, a primeira grande exposição de mulheres artistas em França, de um número de 340 artistas, havia cerca de 50 fotógrafas: quando comparamos as listas, percebemos que mais de 20 dessas 50 não estão incluídas aqui. E apenas 20 das 50 fotógrafas da exposição fundadora de 1976 no SFMoMA (certamente 90% focadas na América do Norte) estão em destaque aqui.

Achei interessante apresentar Hilla Becher sem Bernd, e Anna Blume sem Bernhard: essas mulheres não eram segundas partes no seu par; e mesmo se os trabalhos dos dois membros do casal seja inseparável, essas mulheres foram de facto relativamente ocultadas (mas, enquanto a foto de Blume é creditada a ambos os cônjuges, Bernd desapareceu do crédito da imagem incluída: por quê?). O mesmo vale para Constance Talbot (por outro lado, Louise-Georgina Arrowsmith-Daguerre, que estava preocupada com a saúde mental do seu marido desde 1827, está ausente, justamente ela). Na mesma linha, não percebi porque Claude Cahun é apresentada sozinha: Marcel Moore / Suzanne Malherbe é certamente mencionada, mas como colaboradora e não como igual, e ela não tem direito a uma nota em nome próprio; haveria dominações dentro do casal mais aceitáveis do que outras? Outra deficiência que me surpreendeu, ligada ao meu campo específico de investigação, não há aqui nenhuma fotógrafa experimental, sendo precisamente uma das áreas onde se encontra mais fotógrafas mulheres (por isso as três exposições atuais no CPIF, Vélizy e FRAC Rouen sobre fotografia e abstração incluem 43% de mulheres, para satisfazer o pequeno jogo das estatísticas); mas nem Felten-Messinger, Vera Lutter, Evelyne Coutas, Rossella Bellusci, Nancy Wilson-Pajic (todos na exposição do Pompidou), Ellen Carey, Liz Deschenes, Eileen Quinlan, Susan Derges, Alison Rossiter, nem muitas outras estão incluídas aqui. Uma seção inteira da fotografia feminina foi deixada em silêncio; As duas diretoras do livro serão imunes ao experimental (como escrevem no ensaio de apresentação: "muitas vezes experimentam, como pioneiras"). Mas, se essas lacunas são irritantes, elas permanecem secundárias comparadas com a extensão do trabalho, e não hesito em dizer que, no geral, apesar dessas várias deficiências, a lista é impressionante, mesmo que não seja fielmente representativa da situação real.

Cada fotógrafa beneficia de uma nota de meia página. Algumas dessas referências são pequenas jóias, refletindo perfeitamente em algumas linhas a riqueza e complexidade do trabalho da fotógrafa apresentada (o de Marta Gili sobre Susan Meiselas, por exemplo, o de Abigail Solomon-Godeau sobre a Condessa de Castiglione, ou a de Federica Muzzarelli sobre Lady Hawarden). Outras, sobre fotógrafas pouco conhecidas, especialmente dos séculos XIX e XX, fornecem informações muito úteis (por exemplo, Sara Knelman sobre Emma Jane Gay, Sigrid Lien sobre Solveig Lund, ou Anna Sparham sobre Christina Broom). Mas algumas notas são demasiado suaves, evitando cautelosamente levantar controvérsias, divergências: por exemplo, falar de Valérie Belin sem mencionar as críticas ao seu trabalho recente, por muito bom que seja o texto de Nathalie Herschdorfer, parece um pouco curto; da mesma forma, falar de Liselotte Grschebina sem mencionar a sua dimensão propagandística (embora a propaganda fotográfica seja corretamente salientada nos casos de Leni Riefenstahl ou da Grega Nelly) é uma lacuna (deliberada?) por parte da israelita Yudit Caplan (do muito oficial Museu de Israel).

Um outro exemplo não muito feliz, a nota sobre Anne Brigman, ainda que escrita por uma comissária da SFMoMA, nada diz sobre o paganismo de Brigman, nada sobre o seu olhar reduzindo o corpo feminino a um objeto fotografável (preferimos repetir a doxa de que ela era feminista), nada sobre a sua técnica, digamos que, aproximativa, e repete o erro comum de dizer que ela era a única mulher membro da Photo Secession no Oeste dos Estados Unidos (havia pelo menos 4 outras mulheres, entre as quais Sarah Hall Ladd; nenhuma está incluída aqui). E, infelizmente, algumas notas estão ao nível Wikipédia. Podemos compreender que gerir 160 contribuições seja uma tarefa difícil; mas as diferenças de qualidade entre os textos são por vezes desconcertantes. No entanto, as duas editoras optaram por ter apenas autoras, que felizmente provêm de diversas origens (cerca de 20 sobre as 160 vêm dos países do "Sul"), e por isso excluíram qualquer homem deste livro: podemos compreender esta escolha do ponto de vista ativista, de modo a dar mais visibilidade às autoras, demasiadas vezes negligenciadas no passado, mas, em alguns casos, não é realmente uma escolha pertinente. Para dar um exemplo, sobre uma fotógrafa que estudei um pouco, Zaida Ben-Yusuf, o especialista incontestado do seu trabalho é o historiador Frank Goodyear, que é o único que escreveu extensivamente sobre ela; mas é um homem! Assim, foi excluído deste livro e o registo foi confiado a uma estudante de doutoramento em Paris 3, cujo texto é particularmente fraco ("Para ela, a fotografia torna-se um meio de expressão artística, bem como o reflexo da sua ambição de libertação pessoal"). Nem o catálogo da Gulbenkian (com Jorge Calado) nem o de Orsay (com Thomas Galifot e Ulrich Pohlmann) tiveram este princípio de excluir sistematicamente os autores masculinos.

Finalmente, e felizmente, este livro não se limita a compilar uma lista (como estas), mas abre com dois ensaios das editoras, e é excelente que estes textos vão contra uma história da fotografia escrita principalmente por homens. Estes ensaios destacam o atraso francês nesta área, não só em termos de livros e exposições, mas também em termos de olhar crítico: em França, nada "de abordagens abrangentes que coloquem explicitamente a questão do género", uma redução da crítica à "celebração de uma feminilidade naturalizada" e à investigação de "eventuais ‘especificidades femininas’ nos clichés femininos". Enquanto, justamente, o ensaio de Marie Robert, para além da celebração da difícil conquista dos bastiões masculinos, abre pistas de reflexão que estão por perseguir: a empatia própria das fotógrafas femininas, o desejo de "desafia[r] os códigos de representação, inventa[r] novas formas, estabelece[r] práticas inéditas", fazer "do seu próprio corpo o território principal de uma busca feminista e/ou anticolonial", de "reivindicar uma forma de apropriação inédita das representações do corpo", reflexões que estão aqui apenas redigidas e que realmente merecem mais desenvolvimentos, contra a abordagem diferencialista tão comum. Sobre esta abordagem diferencialista, não resisto ao prazer de citar a muito pouco convencional Anne Noggle no catálogo da SFMoMA em 1975: "It is not the intention of this historical survey to delve into the nebulous area of the sexes where answers are as scarce as brassieres and neutrality tantamount to treason."

Apesar destas críticas não negligenciáveis, a verdade é que este livro é uma excelente iniciativa, que era muito necessária, e uma referência futura. Mas talvez eu não devesse ter escrito esta crítica? Talvez, um homem branco hetero com mais de 50 anos, não seja considerado legítimo criticar um livro escrito por mulheres sobre mulheres? Talvez, como alguns parecem desejar, a crítica a qualquer livro de mulheres sobre as mulheres deva ser reservada às críticas femininas (tal como a fotografia de pessoas negras seria reservada aos fotógrafos negros, como mencionou recentemente Michel Guerrin numa crónica um pouco desgostosa). Talvez...

 

 

Marc Lenot
É desde 2005 autor do blog Lunettes Rouges, publicado pelo jornal Le Monde. Em 2009 obteve o grau de Mestre com uma dissertação sobre o fotógrafo checo Miroslav Tichý, e em 2016 doutorou-se pela Universidade de Paris com uma tese sobre fotografia experimental contemporânea. Membro da AICA, venceu em 2014 o Prémio de Crítica de Arte AICA França, pela sua apresentação do trabalho da artista franco-equatoriana Estefanía Peñafiel Loaiza.

 

:::

 

[Nota ética: o autor é membro do Conselho de Administração da Sociedade Francesa de Fotografia, assim como as duas diretoras do livro.]