|
FIAC, PARISSÍLVIA GUERRA2006-10-30FEIRAS-OFF: Diva – Vídeo e Arte Numérica Show-Off – Arte Contemporânea Slick – Arte Contemporânea ? ARS EST CORPUS VILE, antítese da citação de Gary Hill na exposição monográfica da Fundação Cartier – “a arte é um corpo sem valor”. Este ano as feiras que se realizaram paralelamente à FIAC foram três, mas a relação entre as quatro organizações foi de grande cooperação e mútua publicidade, talvez porque aos organizadores e comissários da FIAC não interessasse que o decréscimo das galerias expostas este ano gerasse polémica (estiveram expostas 175 contra as 220 de 2005). Se a FIAC abandonou o espaço de feiras da Porta de Versalhes e apostou no luxo e em lugares históricos e centrais de Paris, o Grand Palais, as Tuileries e o Louvre, as outras três feiras adoptaram igualmente locais de prestígio só que descentrados na grande árvore-mapa dos arrondissements parisienses. DIVA Hôtel Kube, passage Ruelle, 18º arrondissement, perto de Montmartre Neste hotel de design high-tech, onde desde a torre de vidro do átrio às taças de café, tudo tem a forma de um cubo, instalou-se este ano a Diva. Esta organização de Nova York dedicada à divulgação da arte vídeo e digital contou nesta edição com a participação de 11 galerias internacionais. O ambiente foi de festa privada, com direito a carimbo no braço ou no pescoço dos visitantes, bar com DJ’s e muita “fourrure”. Subo pelo elevador e no segundo andar com paredes negras e números a branco, entre os quartos 201 e 212 distribuem-se as obras e galerias. No quarto 202 o vídeo “Arrested Devellopment” de Grace Dnidf com uma banda sonora de Salif Keita é o “special project” da feira; no quarto 207 a Galerie Isabelle Gounod de Paris apresenta os vídeos de Mathew Rouget, desenho e animação, com o irónico “Pour maman”; no quarto 206 mostram-se dois vídeos de Noé Sendas, “rolling” e “landing” (2005), que está representado pela galeria Barbara Blickensdorff de Berlim, juntamente com a artista Tea Mekippaa. A galeria Nt art de Bolonha apresenta os vídeos mutantes de Aldo Giannotte. SHOW - OFF Espace Pierre Cardin, 1 avenue Gabriel, 8° arrondissement, Champs Elysées Por iniciativa de Éric Dupont, após o Comité de Selecção da FIAC ter recusado a participação da sua galeria, foi criado o Show-Off, que acontece no espaço alugado a Pierre Cardin. Assim se criou esta nova feira com 25 participantes entre os quais a galerie Filles du Calvaire, a Vanessa Quang, a RX, entre outras. O luminoso Espace Pierre Cardin, um outro nome de prestígio da moda francesa subdivide-se em dois andares e a Show-Off contou com diversas performances e sessões de vídeo dedicadas aos coleccionadores. Foi levantada a questão do “triângulo edipiano: interacções e influências entre críticos/artistas/galerias” com a participação de Paul Ardenne, Ami Barak, Philippe Piguet entre outros num debate que teve lugar na quinta-feira. A selecção de obras acusava por vezes o espírito “dos recusados” da feira oficial, sendo o ambiente saturante pelo aquecimento do espaço devido a um excesso de holofotes. Tirando algumas excepções como os trabalhos de Béatrice Valentas, com o seu vídeo-lustre, representada pela galeria Marc de Puer ou a pintura de Joffrey Ferry pela Galerie Baumet- Sultana de Paris as surpresas foram raras. SLICK Espaço da Bellevilloise, 19-21 rue Boyer, 20° arrondissement, Menilmontant Ao contrário do percurso nocturno e disco da Diva, a Slick foi o espaço mais solar das feiras-off; no alto da colina de Ménilmontant os dois andares consagrados às galerias gozavam de uma partilha muito descontraída do espaço; com muitas participações internacionais, americanas e mesmo do Vietnam como a galeria Art Vietnam de Hanoi. Performances ao vivo, dois espaços lounge para os vídeos dos alunos do Fresnoy. As obras expostas, com espacial atenção para as da galeria Numeriscausa, dedicada à arte numérica, a Artcore ou a 13 Sevigne de Paris respiravam nestes espaços, bem ao espírito da casa ocupada, com muitos muros inter-comunicantes. O principal local de convívio foi o belo restaurante “Aux oliviers” que faz lembrar o Theâtre du Soleil de Arianne Mouchkine, ou o Chapitô em Lisboa. Poderia dizer-se que a Slick foi a única feira a manifestar-se fora do luxo da empresa de moda, ou seja, foi a “tradicional feira alternativa”. Como se pode concluir deste périplo e após a fadiga de tantos eventos paralelos, o coleccionador pode encontrar obras com um valor ascendente aos 100 milhares de euros, pode comprar um David Hockney ou uma serigrafia vietnamita de autor desconhecido. A política foi a de incentivar o futuro coleccionador de arte contemporânea dizendo que a arte é acessível a todos e que a todos se permite o acesso ao mundo dos privilegiados. A promoção da moda e do design francês foi a tónica do evento e até mesmo da gastronomia, com a participação da casa de vinhos Taillevent ou de restaurantes como o Transversal. Os países participantes na FIAC (oficial) foram 21 e a França contou com mais de um quarto das participações com 77 galerias presentes. Quase todas as instituições culturais parisienses participaram nestes 4 dias de festa com múltiplas inaugurações entre as quais na Fundação Cartier, na Maison Rouge ou na Maison Européenne de la Photographie. A Câmara de Paris esteve de braços dados com a Reed Internacional, organizadora do evento e o “Money make the world go around”. Houve uma efervescência do turismo cultural na cidade mas de uma forma muito mais discreta do que nas bienais internacionais ou na Nuit Blanche pois a FIAC continua a ser para quem pode comprar arte. Apesar do relevo dado à arte vídeo e em suporte numérico, os valores mais elevados nas vendas foram atingidos pelas obras em escultura e pintura; no entanto, a fotografia continua a ser a arte mais acessível a todos. Diversos artistas a “anos-luz” dos “monogold” de Yves Klein voltaram a utilizar o ouro nas suas obras, desde a ratoeira de Lorenzo Mardaresco representado pela Linkart de San Francisco aos lingotes de Gary Hill na exposição monográfica que lhe dedica a Fundação Cartier. O mote geral seria o de que comprar um perfume Guerlain ou um vestido Yves Saint Laurent equivale a comprar um Claude Closky; no fundo é a mesma coisa. A ideia que se procurou transmitir foi a de que tudo é criação. Mas é como dizer que república e democracia são a mesma coisa. |