|
11èMES RENCONTRES INTERNATIONALES PARIS/BERLIN - PRIMEIRO EPISóDIOSÍLVIA GUERRA2006-11-2811èmes Rencontres Internationales Paris/Berlin Paris, de 23 de Novembro a 2 de Dezembro de 2006, em 10 locais diferentes da cidade Começaram na última quinta-feira à noite, no Jeu de Paume, em Paris, os Rencontres Internationales Paris/Berlin. Este festival, dedicado à divulgação e exploração do carácter multidisciplinar da arte contemporânea, apresenta uma programação de cinema, vídeo, multimédia e artes visuais nas cidades de Paris e de Berlim. Os Encontros, que existem desde 1997, surgem como um espaço de diálogo entre os diferentes criadores, continuando a afirmar-se como um observatório dos novos territórios de pesquisa da imagem, preservando o carácter agradavelmente informal de discussão entre os participantes e o público. Este evento é importante, na medida em que nos permite ver em directo o que é produzido em 2006 nestes diversos media, numa programação conjunta e num momento em que a questão do cinema no museu e a problematização das fronteiras entre a arte vídeo e o cinema são o “pitting bull” dos teóricos e historiadores da imagem. Quinta-feira (23 Nov.) A selecção de quinta-feira apresentava uma mostra de obras das diferentes áreas do festival: filme experimental, vídeo experimental, vídeo arte, instalação e documentário. A primeira projecção foi do filme “Kristall” (2006), realizada por Mathias Muller e Christoph Girardet e apresentada em Portugal na última edição do Festival de Curtas-Metragens de Vila do Conde. A dupla alemã continua fiel às suas antologias cinematográficas, sob um leitmotiv preciso, desta vez, o espelho, como reflexo e reverberador das acções de inúmeros personagens apresentados em sequência, ao som frio de lustres de cristal. Seguiu-se o vídeo experimental “We’re going for a trip across the water” de Jason Dee; os diversos trabalhos deste artista do Reino Unido remetem-nos para as origens da imagem em movimento e para os dispositivos de ciclorama; Estaremos cansados da imagem em movimento? Esta tendência do vídeo artístico na sua revisitação e reutilização de imagens de filmes dos anos 40 e 50 assume a dimensão de um retorno à imagem do daguerreotipo mas em versão digital. Hans Op de Beeck apresenta “All toghether now” (2005), as imagens de família como um pesadelo silencioso, os almoços de casamento e de funeral, o vídeo perde parte da sua força visual pela utilização do som de vozes distorcidas, que reforçam o carácter irónico e animal destas reuniões de família. A sessão terminou com um documentário de Daniel Erb e Patrik Metzger: “West-Berlin” (2006), onde a ironia está na cidade e seu duplo, ou seja uma cidade chamada Berlim-Este que ainda existe na Rússia. Sábado (25 Nov.) “La lunga ombra” (2006) é o novo filme electrónico de Jon Jost. Filmado em Italia é uma “love letter” em tempos de terrorismo psicológico e mediático. O desencantamento que ficou impresso na memória colectiva após o 11 de Setembro é sublimado pelo convívio de três irmãs, recolhidas à beira-mar para consolar a que fora abandonada pelo companheiro. E impossível deixar de pensar neste filme como uma resposta cinematográfica a Teresa Villaverde e a “Água e sal” (2001), resposta à desilusão das suas personagens para as quais tudo é normal; “Promenades”, em plano sequência, ou a nossa história que trocou o oceano por uma piscina. Domingo (26 Nov.) Exibiu-se “A Piscina” (2004) de Iana e João Viana ou uma metáfora de Portugal como o eterno “purgatório”. A nossa piscina abandonada não é atravessada por uma vela que nunca se apaga como em “Nostalgia” (1983) de Andrej Tarkovski, mas por uma rapariga que acende com o seu isqueiro intermitente os cigarros dos rapazes, atravessando a água choca do fundo da piscina; onde está o nosso céu se tudo o resto é expiação? O filme permite que a nossa imaginação faça uma viagem pelas diferentes idades da vida e do cinema português, desde as crianças irreverentes como as do “Aniki Bobo” de Manuel de Oliveira, aos “pregos no pão” que João César Monteiro poderia comer se fosse ao Porto e às cenografias natural-surrealistas de Paulo Rocha. No entanto, a questão com que este filme nos confronta é: Qual será a nossa ficção futura? João Viana presente na sala respondeu às perguntas do público, admirador do seu filme e curioso pelo novo cinema português. Segunda-feira (27 Nov.) Ao fim da tarde, Michael Snow apresentou cheio de bom humor, a sessão que lhe era dedicada pelos Rencontres, apresentando diapositivos das suas instalações artísticas exibidas em galerias e museus, e introduzindo três filmes da sua autoria em que utiliza os diversos media dos Rencontres: 35 milímetros, vídeo numérico e uma peça para piano. Revisitamos as transparências do grande mestre-provocador que trabalha desde os anos 60 em arte-vídeo, explorando esculturas de tempo e espaço. Ao assistirmos a “The Living Room” vídeo de 2002 vemos como o artista veterano nesta área se diverte com todas as possibilidades que o vídeo numérico pode oferecer, numa sala onde personagens e décor nos remetem para um quadro de David Hockney. |