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OPINIÃO


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LUÃS RAPOSO

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PERFORMING VENICE



JUAN CANELA

2013-07-11




Sem dúvida, nos últimos anos a performance normalizou-se como um formato artístico mais. Já não é uma presença um pouco estranha adicionada à exposição. Mas integrou-se e faz parte dela como qualquer outro formato, inclusive convivendo em simbiose com outros elementos na formação de uma obra. Não é por acaso que o Leão de Ouro deste ano para o melhor artista da bienal foi atribuído a Tino Sehgal, cujas “situações construídasâ€, como ele as define, têm sido vistas nos grandes centros de arte contemporânea na última década. Em Veneza, encontramo-la no Pavilhão Central da exposição comissariada por Massimiliano Gioni, Il Palazzo Enciclopedico.

A proposta de Sehgal coloca em cena um par de intérpretes de várias idades que ignoram o que os rodeia e realizam coreografias e músicas que fazem alusão à transmissão do conhecimento, mito e cultura. Mas esta não é, evidentemente, a única peça de carácter performativo encontrada na Bienal; assim, tomando o prémio como uma desculpa, tenho a intenção de realizar uma viagem pessoal por alguns destes trabalhos.

No mesmo Pavilhão Central encontramos Asylum, da artista Eva Kotátková, baseada nas hierarquias sociais e nos modos de comunicação prestados numa colaboração com os pacientes de um hospital psiquiátrico de Praga. Composta por colagens suspensas sobre vidro, encostadas a prateleiras ou penduradas em estranhos recipientes, a instalação sugere um corpo político alternativo, concebido a partir da visão fragmentada dos corpos que emergem dos objetos − interpretados por un par de performers encerrados literalmente na instalação −, e que refletem a perspetiva de quem vive fora da ordem social estabelecida.

Já fora da exposição central, o pavilhão da Roménia acolhe An Inmaterial Retrospective of the Venice Biennale. O projeto faz lembrar a retrospetiva de Xavier LeRoy que conseguimos ver no ano passado na Fundació Tàpies, mas desta vez o foco é direcionado para a história da bienal e para as suas obras mais paradigmáticas. Entramos num pavilhão vazio e cada vez que um dos performers presentes nomeia uma peça histórica, estes representam-na com os seus próprios corpos. A retrospetiva transforma o monumental em imaterial e os objetos em ação.

No pavilhão da Itália a exposição Vice versa promove diálogos entre artistas, às vezes um pouco forçados a partir do discurso curatorial, propondo casar obras com conceitos diametralmente vinculados. Francesca Grilli enfrenta o seu trabalho ao de Massimo Bartolini para demonstrar a dualidade de som / silêncio. O projecto de Grilli envolve um performer que interage com o ritmo dos pingos da chuva caindo sobre uma grande placa de aço, mostrando a relação entre a voz e a matéria, onde a erosão do metal simboliza o poder tangível da perseverança e da repetição, e a voz, a última vontade de existir, sendo absorvida e amplificada pela água.

E terminamos o passeio no pavilhão partilhado pela Lituânia e pelo Chipre, com curadoria de Raimundas Malasaukas, que bem merece um texto separado. O projecto Oo é definido como “uma estrutura ligeiramente assimétrica de transporte irregular, com os elementos abertos, baseado no interesse nas formas de organização, mais do que na organização de formas.†Localizado no Palasport “Giobatta Gianquintoâ€, um mítico ginásio de Veneza, situado junto ao Arsenale, as obras de arte irão coexistir com as provas desportivas que são realizadas no lugar durante todo o verão.

A exposição abrange os diferentes andares do edifício de referência, convidando o espectador a encontrar as peças e a se perder nos corredores, movendo-se livremente através do espaço – algo de que se tem saudades em toda a bienal. Além disso, ao longo do caminho encontramos várias peças coreográficas, como a de Lia Haraki, que realiza frenéticos e repetitivos movimentos em aceleração, levando-se a si própria aos limites da resistência. Na pista de jogo encontramos a peça Cousins de Gabriel Lester, uma instalação feita de paredes que vêm de catorze museus europeus, e que compõem uma coreografia para a interação dos performers e dos visitantes. A coexistência alcançada no pavilhão é sublime, não só entre as peças e o espaço, mas também entre os dois países e entre os testes desportivos próprios do ginásio e as performances coreográficas. Por outro lado oO, põe em causa o próprio conceito de pavilhão nacional, apostando na colaboração e experimentação, e ativando um espaço para o diálogo entre a arte e o desporto com uma encenação original e consequente no catálogo − um pequeno livro de histórias para crianças − com a lista de atividades programadas. Uma excelente opção para se deixar surpreender.


Juan Canela

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Nota: Texto originalmente publicado em A-Desk, em 27/7/2013.
www.a-desk.org/highlights/Performing-Venice.html