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OPINIÃO


“re.act feminism”. Galeria Vzigalica, Liubliana.


“re.act feminism”. Galeria Vzigalica, Liubliana.


Sanja Ivekovic, “Triangle 1”, 1979


Boryana Rosso and Ultrafuturo, “SZ-ZS Performance”, 2005

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2016-06-23
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TERESA DUARTE MARTINHO

2016-05-12
ARTE, AMOR E CRISE NA LONDRES VITORIANA. O LIVRO ADOECER, DE HÉLIA CORREIA

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2016-04-12
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LUÍS RAPOSO

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RE.ACT FEMINISM_LIUBLIANA



ROSANA SANCIN

2009-05-23




A exposição e o seminĂĄrio “re.act feminism” decorreram na Galerija Vzigalica em Liubliana no final de Março e constituem um evento prĂ©vio integrado na programação do festival “City of Women”, que desde 1995 pretende dar visibilidade Ă s obras de alta qualidade feitas por artistas, teĂłricos e activistas, propondo uma plataforma crĂ­tica que considera os assuntos contemporĂąneos pertinentes. Esta mostra comissariada por Bettina Knaup e Beatrice E. Stammmer foi inaugurada em Dezembro de 2008 em Berlim na Akademie der KĂŒnste e encontra-se actualmente em viagem pela Europa.

Este seminĂĄrio insere-se no projecto mais vasto, “re.act feminism”, que visa apresentar ao pĂșblico um arquivo de vĂ­deo com mais de oitenta peças de performance, desde a dĂ©cada de 60 e 70 atĂ© aos nossos dias, principalmente filmadas na Europa de Leste. Entre os trabalhos documentados dos pioneiros da performance, como Faith Wilding, Abramovic ou Valie Export, assinale-se uma forte e bem marcada presença de artistas da Europa de Leste, como Sanja Ivekovic, NatĂĄlia LL e Ewa Partum, assim como alguns exemplos da produção mais recente de Boryana Rossa, Tanja Ostojic e Alketa Xhafa Mripa, assim como de Lilibeth Cuenca.

Bettina Knaup, uma das comissårias da exposição, considera que a história da performance, enquanto arte-em-processo, foi muito influenciada por mulheres desde o seu início, na década de 60, tendo ainda, claramente, precursores e raízes em outros movimentos do século XX. A tentativa aqui presente consiste em ir além do cùnone patente nas performances geralmente conhecidas, aquelas peças icónicas que figuram nos manuais, alargando assim horizontes através da inclusão de artistas não oriundos das capitais do modernismo, embora igualmente provenientes dos chamados primeiro e segundo mundos, deixando ainda todo o Sul de fora. A história ainda não chegou ao fim.

A historiadora de arte e comissĂĄria Angelika Richter fez uma breve apresentação da situação polĂ­tica e cultural da Alemanha de Leste, antes da queda do Muro, considerando que esta deve ser tida em conta quando se pensa nas artes visuais e especialmente na obra de algumas mulheres artistas daquele perĂ­odo: “Todos os artistas tinham um inimigo comum, que era o Estado. A emancipação da mulher era um tema secundĂĄrio. O principal objectivo consistia em libertar o gĂ©nero humano em geral”.

Dubravka Djuric, escritora, professora universitåria e co-fundadora da revista ProFemina não pÎde participar pessoalmente no seminårio, pelo que a sua comunicação foi apresentada pela artista Lana Zdravkovic /KITSCH. Esta debruçou-se sobre a (im)possibilidade de uma compreensão (ou leitura) universal da arte da Europa de Leste, por oposição à arte ocidental, dando exemplos colhidos nas obras de Abramovic, Ladik e Delimar, da antiga Jugoslåvia.

A Ășltima comunicação foi apresentada por Barbara Borcic do SCCA, de Liubliana, que efectuou uma apresentação geral do acervo, abordando a questĂŁo do arquivo e o problema do arquivamento de obras de vĂ­deo ou de outros documentos filmados de arte ao vivo, como a performance.

Um dos eventos paralelos Ă  exposição foi a projecção da performance-vĂ­deo de Lana Zdravkovic /KITSCH, intitulada: “How she enjoys: Naked Reading of Lacan”. O vĂ­deo constitui uma reflexĂŁo acerca do prazer (sexual) feminino, tal como este Ă© interpretado pela psicanĂĄlise lacaniana. O autor surge no vĂ­deo a ler o texto Mais de Lacan, abordando problemas polĂ­ticos contemporĂąneos atravĂ©s do fenĂłmeno do prazer, nĂŁo apenas no que diz respeito Ă  condição da mulher, mas sobretudo assinalando o crescente chauvinismo e machismo disseminados na sociedade como um todo, atravĂ©s da cultura (pop), da arte, da ciĂȘncia e da economia. As filosofias polĂ­ticas de Balibar, RanciĂšre e Badiou fundamentam a acusação de que as sociedades ditas democrĂĄticas caem facilmente nas profundezas do chauvinismo, racismo e nacionalismo. Assim, Zdravkovic pensa que a luta permanente pela igualdade dos sexos nĂŁo constitui apenas uma reivindicação feminista, inscrevendo-se numa irredutĂ­vel exigĂȘncia de igualdade, nĂŁo sĂł no que diz respeito ao sexo, mas tambĂ©m Ă  nacionalidade, etnicidade, raça e cultura. Assim, o carĂĄcter explĂ­cito da imagem (da vagina) nesta peça nĂŁo se oferece como uma metĂĄfora estĂ©tica, sendo antes empregue como um sĂ­mbolo emancipatĂłrio. Esta peça pode assim ser lida como uma reivindicação radical de igualdade.

Assinale-se ainda que, simultaneamente, um outro lacaniano, de origem eslovena, estĂĄ a organizar o ColĂłquio Sobre a Ideia de Comunismo, no Birbeck Instute for Humanities, em Londres (que se encontra completamente lotado).


Rosana Sancin