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OPINIÃO


Intervenção do Grupo Acre na Rua do Carmo (Lisboa, Agosto de 1974). Fotografia de Clara Menéres. Colecção da artista. Acção recriada em “Anos 70 – Atravessar Fronteiras”, na entrada principal do CA


Catálogo da exposição “Colagem e Montagem”. Lisboa: Sociedade Nacional de Belas-Artes, 1975.


Sem título (cadeira revestida a autocolantes das diversas forças políticas da época), Armando Azevedo, [1976]. Colagens s/madeira (80,5 x 38,5 x 32cm). Colecção do artista.


“Bandeira nacional” (pormenor), Grupo Puzzle (Albuquerque Mendes, Armando Azevedo, Carlos Carreiro, Dario Alves, Graça Morais, Jaime Silva, João Dixo, Pedro Rocha, Fernando Pinto Coelho), 1976. Acríli


René Bertholo, “Bateau à quai”, 1971. Alumínio pintado, motor e programador (21 x 100,5 x 15cm). Colecção Manuel de Brito – CAMB.


“Painel do 10 de Junho” (pormenor), Movimento Democrático de Artistas Plásticos, 1974. Fotografia de Rui Mário Gonçalves. Painel destruído no incêndio da Galeria Nacional de Arte Moderna, em Agosto de


Catálogo da exposição “Alternativa Zero: Tendências Polémicas na Arte Portuguesa Contemporânea”. Lisboa: Secretaria de Estado da Cultura, 1977.


Informação Cultural. N.º 1 (Dez. 1976).

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2006-05-17
VICTOR PALLA (1922 - 2006)

JOÃO SILVÉRIO

2006-04-12
VIENA, 22 a 26 de Março de 2006


ANOS 70 € ATRAVESSAR FRONTEIRAS



ISABEL NOGUEIRA

2009-10-26




O Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian apresenta a mostra “Anos 70 – Atravessar Fronteiras”, com curadoria de Raquel Henriques da Silva. Trata-se, antes de mais, de uma exposição que reúne e faz um pertinente balanço de alguma da produção artística mais proeminente da década de setenta em Portugal, tanto do ponto de vista das obras de arte propriamente ditas – pintura, escultura, fotografia, instalação – como nas vertentes do cartaz, revistas ou catálogos de exposições da época em questão.


Se a arte dos anos sessenta portugueses, na óptica de António Rodrigues, incorporou a procura e a experimentação como propósitos abertos da criação e da pesquisa, ou, na opinião de Bernardo Pinto de Almeida, foi transformada por uma longa mudança de estatuto, de sentido, de função e de intenção, que se vinha afastando já da pureza ideológica do modernismo histórico, acompanhada por um processo internacional que questionava o próprio conceito de vanguarda; os anos setenta pautaram-se por uma abertura – inclusivamente do ponto de vista político e social, com a revolução de 25 de Abril de 1974 e a consequente derrocada da ditadura – de todo um rol inédito de possibilidades de criação e perspectivas de renovação.


Foi a época de FESTA, de militância e dos eventos artísticos colectivos “ao serviço do Povo”, desde as pinturas murais “da revolução”, até ao incremento de um modo de operar mais ligado à exaltação do artista/criador, na procura de uma identidade artística, estética e mesmo poética. Foi igualmente a altura da expressão longamente contida e dos slogans: “A arte fascista faz mal à vista” (Marcelino Vespeira), “Contra a agressividade, criatividade”, ou “A qualidade estética é progressista; a mediocridade é reaccionária” (Salette Tavares).


Contudo, a necessária revolução, num país fechado, conservador e pleno de urgências, conheceu contornos complexos e até contraditórios, inclusivamente do ponto de vista das artes plásticas. Na verdade, nesta jovem democracia verificou-se alguma dificuldade governamental no âmbito da gestão cultural, continuando a cumprir-se uma falta de articulação entre os diferentes intervenientes e projectos, nomeadamente, ao nível da criação de um verdadeiro museu de arte moderna/contemporânea, da dinamização do mercado da arte e da reestruturação do ensino superior artístico.


No entanto, merecem referência laudatória as actividades de instituições, como a Cooperativa Árvore (Porto, 1963), a Cooperativa de Gravadores Portugueses “Gravura” (Lisboa, 1956), a Galeria Ogiva (Óbidos, 1970), o CAPC (Coimbra, 1958), a Sociedade Nacional de Belas-Artes (Lisboa, 1901), ou o Centro de Arte Contemporânea (1976-1980), que funcionava no Museu Nacional de Soares do Reis (Porto), sob direcção de Fernando Pernes e, na opinião de José-Augusto França, foi “a melhor criação do regime do 25 de Abril”.


De facto, seria necessário esperar por 1983, para a inauguração de Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão/Fundação Calouste Gulbenkian; pelo ano de 1987, para a abertura da Casa de Serralves; por 1994, para a reestruturação do Museu de Arte Contemporânea/Museu do Chiado; e por 1999 para o início de actividade do Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Estas morosidades permitem-nos compreender alguns aspectos da precariedade do medium artístico português da época, na origem de uma certa modernidade adiada.


Mas, apesar das dificuldades, os anos setenta constituíram também um período particularmente fértil em experiências e pesquisas artísticas, individuais e colectivas. E, neste sentido, atravessaram-se, de facto, fronteiras. Em 1972 teve lugar a “I Bienal de Jovens Artistas” (Vila Nova de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda); em 1973 era organizada pela Secção Portuguesa da AICA, na SNBA, a exposição “26 Artistas de Hoje”; entre 1974 e 1977 realizaram-se os “Encontros Internacionais de Arte” (Valadares, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim e Caldas da Rainha), promovidos por Egídio Álvaro e pela Galeria Alvarez (Porto); em 1975 organizaram-se três “exposições-inquérito”: “Figuração-Hoje, Abstracção-Hoje?” e “Colagem e Montagem” (Lisboa, SNBA); em 1977 realizaram-se as mostras colectivas “Artistas Portuguesas”, “O Erotismo na Arte Moderna Portuguesa”, “Mitologias Locais” (Lisboa, SNBA), “A Fotografia na Arte Moderna Portuguesa” (Porto, Centro de Arte Contemporânea; Lisboa, SNBA), com curadoria de Fernando Pernes; bem como uma das mais emblemáticas exposições da década, a “Alternativa Zero: Tendências Polémicas na Arte Portuguesa Contemporânea” (Lisboa, Galeria Nacional de Arte Moderna), com organização do artista e crítico José Ernesto de Sousa – que em 1972 tinha visitado a “Documenta 5” (Kassel) e conhecido Joseph Beuys, promotor da “vanguarda hot”, isto é, do conceptualismo politicamente comprometido –; em 1978 inaugurava-se a “Bienal Internacional de Vila Nova de Cerveira”; em 1979 acontecia a única edição de “LIS’79 – Lisbon International Show/Exposição Internacional de Desenho”, assim como a exposição “A Fotografia como Arte a Arte como Fotografia” (Porto, Centro de Arte Contemporânea; Coimbra, Edifício Chiado; Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian). Importa ainda referir a iniciativa “EXPO AICA SNBA”, desde 1972, que marcou um evidente entrosamento entre as artes plásticas e a crítica.


Nesta senda de experimentação, é fundamental chamar a atenção para dois relevantes agrupamentos de artistas: o Grupo Acre (“Uma arte para toda a gente”) – entre 1974 e 1977, constituído por Alfredo Queiroz Ribeiro, Clara Menéres, Joaquim Lima Carvalho, entre diversos colaboradores – e o Grupo Puzzle (“Contracorrente”) – entre 1975-1981, contou inicialmente com Albuquerque Mendes, Armando Azevedo, Carlos Carreiro, Dario Alves, Graça Morais, Jaime Silva, João Dixo, Pedro Rocha e, pouco tempo depois, com Fernando Pinto Coelho e Gerardo Burmester –, nascido no Porto em Dezembro de 1975, apresentado no início do ano de 1976 num jantar/intervenção na Galeria Alvarez (Porto), e divulgado nos “III Encontros Internacionais de Arte” (Póvoa de Varzim, 1976). A seu modo, ambos os agrupamentos se assumiram como portadores de uma linguagem plástico-performativa inovadora no contexto português, de vertente conceptualista, social e artisticamente interventiva. Aliás, é justamente pela reconstituição da intervenção do Grupo Acre na Rua do Carmo (Agosto de 1974), com a pintura de círculos amarelos e rosa no pavimento da rua, que se acede à entrada principal do Centro de Arte Moderna.


Mas também foram determinantes, nos anos setenta, as actividades do CAPC – Alberto Carneiro, Albuquerque Mendes, António Barros, Armando Azevedo, João Dixo, Rui Órfão, Silvestre Pestana, Túlia Saldanha, entre outros –, de entre as quais se podem destacar “A Floresta” (Porto, Galeria Alvarez Um, 1973; Lisboa, Galeria Nacional de Arte Moderna, 1977), “Homenagem a Josefa de Óbidos” (Óbidos, Galeria Ogiva, 1973), “Minha (Tua, Dele, Nossa, Vossa) Coimbra Deles” (Coimbra, CAPC, 1973), “1.000.011.º Aniversário da Arte e Arte na Rua” (Coimbra, CAPC, 1974), “Semana da Arte (da) na Rua” (Coimbra, CAPC, 1976), “Cores” (pelo Grupo de Intervenção do CAPC, Coimbra, Caldas da Rainha, Lisboa, 1977-1978).


“Anos 70 – Atravessar Fronteiras” passa um pouco por todas estas referências – artistas, situações, eventos –, bem como por outros protagonistas da década, tais como Alvess, Ana Vieira, Fernando Calhau, Helena Almeida, Lourdes Castro, João Viera ou Julião Sarmento. Esta exposição oferece a possibilidade de contacto com a arte portuguesa deste período, instituindo um contributo importante para a sua necessária divulgação e compreensão, ou seja, reúne as componentes artística, documental e didáctica.



Isabel Nogueira