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VIAGENS COM UM FOTÓGRAFO (ALBERS, MULAS, BASILICO)MARC LENOT2021-07-08
A editora milanesa Humboldt Books publica, entre outras, uma coleção de pequenos livros de viagem em torno da obra de um fotógrafo (em italiano e em inglês), distribuídos pela les presses du réel; há algumas semanas, escrevi uma pequena recensão de "Gente del Delta" de Nino Migliori, livro que muito apreciei. Aqui estão mais três da mesma coleção. O mais recente (e o primeiro da coleção com um não-italiano) diz respeito às viagens de Josef e Anni Albers ao México (2021; 112 páginas, mais 16 páginas do caderno em inglês, 76 fotografias PB ou montagens de página inteira, 4 ilustrações no texto). Deixando a Bauhaus e refugiados nos Estados Unidos depois de 1933, professores no Black Mountain College, cuja rigidez por vezes pesa sobre eles (ensinam depois em Yale após 1950), os Albers descobriram no México um espaço de liberdade, e lá voltaram muitas vezes entre 1935 e 1940, depois entre 1952 e 1956. Estas fotografias, na sua maioria tiradas por Josef, quase inéditas, são como um caderno de notas, uma série de impressões de viagem; nenhuma pretensão a uma fotografia "artística". Algumas são recordações pessoais (como o encontro com Diego Rivera), uma boa parte delas mostram mexicanos do povo, os mercados, alguns edifícios modernos, alguns objetos (os Albers acumularam uma importante coleção de objetos arqueológicos ao longo das suas viagens, hoje no Museu Peabody em Yale); mas as fotografias mais interessantes são as das ruínas Maias e Astecas, pirâmides, templos, palácios, baixos-relevos. O interesse de Albers pela arquitetura traduzia-se por uma composição formal muito organizada, muito geométrica. Na introdução ao livro é reproduzida a carta de 22 de agosto de 1936 dos Albers aos Kandinskis, onde Josef escreve: "O México é verdadeiramente a terra prometida da arte abstrata." O objeto da sua procura visual parece ser mais as formas geométricas que Josef descobre nestas ruínas, do que uma investigação arqueológica clássica. Teria sido interessante incluir neste livro uma leitura destas imagens feita por um arqueólogo de culturas pré-colombianas, que poderia ter trazido um olhar mais científico, aclarando a diferença de olhar. Há um texto bastante biográfico de Brenda Danilowitz (Fundação Albers) e um ensaio sobre o uso da fotografia por Albers, pelo arquiteto Luca Galofaro. A minha principal crítica foi ter sentido dificuldade em compreender a lógica de apresentação das fotografias no livro, mais ou menos temáticas, mas nem cronológicas nem por lugar; além disso, não percebi o que faz ali (página 83) uma fotografia da Praça de San Martin em Lima, Peru, em 1953. Mas é um detalhe, e esta edição de um corpus inédito enriquece o conhecimento que temos dos Albers e pode incentivar-nos a explorar ainda mais a ponte (pouco estudada, penso eu) entre a estética Bauhaus e as culturas pré-colombianas. Ugo Mulas, aos 30 anos, ainda não é um fotógrafo confirmado, fotografou a boémia do Bar Jamaica e os migrantes da periferia de Milão, e, embora já se interessasse por arte, fez poucas fotografias de obras ou artistas (exceto com o Piccolo Teatro, em particular em Moscovo, em 1960, e, um pouco, na Bienal de Veneza em 1954 e 1958), e muito menos fotografia conceptual. A trabalhar para numerosas revistas para ganhar a vida, a sua oportunidade surgiu ao ser enviado como repórter pela "L'Illustrazione Italiana" para acompanhar Giorgio Zampa, um académico florentino germanista culto, curioso e caprichoso; depois de reportagens nas duas Alemanhas, o par foi para a Dinamarca em 1961. A pacífica Dinamarca da época está nos antípodas da efervescente Itália: dois artigos apareceram na revista, "Encontro com Karen Blixen" em julho de 1961 e "Dinamarca Serena", em agosto, ilustrados com fotografias de Mulas. Estas obras, consideradas pelos críticos como alimentares, não sem um certo desprezo, são raramente mostradas ou publicadas (nem mesmo mencionadas no seu site, onde encontramos apenas uma foto de Blixen e que neste livro se encontra ausente...), sendo que o seu estudo seria mais interessante para melhor compreender a formação de Mulas como fotógrafo. Foi esta lacuna que as edições Humboldt (distribuição pela les presses du réel) preencheram parcialmente com este livro de 2017 em italiano e inglês (94 páginas, mais 12 páginas do caderno em inglês, 65 fotografias de página completa PB, 9 fotografias de Karen Blixen no texto do artigo na "L'Illustrazione Italiana" reproduzido aqui, pequeno texto de apresentação de Dario Borso). O livro não refere quais foram as fotografias publicadas na revista com o artigo "Dinamarca Serena"; podemos agrupá-las em quatro categorias: paisagens urbanas ou rurais e vida quotidiana, retratos (além de Blixen, o físico Niels Bohr, vários designers e um charmoso jovem rapaz), objetos de design e arquitetura, e o Museu Louisiana (que Zampa não menciona no seu artigo). Nas fotografias do campo e da cidade está subjacente o contraste com a Itália, como se, a cada momento, Mulas nos quisesse dizer: "aqui tudo é mais limpo, mais ordenado, mais pacífico, mas muito mais aborrecido". Olhando os retratos de Blixen, ainda não se sente o talento que Mulas revelará mais tarde nas suas fotografias de artistas, talvez porque, na entrevista com Zampa, é Karen Blixen (então com 76 anos, que virá a morrer no ano seguinte) quem lidera o jogo; em contraste, Niels Bohr, vacilante, acendendo o seu charuto, é muito mais interessante (ele também morrerá no ano seguinte). Mas o principal interesse deste livro provém das fotografias de cadeiras, bules, copos e outros utensílios de cozinha (Mulas trabalhava então também para a revista italiana de design e arquitetura Domus, e uma análise comparativa teria sido interessante), e sobretudo imagens do Museu, que tinha inaugurado em 1959 (e era então maioritariamente dedicado à arte dinamarquesa). A sua arquitetura ligeira, discreta e luminosa é notavelmente devolvida. Não sei se esta é a primeira vez que Mulas fotografa um museu, mas sentimos ali, na sua capacidade não só de mostrar as obras, como também de devolver a atmosfera que as rodeia, um talento emergente que será confirmado na década seguinte. É portanto uma agradável descoberta; única censura, a estranha ausência de legendas para a maioria das fotografias (talvez perdidas). Se estes dois primeiros livros são, de facto, relatos fotográficos de viagens, mais estranho é Free Zone 2006 de Gabriele Basilico na mesma série (2018, 100 páginas mais um caderno inglês de 12 páginas, 76 fotografias a cores de página inteira). De facto, ao contrário dos três livros precedentes desta coleção, no Irão, em Glasgow e em Marrocos (que ainda não vi), temos aqui uma viagem um pouco particular. Amos Gitai, que realizou o filme Free Zone em 2005 (não o seu melhor filme, apesar de Natalie Portman e Hiam Abbass), pediu a Basilico no ano seguinte para vir fotografar à posteriori os locais onde se desenrolou o filme: Tel Aviv, Jerusalém, Nabi Moussa, o posto fronteiriço entre a Palestina e a Jordânia controlado por Israel, Amman, a zona franca de Az-Zarqa no nordeste da capital, Jerash sem as suas ruínas, e regressar a Tel Aviv via Haïffa. Sob o pretexto de uma história tipicamente "esquerda sionista" que tenta construir pontes e cumplicidades entre Judeus e Palestinianos, o filme desdobra um diagrama bastante irrealista no qual a ocupação é colocada em segundo plano porque os benefícios económicos e os acordos entre Israelitas e Árabes a tornariam aceitável (ao estilo Jared Kushner). Uma zona franca onde se vendem automóveis isentos de impostos e Israelitas e Árabes podem fazer negócios em conjunto (mas que não é de forma alguma desmilitarizada, nem entre Israel e a Jordânia, ao contrário do que refere este texto), nem apresenta a sombra do princípio de uma premissa de uma solução para a ocupação e o conflito. Basilico, um ano depois do filme, realiza esta "road trip" com belas fotos que, nem mesmo elas, não conta da realidade da ocupação no terreno. Ele, que tanto e tão bem tinha feito para restituir a dimensão trágica de Beirute destruída, faz aqui um trabalho formalmente bem feito (as casas Bauhaus de Tel Aviv, Nabi Moussa, a massa de carros), mas pouco pertinente, com uma enésima foto do Muro de Separação, da Cúpula do Rochedo, o Muro das Lamentações, etc. O livro inclui um relato de Basilico, uma carta de Gitai à sua viúva e um texto do crítico Andrea Lissoni, mais algumas fotos dos seus encontros.
Marc Lenot |